Brasil!
Queremos a “Paz”!
Mas
como encontrar?
Ana Leandro – colaboradora do Humanitas
- é escritora e jornalista.
Atua em Belo Horizonte/MG
Pergunte
a qualquer cidadão, a qualquer responsável por família, a qualquer amigo,
conhecido ou passante o que ele mais almeja na vida e ele responderá: “Paz!”
De
fato, mas a “Paz” é o somatório de todas as demandas da vida: uma
carreira profissional estável; a adimplência de suas próprias contas, a
qualidade de vida e condições de cuidados com a saúde; uma condição digna de
moradia; a educação plena dos filhos...
Até
o pior dos bandidos, se você perguntar que futuro ele quer para os filhos, não
é sua própria marginalidade. Nela entrou com esperança de que o futuro dos
descendentes pudesse ser diferente.
Entretanto
essas são as garantias “constitucionais de uma democracia!”
Em
matéria postada no “Global Voices”
em setembro de 2012 “(Brasil: reflexões de um país em busca da Paz)”,
lemos; “o Brasil aparece na 83ª posição
entre as 158 nações listadas na edição 2012 do Índice Global da Paz, tendo
caído em 9 posições em relação ao ano anterior”.
A
mestra Natasha Romanzoti diz que: “historicamente,
não nos envolvemos em muitas guerras, porém nossa violência interna é
suficiente para não deixar o país subir muito no Índice”...
Que
espécie de ódio de classes é esse que impera entre nós?!
Tudo
tem sua história.
A
Abolição da Escravatura, por exemplo, foi um Decreto de Interesse Oficial,
não uma consciência humana do absurdo do Processo Escravocrata.
A
Princesa Izabel a editou na ausência do pai Pedro II (que estava em viagem)
devido à ação de Movimentos Abolicionistas que a pressionavam.
A
edição da Lei, porém, fez com que o tiro saísse pela culatra: os proprietários
de escravos, não tendo sido ressarcidos pela perda dos escravos, apoiaram a
Proclamação da República no ano seguinte, diz o professor de História, Celso Idamiano,
no artigo de maio corrente “Cinco mitos e
verdades sobre a Abolição da Escravatura no Brasil” ( Jornal “Hoje em Dia”).
Isso
nos mostra que nossa República teve raízes abaladas e estruturou-se no ódio de
classes. Fantasma esse que nos persegue na concepção de uns se julgarem “melhores”,
acima de qualquer crítica e com direito a “uma
vida melhor que os demais” (seus subalternos de origem); e com “Privilégios e “Fóruns Especiais”.
Tudo
no mascaramento de interesses, por detrás das letras constitucionais.
Até
hoje nos pesa essa mancha cultural, que se alastra para outros preconceitos que
se exibem nas questões das diferenças sociais e de castas, de sexo e de gênero
e todos os fatores que, segregando ou excluindo pessoas, formam a rede que
obscurece as raízes e ainda a cultura remanescente, em nossa união interna.
A
maior dificuldade para se eliminar o efeito de uma origem é o conhecimento
mistificado e distorcido de suas causas.
O
Brasil (e isto significa nós, povo brasileiro) precisa se enfrentar no espelho
e encarar suas reais mazelas. A elevação da escolaridade tem de deixar de ser
assunto de “comerciais governamentais” e abranger toda a população de fato.
As
mudanças estruturais necessárias, somente acontecem com esse enfrentamento.
Precisamos de mudanças sólidas em nossa estruturação política e social.
E
quem realiza mudanças são “pessoas”. Pessoas essas que precisam também olhar
para si mesmas e identificar quais são suas próprias distorções de vida.
O
famoso “jeitinho brasileiro se impregna nos
comportamentos individuais que, somados, formam uma verdadeira quadrilha
para solucionar de qualquer forma um problema, desde que os envolvidos tirem
vantagens”.
Não
foi “de repente” que descobrimos que a enorme corrupção alastrou-se pelas
lideranças e suas assessorias em todas as instâncias.
Eles
o fizeram porque “nós permitimos e os
levamos ao poder”. Por isso se julgaram naturalmente com mais direitos do
que o “resto”.
Sabíamos
disso, mas aos poucos fomos nos acostumando a considerar pelo menos “quem rouba, mas faz”...
Não
é um problema de décadas. É um problema de mais de quinhentos anos. Enquanto
isso, vamos alastrando o país na pobreza, conforme nos indica o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), num percentual de 25,4% da população na
linha da pobreza (pesquisa Síntese de Indicadores Sociais
2017 – SIS 2017).
Como
é possível ter “Paz” num país imerso nesse cenário, num sentido
sociológico humano?
Não adianta
darmos uma de “bonzinhos” e corrermos para dar “esmolas aos pobres”.
O ser humano recebeu a vida, para merecer mais que esmolas. E cada um tem um papel na resolução desse quadro.
Não é possível ficar inerte à continuidade dessa herança.
“Paz” é muito mais do que apenas um sentimento
emocional, ou de exibição de solidariedade.
A
construção da verdadeira “Paz” é
coletiva, pois somos uma nação! E a vida exige isso de todos nós.
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