O deus solar chifrudo
Especial para o Humanitas
Thomas Henrique de Toledo Stella é
professor e historiador pela FFLCH/USP. Mora em São Paulo /SP
Se
voltássemos dois mil anos no tempo, no dia 25 de dezembro Roma estaria em
festa.
Eram
os preparativos para os festejos do Deus solar Mithra, o filho do grande Deus
Ahura Mazda que simbolicamente vencia o Touro.
Seu
aniversário era celebrado nos dias 25 de dezembro, ou seja, 3 dias depois do
solstício de inverno do Hemisfério Norte.
No
mesmo período, na mesma Roma, seguidores do culto helenístico de Saturno
celebravam a Saturnália, uma festa que em muito recorda o carnaval.
Em diversas mitologias pagãs ancestrais, o solstício de inverno
representava o nascimento do Deus-Sol. Afinal, é neste momento que o sol
encontra-se no ponto mais baixo do cruzamento do equador celeste com a esfera
celeste.
Isto
gera o fenômeno da noite mais longa e escura do ano.
À
medida que o sol vai aproximando-se de seu ponto mais alto visto a partir da
Terra, ocorre o fenômeno oposto: o dia começa a ficar mais longo até que no
solstício de verão ele chega ao apogeu da iluminação no dia mais longo do ano.
E
assim, neste ciclo infinito, os antigos comemoravam os ciclos solares com os
mais variados festejos, temperados pelos elementos culturais e geográficos de
cada povo.
No
período anterior ao da cristianização, Roma foi um império que promovia a
tolerância e a liberdade religiosa, mas isto se tornou um problema para os
planos de dominação patrícia, pois as revoltas regionais baseavam-se nas
identidades oriundas das religiões provinciais.
O
imperador Constantino pediu que seus correligionários pesquisassem qual seria a
melhor maneira de criar uma ideologia suficientemente forte para manter as
províncias romanas coesas e eles chegaram à conclusão de que o cristianismo
seria uma religião adequada a tais fins, desde que devidamente adaptada.
Constantino
formulou uma lenda em torno de sua conversão ao cristianismo e no ano de 325,
realizou um concílio com os bispos aliados do projeto imperial. Estes bispos
modificaram completamente o cristianismo, embutindo à figura de Jesus diversos
elementos pagãos.
Foram
escolhidos 4 evangelhos para dizer a verdade
incontestável da nova religião e todos os outros seriam considerados apócrifos, proibidos, queimados e
banidos sob pena de morte para os que os preservassem.
Jesus,
que fora um judeu reformista do século I, deveria ser completamente modificado
de sua originalidade e os livros que o descreviam passaram a ser adulterados
para coaduná-los ao projeto romano.
Nos
evangelhos reinventados, foram exaltadas passagens que bendizessem Roma tais
como dai a César o que é de César,
a lavagem de mãos de Pilatos e elementos de outros profetas ou divindades foram
atribuídos a Jesus.
Por
exemplo, Apolônio de Tyana, o mensageiro do Deus Apolo, era conhecido por
multiplicar os peixes, transformar vinho em água e ressuscitar mortos.
O
calendário oficial também começaria a ser modificado.
As
festas associadas aos Deuses pagãos começaram a ser cristianizadas, num
processo que durou quase dois milênios.
Ao
mesmo tempo em que se destruía a memória pagã, embutia seus símbolos e
significados no cristianismo, a religião oficial do império, criada para
atender aos interesses da elite escravocrata romana.
Um
banho de sangue varreu a Europa, norte da África e Oriente Médio para a
imposição do cristianismo. (Continua na página 5)
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