quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

HUMANITAS Nº 43 – JANEIRO DE 2016 – PÁGINA 8

Um debate sobre trajetórias

Especial para o Humanitas

Sandro Ari Andrade de Miranda. Advogado e Mestre em Ciências Sociais. Mora em Pelotas/RS


Vivemos num mundo que se impõe como unilateral, onde os caminhos e os destinos são apresentados como únicos e já traçados.
Mesmo que o Ocidente não reconheça no seu arcabouço jurídico o sistema de castas, alguns grupos se assumem em condições privilegiadas e repudiam qualquer tipo de transformação.
Ora, se os caminhos já estão traçados, e os destinos pré-definidos, qual é a razão de viver?
Poderíamos ser substituídos por autônomos que, carentes de sentimentos, desejos e vontades, teriam muito mais facilidade para seguir tal roteiro. Contudo, a unilateralidade da vida e a restrição de alternativas, sobrevivem apenas num campo do pensamento dominado por aqueles que destroem e subjugam os mais fracos com o uso do seu poder, normalmente amparados na força econômica ou física.
Para estes, a possibilidade de aceitar que o mundo pode ser transformado, que novas forças sociais podem derrubar paradigmas, é objeto de medo constante. Não por acaso, somos policiados diariamente em nossas mentes, dentro do nosso íntimo, e forçados a aceitar conceitos pré-formados como únicos e verdadeiros.
Resistir a tal domínio do pensamento é um ato de insolência.
A rebeldia, o pensar diferente, é algo não aceito, e que deve ser punido com a exclusão pela SS midiática.
As crises são tratadas como insolúveis - muitas vezes maiores do que realmente são.
E a arte criativa e ousada do investimento na vida, e não no capital, também é conduta condenada pelo pensamento dominante, que nos força a sermos rígidos, amesquinhados e medíocres.
Somos eternamente condenados a não ter medo apenas do outro, mas de nós mesmos! Aliás, o medo absurdo que temos das nossas próprias ações, reações e pensamentos, nos leva a considerar nossos próprios erros como tragédias, e não como passos em busca de aprimoramento.
Pedir perdão e se arrepender é considerado como sinal de fraqueza, e não de grandeza moral. A assertiva frase popular errar é humano está perdendo conteúdo quando observamos as aberrações da violência provocada por alguns.
Hoje, ser diferente, pensar diferente, viver de forma distinta, fugir da mesmice imposta pelo pensamento único dominante, inclusive em relação aos hábitos de consumo, é um crime de lesa pátria. Apesar disto, ainda existe um grande espaço de resistência e que merece ser ocupado.
Não podemos ter medo de defender ideias, conceitos e valores destinados à construção de uma sociedade nova, equilibrada, justa e com equidade.
Ao contrário, esta é uma missão para as pessoas que ainda acreditam num mundo melhor.
Assim como Martin Luther King eu prefiro caminhar na chuva e me molhar, ser tratado como louco, do que viver inconformado aceitando passivamente o que me é imposto pela classe dominante. O meu papel, como militante e como agente social, é propor o novo, transformar, mesmo que isto importe em ruptura de paradigmas.
É preciso romper com as redomas, com as jaulas de ferro, e com os sistemas opressivos que nos aprisionam e nos impedem de pensar, de ir adiante, e de pôr em prática os nossos projetos.
Como deve ser triste a vida de uma pessoa que busca exclusivamente a proteção de uma redoma de cristal onde pode agir de forma mecânica na sua zona de conforto! É um caminho certo para uma vida de frustrações e para um envelhecimento precoce.
O mundo do conforto, do aprisionamento pelas horas, do controle pelo relógio, da eficiência mecânica, da aceitação da crueldade, da perda da sensibilidade, e de outras mazelas da sociedade, é o coveiro da nossa própria civilização!

