segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

HUMANITAS Nº 56 – FEVEREIRO DE 2017 – PÁGINA 8


Carnaval!
Festa de cores e luzes!

Especial do Humanitas

No fim deste mês de fevereiro todos os rincões de Pernambuco entram em festa. É Carnaval!
A partir do sábado, 25 de fevereiro, a população estará curtindo o Carnaval de rua! O Frevo! O Maracatu! Os Caboclinhos!
Desde o fim de 2016 que os pernambucanos estão a se preparar para o reinado de Momo.
A folia está presente na alma do recifense, do olindense e dos demais habitantes de outros torrões da terra pernambucana, como se as vidas de todos dependessem dessa louca algazarra.
No sábado, 25 de fevereiro, a festa começa oficialmente.
Nessa data, o maior bloco carnavalesco do mundo, o “Galo da Madrugada” sai às ruas, abrindo a festa, que já teve início algumas semanas antes com as prévias dos blocos, clubes e troças.
Na Quarta-feira de Cinzas, quando a folia acaba, os mais diversos blocos denominados Bacalhau na Vara ainda levam milhares de foliões às ruas para um último adeus à dionisíaca festa, ao frevo, aos amores fugazes e aos sonhos passageiros nascidos em três dias.
Para quem não sabe, o Carnaval de Pernambuco, principalmente no Recife e em Olinda é uma festa genuinamente popular, ainda que os governantes queiram transformar o tradicional evento em algo diferenciado, negligenciando o povo e valorizando o carnaval fechado dentro de espaços apenas abertos para a elite.
Sua majestade, o “Frevo”, continua a reinar, consagrado como símbolo da identidade cultural pernambucana e Patrimônio Imaterial da Humanidade desde 5 de dezembro de 2012.
O Carnaval de Pernambuco é a festa de todos os ritmos. Tem, além do frevo, o maracatu, o samba, rock, e muitas cores, que se misturam num emaranhado de mulheres e homens, fantasiados ou não.

HUMANITAS Nº 56 – FEVEREIRO DE 2017 – PÁGINA 7

O olhar da traição

Especial para o Humanitas

Antonio Carlos Gomes é médico e um dos mais atuantes colaboradores deste Humanitas. Mora em Guarujá/SP

No reino animal, ao qual pertencemos, há duas e apenas duas formas aceitas de combate: guerra e predação. O predador ataca sua presa, procurando alimentação, ou cercando-a como fazem os lobos, ou pelas costas como os leões com os grandes animais do qual se alimentam. Faz parte da sobrevivência do grupo e da espécie.
Entre iguais a guerra é sempre frontal, o animal que foge e é ferido pelas costas denomina-se covarde, do mesmo modo que aquele que ataca seus iguais pelas costas sem ser notado.
O humano em sua história tem a tradição de, em conchavos, envenenamentos e punhaladas vencer deslealmente e sem luta seus adversários. A isto damos o nome de traição. Uma vez bem-sucedida a covardia, o elemento enfrentará dois olhos.
