quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

HUMANITAS Nº 44 – FEVEREIRO DE 2016 – PÁGINA 5

CHIQUINHA GONZAGA: UMA
MULHER ALÉM DO TEMPO

Anne Christine Mendes - Olinda/PE
Especial para o Humanitas

“Ó abre alas que eu quero passar / Peço licença pra poder desabafar / A jardineira abandonou o meu jardim / Só porque a rosa resolveu gostar de mim”.
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Para definir Chiquinha Gonzaga, paixão é a palavra mais adequada. Essa mulher foi uma apaixonada pela vida e pelos ideais. Filha de uma mulata e de um militar de família abastada, Francisca Edwiges Gonzaga nasceu em 1847, na época da escravidão e faleceu em 28 de fevereiro de 1935.
Foi educada para ser uma dama, mas enfrentou forte preconceito, pois sua postura a colocava à frente de seu tempo. Porém, realizou seu desejo de tornar-se compositora.
Ela revolucionou os costumes e a música popular da época. Lutou pelo respeito aos direitos autorais e frequentou a vida boêmia, tocando piano em grupos de choro, bailes e teatros, enquanto as mulheres daquele tempo ficavam em casa, cuidando da vida doméstica.
Introduziu o violão, instrumento até então considerado de malandro, nos salões do Rio de Janeiro. Foi a primeira mulher a reger uma orquestra no país.
Compôs a primeira música de Carnaval, a marcha Ô Abre Alas (1899), que se tornou o seu maior sucesso e é tocada até hoje nos bailes carnavalescos Brasil afora.
Chiquinha Gonzaga cresceu ao som de polcas, maxixes, valsas e modinhas. Casou-se aos 16 anos, separando-se dois anos depois. Com o filho ainda no colo, foi recebida pelo meio musical carioca.
Sua primeira composição de sucesso foi a polca Atraente, de 1877, feita quando era integrante do conjunto de choro Carioca, no qual foi introduzida pelo flautista Antônio da Silva Calado.
A música agradou ao público bem na véspera do Carnaval daquele ano e levou suas composições populares para dentro dos salões cariocas.
Em 1880, escreveu e musicou o libreto Festa de São João, que manteve inédito.
A peça de teatro “Forrobodó", musicada por ela, e apresentada em um bairro pobre do Rio de Janeiro, tornou-se sucesso, atingindo 1.500 apresentações.
As músicas são cantadas por toda cidade. Forrobodó torna-se o maior sucesso teatral de Chiquinha e um dos maiores do Teatro de Revista do Brasil.
Em 1885 estreou como maestrina em parceria com Palhares Ribeiro, compondo a opereta em um ato A Corte na Roça.
Compôs A Filha de Guedes (1885), O Bilontra e a Mulher-Homem (1886), O Maxixe na Cidade Nova (1886) e O Zé Caipora (1887), entre mais de duas mil composições. Em 1897, todo o Brasil dançou sua estilização do corta-jaca, sob a forma do tango Gaúcho, mais conhecido como Corta-Jaca.
Ela participou da campanha abolicionista, tornando-se alvo dos preconceituosos da época. Contribuiu para fixar o cancioneiro popular brasileiro com maxixes, modinhas e o nascente samba urbano e também foi uma das primeiras a introduzir o violão nos salões cariocas.
Em 1899, Chiquinha conhece o músico português João Batista Fernandes Lages. Ela com 52 anos e ele com apenas 16, começaram um relacionamento. Para não enfrentar o moralismo da época, Chiquinha registrou João Batista como seu filho. Viveram juntos e felizes, mas Chiquinha protegia corajosamente a sua privacidade.

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