HUMANITAS Nº 43 – JANEIRO DE 2016 – PÁGINA 7

O valor da ignorância

Júlio César Burdzinski Professor de Filosofia (RS) 
Especial para o Humanitas

Transcrito de www.ateus.net.com

Só sei que nada sei. Esta talvez seja a mais famosa sentença da história da Filosofia. Quem já não a ouviu? E quantos já não a pronunciaram em alguma ocasião? A sentença é originalmente atribuída a Sócrates, o filósofo seminal da Filosofia clássica grega.
Sócrates não registrou em texto seus ensinamentos, mas o mais famoso de seus discípulos, Platão, nos legou uma extensa obra. Esta obra é majoritariamente composta por diálogos. Também estes diálogos têm em Sócrates seu personagem central.
Se os diálogos platônicos estão mais próximos de serem uma exposição literal das palavras de Sócrates, ou uma criação filosófica e literária de Platão, não é importante aqui. O que importa é que Sócrates nos aparece como quem busca o conhecimento, alguém que questiona os supostos sábios sem se considerar sábio.
É a esse caráter ao mesmo tempo crítico e despretensioso de Sócrates que a sentença Só sei que nada sei se refere crítico em relação ao suposto conhecimento alheio; despretensioso em relação ao que ele próprio conhece.
Pois um conhecimento que não se sustenta diante da investigação racional não é de fato um conhecimento. É só algo que se parece com o conhecimento sem de fato o ser. É um pseudoconhecimento. E, como Sócrates não cansa de nos lembrar, o pseudoconhecimento é que nos afasta mais do conhecimento.
Não é preciso buscar aquilo que já temos. Assim, se pensamos ter o conhecimento, também pensamos não precisar buscá-lo.
Daí porque, se estamos iludidos a esse respeito, essa ilusão é o maior bloqueio para a obtenção do conhecimento. É somente na descoberta de nossa própria ignorância, que podemos nos colocar no caminho da busca do conhecimento.
A ignorância — ou, se preferirem, a consciência de nossa própria ignorância — não nos é dada gratuitamente; a ignorância tem um preço. Não a ganhamos, a conquistamos. E com trabalho, com muito trabalho.
Como tudo o mais que tem algum valor na vida, também a obtenção da ignorância exige esforço, paciência e dedicação. Pois ocorre que nos é muito mais natural crer do que duvidar. Parte considerável dos esforços dos filósofos, portanto, é dedicada à tarefa de obter essa autêntica ignorância. Pois a fonte do pseudoconhecimento é a pseudoignorância.
A pseudoignorância é o resultado da tentativa fracassada em eliminar as crenças irracionais que se acumulam em nosso espírito. Diante desse fracasso, continuamos a sustentar ideias infundadas e a guiar nossas ações com base em pontos de vista que não têm sustentação racional.
E tudo isto porque desde o início falhamos na tarefa de desmascarar nossa própria ignorância. Enfim, o valor da ignorância é extraordinário.  Defrontar a autêntica ignorância, único terreno sobre o qual o autêntico conhecimento pode ser erigido, é um empreendimento indispensável e virtualmente interminável.
O mundo nos oferece constantemente ideias enganosas das quais precisamos nos depurar e essa depuração não é um trabalho do qual possamos dar conta sem esforço e método. Ter sempre presente a necessidade deste trabalho e lembrar isso aos demais com uma persistência que beire a provocação - como fazia o próprio Sócrates - pode ser uma boa maneira de se começar a filosofar.

HUMANITAS Nº 43 – JANEIRO DE 2016 – PÁGINA 6

ATEUS FAMOSOS E SUAS FRASES REALISTAS

Dráuzio Varella (médico):  “A humanidade inteira segue uma religião ou crê em algum ser que dê sentido à sua existência. Os que não sentem necessidade dessas teorias são tão poucos que parecem extraterrestres”.

Chico Buarque (compositor, cantor e escritor):  “Eu não tenho crença. Fui criado na Igreja Católica e educado em colégio de padre. Simplesmente, perdi a fé. Eu sou ateu, como o meu tipo sanguíneo é esse”.

Caetano Veloso (cantor/compositor): “O Brasil deveria ser ateu, mas não existe o menor indício de que tenha vocação para isso. Mas o ateísmo filosófico moderno, não pode ser negado”.

Ian McKellan (ator):  “A Bíblia deveria ter um aviso na capa, dizendo: Isso é ficção! É um absurdo aquela passagem em que Jesus anda sobre as águas”.

John Malkovich (ator):  “Acredito em pessoas, em seres humanos, mas não consigo acreditar em algo sobre o qual não tenho absolutamente nenhuma evidência”.