Todos, nesta sociedade unanimemente chamada de louca, vivemos sobre dupla vigilância. Somos formados socialmente em nossa infância pelo olhar, olhamos todos e deles incorporamos valores que nos acompanharão pela vida e nos olham dia e noite, vigiam nossas ações e nosso repouso. Sempre o olhar interno está presente estejamos só ou acompanhados.
Por outro lado, o olhar de cada pessoa que cruza nosso caminho, que comparamos conosco, mesmo que não se dirija a nós é presente. A roupa que usa, o penteado, o modo de andar ou a expressão facial olha e compara, não vivemos sem que a sociedade nos olhe e é exatamente isso que conforma o grupo social.                                  
O traidor tem que enfrentar esses dois olhos. O interno que o reprova, mesmo que tente demonstrar que venceu e é superior e também cada pessoa que passa a sua frente.
A duplicidade lembra a paranoia, onde pelo olhar se projeta a própria angústia e os próprios medos a outro.
Nessa cópia de loucura, sente o olhar de reprovação de todos, independentemente  de ser verdadeiro e direto ou falso e dispersivo: para ele todos os reprovam.
Os dois olhares passarão a guiar seu novo mundo infrator, o interno que o recrimina sem parar e o externo que o acusa a cada encontro com humanos. Está instalado o delírio.
De início começa a querer eliminar todos os olhares de quem sabe o que ele fez e o acusa.
Os golpes de estado sempre são seguidos de eliminação dos vencidos por meio da traição. Quer com sangue, masmorras ou exílio, cada olhar externo tem que ser eliminado.
Tal atitude não soluciona o problema, o olhar interno continua acusando, alucinando que o olhar externo de cada pessoa que passa que passa tenha um indicador apontando como acusador.
Na fase a seguir, o traidor começa a atacar seus comparsas para eliminar olhos que o fitam, como se essa solução mágica apagasse o olhar interno que o enlouquece. Em vão!
A solução para aplacar os olhares, até agora malograda, volta-se a tentar o reconhecimento de todos. Qual o reconhecimento que um louco pode ter senão a guerra?
Inicia-se a lavagem de sangue, guerra atrás de guerras, mortes onde os campos de batalha cobrem-se de vermelho, mas os cadáveres continuam a o olhar, já que o olhar está dentro e não fora.
Se a morte não pegar antes nosso delirante, por certo o isolamento de qualquer olhar seja a última e inútil tentativa, pois os olhos internos também estão nas masmorras onde foi jogado. E o infeliz delira até a morte sentindo-se olhado com reprovação.
A história de Napoleão, traindo o proletariado com um golpe de estado, a seguir banhando a Europa de sangue e morrendo isolado numa ilha, mesmo com o reconhecimento de ser um grande general como lhe atribuíram, exemplifica a monotonia que acompanha os traidores.

