Brasil!
Meu amor de hoje e sempre...
Especial para o Humanitas
Ana
Maria Leandro integra a Academia Mineira de Letras e colabora com o Humanitas
há três anos. Escritora e jornalista em Belo Horizonte /MG
Não é frequente, mas acontece, de se ouvir
algum brasileiro dizer que gostaria que o Brasil retornasse ao regime
governamental ditatorial militar.
Se não viveu aquela época, é possível que
sua juventude não lhe permita ainda entender que ditadura é como um processo
necessário àqueles que não sabem viver a liberdade, portanto, necessitam de
estar no subjugo de um poder centralizador, uma vez que o povo não tem
competência para fazer escolhas. O que é lamentável. Seria como qualquer um de
nós, considerarmos que não temos competência para andar com as próprias pernas.
É como disse uma vez o inesquecível poeta
e escritor Rubem Alves: “Às vezes
tenho saudades da ditadura. Meu amigo que me ouvia se horrorizou. Aí
eu expliquei: é que no tempo da ditadura
a gente tinha uma explicação para as desgraças do país e dizia: a gente está
assim, porque tiraram a liberdade da gente! Os milicos, bode expiatório. Quando
existe um bode expiatório todo mundo fica de acordo, unido contra ele. E a
gente sonhava: no dia em que a liberdade voltar, tudo vai ficar diferente...”
(Cenas da vida - Página 61 - Rubem A. Alves – 1997
– O fim da banda).
Verdadeiro, mas este reconhecimento daria
uma tese. Estamos sempre sonhando com o que não temos. Parece até que o ser
humano, precisa ser triste para ter a esperança de ser feliz!
Como se não soubéssemos ou considerássemos
uma mágica ainda não dominada, a união pelo bem comum. Como se merecêssemos
mesmo ficar na eterna espera de um tempo que seja bom...
É que existem pessoas que não sabem mesmo
viver a experiência da liberdade responsável. Essa liberdade que nos arranca de
nós mesmos e se põe de pé corajosamente frente a qualquer adversidade. Esta
que, ancorada em princípios e valores éticos e humanos, sabe muito bem que o
melhor é ser dono de si mesmo, capaz de fazer escolhas e decidir com
competência seus caminhos.
Numa autêntica democracia, as prisões
foram feitas para os que, não sabendo viver dignamente a liberdade, precisam
ser aprisionados para evitar que prejudiquem o próximo e até a si mesmo.
O Brasil, embora a mais de meio milênio
após sua descoberta oficial, continua em construção desta, pois o sistema ainda
não conseguiu fazer com que isto assim sempre ocorresse na mais autêntica
essência da justiça.
Mas desistir da luta de até então é recuar
a locomotiva do tempo. Sem medirmos os palmos das vitórias, vamos é amargando a
dor de cada luta. Já viu alguém usufruir da belíssima paisagem do cume de um
monte, sem enfrentar sua escalada?
Mas, me disse um
amigo, é horrível esse sentimento de que estamos rolando uma ladeira abaixo.
É verdade! Até na
vida pessoal sentimos essas vertigens, e ai de nós, se não fosse nossa
capacidade de nos levantarmos e continuarmos tentando andar para frente. É
justamente o direito desta luta, que a democracia nos dá. Não há felicidade
para se guardar como um troféu, mas para se enfrentar as dificuldades das
conquistas.
A economia é uma ameaça? Sim. Em qualquer
regime e em qualquer país a economia é a grande espada apontada sobre todas as
cabeças de um povo. Pois mutável como as marés, não é a lua que determina suas
alterações, mas cada um e todos que fazem parte do planeta.
Sem reduzir a grande responsabilidade de gestão
dos governantes é absurdo o egoísmo extremo, que nos faz pensar apenas
individualmente na própria sobrevivência. As ameaças fazem parte da existência,
até mesmo para determinar o próprio fim de cada um de nós.
E isto é viver: lutar pela vida! Para que
este fim se alongue e se faça válido. Buscar o conhecimento para saber
distinguir o mal do bem, somar forças porque isolados somos mais fracos. Sempre
vi as pessoas lamentando perdas do passado, do tipo “Eu era feliz e não sabia”(Ataulpho Alves “Meus tempos de criança”). Que me
desculpe o grande autor, mas “felicidade”
é a capacidade de assim se sentir no exato tempo de ser...
E de viver!
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