Caçoar, zombar, bulir... Ôxe!
Isso é bullying?
Sérgio Alves é professor. Atua na cidade
do Recife/PE
Hoje em
dia, tem havido uma verdadeira avalanche de debates em escolas, na TV, no
trabalho, de situações vexatórias vivenciadas por pessoas vítimas de agressões
verbais, físicas e psicológicas feitas por um ou mais indivíduos. Ficamos
pensando... Situações dessa natureza são recentes? Não. Na nossa época, há
alguns anos, havia esse cenário?
O caro leitor que viveu sua adolescência na década de 50,
60, 70 ou um pouco mais, presenciou entre os colegas de classe o verbo bulir sendo aplicado no outro e
consigo, mas sem a intenção de machucar e induzir ao suicídio?
Se você, leitor, respondeu sim a essas questões, então
assim como nós, teve uma bela e saudável adolescência – e sem traumas.
Não
podemos generalizar, mas a verdade é que boa parte dos estudiosos e teóricos da
educação, têm a péssima obsessão em tornar como padrão e copiar, tudo o que vem
de fora. E mais especificamente, tudo que vem do norte-americano.
É lógico que aquilo que trouxer benefícios para a
sociedade, pode e deve ser copiado, mas se não há um filtro, apoiaremos a falsa
ideia de que tudo que nos é apresentado como modelo que deu certo fora dará
certo em nosso país.
É o caso do termo: bullying.
Segundo a enciclopédia livre, o termo bullying foi sugerido
pelo pesquisador sueco Dan Olwens, em 1999, após o massacre de Columbine, EUA.
Segundo a investigação da época, dois jovens, classificados como superdotados,
abriram fogo contra colegas e professores – e depois cometeram o suicídio. Os
pais dos autores dos disparos afirmaram mais tarde, que eles eram rotulados de
homossexuais por todos da escola.
Olwens teve a ideia a partir do verbo inglês, to bully que
tem a interpretação de “tiranizar, oprimir, ameaçar o outro”. Ainda segundo a
enciclopédia, esse termo é usado para valentões, que nas escolas procuram
intimidar colegas “inferiores”. O
leitor percebe que esse termo, segundo o dicionário dos gringos, tem uma
conotação bastante agressiva.
Retornando para a nossa realidade escolar brasileira, na
nossa adolescência ou até mesmo na nossa educação infantil, será que havia
tiranos na nossa turma que não conseguimos derrubar?
Será que havia opressores na nossa turma ou escola que não
conseguimos enfrentar com igual zombaria? Claro que o fizemos. Claro que
rebatemos tais “valentões”.
E rebatemos sem ficarmos com traumas e nem tão pouco
fomentamos traumas.
É da natureza do povo brasileiro o ato de zombar, caçoar,
bulir e até mesmo apelidar indivíduos que lhes parecem pitorescos.
O magrinho e alto da turma era chamado de “espanador da lua ou varapau”.
Mas esse magrinho e alto da turma ganhava ares de rei
quando havia um torneio de vôlei ou basquete.
O gordinho da turma era chamado de “baleia”, mas, ganhava status de poderoso quando enfrentava um
valentão da turma.
O baixinho era chamado de “montanha”, mas ninguém se aguentava de tanto rir quando ele
imitava tão bem seus professores.
O menino de óculos com fundo de garrafa era chamado de “cu de ferro ou nerd”, mas, se sentia o
maioral em época de avaliações - todos queriam sentar-se à sua volta.
O caro leitor deve lembrar-se de outras situações vividas
como as citadas acima e todas tiveram um final feliz.
Os casos extremos eram resolvidos “às tapas, murros e socos”.
Os pais dos briguentos eram chamados à diretoria. Selada a
paz, tocava-se a vida.
Em nossa opinião, o povo norte-americano não tem essa
maneira peculiar, do brasileiro, de resolver questões como essas, devido ao
grau elevadíssimo de puritanismo e xenofobia.
Infelizmente, atitudes como essas têm reverberado, hoje, em
solo brasileiro.
E o que é pior: reproduzido e absorvido na mente de nossos
jovens e jovens do mundo todo.
Jovens que têm vocação para a tecnologia, que preferem apenas olhar para
monitores, celulares e tabletes em vez de olhar para a própria alma e a do
próximo.