HUMANITAS Nº 56 – FEVEREIRO DE 2017 – PÁGINA 6

Por que a Filosofia enfrenta resistências nas reformas do ensino médio?
James Vasconcellos Mesquita e Ivo S. G. Reis – Acadêmicos de Filosofia do CCHS da UFMS
Especial para o Humanitas

Mal saído do Império (1822-1888) para a República (1889), o país conheceu, em 1890, a “Reforma Benjamim Constant”, que instituía o regulamento da instrução primária e secundária do Distrito Federal.
Essa foi a primeira de uma série de dezessete reformas do ensino que o país enfrentou até agora, incluindo a proposta pela MP 746/2016, de 22/09/2016.
Em quase todas elas, e já começando pela primeira, a Filosofia sempre enfrentou dificuldades - uma verdadeira saga - para ser reconhecida como disciplina essencial e se manter nos currículos, ora entrando, ora saindo.
O mesmo se pode dizer em relação à Sociologia. Desta vez, não foi diferente.
Analisando as reformas que já existiram de 1890 até hoje, verificamos que o tempo médio de vigência de cada uma não ultrapassa os oito anos, o que equivale a dizer que a grande maioria dos estudantes enfrentou pelo menos uma reforma antes da conclusão da sua educação básica, que é de doze anos.
Não estaria aí uma das possíveis causas do baixo desempenho dos alunos do ensino fundamental e médio, revelados pelos índices SAEB, IDEB e PISA (Programme for International Student Assesment)?
Se assim for, mais uma reforma, apressada e imposta por Medida Provisória, não irá resolver o problema, e sim agravá-lo. Há que se combater as causas e não os efeitos.
Saindo das discussões sobre as pseudológicas motivações da reforma proposta e sobre os percalços que a Filosofia enfrentou antes de 2008, verificamos que, a partir daquele ano, a Lei 11.684/2008 incluía o inciso IV, ao art. 36, da Lei 9.394 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), assim dispondo: “IV – serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias em todas as séries do ensino médio”.
Parecia estar resolvido o problema com a obrigatoriedade da inclusão da Filosofia nos currículos do ensino médio. Mas oito anos depois, a tranquilidade acabou quando, em 22/09/2016, o Governo propôs outra reforma educacional, através da MP 746/2016, determinando, dentre outras alterações, a retirada da Filosofia e da Sociologia da base curricular do ensino médio. A sociedade, instituições, profissionais da área e estudantes não foram ouvidos. Protestos começaram a pipocar por todo o país.
Sem considerar as disposições da BNCC (documento que visa sistematizar os conteúdos que devem ser ensinados nas escolas do país), prevista para ficar concluída somente em meados de 2017, o texto-base da reforma foi aprovado na Câmara, em 13/12/2016, permitindo que Filosofia e Sociologia, voltassem a integrar o currículo básico, mas como “disciplinas diluídas” e não como disciplinas obrigatórias, durante os três anos do ensino médio. Daqui para frente, Senado e Presidência deverão ratificar o aprovado. O que vamos analisar agora é por que ocorrem tantas indefinições, quando se trata de avaliar a importância da Filosofia no currículo do ensino médio. A questão é de cunho exclusivamente político porque os principais interessados no assunto – que são os profissionais da área – não possuem coesão discursiva, e nem, ao menos, sabem ser corporativistas. O debate, portanto, é atual.
Às vezes parece capricho; outras, mero desejo, porque, infelizmente, os profissionais de Filosofia não trouxeram argumentos convincentes sobre a indispensabilidade dessa disciplina no Ensino Médio. O Ministério da Educação tem propagado mensagem de que a BNCC foi inspirada nos países que priorizam a educação a ponto de investirem maciçamente no seu aperfeiçoamento, como a Inglaterra, a França, o Japão, a Coréia do Sul e Portugal.
Já os docentes da Filosofia ficam repetindo chavões e jargões esgotados que não têm severidade científica, como: “A Filosofia desenvolve a construção de pensamento crítico”, “A Filosofia torna possível o espírito de questionamento.
Filósofos, educadores de Filosofia, discentes e iniciados, demonstram o quanto a categoria é desunida.
Em diversos artigos publicados no site da Associação Nacional de Pós-Graduandos em Filosofia (ANPOF), observam-se posicionamentos conflitantes, contraditórios e desencontrados entre si.
Os textos são cansativos, sem um fio condutor que os amarre. Definitivamente, não se há de considerar a manutenção da Filosofia no currículo escolar com base em verborragia vazia. Tudo é muito subjetivo e abstrato, sem força de convencimento.
Afirma-se que é importante ensinar a Filosofia no Ensino Médio, ou em qualquer outro período.
Todavia, não se consegue comprovar que a Filosofia é de “suma importância”, ou que é imprescindível.
A solução não está em simplesmente se decretar a manutenção da Filosofia como matéria obrigatória do ensino médio. Tampouco está na sua mera retirada do currículo. Discutia-se em aplicá-la como conteúdo transversal de multidisciplinaridade (resolveria?).
O grande ou o mais profundo problema que se apresenta está em saber por que os filósofos e educadores não conseguem explicar as razões que justifiquem a continuidade da Filosofia como disciplina obrigatória.
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Fontes de consulta:
Textos da ANPOF; Portais: MEC, INEP, OCDE, BNCC, Câmara dos Deputados; Brasil: Leis 9434/96, 11.161/2005, 11.684/2008; MP 746/16; Wikipédia; mídia impressa e digital diversas.

HUMANITAS Nº 56 – FEVEREIRO DE 2017 – PÁGINA 5

Cinema e História
Especial para o Humanitas

Araken Vaz Galvão é escritor e membro da Academia de Artes do Recôncavo. Mora em Valença/BA

