O MITO DE ARIADNE
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www.arakenvaz.blogspot.com.br
Araken Vaz Galvão é escritor e membro da Academia de Artes do
Recôncavo. Mora em Valença/BA
Sei
que o conceito de mito, mesmo sendo muito elástico, é do conhecimento geral. E,
embora, um dos papéis do jornalista seja o de educar, além de bem informar,
longe deste cronista desejar pousar de professor para os leitores do jornal,
pois sou apenas, como disse o compositor popular, um “eterno aprendiz”.
No entanto é mister falar que os mitos são
elementos subjetivos básicos na formação de quaisquer sociedades. Alguns são
belos, frutos da instigante imaginação de muitas gerações; outros são a
consequência da superstição e até da pouca escolaridade. (...)
Agora, depois de ter falado de mitos
nascidos da ignorância, vamos a outro, nascido de uma bela imaginação. O “Mito de Ariadne”
Este instigante mito interessa-me
sobremodo, particularmente agora, devido ao fio – poderia mesmo dizer que “o liga a uma situação peculiar, senão
única” –, uma vez que estamos sempre ligados, desde o cordão umbilical,
a algo. Há sempre um fio que nos liga a alguém ou a alguma coisa.
Embora existam várias versões, algumas com
desfechos diferentes, não raros com detalhes contraditórios, o fundamental do “Mito de Ariadne” (Ariane ou
Ariadna, segundo algumas grafias), diz que ela era filha de Minos, rei de Creta.
Ela teria se apaixonado por Teseu, cujo
nome significa “homem forte por
excelência” – que foi um herói proto-histórico, já que não existem
provas que ele teria realmente existido, ainda que alguns historiadores opinem
que ele teria governado Atenas, entre 1234 a 1204 a C. –, segundo se vê na Wikipédia.
(Internet).
Seria longo reproduzir aqui as peripécias
vividas por Teseu, basta-nos, porém, saber que ele seguiu para Creta, disposto
a entrar no labirinto onde vivia o Minotauro e matá-lo.
Tendo tido sucesso nesta empreitada devido
à ajuda de Ariadne, a qual encontrou uma solução simples para que ele saísse do
Labirinto – uma vez que era notório que se entrando lá, nunca se saía –,
exigindo apenas, para ajudá-lo que ele se casasse com ela.
A solução consistiu em dar a Teseu um
novelo de lã (o fio de Ariadne, até hoje falado, ainda que pouco conhecido em
pormenores).
Ele iria desenrolando ao entrar, bastando
acompanhar o fio ao voltar, onde ela se encontrava pronta para exigir o
pagamento pelo serviço prestado.
Sabendo que irá, uma vez por ele desposada,
prestar outros serviços bem mais interessantes e saborosos.
Ao escrever, usando uma forma até de certa
forma jocosa, sobre Ariadne esperando Teseu sair do labirinto, lembro-me de um
texto de um escritor espanhol Jorge Semprun (1923-2011), sobre uma situação
similar, só que vista do ponto de vista masculino: “Dezessete anos antes, em Roma, ele atravessara o espaço que o
separava de Franca. Mas é sempre a mesma coisa. Atravessa-se sempre um espaço:
uma rua, um salão, uma galeria de arte, uma floresta, o oceano: a vida, para ir
em direção às mulheres. Caminha-se sempre do mesmo modo, com uma idêntica
esperança, uma perturbação idêntica: a mesma.”
Teseu entrou no Labirinto, matou o
Minotauro, voltou seguindo o fio, e partiu levando Ariadne.
Poder-se-ia agora dizer, usando do verso da
música popular – e voltando, não seguindo o fio de Ariadne, mas a pisar o chão
firme da nossa terra, e da nossa narrativa hoje em dia –, que a notícia carece
de exatidão.
Não pelas razões contidas na letra da
referida música, mas por existir – como já foi dito acima – várias versões
sobre o que ocorreu na continuação.
Mas essas versões, para nós, neste momento,
carecem de utilidade, porque o que nos interessa é a simbologia contida na
alusão ao fio.
Embora já tenha feito alusão ao cordão umbilical
– este fio que, ao nos ter protegido e ligado à vida enclausurada do ventre
materno, ao ser cortado, ligar-nos-á para sempre a uma família, a qual passará
a ser, de forma inexorável, o elo que nos mantém preso a outra forma de vida –,
por isso sou tentado a fazer agora uma analogia com outro importante mito
grego, no caso o de Odisseu.
Melhor, o de Penélope, posto que esta,
esperando a volta do marido, não se sabe por ter apenas esperança de que ele
não estivesse morto ou tão-somente o desejo de que ele surgisse assim, do nada,
tece uma manta durante o dia, e à noite ela desmancha todo o trabalho
realizado.
Até parecia que, sentada em sua casa,
tecendo durante o dia, mas desfazendo, durante a noite, o trabalho realizado,
no simples gesto de puxar o fio, para desmanchar a urdidura que, uma vez
concluída, a uniria fatalmente a outro homem.
Simbolicamente,
seria como se Penélope estivesse, não apenas ganhando tempo, como se diz
popularmente, para não ter que optar por nenhum dos pretendentes, mas puxando
de volta, por aquele tênue fio, o seu marido de volta. Ou seja, fazendo o tempo
correr até que ele voltasse.