Angelina Jolie (atriz): “Não preciso acreditar em um deus que me ameaça, nem esperar qualquer recompensa para ser cidadã”.

Ludwig Andreas Feuerbach (filósofo alemão - 1804/1872) - "Este é o mistério da religião: o homem projeta o seu ser na objetividade e então transforma a si mesmo num objeto face a essa imagem de si mesmo, assim convertida em sujeito. A religião tem como pai a miséria e como mãe a imaginação. O homem é o princípio da religião; o homem é o centro da religião; e o homem é o fim da religião. Sempre que a moralidade baseia-se na teologia, sempre que o correto torna-se dependente da autoridade divina, as coisas mais imorais, injustas e infames podem ser justificadas e impostas. Porque Deus é a mais alta subjetividade do homem, abstraída de si mesmo".

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

HUMANITAS Nº 43 – JANEIRO DE 2016 – PÁGINA 5

(continuação do texto da página 4) Esse é o sentimento que motivou a criação de uma célula sunita, formada por muçulmanos radicais e influenciada por grupos terroristas, que pegaram em armas para demonstrar sua insatisfação com a política local. Como diria Max Weber: Não existe vácuo de poder e, não me parece surpreendente que apareça, dentro desse contexto, uma célula extremista que ficou conhecida como ISIS.
Para dizer o óbvio, é importante sublinhar que nem todos da maioria Sunita são muçulmanos radicais. Nem todos os muçulmanos são radicais. E, por fim, nem todos os radicais fazem parte da criação do chamado Estado Islâmico. E, agora, chegamos aos dias atuais. Os países que apoiam o regime de Bashar al-Assad são Rússia, Irã e China. A oposição é apoiada pela Turquia, Arábia Saudita, Reino Unido, Estados Unidos e França.
Nesse contexto, Rússia e França fazem mais um dos seus acordos secretos, determinando, dessa vez, suas zonas de bombardeamento para que uma não atrapalhe os ataques da outra. Esses bombardeios acontecem livremente em diferentes áreas do país e são noticiados em meio a várias outras pílulas midiáticas, com um ar de cotidiano, como se não fossem importantes.
As potências justificam os bombardeios, dizendo que estão caçando terroristas da célula radical, mas esquecem de noticiar as mortes de civis que ainda estão perdidos dentro dessa bomba relógio.
Uma pergunta que precisa ser feita é: de onde vêm as armas, as munições e o resto do material bélico usado pelo exército e pelos rebeldes na Síria? Quem fornece? Quem manda entregar lá?
Nos últimos cinco anos, os Estados Unidos dirigiram uma campanha contra Assad, levando ajuda financeira para os rebeldes que lutavam no país.
Repito: se nos negarmos a refletir essas questões, estaremos fazendo parte da massa de manobra que apoia uma guerra perversa que matou, mata e matará muitos outros inocentes.
Muito falamos dos refugiados sírios, mas não falamos que quem consegue chegar na Europa é uma parte ínfima dessa população.
A grande maioria civil continua presa nos rincões do país ou nos campos das fronteiras terrestres.
Todas as estatísticas, aqui, são completamente abomináveis.
Os refugiados são pessoas que fogem desses mesmos inimigos e que tiveram sua vida marcada pela ação de terroristas.
Refugiados são as vítimas da ambição de países que desenham, recortam e dividem territórios no papel, esquecendo que neles, vivem seres humanos.
Os parisienses não foram as primeiras vítimas desse conflito e não serão as últimas.
É preciso pensar em soluções, relembrando as experiências desse passado recente.
Não, a Europa não está em guerra!
A França foi atacada por sete indivíduos, ao passo em que existem mais de 250 mil mortos na Síria em nome de uma política ocidental delirante.
É preciso pensar em ações que não se limitem à mera troca de bombardeios e que queiram levar a paz para uma região que, historicamente, só conhece a guerra que lhes foi imposta.
Mas será que essa é a vontade daqueles que detêm o poder? Será que a paz é o que as grandes nações de fato querem?