Por volta de 1967, quiçá 68, assisti, em Montevidéu, dois filmes da então república da Tchecoslováquia, um deles, cujo título era “Una Bomba para el Verdugo”, tratava da reconstrução do atentado perpetrado contra Reinhard Heydrich, o “protetor” do Reich para a Boêmia e a Morávia.
Esse filme, como vários outros daquela antiga república comunista, era de qualidade inconteste. Reinhard Heydrich (1904-1942), dirigente nazista e militar alemão, chefe da polícia nazista, famoso pela crueldade, amigo íntimo de Hitler, foi nomeado por este governador da Morávia e da Boêmia (Tchecoslováquia).
Lembrava-me particularmente daqueles dois filmes e sempre que conversava com dois amigos amantes do bom cinema como eu, os doutores Démorse e Marcos, falava deles e me lamentava não saber informar seus títulos no Brasil.
Mais tarde, vim a saber que um tivera título similar ao que vi no Uruguai: “Trens Estreitamente Vigiados”.
Já o outro, por ter perdido grande parte dos meus apontamentos, porque fiquei muitos anos exilado, demorei anos para conseguir saber qual o título que tivera entre nós.
Aliás, nunca soube nem saberei, pela simples razão de que esse filme não foi lançado no Brasil. Entretanto, graças a uma amiga uruguaia, Adriana, consegui matar a charada.
Aquele filme, teve como diretor Jiri Sequens, e o título original em tcheco era Atentát (O Atentado) e fora feito no ano de 1964. Este diretor não consta no dicionário de cineastas que possuo.
Lembro-me que havia uma relação com o nome Reinhard Heydrich, ou com uma alcunha carinhosa que os nazistas lhe deram, que significava “anjinho”. Logo a ele que era um sanguinário verdugo e que foi apelidado de “o carniceiro de Praga”. Heydrich, ao ser assassinado pela resistência tcheca – se bem que assassínio aí é um eufemismo, pois o nome que se aplica nesses casos (os de matar um opressor estrangeiro) é justiçamento – provocou um dos maiores massacres da história da humanidade: a aldeia tcheca na Boêmia Central, Lídice, próxima de Praga, foi arrasada pelos nazistas, por ordem pessoal de Hitler, em represália. Por esse motivo ela foi transformada em monumento mundial contra o genocídio.
Em todo o mundo Lídice passou a representar esse símbolo, da mesma forma que existem cidades e vilas no Brasil (e em todo o mundo) com este nome. Até como nome de pessoas existe. Em Salvador/BA tivemos uma prefeita com o prenome de Lídice.
Sobre o atentado em si, alguns historiadores dizem que ele foi completamente inócuo, e que se tratou apenas de mais uma perfídia da “Pérfida Albion”, com o fito de desarticular a eficiente resistência tcheca, da qual a Inglaterra não tinha controle, pois agia sob o comando do partido comunista. Há também a comprovação (ou especulação) histórica de que enquanto os patriotas tchecos eram massacrados, o capital inglês se locupletava com a “secreta” participação nas importantes indústrias, inclusive de armamento daquele país.
O atentado – de grande repercussão política e de grande impacto propagandista para os Aliados foi organizado em Londres, pelo serviço secreto britânico, o qual treinou os partisans tchecos e os lançou de pára-quedas em território inimigo - Partisan, maqui, são nomes que, na Europa, significam guerrilheiro.
No meu tempo chamávamos de “combatente revolucionário”. Eu, ainda que de forma muito modesta, fui um deles.
O grupo, uns cinco ou seis, contou com o apoio da resistência tcheca, e depois do atentado e da localização do grupo vindo da Inglaterra, no porão de uma igreja, aqueles heróis não se renderam, resistiram até o fim, reservando a última bala para se matarem.
É preciso que se diga, no entanto, que o sacrifício de Lídice deu-se como represália, antes mesmo de terem identificado os autores do atentado. Dizem alguns historiadores de hoje que, com isso, os ingleses marcaram um grande tento de propaganda e, ademais, diminuía a influência dos comunistas, já que os seus melhores quadros teriam sido (e foram realmente) sacrificados.
Mas a guerra ainda durou alguns anos, a Tchecoslováquia foi ocupada por tropas soviéticas, o stalinismo foi instalado, muita água passou sob a ponte – como se diz – o Muro de Berlim caiu e hoje aquele país foi dividido em duas repúblicas, a Tcheca e a Eslováquia, dentro da melhor prática do princípio romano: dividir para dominar.
Mas isso já é outra história e não tem mais nada a ver com cinema...

HUMANITAS Nº 56 – FEVEREIRO DE 2017 – PÁGINA 4

A ordem sequencial das tragédias
Especial para o Humanitas

Ana Maria Leandro - uma das principais colaboradoras do Humanitas -  é escritora e jornalista. Atua em Belo Horizonte/MG

