sexta-feira, 1 de setembro de 2017

HUMANITAS Nº 63 – SETEMBRO DE 2017 – PÁGINA CINCO

MCCARTHY E MACARTISMO – A PERSEGUIÇÃO
Araken Vaz  Galvão é escritor e membro da Academia de  Artes do Recôncavo. Mora em Valença/BA

Senador pelo estado de Wisconsin (EUA), Joseph Raymond McCarthy (1908-1957) ou Joseph McCarthy, como era mais conhecido, foi um político obscurantista, de extrema-direita, surgido nos Estados Unidos, e que teve seu auge paranóico entre os anos de 1950 a 1954.
Foi ele quem moveu uma sistemática campanha de perseguição – caracterizada pela intimidação para incentivar a delação –, sobretudo contra artistas, intelectuais e cientistas, os quais eram acusados de “atividades anti-americanas”.
Esse fenômeno, fruto da histeria anticomunista, filha direta da guerra-fria, teve também uma forte composição de oportunismo político e exploração da histeria coletiva frente ao comunismo, desencadeando uma verdadeira caça às bruxas, isto é, a qualquer pessoa que fosse acusada de comunistas, simpatizante do comunismo ou simplesmente indivíduos denunciados sem qualquer base concreta.
Passado o período negro, depois que centenas de técnicos a artistas foram impedidos de trabalhar, ou seja, depois de atingidos os seus principais objetivos, o macarthismo entrou em declínio, entretanto um dos principais aliados de McCarhty naquela campanha, Richard Nixon, chegou mais tarde à presidência dos Estados Unidos, com as consequências que todos conhecemos.
Foram muitas as vítimas do “Macartismo” (inglês McCarthyism) entre o pessoal de cinema, os casos mais divulgados foram os de Charles Chaplin (1889-1977), os diretores Joseph Losey (1909-1984), Jules Dassin (19911-1980) e Abraham Polonky (1910-1980), o escritor Dashiell Hammett (1894-1961), já citado. Há ainda o caso de Carl Foreman, o roteirista de “Matar ou Morrer”. E tantos outros.
Esses nomes, porém, foram daqueles que não se dobraram. Casos houve como o de Elia Kazan (1909-2004), diretor de cinema e de teatro, de origem turca, embora sua família fosse grega, naturalizado americano cujo nome era Elia Kazanjoglous, autor de algumas obras-primas que criticavam, com certo rigor, os privilegiados da sociedade americana. Elia Kazan foi transformado – pelo “Macartismo” – no maior dedo-duro da história do cinema americano.
Levado ao ápice do terror, Kazan, por medo ou por ser crápula, chegou ao cúmulo de pagar um anúncio nos meios de comunicação afirmando que não era comunista. Mas não ficou só nisso, denunciou de público seus companheiros da juventude. Kazan morreu com a indelével marca de delator.
Entre o pessoal de Hollywood que esteve na prisão – conhecido como os “dez de Hollywood” –, principalmente por terem se negado a denunciar colegas, estão os diretores Herbert Biberman; o produtor Adrian Scott; os roteiristas Lester Colem, Albert Maltz, Samuel Ornitz, Dalton Trumbo, Ríng Lardner Jr., John Howard Lawson e Alvah Bessie, os quais pegaram penas de até um ano(*).
Vários fugiram para Europa para escaparem da prisão. O diretor Edward Dmytryk, apesar de ter “colaborado”, isso é, denunciado colegas, foi também condenado.
Outro que também denunciou companheiros foi o ator Sterling Hayder, que fez o papel do capitão da polícia de Nova Iorque, corrupto, e que é assassinado pelo personagem interpretado por Al Pacino no filme “Poderoso Chefão I”.
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NOTA DO EDITOR
* - A "caça às bruxas" perdurou até que a opinião pública americana ficasse indignada com as violações dos direitos individuais, graças em grande parte à atuação corajosa do jornalista Edward R. Murrow na rede americana de televisão CBS, o que levou McCarthy ao ostracismo e à decadência. McCarthy morreu em 1957, totalmente desacreditado e considerado como uma figura infame e uma vergonha para os americanos. Muitos filmes foram produzidos sobre esse período, todos retratando McCarthy e seus seguidores como figuras desprezíveis. Dentre os filmes destacamos “Boa Noite e Boa Sorte” dirigido por George Clooney e estrelado por David Strathaim, no papel do jornalista Edward R. Murrow. O filme narra os embates entre o jornalista e o senador McCarthy, durante os anos 1950, que contribuíram para a decadência do senador.

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