HUMANITAS Nº 43 – JANEIRO DE 2016 – PÁGINA 4

ANTES DE COMENTAR SOBRE EUROPA E ORIENTE MÉDIO PROCUREM SABER UM POUCO DE HISTÓRIA

 Especial para o Humanitas

Texto extraído de http://justificando.com

Gabriela Cunha Ferraz é advogada e mestra em Direitos Humanos pela Universidade de Estrasburgo e coordenadora nacional do CLADEM/Brasil

Quero escrever alguma coisa, mas não tenho forças e nem sei por onde começar. É tanta frase vazia, é tanto achismo, é tanta opinião desarrazoada, que tenho medo do futuro dos seres humanos que ainda vivem nesse planeta. Vivemos uma fase onde há muita opinião sendo compartilhada, mas pouca reflexão e muito menos discussão.
Parece-me fundamental conhecer a história moderna da humanidade, antes de manifestar qualquer opinião sobre os trágicos acontecimentos que testemunhamos na Europa, na África e no Oriente Médio. Se não nos debruçarmos sobre os fatos históricos que nos fizeram chegar até aqui, seremos, apenas, mais alguns dos fantoches facilmente manipulados pelas mídias e pelas grandes potências interessadas no caos e na manutenção da guerra.
O islamismo foi a última religião monoteísta a ser criada, derrotando o império romano e dominando a região que hoje forma a Síria, o Líbano, Irã, Iraque e Jordânia.
Foi nessa época que as cruzadas cristãs, vindas da Europa, invadiram o oriente para recuperar aquele território, usando, desde então, o nome da religião. O mesmo aconteceu com missões de Jesuítas que vieram ao Brasil para evangelizar nossos índios e ocupar nossas terras, mas essa é uma outra história.
Bom, depois dessa confusão inicial, quem se instalou por 600 anos nesse espaço foram os turcos que fundaram o Império Otomano e ocuparam essa região petrolífera até o começo da primeira guerra mundial. Com o império enfraquecido e o fim da guerra (1918), surgiram os acordos de paz, a Conferência de Paz de Paris e o Tratado de Sévres.
Mas, o que quase ninguém sabe é que antes, ainda em maio de 1916, houve a assinatura do acordo secreto Sykes-Picot, firmado entre França e Reino Unido. E, aqui, meus caros, a situação – que já era estranha, começa a ficar feia de verdade.
Por que esse acordo foi secreto? Porque a França e o Reino Unido resolveram decidir, só entre eles, quem ficaria com que parte da região do antigo Império Otomano. Sabe quando os países da Europa resolveram pegar uma régua e desenhar, reunidos na Alemanha, os contornos e as fronteiras dos países africanos?
Pois é, foi mais ou menos o mesmo que aconteceu aqui: o Reino Unido recebeu o controle dos territórios correspondentes, grosso modo, à Jordânia e ao Iraque e a França ganhou o sudeste da Turquia, da Síria, do Líbano e o norte do Iraque. Quem tiver a curiosidade de olhar o mapa mundi, vai perceber que a Síria tem uma riqueza bastante óbvia: uma importante saída para o mar. E a quem isso interessa? Ao capital, meus caros!
Mas para que esse plano funcionasse, os europeus precisavam contar com a ajuda dos cidadãos locais e, por isso, prometeram doar parte daquele território, onde a população árabe viveria em paz. Tipo assim: eu entro na sua casa, ocupo todos os cômodos, mas deixo você morando, feliz, na garagem. Então foi aqui, depois do fim do Império Otomano, que, para fragilizar e segregar o povo árabe formaram-se diferentes países, como a Síria, o Líbano e a Jordânia.
Essas pequenas nações passaram a viver sob o controle direto da França e do Reino Unido, mantendo governos de fachada, inteiramente submissos aos desejos europeus. Esse cenário dominou a história até que os países europeus foram expulsos, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial.
A partir deste marco histórico, as relações entre os países vizinhos se tornaram cada vez mais frágeis, os golpes de estados se sucedem e a ideologia laica, conhecida como Baath (o sonho de construir uma única nação árabe, com influência socialista) se espalhou.
É nesse momento que Hafez al-Assad, pai do Bashar al-Assad, assumiu o posto de Chefe de Estado e nacionalizou o petróleo, ao mesmo tempo que Saddam Hussein avocou o controle do Iraque. Significa dizer que, em plena guerra fria, o poder na Síria, passou a se concentrar nas mãos da minoria Xiita, laica, que representa apenas 13% da população, despertando questionamentos por parte da maioria Sunita. (continua na página 5)

