sexta-feira, 1 de setembro de 2017

HUMANITAS Nº 63 – SETEMBRO DE 2017 – PÁGINA SEIS

UM PRESIDENTE ELEITO TRAÍDO POR UM GENERAL
ESPECIAL DO HUMANITAS

No dia 11 de setembro de 1973 - há 44 anos - começou uma das ditaduras mais longas e sangrentas da história da República do Chile. Neste dia, o general Augusto Pinochet liderou o golpe militar que derrubou o presidente socialista Salvador Allende, eleito três anos antes.
Salvador Allende Gossens foi um médico e político marxista chileno. Fundador do Partido Socialista e governou o Chile de 1970 a 1973.
Ele foi o primeiro presidente de república e primeiro chefe de estado socialista marxista eleito democraticamente na América Latina.
Suicidou-se com um tiro no palácio presidencial, o La Moñeda, que estava cercado por tropas do Exército chileno.
Os EUA tiveram participação intensa no golpe de estado ao submeter o Chile a um bloqueio econômico informal, que impedia o país de obter empréstimos internacionais ou bons preços para o cobre, seu principal produto de exportação.
Isso foi denunciado por Salvador Allende em dramático discurso na ONU.
O historiador Moniz Bandeira salienta em seu livro “Fórmula para o Caos”, sobre a experiência socialista do Chile, dizendo que "a proposta da Unidade Popular estava destinada ao fracasso. Karl Marx dizia que o socialismo é inviável como via de desenvolvimento, sobretudo num país atrasado como o Chile, em que 70% da produção era de cobre e 70% dos alimentos tinham de ser importados. Era um país vulnerável, ainda mais na esfera de influência dos EUA (…)".
 O general Augusto Pinochet, não foi um militar qualquer. Era chefe do Exército nomeado duas semanas antes pelo presidente, que o considerava um militar leal a seu governo.
Apesar de nunca ter tido uma atuação de destaque em sua carreira militar, ele substituíra o general Carlos Prats, que deixou o cargo para assumir o Ministério do Interior em 23 de agosto de 1973.
Pinochet assumiu o comando do Exército dois dias depois, indicado pelo próprio Carlos Prats.
Sua maior credencial era, aparentemente, não participar dos planos para derrubar Allende, que circulavam no interior do Exército.
"Eu acreditava honestamente que este general compartilhava com sinceridade de minha profunda convicção de que a caótica situação chilena deveria ser resolvida politicamente, sem golpe militar, já que esta seria a pior solução", escreveu Prats em suas memórias.
O analista político Patricio Navia explicou que Pinochet foi nomeado para o cargo porque "não fazia parte dos golpistas nem era parte dos que poderiam isolar o general Prats. Era um candidato de consenso porque não brilhava. Acreditava-se que ele seria leal ao governo porque não tinha grandes idéias nem iniciativas", afirmou. “Aos olhos do presidente, Pinochet era um homem leal”, recordou o ex-ministro da Economia de Allende, José Cademártori.
Cademártori acrescentou que o presidente, inclusive, quis entrar em contato com ele quando apareceram as primeiras notícias do golpe, na manhã da terça-feira, 11 de setembro de 1973.
"Chamem o Augusto, que é um dos nossos", teria dito Allende naquele dia, segundo relatos dos que o acompanharam na resistência à rebelião militar no palácio presidencial de La Moñeda.
Mas Pinochet, que permanecia escondido em um quartel na região leste de Santiago dirigindo as ações dos golpistas, não respondeu ao chamado de Allende e, por intermédio de um emissário, exigiu sua rendição oferecendo-lhe um avião para partir ao exílio. "...E, no caminho os jogaremos de lá", gritou o militar, numa transmissão via rádio para outros oficiais golpistas, interceptada por um radioamador e publicada, em 1997, no livro "Interferência Secreta", da jornalista Patricia Verdugo. 
Pinochet foi o último dos chefes das Forças Armadas a se unir ao golpe, escreveu em suas memórias o almirante Toribio Merino, que assumiu o comando da Marinha e morreu há sete anos. O ex-ditador garantiu a uma de suas biógrafas, a jornalista María Eugenia Oyarzún, que preparava o golpe em segredo desde o ano anterior. "Não havia espaço para um erro. Tínhamos de livrar a pátria do caos de Allende e do câncer marxista".

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