EDITORIAL
Carnaval é a vida em festa
O mundo
mágico do Carnaval renasce outra vez nas ruas e na maioria dos lares
brasileiros neste começo de fevereiro. As fantasias saem dos guarda-roupas, bem
como as camisetas coloridas, as máscaras, os adereços e as lantejoulas.
Os
inimigos da festa podem reclamar à vontade. São livres para isso. As religiões
cristãs fundamentalistas e outras podem dizer que essa é a festa do diabo e da
orgia pagã, com mulheres despidas nas ruas e a liberação total do prazer.
Fiquem
à vontade para reclamar, afinal de contas estamos em um país livre e cada um
faz suas escolhas.
O que interessa mesmo ao cidadão comum, aquele
que trabalha o ano inteiro, é aproveitar os três dias de Momo, cair na folia,
dançar, frevar, sambar, deixar a imaginação flutuar e ele, o cidadão, se
transformar em um personagem qualquer de um reinado utópico.
Sonhemos,
porque por mais ilusório que seja este sonho, por mais difícil que ele possa
ser realizado, ajuda o ser humano a ganhar mais esperanças na vida e a continuar
sua luta por um lugar ao sol.
Que
os trabalhadores, as donas de casa, os jovens e as crianças saiam às ruas com
sorrisos no rosto, desfilando com suas incríveis e divertidas fantasias.
Carnaval
é a única festa do mundo que irmana e congraça as pessoas. É a única festa onde
os sonhos se tornam realidade, mesmo que seja por alguns poucos dias.
No
Recife, a população vai desfilar e dançar no Galo da Madrugada.
No
Rio de Janeiro, as escolas de samba preparam seus coloridos para encher a vista
dos foliões no Sambódromo.
Em
Salvador, os trios elétricos e os afoxês explodem de alegria.
O Carnaval de clubes
não existe mais, porém, as festas das ruas e o colorido das fantasias, os
frevos, os sambas, os afoxês e os maracatus dão seus toques folclóricos como a
dizer que a vida sem festa e sem música não é vida.
O ser humano comum
precisa do Carnaval - essa fantástica máquina de fabricar sonhos - para que
possa relaxar um pouco das agruras do cotidiano.
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Celebração da amizade – Eduardo Galeano (*)
Juan Gelman
me contou que uma senhora brigou a guarda-chuvadas, numa avenida de Paris,
contra uma brigada inteira de funcionários municipais. Os funcionários estavam
caçando pombos quando ela emergiu de um incrível Ford bigode, um carro de
museu, daqueles que funcionavam a manivela; e brandindo seu guarda-chuva,
lançou-se ao ataque.
Agitando os
braços abriu caminho, e seu guarda-chuva justiceiro arrebentou as redes onde os
pombos tinham sido aprisionados. Então, enquanto os pombos fugiam em alvoroço
branco, a senhora avançou a guarda-chuvadas contra os funcionários.
Os
funcionários só atinaram em se proteger, como puderam, com os braços, e
balbuciavam protestos que ela não ouvia: mais respeito, minha senhora, faça-me
o favor, estamos trabalhando, são ordens superiores, senhora, por que não vai
bater no prefeito?; Senhora, que bicho picou a senhora?; esta mulher
endoidou...
Quando a
indignada senhora cansou o braço, e apoiou-se numa parede para tomar fôlego, os
funcionários exigiram uma explicação.
Depois de um
longo silencio, ela disse:
- Meu filho
morreu!
Os
funcionários disseram que lamentavam muito, mas que eles não tinham culpa.
Também disseram que naquela manhã tinham muito o que fazer, a senhora compreende?...
- Meu filho
morreu! - repetiu ela.
E os
funcionários: sim, claro, mas que eles estavam ganhando a vida, que existem
milhões de pombos soltos por Paris, que os pombos são a ruína desta cidade...
- Cretinos!
- fulminou a senhora.
E longe dos
funcionários, longe de tudo, disse:
- Meu filho
morreu e se transformou em pombo!
Os
funcionários calaram e ficaram pensando um tempão. Finalmente, apontando os
pombos que andavam pelos céus e telhados e calçadas, propuseram:
- Senhora:
por que não leva seu filho embora e deixa a gente trabalhar?
Ela ajeitou
o chapéu preto:
- Ah! Não!
De jeito nenhum!
Olhou
através dos funcionários, como se fossem de vidro, e disse muito serena:
- Eu não sei
qual dos pombos é meu filho. E se soubesse, também não ia levá-lo embora. Que
direito tenho eu de separá-lo de seus amigos?
*****
(*) O Livro dos
Abraços; Galeano, Eduardo.
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