HUMANITAS Nº 43 – JANEIRO DE 2016 – PÁGINA 3

REFÚGIO POÉTICO
                                                                              
POETA DO MÊS

Juareiz Correya nasceu em Palmares, Pernambuco, em 1951. Atualmente radicado no Recife. É poeta e editor. É diretor editorial da Panamérica Nordestal Editora, do Recife (PE). Publicou Poetas Dos Palmares, Americanto Amar América, Poesia Viva Do Recife, Coração Portátil, Poesia Do Mesmo Sangue,em parceria com José Terra (2007), Arraes na Boca Do Povo - Cordéis & Repentes; Ascenso, o Nordeste em Carne e Osso, biografia (2001).

MULHER MORENA
Rafael Rocha – Recife/PE
Do livro “Meio a Meio”/1981

Mulher morena que se estende
Nos lençóis brancos da vida
És o motivo maior deste poema
Tremores nas areias dos meus rios

Mulher morena que se entrega
Mórbida como quase que obrigada
És a fruta madura que mata minha fome
E pacifica a aridez das minhas origens

Mulher morena que incendeia
A víscera do pecado original
És a abertura que suga o meu sangue
E tonifica os meus nervos de animal

Mulher morena que se desmorona
Em contrações de cavalgadura
És a cama, o pão, a agonia
Onde consigo esquecer as amarguras.

HOJE
Antonio Carlos Gomes
Guarujá/SP

Hoje
É a angústia do amanhã
Sempre incerto.

O confronto
Do amor e do medo,
Eterna indecisão:
Ora um impulso grandioso
Ora uma depressão galopante.

Hoje
Coragem e medo
Dúvida
Caminhar
Ficar estático

Hoje
Sempre uma incerteza
Numa espera alvissareira.

HOMENS E BOIS
César Leal – Recife/PE
1924/2013

Como um cruzador regressa 
ao porto e vai descansar 
das muitas fadigas fundas 
em suas patas de radar, 
regressam os bois ao curral 
a mugir na cerração 
do pó que as patas levantam 
do lombo-azul do verão. 
Marcham sempre organizados 
- como em marcha um batalhão - 
são tristes, magros e tristes 
os magros bois do sertão. 
Alguns morrem mesmo bois, 
pescoço atado ao cambão, 
outros morrem a morte de homens: 
sangue a correr pelo chão. 
Esse o destino dos dois 
(homem ou boi, não importa o
                                          nome) 
ambos morrem para matar 
(dos canhões e homens) a fome.

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CARTAS DOS LEITORES

Que 2016 leve o Humanitas a continuar sua luta em prol da verdade e do humanismo. Geraldo Absalão de Lima – Salvador/BA
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Os temas apresentados por este pequeno/grande jornal levam o ser humano a pensar. Márcia Quirino Rocha – Jaboatão/PE
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Muito grato por publicar uma poesia minha no exemplar de novembro de 2015. Clodair Eduão Farias – Irecê/BA
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Feliz 2016 para todos que fazem o Humanitas. Riobaldo de Jesus Carvalho – Belo Horizonte/MG
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Feliz 2016, Humanitas. Vida longa. Regina Camila de Albuquerque – Olinda/PE

