quinta-feira, 26 de novembro de 2015

HUMANITAS Nº 42 – DEZEMBRO DE 2015 – PÁGINA 5

(continuação da página 4) Com o édito do imperador Teodósio, todos os cultos pagãos foram proibidos, passando a ser considerados bruxarias e, portanto, passíveis de pena de morte.
Mas não se consegue destruir facilmente algo que está profundamente enraizado, mesmo por aqueles que tenham o monopólio das armas e da violência. Assim, era preciso desconstruir os cultos antigos e criar algo que fosse abjeto e assustador, um personagem que seria a base para a destruição dos cultos pagãos: o diabo.
Este ser deveria incluir nele características dos Deuses pagãos e a referência seria o Deus greco-romano Pã, com chifre, casco e cavanhaque de bode. Pã, que era o Deus da alegria, da natureza e dos prazeres da vida, foi convertido no oposto ao Cristo inventado, que era descrito como sério, assexuado e símbolo da dominação da cidade sobre o campo.
A nova entidade do mal incorporaria também o tridente de Poseidon, o popular Deus dos mares. Pelos quatro ventos a igreja espalhou que Pã morrera e que em seu lugar assumira o demônio que não tinha a beleza e a alegria do Deus-bode, mas a maldade de um ser que representava tudo que deveria ser evitado.
Com a queda do império romano, a igreja católica manteve as estruturas políticas e militares do Estado sob seu controle. Agora ela passaria a desenhar a Europa medieval à sua imagem e semelhança, implantando o feudalismo à medida que convertia reis e nobres, forçadamente ou baseada na troca de interesses.
A idade das trevas estava instalada e, com as grandes navegações, chegaram ao continente americano, e assim o cristianismo foi implantado para colonizar o território e submeter os índios à vontade do conquistador.
Esta imagem, portanto, resgata o Cristo verdadeiro: uma combinação de Jesus com Mithra e outras divindades solares como o Deus grego Apolo e o Deus egípcio Rá. Também reconcilia duas divindades associadas ao amor, Jesus e Pã, sendo o segundo detentor de chifres que representam a força animal, o poder natural. Esta é, portanto, uma lúcida e completa imagem para representar o Deus Sol que morre durante o outono e renasce no solstício de inverno. É o Deus imolado, sacrificado, mas que triunfa sobre as trevas.
É o Deus que ao longo do ano percorre as 12 constelações do zodíaco (a eclíptica), que pode ser chamada de 12 apóstolos. É a divindade que oferece o sangue e a carne, como fazia o Deus Dionísio.
É o Deus que tem uma esposa, uma Deusa que é a Mãe-Natureza, que foi proibida de ser cultuada, pois na nova religião o que vale são as leis do patriarcado.
Mas ainda há um problema que permaneceu nisso tudo. O calendário cristão gregoriano foi criado para o hemisfério norte e enquanto lá eles celebram o inverno, aqui vivemos em pleno verão. O natal aqui deveria acontecer em torno de 24 de junho, quando se festeja o dia de São João. Para completar, o capitalismo inventou o consumismo como signo desta data e, portanto, pouco restou da originalidade dessa festa.
Aos que tiverem a compreensão da natureza como sagrada e das divindades solares como representação da força criadora da vida, esta imagem é a mais bela representação do Deus que todo ano nasce, morre e ressuscita no terceiro dia após o solstício de inverno.
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Adendo: Na Roma antiga celebrava-se o nascimento de Mithra em 25 de dezembro. Na Europa medieval celebrava-se Jesus. Mas não estamos no mundo antigo, tampouco no medieval.
Estamos na modernidade capitalista na qual existe apenas um deus: o deus-mercado. E o deus-mercado baseia-se em duas leis: a exploração do trabalho e o fetichismo da mercadoria.
Pouco importa se se acredita em alguma divindade.
O que importa é mentir para as crianças que um bom velhinho lhes dá presentes produzidos por duendes e trazidos pelas renas, quando na verdade os duendes são operários em jornadas insanas de trabalho e as renas são contâiners transocêanicos.
Tudo isto para uma empresa capitalista lucrar mais que em outra época do ano. Papai Noel é um porco que menospreza aqueles que não têm dinheiro. Feliz festa da hipocrisia! Feliz hora extra aos operários!

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