ESCOLHA O SEU PRÓPRIO JESUS
Especial para o Humanitas
Texto extraído de www.thomasdetoledo.blogspot.com.br
Thomas Henrique de Toledo Stella é professor e
historiador pela FFLCH/USP. Mora em São Paulo /SP
Um
dos assuntos mais chatos de se conversar é sobre Jesus. Afinal, há tantos tipos
distintos descrevendo Jesus, que chego a uma simples conclusão: ele é o que
cada um quer que seja.
Vejam alguns dos exemplos de descrições que
ouvi sobre este famoso homem:
Para os cabalistas, Jesus é uma
representação arquetípica da esfera de Tipharet.
Para os católicos, Jesus é o filho único de
Deus e nós não somos nada. Para os judeus, Jesus foi um agitador e nem pode ser
chamado de messias.
Para os muçulmanos, Jesus é um profeta, mas
Mohammed é mais importante. Para os budistas, Jesus foi um homem que encontrou
o Nirvana. Para os hindus, Jesus foi um avatar que saiu da roda de Samsara.
Para os tântricos, Jesus despertou a
kundalini junto à flor de lótus de Madalena. Para os essênios, Jesus era um
sábio professor. Para os espíritas, Jesus é reencarnação de um profeta do
Antigo Testamento.
Para os esotéricos, Jesus era um místico
que pregou o amor incondicional.
Para os esquisotéricos, Jesus encarnou em
duas pessoas ao mesmo tempo. Para os evangélicos, Jesus é quem proíbe os gays
de se casarem.
Para os gays, Jesus era suspeito por que só
andava com homens e prostitutas.
Para os alcoólatras, importa saber que
Jesus gostava de vinho. Para os maconheiros, Jesus era hippie cabeludo com um
sudário de cânhamo.
Para os comunistas, Jesus era um líder
revolucionário.
Para os capitalistas, Jesus é uma lucrativa
mercadoria. Para os ufólogos, Jesus era um alienígena que não ressuscitou, mas
foi abduzido.
Para os palestinos, Jesus era um militante
anti-sionista. Para os rastafaris, Jesus era negão e tinha dreads. Para os
alemães, Jesus era loiro e de olhos azuis.
Para os cariocas, Jesus está de frente para
os condomínios ricos e de costas para as favelas.
Também escolhi a minha própria visão: a de
um historiador.
Jesus, assim como muitos outros, em tantas
sociedades e períodos históricos foi um homem à frente de seu tempo.
Morreu condenado como todos que propuseram
algo radicalmente novo e seu sofrimento não foi diferente de vários rebeldes
que existiram na História.
Jesus jamais propôs criar uma religião e
provavelmente teria caído no esquecimento se não fosse um homem chamado Paulo
ter criado uma doutrina, uma igreja católica ter criado um dogma e um império
romano tê-lo transformado em líder religioso.
Assim surge uma divindade chamada Cristo,
muito diferente do homem Jesus, que incorporou histórias de outros Deuses,
semideuses e heróis.
Jesus Cristo tornou-se, portanto, uma
marca, um logotipo que justificou massacres, guerras, colonialismos,
assassinatos e crimes. Instituições beneficiaram-se de seu mito e tornaram-se
poderosas: impérios, igrejas, comerciantes, organizações.
Seu espectro tornou-se
uma das mais valiosas mercadorias para os que se nutrem da indústria da fé.
Assim Jesus Cristo tornou-se o oposto do jovem mortal Yeheshua (Jesus em
aramaico), que se metamorfoseou em milhares e milhares de histórias, algumas
hilárias e folclóricas, outras abstrusas.
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