HUMANITAS Nº 43 – JANEIRO DE 2016 – PÁGINA 2

EDITORIAL

Em defesa da tolerância

O economista inglês John Stuart Mill disse em sua obra Sobre a Liberdade, que a humanidade terá muito a ganhar deixando que cada um viva como lhe parece bem, e não forçando cada um a viver como parece bem aos restantes.
Com isso ele quis dizer que o ser humano é beneficiado em seus vários espaços comuns quando permite o florescimento de vários estilos de vida e de ideias, pois estes representam experiências com as quais muito se poderá aprender sobre como lidar com a raça humana.
Na verdade, ninguém tem o direito de dizer a outro como viver ou como agir, desde que esse viver e esse agir não prejudiquem a terceiros.
Vale para todos os alienados fundamentalistas religiosos e fascistas que pretendem impor à sociedade um controle rígido sobre os pensamentos para salvar o homem de demônios inexistentes.
Nasce assim a pergunta: “o tolerante deve tolerar o intolerante?”. A resposta é: NUNCA! Para sermos tolerantes devemos proteger a tolerância de tal modo que todos possam expor um ponto de vista, mas sem forçar os demais a aceitá-lo.
O raciocínio honesto e a argumentação devem dar as caras na defesa da tolerância. Devem se tornar as principais leis a seu favor. Sim, porque a tolerância é uma virtude rara e importante. Já a intolerância é um fenômeno psicologicamente interessante porque é sintomático da insegurança e do medo. O medo gera a intolerância e a intolerância gera o medo: o ciclo é vicioso.
Neste início de ano devemos entrar na luta pela tolerância visto que os intolerantes estão nas ruas vestidos com as fardas do fascismo radical e do fundamentalismo evangélico, buscando fazer com que vivamos e atuemos de acordo com o modo de pensar deles.
Devemos levar em consideração a máxima de que é possível tolerar uma crença ou uma prática sem a aceitar, pois o mundo é suficientemente vasto para permitir a coexistência de várias alternativas.
O raciocínio imparcial de um espírito informado favorecerá o bem e a verdade. Toleramos melhor os outros quando sabemos como tolerar a nós mesmos; aprender a fazê-lo é o objetivo da vida civilizada.
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O enigma da descrença – Morton Hunt (*)

Por que descrentes são diferentes da grande maioria de seus semelhantes? Eles não são, entretanto, únicos, pois ao longo da história civilizada uma pequena minoria não necessitou de explicações sobrenaturais religiosas para seus próprios pensamentos ou para os mistérios, tragédias e glórias do dia-a-dia da vida.
Não me refiro somente aos ateus ferrenhos, mas àquela minoria maior que manteve ou mantém um conceito deístico de Deus ou que considera as leis inerentemente consistentes da natureza - que governam o comportamento de galáxias, genes e quarks - com a reverência e o respeito que outros conferem a um deus mais tradicional.
O melhor exemplo de tal pessoa de fato precede a ciência moderna. É Spinoza, para quem Deus era co-término com o Universo, nem exterior nem acima, mas idêntico a ele e a todas suas leis naturais.
Para ele, Deus não era nada mais nada menos que o corpus total dessas leis.
Talvez descrentes não rejeitem as necessidades e impulsos religiosos da raça humana ao adaptá-los em termos realísticos e humanísticos, trocando os contos de fada das religiões convencionais por contos mais intelectuais, proporcionados pela ciência moderna - leis naturais e evidências demonstráveis e reproduzíveis de relações de causa e efeito.
Talvez os descrentes satisfaçam a necessidade humana básica por ordem e integração social dentro da sub-sociedade da própria ciência e sua estrutura hierárquica. Talvez para os descrentes o humanismo científico ofereça respostas satisfatórias a todos os profundos e problemáticos mistérios que a religião propõe-se a responder, e os descrentes estão confortáveis com tais respostas. apesar de serem incompletas e apesar de que, independentemente de quanto nosso conhecimento cresça, permanecerão assim, com novas descobertas sempre levantando novas e mais complexas questões sobre a realidade.
Finalmente, talvez os descrentes divirjam da grande maioria de seres humanos de um outro modo; talvez sejam psicologicamente adultos, não necessitando da invisível figura de um pai, capazes de encarar a realidade da vida e morte humanas sem medo (ou ao menos de conviver com tal medo) e sensatos demais para acreditar em qualquer coisa sem comprovação, em qualquer explicação do mundo que seja impossível ou absurda.
Todavia, isso é somente uma conjetura; talvez eu esteja lisonjeando os descrentes sem motivo; talvez eles não sejam tão especiais e maravilhosos. Mas espero que sejam.

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(*) Morton Hunt - psicólogo e historiador norte-americano

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

HUMANITAS Nº 43 – JANEIRO DE 2016 – PRIMEIRA PÁGINA

Juareiz Correya, Rafael Rocha, Antonio Carlos Gomes e César Leal (In memoriam) são os poetas do REFÚGIO POÉTICO
na página 3

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A advogada Gabriela Cunha Ferraz disserta sobre a Europa e
o Oriente Médio nas páginas 4 e 5

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Na página 8, o advogado Sandro Ari Andrade de Miranda diz

que temos de deixar de ser marionetes