quarta-feira, 27 de maio de 2015

JORNAL HUMANITAS Nº 36 – MÊS DE JUNHO DE 2015 –PÁGINA 5

Deus não importa!

O homem e o planeta, sim!

Crônica de Luiz Carlos Rocha Guaratuba/PR


Não diria que sou ateu, nem agnóstico. Apenas isso: deus não me importa. O que me importa são os seres humanos, inclusive o nosso planeta e os demais habitantes deste planeta.
Dito isso, é interessante lembrar que aqueles que acreditam em um deus não são citados pela história como seres humanos pacíficos, tolerantes e bondosos.
Muito ao contrário: sempre que surge uma idade da fé, a morte se espalha pelo mundo.
A denominada guerra santa é uma criação dos teístas-judeus, cristãos, islamitas, comunistas - e não dos ateus. Ateus não costumam fazer guerras santas.
Quando afirmo que deus não me importa, não nego de forma alguma a existência do Invisível. Não diria que sou materialista.
O que reafirmo é que não existe qualquer ligação entre uma possível divindade ou a religião e o Invisível que nos cerca e que não conhecemos ainda.
Não diria, por exemplo, que as fadas são cristãs. Ou que os átomos são judeus. Ou que a kundalini é islamita ou, quem sabe, budista.
Ou seja: o Invisível existe, mas não há nele nada de religioso.
Pretender associar o Invisível ao religioso é repetir um comportamento pré-histórico. Feliz ou infelizmente, estamos no final do século 21.
Ao contrário do que pretendem os teístas, a história fala de ateus pacíficos, grandes estudiosos e amantes da humanidade.
E mostra que os crentes perseguiram, prenderam, torturaram e mataram milhões de pessoas em todo o mundo e em todas as épocas.
Pergunta-se: a religiosidade e a crença em deus tornam os seres humanos mais pacíficos, justos e tolerantes?
Nos países onde o Estado e a Igreja não se separaram (como o Brasil e toda a América Latina) os políticos chegam ao poder ou lá permanecem quando se mostram piedosos, e, especialmente, quando se afirmam tementes a um deus. Ora, a história também mostra que o administrador ou político teísta não é necessariamente melhor do que aquele que não crê.
Pode-se perfeitamente crer em um deus e ser um péssimo político, um corrupto, um autoritário. Mas é verdade que se tem mais espaço, mais poder e conquista-se mais simpatia quando se é teísta.
E em países de mentalidade medieval como o Brasil, se ganha até mais votos. No Sacro Império Brasileiro é preciso ter boas relações com a Igreja (e com deus) para ser politicamente vitorioso.
Alguém pode ingenuamente dizer que países comunistas não são religiosos e ainda assim fizeram e fazem perseguições contra aqueles que discordam de suas regras.
Eu afirmo que a extinta União Soviética nunca deixou de ser um país religioso. Nele a religião mudou de endereço e o Estado substituiu a Igreja.
Exemplo disso é que o comunismo adotou o culto da personalidade e manteve a múmia do santo Lênin em Moscou para ser devidamente adorada. O comunismo é tão religioso que está cheio de dogmas.
E, até prova em contrário, não existem dogmas para os ateus: o dogmatismo é uma das características básicas de toda religiosidade. O fanatismo é outra característica daqueles que têm fé e não dos ateus.
Afirmo que a crença em um deus é interesseira. Ora, quem acreditaria em um deus se essa crença não lhe fosse útil? Todas as religiões dizem algo que pode ser resumido assim: comporte-se bem agora e mais tarde sua recompensa virá em dobro.
Pergunto: por que tratar com reverência uma divindade que trabalha com juros? Os banqueiros também trabalham dessa forma e não são bem vistos.
Estamos nos preocupando há milênios com um deus único, misto de general, juiz e censor. Resultado: alguns religiosos afirmam conhecer a vontade divina nos seus mínimos detalhes e exigem ser ouvidos, por bem ou por mal.
A fé não quer evolução, liberdade e companheirismo entre os homens. A fé é reacionária: os fiéis pretendem conhecer a resposta para todas as dúvidas que temos na vida.
A utopia é que busca respostas! Possibilidades! O utópico quer um tempo novo e tenta criar condições para que este tempo surja, agora ou no futuro.

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