quarta-feira, 13 de agosto de 2014

HUMANITAS nº 26 – Agosto/2014 – Página 5

Deus ou escravização divina?
Jorlando Natalino Durante – São Paulo/SP

Ainda tento entender como a humanidade ainda vive sob a escravização divina. A maioria absoluta diz que acredita em um deus. Mas ao serem questionados por que acreditam, as respostas são diferentes, mas tão diferentes, que se deus existe, até ele duvidaria de tal crença.
Está mais que na cara que deus é algo plantado nas mentes das crianças, quando estas ainda estão no ventre. Basta perguntarmos a uma grávida como está indo sua gravidez, e a resposta sem sombra de dúvida será a seguinte: “Graças a deus está tudo bem”. Observaram? A criança ainda nem conhece o mundo e já está ouvindo falar em deus.
E assim que termina o parto, seja ele normal ou cirúrgico, a primeira expressão da mãe é a seguinte: “Graças a deus!”, observaram novamente? A criança mal acabou de chegar ao mundo e já ouviu a palavra deus algumas vezes.
E assim vai até os últimos dias de sua vida. Chega uma hora em que as pessoas são obrigadas a acreditar em deus porque a sociedade impõe. Não precisa ir muito longe: as próprias famílias impõem isso aos filhos. Tanto que ao completar sete anos, se forem católicos, são encaminhados para o catecismo.
Ali começa o ritual de adestramento. E se forem evangélicos também são obrigados a acompanhar os pais aos cultos. E o adestramento continua.
Eu pergunto: por que os indivíduos não perguntam para si por que acreditar em deus, isto é, perguntarem:
- Por que acredito em deus?
Sugiro as questões:
1) De onde veio deus, qual sua procedência e origem?; 2) O que havia antes de deus?; 3) Como tomei conhecimento da existência de deus?; 4) Por que devo acreditar nisso?; 5) Se não acreditasse, o que mudaria em minha vida? Essas perguntas gostaria que cada um fizesse para si.
Ocorre o seguinte: o ser humano desde o nascimento até seus dias derradeiros tem por natureza um fenômeno íntimo que chamo de Fraqueza Humana, isto é, uma dependência íntima. E essa dependência ultrapassa os limites da anatomia e também da autonomia humana. O último recurso para os fracos é se entregar a deus. Daí para a depressão é um pulo, porque deus não lhes dará o resultado esperado e seu único recurso é se entregar à própria morte.
Certa vez estava eu discutindo com uma senhora que não se conformava em saber que eu era ateu.
Ela não entende como um ser humano gozando de perfeita saúde como eu, não acredite em deus. A certa altura perguntou: mas de onde vem o vento? E eu tentando lhe explicar que o vento é decorrente da velocidade da terra, adicionado à temperatura e ao vapor ambiente. Ela não contente continuou a pergunta: mas de onde vem a Terra? E eu continuando a explicar, e vendo que suas perguntas não teriam um final, então comecei a perguntar. Primeira pergunta: Por que a senhora acredita em deus? A resposta foi confusa: Ora disse que alguém havia de ter criado tudo isso (mundo), ora disse que seus pais também acreditavam, enfim, não contente com a resposta, tornei a lhe perguntar: de onde veio deus? E ela toda confusa, toda atrapalhada, disse tantas, mas tantas opções da origem de deus, que ao final me respondeu assim: ora, meu filho, antes de deus não havia nada. Aí deu pra se chegar à seguinte conclusão: uma coisa que vem do nada, certamente também é nada.
Deus só existe para as mentes enfraquecidas. E todos os fracos usam a chamada “energia” dizendo que deus é uma energia para justificar suas fraquezas. Quanto mais fraco é o ser humano, mais forte é deus para este ser humano.
Muitas pessoas têm medo de dizer que não acreditam em deus porque o custo social será muito alto. Então preferem se entregar à filosofia de Jean Batista Molière que dizia lá no século XVII: "é melhor dar uma de alienado, do que querer dar uma de esperto e acabar isolado". A maioria absoluta tem medo de encarar a realidade. E na dúvida prefere acreditar. Para tais pessoas é melhor acreditar do que encarar a pressão social.

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