quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

HUMANITAS Nº 30 - DEZEMBRO 2014 - PÁGINA 3

REFÚGIO POÉTICO

MARCAÇÃO LOUCA
Rafael Rocha – Recife/PE

Pássaros no espaço voejam
Com destino a qualquer lugar
As plantas nocivas vicejam
Em conluio com a cor do ar
O relógio marca apenas horas
Na estrada da vida a passar
O copo de cerveja perde o gelo
E o cigarro começa a se apagar
De tudo restam cinzas ou degelo
No rastro dos pássaros no ar
Uma palavra faz um só apelo
A este escrevinhar

Dizem restar amor nos solos
Dizem restar cantos no ar
Dizem acabar gelo dos pólos
Dizem tudo quase sem pensar
Nesses dizeres alguém ainda grita
Sonhos sem rotas concretas
Sonhar é a ideia perdida
Nas mentes loucas dos poetas
Onde a cor da palavra se agita
Onde a dor do amor anda a ver
A atitude de pressentir a vida
Quando escrever

As plantas nocivas vicejam
Em conluio com a cor do ar
Tanto como metáforas ensejam
Passar e viver. Viver e passar.
Minutos também são de relógios
Marcam instantes ao relembrar
Recriando outros mil imbróglios
Vendo o cigarro a se apagar
Pássaros no espaço voejando
Segundos também vão se marcar
Cinzas e degelos vão restando
Neste poema a se findar
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O TREM
Valdeci Ferraz – Caruaru/PE

Lá vem o trem arrastando a cidade.
O apito é um guizo perfurando
a tarde.

Não ponham pedras nos trilhos!
Lá vem o trem carregado de saudade.

Lá vem o trem escrevendo um poema
Sobre as linhas paralelas de aço.

As estações são vírgulas obrigatórias
Onde se dão as despedidas doídas.

Lá vem o trem beijando a chuva.
Lambendo o vento.

Um lamento escorre atrasado:
Alguém deixou para trás um grande amor.

Lá vem o trem cortando o rio.
Cortando a mata e a estrada,

Rompendo a parede do sonho
Para brincar com meninos abandonados.

Lá vai o trem levando a minha alma
À última parada
Ao ponto final.
....................................
TRIBUTO A MANUEL BANDEIRA

Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu no Recife no dia 19 de abril de 1886. Escreveu seus primeiros versos livres em 1912. Em 1917 publicou seu primeiro livro:A cinza das horas”, edição de 200 exemplares custeada pelo autor. Em 1919 publica seu segundo livro,Carnaval”, também em edição custeada pelo autor. 
Em 1924 publica, às suas expensas,Poesias”, que reúneA Cinza das Horas”, “Carnaval” e um novo livroO Ritmo Dissoluto”. A partir de 1926 inicia uma colaboração semanal de crônicas noDiário Nacional”, de São Paulo, e em “A Província”, do Recife.
O ano de 1930 marca a publicação deLibertinagem”, em edição como sempre custeada pelo autor. 
Em 1940 é eleito para a Academia Brasileira de Letras, na vaga de Luís Guimarães Filho. Toma posse em 30 de novembro. No ano de 1954 publicaItinerário de Pasárgada” eDe Poetas e de Poesia”. Faz 80 anos em 1966 e recebe muitas homenagens.   
Faleceu no dia 13 de outubro de 1968.

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