quarta-feira, 27 de maio de 2015

JORNAL HUMANITAS Nº 36 – MÊS DE JUNHO DE 2015 –PÁGINA 6

Estelita versus Puerto Madero
Texto da jornalista Andrea Guerra - Recife/PE
Especial para o Humanitas

Muitos recifenses que visitam Buenos Aires costumam, como todo mundo, se encantar com Puerto Madero, a antiga zona portuária da Cidade, recuperada por uma parceria da iniciativa privada com o Poder Público no início da década de 1990.
Como na zona portuária do Recife, os antigos armazéns estavam sem uso e o bairro, degradado.
Mas as semelhanças param por aí.
Antes de qualquer coisa, a área foi declarada zona de preservação e qualquer intervenção deveria manter intacto o aspecto portuário do lugar, modernizando-o e o integrando à cidade, mas sem destruir a história e o patrimônio.
Em 1991, o Consórcio que recebeu a licença para as obras de revitalização realiza o "Concurso Nacional de Ideias para Recuperar Puerto Madero".
Participam arquitetos de todo o País e, depois de um amplo processo de discussão, sai o projeto que vemos hoje: os velhos galpões transformados em restaurantes, bares, lojas, museus, escritórios, galerias, cinemas - um espaço público, compartilhado por todos, pólo turístico, cultural e de serviços, gerador de emprego e renda.
Um orgulho para os porteños e um exemplo mundial de recuperação para uma antiga zona portuária e histórica.
Muitos dos que defendem essa aberração chamada Novo Recife usam como argumento a falácia de que quem defende o Cais José Estelita quer que a área se mantenha abandonada e sem uso.
Isso não é verdade. Muita coisa boa poderia sair do papel se houvesse compromisso com a história, a paisagem, o patrimônio e o povo do Recife.
Quantos inúmeros usos se poderiam dar ao Estelita, diferente desse estupro urbanístico, de inacreditável mediocridade arquitetônica, que vai entregar aos muito ricos uma das áreas mais lindas da Cidade.
Olhando para Puerto Madero e vendo uma possibilidade do que poderíamos vir a ser, me dá uma tristeza imensa ver o Recife se transformando em uma cidade sem cara, sem identidade, sem alma.
Como bem definiu o consultor e arquiteto Francisco Cunha: apenas uma cidade ruim como outra cidade qualquer.
O Recife não merece isso.

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