Estelita versus Puerto Madero
Texto da
jornalista Andrea Guerra - Recife/PE
Especial para o Humanitas
Muitos
recifenses que visitam Buenos Aires costumam, como todo mundo, se encantar com
Puerto Madero, a antiga zona portuária da Cidade, recuperada
por uma parceria da iniciativa privada com o Poder Público no início da década
de 1990.
Como
na zona portuária do Recife, os antigos armazéns estavam sem uso e o bairro,
degradado.
Mas
as semelhanças param por aí.
Antes
de qualquer coisa, a área foi declarada zona de preservação e qualquer
intervenção deveria manter intacto o aspecto portuário do lugar, modernizando-o
e o integrando à cidade, mas sem destruir a história e o patrimônio.
Em
1991, o Consórcio que recebeu a licença para as obras de revitalização realiza
o "Concurso Nacional de Ideias para Recuperar Puerto Madero".
Participam
arquitetos de todo o País e, depois de um amplo processo de discussão, sai o
projeto que vemos hoje: os velhos galpões transformados em restaurantes, bares,
lojas, museus, escritórios, galerias, cinemas - um espaço público,
compartilhado por todos, pólo turístico, cultural e de serviços, gerador de
emprego e renda.
Um
orgulho para os porteños e um exemplo mundial de recuperação para uma antiga
zona portuária e histórica.
Muitos
dos que defendem essa aberração chamada Novo Recife usam como argumento a
falácia de que quem defende o Cais José Estelita quer que a área se mantenha
abandonada e sem uso.
Isso
não é verdade. Muita coisa boa poderia sair do papel se houvesse compromisso
com a história, a paisagem, o patrimônio e o povo do Recife.
Quantos
inúmeros usos se poderiam dar ao Estelita, diferente desse estupro urbanístico,
de inacreditável mediocridade arquitetônica, que vai entregar aos muito ricos
uma das áreas mais lindas da Cidade.
Olhando
para Puerto Madero e vendo uma possibilidade do que poderíamos vir a ser, me dá
uma tristeza imensa ver o Recife se transformando em uma cidade sem cara, sem
identidade, sem alma.
Como
bem definiu o consultor e arquiteto Francisco Cunha:
apenas uma cidade ruim como outra cidade qualquer.
O Recife não merece isso.
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