Sobre os horrores acontecidos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaq), em Manaus, as “autoridades” conseguiram definir rapidamente a causa, para resposta à sociedade: “a revolta foi motivada por briga entre facções”.
Pronto, pivô detectado, a responsabilidade é dos prisioneiros mesmo, (que, aliás, são mesmo um problema para a nação) e podemos ir deitar sossegados que não temos culpa nenhuma!
É impressionante como as instituições governamentais (algumas vezes também privadas e “propinadas”), insistem em achar “causas” das quais não precisem assumir culpas, pois isso sim, é o que é preocupante...
Esse processo me faz lembrar a frase: “fuja de seus erros e não se livrará deles...”
Há pouco tempo, na tragédia da queda do avião do time de futebol do Chapecoence, atribuíram a culpa à moça que “bate carimbo” de aprovação do vôo.
Se lhe fosse outorgado o poder de dizer “não baterei o carimbo, pois há problemas neste plano de vôo” o carimbo não bateria sozinho. Mas este problema não é analisado.
Considerar que a “causa verdadeira” antecede ao ato e que tem fundamentos muito mais longilíneos e exigentes de providências, é difícil e desestabiliza o “status quo”. Dá trabalho, gasta-se dinheiro e nada sobra para se fazer corrupção.
E assim vamos neste pobre país (pobreza de alicerces é a pior pobreza), apontando as falhas de ponta, e manipulando o esclarecimento das de fundamento.
Quem não sabe que a superlotação de presos nos presídios públicos (e já alguns privados) é absurda, e significa um fantástico caminho para a união e consequente estouro de tragédias promovidas pela marginalidade?! Briga de facções!? Mas como? Havia facções rivais juntas? Isto é jogar combustível no fogo!
Já se sabe que ao fato antecedeu-se barulhenta festa e música alucinante. Naturalmente que não era uma festa regada a água e refrigerante! E os “ingredientes” (melhor nem citar a diversificação do cardápio) da festança? Como entraram? Será que acharam alguma “moça do carimbo” que autorizou?
Aliás, essas pobres moças são “grandes autoridades” quando os problemas acontecem. Quando não há problemas são apenas “carimbadoras” mesmo... E naturalmente dirão que o que vou citar a seguir tem origens na formação também pedagógica que possuo.
Mas se traçarmos uma linha entre o que se aplica em educação e sistema carcerário veremos um grande equilíbrio.
As escolas públicas também têm salas superlotadas para professores mal pagos. Nos sertões do país então nem se fala nas condições das salas de aula. E mais: assassinatos já aconteceram até em salas de aulas de grandes centros urbanos.
Por outro lado, o sistema carcerário trabalha com seguranças de celas superlotadas, também com salários mínimos; e o agravante até de provocar os problemas de concessões ilegais para presos, em troca de ganhos adicionais.
Na Educação o governo vem com a eterna solução de superfície: “vamos mudar o sistema educacional. Tiramos disciplinas, colocamos outras mais atraentes (vão ficar mais atraentes só se forem aplicadas por extraterrestres, pois os professores aqui da Terra, nem ao menos recebem treinamentos para essas mudanças); convencemos os alunos que eles é que terão o livre arbítrio de escolher o que querem (o marketing é sensacional!) e assim acabamos com a invasão de escolas por alunos descontentes. Melhorias de condições salariais para o professor (psiiiuu... silêncio).
E pelo que está sendo analisado nas reformas da Previdência, corre-se o risco de um professor ter de trabalhar além dos setenta anos, lidando com crianças e adolescentes!
Lançam pretensas “inovações” como se estivessem descobrindo a roda.
Qualquer pessoa em torno de sessenta anos, recebeu na antiga escola secundária orientações vocacionais, como parte do programa em atividades aplicadas: marcenaria; economia doméstica; etc.
Quem nesta faixa etária não se lembra das antigas “oficinas”, para que o aluno pudesse receber orientações de atividades práticas, que lhes servissem de base para futuras escolhas profissionais?
Com o tempo, foram tirando este programa aplicativo e caiu-se no programa comum para o Ensino básico (que inclui da 1ª à 8ª série).
Agora, lançam a proposta como se fosse inédita!
Está bem, retomar caminhos que se demora a descobrir que eram melhores é saudável. Mas não me venham com bordões de “Inovação no Ensino”.
Por favor, entendam de uma vez, que a evolução da vida é sequencial, e que o que deixamos de fazer de necessário no hoje, fará falta amanhã...

