quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

HUMANITAS Nº 44 – FEVEREIRO DE 2016 – PÁGINA 8

FEVEREIRO MARCA O ANIVERSÁRIO DA MORTE DA PRINCESA NEGRA
Especial para o Humanitas

Rafael Rocha é escritor, jornalista e editor-geral deste Humanitas. Mora no Recife/PE

Já ouvimos falar de Zumbi, o líder do Quilombo de Palmares, onde negras e negros que fugiam da escravidão podiam encontrar refúgio e organização política.
Tratamos esse tema na edição de novembro de 2015 deste Humanitas. No entanto, poucas pessoas conhecem Dandara dos Palmares, esposa de Zumbi, com quem teve três filhos (Motumbo, Harmódio e Aristogíton), e uma figura tão importante quanto ele.
O nome Dandara significa princesa negra ou princesa guerreira. Ela foi uma das lideranças femininas negras que lutaram, junto com Zumbi, contra o sistema escravocrata do século XVII.
Não há registro do local e da data de seu nascimento, e muito menos de sua ascendência africana, mas as pesquisas de alguns poucos historiadores nos levam a crer que ela nasceu no Brasil, estabelecendo-se no Quilombo dos Palmares quando ainda era criança.
Tal e qual o marido Zumbi, ela também lutou com armas pela libertação total das negras e dos negros no Brasil.
O machismo esqueceu Dandara, pois ela não foi jamais estudada nos livros didáticos e muito menos nas escolas.
De forma lamentável, até mesmo os movimentos feministas e aqueles a favor da negritude a esqueceram.
Não é nada incomum isso. As mulheres negras foram esquecidas nos livros de história, de poesia, de literatura e de sociologia.
O machismo, ainda hoje predominante no país, não oferece posição de destaque e voz de decisão às mulheres e, aliando-se ao racismo, dá vez apenas às mulheres brancas.
Saber quem foi Dandara ocorre apenas devido a pesquisas solitárias de pessoas desejosas de mais conhecimentos sobre a cultura humana. Graças a tais pessoas, mulheres como Dandara permanecem vivas na história do Brasil.
Se essa líder existisse hoje ainda assim não seria muito bem vista e aceita pelas pessoas que se negam a enxergar a existência de racismo em nossa sociedade.
Dandara não pode viver na sombra de Zumbi dos Palmares. Ela também foi uma heroína e deve ser lembrada como alguém que lutava para que a mulher negra ganhasse autonomia absoluta e liberdade total.
Quando os primeiros negros se rebelaram contra a escravidão no Brasil e formaram o Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas, Dandara estava junto com Ganga-Zumba.
Na condição de líder, ela chegou a questionar os termos do tratado de paz assinado por Ganga-Zumba e o governo português. Posicionando-se contra o tratado, opôs-se a Ganga-Zumba, ao lado de Zumbi.
Para Dandara, a paz em troca de terras no Vale do Cacau era a destruição da República de Palmares e a volta à escravidão.
Ela suicidou-se, jogando-se de uma pedreira ao abismo, depois de presa, em 6 de fevereiro de 1694, para não retornar à condição de escrava, logo após a destruição da Cerca Real dos Macacos, que fazia parte do Quilombo dos Palmares.
Dandara foi e continua sendo uma figura feminina emblemática e uma das provas reais de que a mulher não é um sexo frágil.
Além dos serviços domésticos, plantava, trabalhava na produção da farinha de mandioca, caçava e lutava capoeira, além de empunhar armas e liderar as falanges femininas do exército negro do Quilombo dos Palmares.
Para a historiadora e especialista em história e cultura afro-brasileira Sandra Santos, Dandara não ganhou espaço nos registros oficiais por vivermos num mundo sexista e racista. “Dandara, assim como Maria Felipa (heroína da independência da Bahia) e Luísa Mahin (participante da Sabinada), simplesmente são ignoradas pelos livros didáticos, mas sobrevivem no imaginário popular porque se identificam e são identificadas com as mães e companheiras espalhadas por todo o território nacional”.

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