Zumbi dos Palmares e o Dia da
Consciência Negra
Especial para o Humanitas
Rafael Rocha é
jornalista e editor-geral deste Humanitas. Mora no Recife/PE
O Dia Nacional da Consciência Negra (comemorado em 20 de novembro) pode servir para que as pessoas reflitam sobre a inserção do negro na
sociedade brasileira. A data coincide com o dia da morte do líder negro
Zumbi dos Palmares.
Apesar de a “história oficial” marcar a
abolição da escravatura no dia 13 de maio de 1888, os negros não acatam essa
ação, deixando de lado o 13 de maio para lembrar e festejar o 20 de novembro.
Para
integrantes do Movimento Negro, o 13 de maio
é uma data a ser reelaborada, porque mesmo tendo ocorrido uma abolição formal,
os negros continuaram excluídos do processo social. Após a princesa Isabel ter decretado o fim da escravidão, as
classes dominantes não contribuíram para inserir os ex-escravos em um novo
formato de trabalho.
Como bem salientou o sociólogo
Florestan Fernandes em sua obra “A
integração do negro na sociedade de classes”: “os senhores de escravos foram
eximidos da responsabilidade pela manutenção e segurança dos libertos, sem que
o Estado, a Igreja ou qualquer outra instituição assumissem encargos especiais,
que tivessem por objeto prepará-los para o novo regime de organização da vida e
do trabalho”.
O acesso à terra não foi concedido aos negros e até o
precário espaço no mercado de trabalho ocupado por essa população foi entregue
a trabalhadores brancos ou estrangeiros
Na realidade, a abolição legal
da escravidão não garantiu condições reais de participação na sociedade para a
população negra no Brasil.
Em nosso país
existe uma valorização dos personagens históricos de cor branca.
Até parece
que a história do Brasil foi construída pelos europeus e seus descendentes.
Imperadores,
bandeirantes, líderes militares entre outros foram sempre considerados heróis
nacionais. Mas no dia 20 de novembro valoriza-se um líder negro em nossa
história.
O líder é
Zumbi dos Palmares! O grande herói de uma raça que, mesmo sob o jugo violento
do chicote, nunca deixou de sonhar e lutar pela liberdade.
Hoje, após
mais de três séculos, quando o Brasil é o segundo país do mundo em número de
negros, Zumbi continua sendo símbolo de luta e denúncia da discriminação
racial, na busca de uma sociedade mais justa, fraterna e sem preconceitos.
Para os
negros, ele ainda vive. Sua luta, sua determinação os inspira, os enche do
orgulho.
Zumbi é,
sem dúvida, o maior símbolo da liberdade, da força.
Através
dele os negros mostram que continuam tentando vencer para conscientizar o mundo
de que também são capazes de revolucionar e de mudar esse mundo racista.
O nome de Zumbi apareceu pela
primeira vez em documentos portugueses, em 1673, quando uma expedição chefiada
por Jácome Bezerra foi desbaratada.
Tornou-se um grande guerreiro
e estrategista militar na luta para defender o quilombo dos Palmares contra os
soldados portugueses.
Foi ferido com um tiro na
perna, em 1676, em um combate contra as tropas de Manuel Lopes Galvão.
Em 1692, o
quilombo foi atacado por Domingos Jorge Velho, ficando completamente sitiado,
mas só capitulou no dia 6 de fevereiro de 1694, quando o exército português
conseguiu invadir o local, derrotando os quilombolas. Baleado, Zumbi caiu num
desfiladeiro, o que deu origem ao boato que o herói tinha se suicidado para
evitar voltar à vida de escravo.
Porém, ele
conseguiu escapar e, em 1695, voltou a aparecer, atacando algumas povoações em Pernambuco. Só foi
capturado no dia 20 de novembro de 1695, após traição de um dos seus principais
comandantes, Antônio Soares, que revelou o esconderijo de Zumbi em troca da
liberdade. O líder negro foi morto, esquartejado e teve a sua cabeça exposta em
praça pública na cidade de Olinda, em Pernambuco.