HUMANITAS Nº 56 – FEVEREIRO DE 2017 – PÁGINA 3



Refúgio Poético

POEMA DO MÊS

CARNAVAL – Rafael Rocha

(1)
Visto a fantasia da ilusão
neste carnaval da vida.
O frevo faz o coração
marcar o passo na avenida.
Escrevo a marcha poesia
e crio nova nostalgia:
a máscara negra do dia!
(2)
Homem da Meia-Noite:
em Olinda sou turbilhão!
No Galo da Madrugada
conquisto um coração!
Peço: tristeza vá embora!
E ainda assim a alma chora
o fim dessa glória!
(3)
Carnaval! É Carnaval!
Apenas três dias de alegria!
O amor é casual
e a pobreza se faz rainha
e o amor é casual!
A folia é uma passageira
da trama de um Zé Pereira
pra morrer na quarta-feira!
(4)
Sou um poeta carnavalesco
e um triste pierrô!
Arlequim grotesco
busco a colombina do amor!
E vendo a menina a frevar
sua boca quero beijar
e seu lindo corpo amar!

Rafael Rocha Jornalista, escritor e poeta. Natural do Recife/PE. Tem sete livros publicados: Meio a Meio (poesias); A Última Dama da Noite (romance); O Espelho da Alma Janela (contos); Marcos do Tempo (poesias); Olhos Abertos para a Morte (romance); Poetas da Idade Urbana (poemas em parceria com os poetas Genésio Linhares e Valdeci Ferraz) e Felizes na Dor – Tributo ao poeta Charles Bukowski (poesias). Foi agraciado pela Academia Pernambucana de Letras, em 1989 e em 2011 pelos livros O Espelho da Alma Janela (Prêmio Leda Carvalho) e Olhos Abertos para a Morte (Menção Honrosa – Prêmio Vânia Carvalho), e, em 1986, pela Academia de Letras e Artes de Araguari/MG com Menção Honrosa pelo seu conto “Grãos de Terra Sobre”.
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Poema de uma Quarta-feira
de Cinzas
Manuel Bandeira
Do livro Carnaval (1919)

Entre a turba grosseira e fútil
Um pierrô doloroso passa.
Veste-o uma túnica inconsútil
Feita de sonho e desgraça...

O seu delírio manso agrupa
Atrás dele os maus e os basbaques.
Este o indigita, este outro o apupa...
Indiferente a tais ataques,

Nublada a vista em pranto inútil,
Dolorosamente ele passa.
Veste-o uma túnica inconsútil,
Feita de sonho e desgraça...
.....................................
Soneto de carnaval
Carlos Pena Filho
(1929/1960)
Recife/PE

Do fogo à cinza fui por três escadas
e chegando aos limites dos desertos
entre furnas e leões marquei incertos
encontros com mulheres mascaradas

De pirata da Espanha disfarçado
adormeci panteras e medusas
Mas quando me lembrei das andaluzas
pulei do azul, sentei-me no encarnado

Respirei as ciganas inconstantes
e as profundas ausências do passado
porém, retido fui pelos infantes

que me trouxeram vidros do estrangeiro
e me deixaram só, dependurado
nos cabelos azuis de fevereiro
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CARTAS DOS LEITORES

Sensacional! O Humanitas vale a pena ser lido. Uma pena que tenha tão poucas páginas. Carlos Ezequiel Lima – Niterói/RJ
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Humanismo puro e real! Qual mídia faz isso? Vera de Oliveira e Silva – Olinda/PE
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A coragem de ser faz o ser.  Quem não tem coragem de ser verdadeiro nem sequer deve existir. Adoro o Humanitas. Karla Spinelli de Oliveira Lima – Olinda/PE
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Muito importante o Humanitas para quem deseja ganhar conhecimentos. Marcus de Castro e Silva – Rio de Janeiro/RJ

HUMANITAS Nº 56 – FEVEREIRO DE 2017 – PÁGINA 2


EDITORIAL

É Carnaval! É festa!

