A
MENTIRA E OS GOLPES DE ESTADO
Rafael Rocha é jornalista e editor geral
deste Humanitas. Atua no Recife/PE
O “Dia
da Mentira” surgiu na França em razão da mudança na data da festa de ano
novo, que antes era comemorada no dia 25 de março e, tendo a duração de uma
semana, terminava no dia 1º de abril.
Após a
implantação do calendário gregoriano, o rei Carlos IX escolheu o dia 1º de
janeiro para ser o início do ano.
Porém,
muitas pessoas não gostaram da mudança e continuaram fazendo suas festas na
data antiga.
Naquela
época, as notícias demoravam muito para chegar às pessoas, fato que atrapalhou
demais a mudança.
Portanto,
elas passaram a fazer brincadeiras e gozações com aquelas consideradas
conservadoras, enviando-lhes presentes estranhos ou convites para festas que
não ocorreriam.
Assim, a
data passou a ser duvidosa, pois os resistentes nunca sabiam se tais convites
eram verdadeiros ou não.
Duzentos
anos mais tarde essas brincadeiras se espalharam por todo o mundo, ficando a
data mais conhecida como o “Dia da Mentira”.
Na França
seu nome é "poisson
d'avril" e na Itália esse dia é conhecido como
"pesce d'aprile", ambos significando peixe de abril.
Pernambuco
foi o primeiro Estado do Brasil a adotar a brincadeira, quando da circulação de
um jornal chamado "A
Mentira", em 1º de abril de 1848, tendo como notícia o falecimento
do imperador Dom Pedro II.
A notícia,
como se sabe, foi desmentida no dia seguinte.
É assim
que vemos o quanto a mentira é uma coisa bastante velha na política nacional.
Ela foi
definitivamente incorporada ao nosso calendário, não devido à brincadeira feita
pelo jornal "A Mentira"
em 1848, mas em época muito mais recente.
O “Dia
da Mentira” sempre foi seguido no país como algo para se brincar uns com
outros tal e qual se fazia em todas as partes do mundo, até que no 1º de abril
de 1964 homens fardados e determinados setores civis, religiosos e corporações
capitalistas estrangeiras institucionalizaram a data.
Essa é
uma data que jamais deve ser esquecida.
É uma
data verdadeira onde aconteceu algo horrendamente verdadeiro, criado por
pessoas verdadeiras que levaram a nação brasileira durante mais de 20 anos a
ver seus patriotas, jovens e velhos, homens e mulheres, serem perseguidos,
assassinados, torturados e vigiados pelos usurpadores do poder democrático.
A
mentira era o que eles pregavam. Mentiam quando diziam defender os ideais
democráticos.
Falsearam
até a data do golpe, repuxando-a para o 31 de Março no intuito de iludir a
população.
Hoje
voltamos a sofrer os mesmos problemas vinculados àquele 1º de Abril de 1964.
A
violência, saúde sucateada, educação estrangulada, desemprego, fome, miséria
têm ligação direta com o golpe militar que extinguiu a nossa engatinhante
democracia da época e hoje voltam a se tornar reais.
O nosso
País convive dentro de um novo Golpe de Estado e os homens idealistas estão
temerosos do retorno daqueles 21 anos da ditadura dos homens fardados que
prenderam, arrebentaram, mataram e torturaram.
Temerosos
de uma ditadura com novas roupagens, onde o Judiciário, a Grande Mídia, a
maioria do Parlamento, as igrejas fundamentalistas cristãs venham torturar e
assassinar os idealistas, apenas porque estes sonham com um país democrático.
A
sociedade brasileira foi enganada durante anos pelos militares e civis
golpistas.
E volta
a ser enganada por novos golpistas, liderados por um governante ilegítimo, por
homens vestidos de toga, por outros com uma bíblia nas mãos, e outros sendo
parlamentares mentirosos e corruptos, pregando a necessidade de ordem.
Eles
falseiam tudo e têm a mídia como cúmplice.
Não
custa nada, para finalizar, citar aqui a frase dita por Hannah Arendt: "Não há esperança de
sobrevivência humana sem homens dispostos a dizer o que acontece..."
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