EDITORIAL
A urgência da luta
A urgência da luta
Há cem anos,
na Rússia, uma revolução proletária derrubou uma monarquia czarista que
massacrava o povo. Hoje, muito pior do que aquela monarquia (pois estamos em
pleno século XXI) um governo ilegítimo postado no Planalto Central escandaliza
o mundo ao criar no Brasil uma crise econômica, política e moral.
A Revolução
Russa derrubou um regime déspota. Regime que levava aquele país ao atraso,
explorando o povo e enriquecendo um monarca e seus cortesãos. Hoje, no Brasil,
com o apoio de uma mídia tendenciosa, milhares de brasileiros estão a ser
massacrados, voltando a encarar a fome e a miséria, obrigados a isso pelos
poderes constituídos de uma República em total decadência.
Neste
outubro em que são marcados os 100 anos da Revolução Russa - em um século onde
a tecnologia e o desenvolvimento se propagam a olhos vistos - nosso país é
encaminhado para a barbárie e ao atraso por seus governantes.
Torna-se
urgente a necessidade de mudar esse quadro. E essa mudança só pode acontecer
com o apoio do povo brasileiro.
Torna-se
urgente a necessidade de lutar pela derrubada desse governo ilegítimo e de
todos os seus representantes.
Tudo está
corrompido. A começar pelo poder Executivo, passando pelo Legislativo e
Judiciário.
Nenhum
desses poderes possui legitimidade para representar o povo brasileiro.
Nenhum
desses poderes luta pelo bem-estar do povo brasileiro.
Todos esses
poderes estão acumpliciados com uma elite que só faz olhar para o próprio
umbigo e nunca para a necessidade popular.
Não podemos
abaixar a cabeça e aceitar que um ganancioso grupelho refestelado na Presidência,
no Congresso e no Judiciário dite nossas ações como se fôssemos gado pronto
para o matadouro.
Já foi
provado que outro Brasil é possível. O homem comum tem de ir para as ruas,
acreditando na própria força e na urgência da luta.
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Trovões
Conto de Rafael Rocha – Recife/PE
Editor do Humanitas
Conto de Rafael Rocha – Recife/PE
Editor do Humanitas
O que se tem de fazer? O homem pensava. A noite estava
esquisita do lado de fora do casebre. Lampejos desvairados de dor nas têmporas.
A chuva fazia a lama entrar pelas frestas de madeira da casa. A barriga
revirava com vários roucos de fome. A luz do candeeiro bruxuleava.
No canto a mulher tinha elevado a cama sobre vários
tijolos para não ser alcançada pela lama. E dormia abraçada com a menina. Do
outro lado, o menino enrodilhado entre as pernas da mãe. Mexeu-se. Puxou um
lençol rasgado por cima. O corpinho de doze anos estremeceu vestido com a
camisa do time de futebol do coração.
O que se tem de fazer? O homem olha ao redor. Coça a
barba hirta. A fome não o faz pensar bem. Enfia a mão no bolso da camisa e de
lá retira uma garrafa de cachaça. Bebe um gole. Fica mais quente. A dor nas
têmporas aumenta e ele tem vontade de gritar. Morde os lábios até o sangue
escorrer.
E por que é mais fácil ter uma arma e balas de chumbo
no cilindro? Por que é tão fácil? Mais fácil ter isso do que um pão ou um
pedaço de carne. Levanta-se. Vai até o fogão enferrujado. Uma panela com um
resto de sopa de legumes. Enche uma caneca. Bebe. Que merda!
O que se tem de fazer? Um relâmpago traz o estrondo do
trovão. A chuva aumenta. Ele pensa em dormir, mas a dor nas têmporas anda a
abater seu sono. Olha a mulher na cama. Que fizemos? O que fiz? A cabeça da
mulher utiliza uma bíblia como travesseiro. Ele fica irritado. Ah, que Deus de
merda é esse que nos faz isso?
A dor nas têmporas aumenta. Ele começa a perder o
entendimento de si. Olha para os lados. A luz bruxuleante do candeeiro faz o
casebre parecer uma gruta de abrigar animais. A mulher gira o corpo e faz a
bíblia cair na lama no chão. Que vá à merda! Quase que ele grita.
Faz outra dose de cachaça deslizar pela garganta. O
que se tem de fazer? Sente que tem de fazer o óbvio. Nada existe para ir
adiante. Nenhum caminho se abre com sol. Nenhum futuro. É tudo escuro e
chuvoso. É tudo fome. É tudo sem constância. Do bolso da calça tira um pacote e
põe na mesa.
O que se tem de fazer? Tudo que for preciso para sair
deste espaço de merda, diz para si mesmo. Um revólver calibre 38 agora nas
mãos. O cilindro com as seis balas. É tão fácil ter uma arma e é tão difícil
ter um pão!.. Vai até a cama. A mulher recebe o tiro nas têmporas. Depois mais
dois tiros. Um no menino e outro na menina.
Quando o relâmpago traz o poderoso trovão, o tiro que
ele dá em si mesmo é abafado pelo clamor da tempestade.
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