O Carnaval chegou!
No centro de tantas perspectivas inquietantes para o Brasil e para o mundo, o povo vai ter agora a oportunidade de substituir a tristeza pela alegria, nas ruas e nas avenidas, ao som do frevo, do samba, dos maracatus.
O Carnaval trará uma pausa refrescante, suada, sexual e etílica para que a população possa esquecer, nesses dias, o governo ou o desgoverno que tomou o poder através de um golpe de Estado judiciário/midiático.
O que se espera para este ano, logo depois que o Carnaval acabar, são coisas “para assustar frade de pedra”.
Porque, no Brasil, só depois do Carnaval é que as coisas começam a tomar formatos reais e, essas coisas, hoje, são horripilantes!
O Recife, Olinda e Pernambuco inteiro, porém, estão a postos para fazer com que tais sustos deem lugar às alegrias e às esperanças de renovação e que esse governo que não nos representa (porque não possui origem popular), seja defenestrado e enterrado sem honras, sem choros, sem velório.
É Carnaval!
Quem quer saber de governo ou desgoverno agora? Ainda que tal governo ou desgoverno esteja representado por traíras e salafrários da marca maior, a hora é de esquecer os problemas e de se entregar à folia.
Ninguém é de ferro!
O “Galo da Madrugada”, o “Homem da Meia-Noite”, “A Mulher do Dia”, os maracatus, os frevos, os sambas estão a postos no Recife, em Olinda e em todo Pernambuco, enaltecendo a vida.
Quando acabar a festa, voltaremos a nos preocupar com as coisas que estão a nos afetar.
Hoje, o Rei Momo é nosso governante!
Apareçam as ninfas dos amores casuais! Abram-se as garrafas de cervejas! Preparem as bocas para os beijos molhados e lúbricos!
Vamos frevar e sambar!
Carpe diem!
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Ensinamento imoral
Christopher Hitchens (1949/2011) - Jornalista

Para ser um cristão você precisa acreditar que por 100 mil anos a espécie humana sofreu e morreu; muitas crianças morreram no parto, e outros seres humanos morreram vítimas da fome, das doenças e nas guerras.
Tudo isso durante 100 mil anos, “enquanto o CÉU observava em completa indiferença”. Então, há dois mil e poucos anos, o CÉU decidiu: “já chega disso, acho que é hora de fazermos algo”.
A melhor maneira de fazer algo seria condenar alguém a um sacrifício humano em algum lugar da região menos instruída do Oriente Médio. “Nada de alcançar os chineses. Na China, as pessoas sabem ler, estudar evidências e são civilizadas. Vamos ao deserto e façamos uma revelação lá”.
Então, inventaram um Cristo e fizeram o sacrifício humano para salvar o homem dos seus pecados.
Isso não faz sentido. Alguém que saiba pensar não pode ser partidário das ideias criadas pelos cristãos. O ensinamento do cristianismo é o mais imoral de todos: “o da redenção vicária”.
Você pode jogar os seus pecados em outra pessoa, o que é vulgarmente conhecido como ter um bode expiatório. Eu posso pagar a sua dívida se eu amo você. Eu posso ir para a prisão no seu lugar se eu lhe amar muito. Eu posso me voluntariar a isso.  
“Mas eu não posso lhe redimir dos seus pecados, porque eu não posso abolir a sua responsabilidade, e eu não deveria me oferecer para fazer isso”. 
A sua responsabilidade precisa permanecer com você. Não existe redenção.
Isso consegue até poluir a questão central, a palavra que eu acabei de usar, a palavra mais importante de todas: a palavra amor, ao tornar o amor compulsório, ao dizer que você tem que amar.
Você tem que amar ao seu vizinho como a si mesmo, algo que você na verdade não consegue fazer. “Você sempre acabará falhando, então sempre poderá ser considerado culpado”. O cristianismo também diz que você tem de amar alguém a quem você também precisa temer.
Esse alguém é um ser supremo, um pai eterno, alguém de quem você deve ter medo, mas também deve amar. E se você falhar nessa tarefa é um pecador imundo.
Isso não é sadio. “É um sistema totalitário”. Existindo um deus eterno e imutável, que possa fazer e exigir tais coisas, então viveríamos sob uma ditadura.
Uma ditadura que nunca desaparecerá. Uma ditadura que sabe tudo o que pensamos e que pode nos condenar por crimes de pensamento e a uma punição eterna por ações que nós estamos fadados a tomar desde que nascemos.