AGOSTO, HUMANITAS E SUPERSTIÇÕES
Especial para o Humanitas
Rafael Rocha é
jornalista, poeta e editor-geral deste Humanitas.
Mora no
Recife/PE
Neste
mês em que o HUMANITAS completa quatro anos de existência seria de bom
tom recordar a difamação que agosto ganha por meio dos supersticiosos.
Em todo o mundo, especialmente nos países
latinos, agosto é o mês das assombrações, dos azares, das infelicidades, das
coisas horríveis que acontecem com as pessoas. Isso é o que diz o folclore. E,
inclusive, agosto é o mês do folclore.
As pessoas supersticiosas acreditam nessa
má fama que o mês possui, arraigada desde épocas remotas. Assim, muitos deixam
de casar, deixam de fazer negócios e mudar de residência e ainda acreditam em
bruxas como se estivessem vivendo na Idade Média.
Como mês do folclore no Brasil, agosto traz
à tona as maiores riquezas de nossas tradições e crenças populares, também
existentes em todos os meses do ano.
A cultura de um povo, em primeiro plano, é
medida por suas tradições folclóricas que jamais deveriam ser contaminadas por
uma visão prática da vida. A riqueza cultural brasileira está sendo mantida em
ebulição e cheia de vivacidade no Nordeste, Norte e no Centro-Oeste do país.
Ainda que agosto seja considerado rima de
desgosto devemos levar em conta que as superstições inerentes ao mês fazem
parte do folclore de cada nação.
Os nossos vizinhos argentinos acreditam que
lavar a cabeça e os cabelos nesse mês vai dar azar a quem fizer isso. “No lavarse la cabeza em el mês de agosto
porque se llama a la muerte”, diz um ditado argentino.
Muitos fatos ocasionaram esse estigma. Em
agosto ocorreram coisas ruins tanto no âmbito natural do planeta como no
político. É difícil afirmar qual a origem exata
dessa crendice. Sabemos, sim, que foram os romanos quem deram este nome ao
oitavo mês do ano, numa homenagem ao imperador Augusto.
Os romanos,
naquela época, já acreditavam no mau agouro do mês, período em que uma criatura
horripilante cruzava os céus da cidade expelindo fogo pelas ventas, mas a
criatura era nada mais e nada menos que a constelação de Leão.
O dia 24 de agosto
de 1572 ficou gravado na História quando, por ordem de Catarina de Médici,
rainha da França, ocorreu o massacre da noite de São Bartolomeu. Matança
promovida pelos católicos franceses e que praticamente dizimou os crentes
huguenotes habitantes de Paris. Outros fatos também marcam o mês de agosto como
nefasto: no Brasil a superstição ganhou mais fama ainda no inicio da Primeira
Guerra Mundial que eclodiu no dia 1º de agosto de 1914.
Eis uns versos publicados no “Correio da Manhã”, do Rio de
Janeiro: “Mês terrível, funesto mês
de agosto/ Mês de desgosto, mês trágico e fatal!/ Soou pelo espaço o tom da
guerra/ Corre na terra sangue em caudal”.
Na área política, o suicídio de Getulio
Vargas em 24 de agosto de 1954 e a renúncia de Jânio Quadros em 25 de agosto de
1961, incrementaram ainda mais a ideia de mês fatídico.
Luiz Gonzaga, o nordestino Rei do Baião,
morreu em 2 de agosto de 1989; o poeta Carlos Drummond de Andrade, em 17 de
agosto de 1987; Hiroshima foi destruída por uma bomba atômica no dia 6 de
agosto de 1945; o Muro de Berlim começou a ser construído em 13 de agosto de
1961.
Mais: em 2 de agosto de 1976 morreu
Juscelino Kubitschek outro ex-presidente do Brasil, em acidente
automobilístico; e no dia 12 de agosto de 1985 ocorreu o maior desastre da
aviação que matou 524 pessoas
Não devemos acreditar no azar ou na sorte.
O mês de agosto é igual a tantos outros meses, apenas a tradição folclórica
resolveu colocá-lo no pedestal de mês fatídico como podia ter colocado qualquer
outro mês do ano.
Um
bom exemplo disso é que este HUMANITAS nasceu no 1º dia de agosto de
2012 e sempre estamos aqui a comemorar essa data com o ufanismo comum a todos
os livres pensadores.