FEVEREIRO MARCA O ANIVERSÁRIO DA MORTE
DA PRINCESA NEGRA
Especial para o Humanitas
Rafael Rocha
é escritor, jornalista e editor-geral deste Humanitas. Mora no Recife/PE
Já ouvimos
falar de Zumbi, o líder do Quilombo de Palmares, onde negras e negros que
fugiam da escravidão podiam encontrar refúgio e organização política.
Tratamos
esse tema na edição de novembro de 2015 deste Humanitas. No entanto,
poucas pessoas conhecem Dandara dos Palmares, esposa de Zumbi, com quem teve
três filhos (Motumbo, Harmódio e Aristogíton), e uma figura tão importante
quanto ele.
O nome
Dandara significa princesa negra
ou princesa guerreira. Ela foi
uma das lideranças femininas negras que lutaram, junto com Zumbi, contra o
sistema escravocrata do século XVII.
Não há
registro do local e da data de seu nascimento, e muito menos de sua ascendência
africana, mas as pesquisas de alguns poucos historiadores nos levam a crer que
ela nasceu no Brasil, estabelecendo-se no Quilombo dos Palmares quando ainda
era criança.
Tal e qual o
marido Zumbi, ela também lutou com armas pela libertação total das negras e dos
negros no Brasil.
O machismo
esqueceu Dandara, pois ela não foi jamais estudada nos livros didáticos e muito
menos nas escolas.
De forma
lamentável, até mesmo os movimentos feministas e aqueles a favor da negritude a
esqueceram.
Não é nada
incomum isso. As mulheres negras foram esquecidas nos livros de história, de
poesia, de literatura e de sociologia.
O machismo,
ainda hoje predominante no país, não oferece posição de destaque e voz de
decisão às mulheres e, aliando-se ao racismo, dá vez apenas às mulheres
brancas.
Saber quem
foi Dandara ocorre apenas devido a pesquisas solitárias de pessoas desejosas de
mais conhecimentos sobre a cultura humana. Graças a tais pessoas, mulheres como
Dandara permanecem vivas na história do Brasil.
Se essa
líder existisse hoje ainda assim não seria muito bem vista e aceita pelas
pessoas que se negam a enxergar a existência de racismo em nossa sociedade.
Dandara não
pode viver na sombra de Zumbi dos Palmares. Ela também foi uma heroína e deve
ser lembrada como alguém que lutava para que a mulher negra ganhasse autonomia
absoluta e liberdade total.
Quando os
primeiros negros se rebelaram contra a escravidão no Brasil e formaram o
Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas, Dandara estava junto
com Ganga-Zumba.
Na condição
de líder, ela chegou a questionar os termos do tratado de paz assinado por
Ganga-Zumba e o governo português. Posicionando-se contra o tratado, opôs-se a
Ganga-Zumba, ao lado de Zumbi.
Para
Dandara, a paz em troca de terras no Vale do Cacau era a destruição da
República de Palmares e a volta à escravidão.
Ela
suicidou-se, jogando-se de uma pedreira ao abismo, depois de presa, em 6 de
fevereiro de 1694, para não retornar à condição de escrava, logo após a
destruição da Cerca Real dos Macacos, que fazia parte do Quilombo dos Palmares.
Dandara foi
e continua sendo uma figura feminina emblemática e uma das provas reais de que
a mulher não é um sexo frágil.
Além dos
serviços domésticos, plantava, trabalhava na produção da farinha de mandioca,
caçava e lutava capoeira, além de empunhar armas e liderar as falanges
femininas do exército negro do Quilombo dos Palmares.
Para
a historiadora e especialista em história e cultura afro-brasileira Sandra
Santos, Dandara não ganhou espaço nos registros oficiais por vivermos num mundo
sexista e racista. “Dandara, assim
como Maria Felipa (heroína da independência da Bahia) e
Luísa Mahin (participante da Sabinada), simplesmente são ignoradas
pelos livros didáticos, mas sobrevivem no imaginário popular porque se
identificam e são identificadas com as mães e companheiras espalhadas por todo
o território nacional”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário