(continuação
da página 4) Com o édito do
imperador Teodósio, todos os cultos pagãos foram proibidos, passando a ser
considerados bruxarias e,
portanto, passíveis de pena de morte.
Mas
não se consegue destruir facilmente algo que está profundamente enraizado,
mesmo por aqueles que tenham o monopólio das armas e da violência. Assim, era
preciso desconstruir os cultos antigos e criar algo que fosse abjeto e
assustador, um personagem que seria a base para a destruição dos cultos pagãos:
o diabo.
Este
ser deveria incluir nele características dos Deuses pagãos e a referência seria
o Deus greco-romano Pã, com chifre, casco e cavanhaque de bode. Pã, que era o
Deus da alegria, da natureza e dos prazeres da vida, foi convertido no oposto
ao Cristo inventado, que era descrito como sério, assexuado e símbolo da
dominação da cidade sobre o campo.
A
nova entidade do mal incorporaria também o tridente de Poseidon, o popular Deus
dos mares. Pelos quatro ventos a igreja espalhou que Pã morrera e que em seu
lugar assumira o demônio que não tinha a beleza e a alegria do Deus-bode, mas a
maldade de um ser que representava tudo que deveria ser evitado.
Com
a queda do império romano, a igreja católica manteve as estruturas políticas e
militares do Estado sob seu controle. Agora ela passaria a desenhar a Europa
medieval à sua imagem e semelhança, implantando o feudalismo à medida que
convertia reis e nobres, forçadamente ou baseada na troca de interesses.
A
idade das trevas estava instalada e, com as grandes navegações, chegaram ao
continente americano, e assim o cristianismo foi implantado para colonizar o
território e submeter os índios à vontade do conquistador.
Esta
imagem, portanto, resgata o Cristo verdadeiro: uma combinação de Jesus
com Mithra e outras divindades solares como o Deus grego Apolo e o Deus egípcio
Rá. Também reconcilia duas divindades associadas ao amor, Jesus e Pã, sendo o
segundo detentor de chifres que representam a força animal, o poder natural.
Esta é, portanto, uma lúcida e completa imagem para representar o Deus Sol que
morre durante o outono e renasce no solstício de inverno. É o Deus imolado,
sacrificado, mas que triunfa sobre as trevas.
É
o Deus que ao longo do ano percorre as 12 constelações do zodíaco (a
eclíptica), que pode ser chamada de 12 apóstolos. É a divindade que oferece o
sangue e a carne, como fazia o Deus Dionísio.
É
o Deus que tem uma esposa, uma Deusa que é a Mãe-Natureza, que foi proibida de
ser cultuada, pois na nova religião o que vale são as leis do patriarcado.
Mas
ainda há um problema que permaneceu nisso tudo. O calendário cristão gregoriano
foi criado para o hemisfério norte e enquanto lá eles celebram o inverno, aqui
vivemos em pleno verão. O natal aqui deveria acontecer em torno de 24 de junho,
quando se festeja o dia de São João. Para completar, o capitalismo inventou o
consumismo como signo desta data e, portanto, pouco restou da originalidade dessa
festa.
Aos
que tiverem a compreensão da natureza como sagrada e das divindades solares
como representação da força criadora da vida, esta imagem é a mais bela
representação do Deus que todo ano nasce, morre e ressuscita no terceiro dia
após o solstício de inverno.
*****
Adendo: Na Roma antiga celebrava-se o nascimento de Mithra
em 25 de dezembro. Na Europa medieval celebrava-se Jesus. Mas não estamos no
mundo antigo, tampouco no medieval.
Estamos na modernidade
capitalista na qual existe apenas um deus: o deus-mercado. E o deus-mercado
baseia-se em duas leis: a exploração do trabalho e o fetichismo da mercadoria.
Pouco importa se se
acredita em alguma divindade.
O que importa é mentir para
as crianças que um bom velhinho lhes dá presentes produzidos por duendes
e trazidos pelas renas, quando na verdade os duendes são operários em
jornadas insanas de trabalho e as renas são contâiners transocêanicos.
Tudo isto para uma empresa
capitalista lucrar mais que em outra época do ano. Papai Noel é um porco que
menospreza aqueles que não têm dinheiro. Feliz festa da hipocrisia! Feliz hora
extra aos operários!
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