Anarquismo é harmonia, liberdade e solidariedade
Aristóteles Lima de Oliveira – João Pessoa/PB
Anarquia é uma palavra grega que significa
literalmente “sem governo”, isto é, o estado de um povo sem uma autoridade
constituída.
Antes
que tal organização começasse a ser cogitada e desejada por toda uma classe de
pensadores, ou se tornasse a meta de um movimento, que hoje é um dos fatores
mais importantes do atual conflito social, a palavra “anarquia” foi usada
universalmente para designar desordem e confusão. Ainda hoje é adotada nesse
sentido pelos ignorantes e pelos adversários interessados em distorcer a
verdade.
Não
vamos entrar em discussões filológicas, porque a questão é histórica e não
filológica. A interpretação usual da palavra não exprime o verdadeiro
significado etimológico, mas deriva dele.
Tal
interpretação se deve ao preconceito de que o governo é uma necessidade na
organização da vida social.
O homem, como todos os seres vivos, adapta-se
às condições em que vive e transmite, através de herança cultural, seus hábitos
adquiridos. Portanto, por nascer e viver na escravidão, por ser descendente de
escravos, quando começou a pensar, o homem acreditava que a escravidão era uma
condição essencial à vida. A liberdade parecia impossível.
Assim também o trabalhador foi forçado, por
séculos, a depender da boa vontade do patrão para trabalhar, isto é, para obter
pão.
Acostumou-se a ter sua própria vida à
disposição daqueles que possuíssem a terra e o capital. Passou a crer que seu
senhor era aquele que lhe dava pão, e perguntava ingênuo como viveria se não
tivesse um patrão.
Da
mesma forma, um homem cujos membros foram atados desde o nascimento, mas que
mesmo assim aprendeu a mancar, atribui a essas ataduras sua habilidade para se
mover. Na verdade, elas diminuem e paralisam a energia muscular de seus
membros.
Se
acrescentarmos ao efeito natural do hábito a educação dada pelo seu patrão,
pelo padre, pelo professor, que ensinam que o patrão e o governo são
necessários.
Se
acrescentarmos o juiz e o policial para pressionar aqueles que pensam de outra
forma, e tentam difundir suas opiniões, entenderemos como o preconceito da
utilidade e da necessidade do patrão e do governo é estabelecido.
Suponho
que um médico apresente uma teoria completa, com mil ilustrações inventadas,
para persuadir o homem com membros atados, que se libertarem suas pernas não
poderá caminhar, ou mesmo viver.
Então,
o homem defenderia suas ataduras furiosamente e consideraria inimigo todos que
tentassem tirá-las.
Existem
fatos paralelos na história da palavra. Em épocas e países onde se considerava
o governo de um homem (monarquia) necessário, a palavra “república” (governo de
muitos) era usada exatamente como “anarquia”, implicando desordem e confusão.
Traços
deste significado ainda são encontrados na linguagem popular de quase todos os
países. Quando essa opinião mudar, e o público estiver convencido de que o
governo é desnecessário e extremamente prejudicial, a palavra “anarquia”,
justamente por significar “sem governo” será o mesmo que dizer “ordem natural,
harmonia de necessidades e interesses de todos, liberdade total com
solidariedade total”.
Portanto,
estão errados aqueles que dizem que os anarquistas escolheram mal o nome,
por ser esse mal compreendido pelas massas e levar a uma falsa interpretação. O
erro vem disso e não da palavra. A dificuldade que os anarquistas encontram
para difundir suas ideias não depende do nome que deram a si mesmos. Depende do
fato de que suas concepções se chocam com os preconceitos que as pessoas têm
sobre as funções do governo, ou o “Estado” como é chamado.
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