terça-feira, 2 de outubro de 2018

HUMANITAS Nº 76– OUTUBRO DE 2018 – PÁGINA OITO

ACREDITAR QUE UM DEUS CRIOU
O UNIVERSO É PREGUIÇA MENTAL
Especial do Humanitas

Quem acredita que um deus criou o universo tem preguiça mental. Hoje a ciência dá informações que permitem pensar sobre a origem de tudo. A afirmação é do astrofísico americano-canadense Lawrence Krauss, autor de “A Física de Jornada nas Estrelas”.
Krauss disse que até o século XVI a religião tinha o monopólio das explicações sobre a criação, mas  isso mudou com os estudos de Nicolau Copérnico (1473-1543), Galileu Galilei (1564-1642) e com Isaac Newton (1643-1727).
“Tudo mudou quando, há 300 anos, Newton explicou que o movimento dos planetas podia ser compreendido por meio de leis físicas bem simples que não requeriam a intromissão dos anjos”, disse Krauss.
E mais: “O avanço da física, da química e da biologia nos fez desvendar o funcionamento da matéria e dos fenômenos biológicos”, afirmou. “Ao mesmo tempo, esse avanço foi reduzindo o alcance do termo milagre até deixá-lo restrito ao que teria existido antes do big-bang, a explosão primordial que criou o universo há 13,7 bilhões de anos.”
O astrofísico salientou ainda que a ciência está longe de ter uma resposta para tudo, mas a cosmologia tem explicações para a criação e a evolução de todo o universo, “um tema que não é mais do domínio exclusivo da teologia”.
Krauss comparou a ciência, movida pelas interrogações e dúvidas, com a religião, cujas “verdades” são inquestionáveis. “A religião alegava ter as respostas para as perguntas mais básicas do universo e da vida antes mesmo que essas perguntas fossem feitas.”
Ele observou também que a ciência lida muito bem com a existência de mistérios à espera de serem revelados. “Sempre haverá perguntas sem resposta e mistérios a descobrir".
Ele admitiu que as versões da ciência para a criação do universo são mais complicadas que as da religião, “mas são muito mais interessantes”.
Indo mais longe ainda, o cientista argumenta que “o universo tem uma imaginação muito maior que a nossa, e seus fenômenos, como a explosão de supernovas ou a criação de buracos-negros, são muito mais fascinantes do que os contos de fadas criados por gente que viveu há milhares de anos, muito antes de descobrirmos que a terra orbita o sol e que não estamos no centro do universo”.
O astrofísico americano-canadense disse que, como agora os religiosos se dedicam mais ao que teria ocorrido antes do big-bang, eles estão se defrontando com um paradoxo sobre o qual evitam falar: se Deus criou tudo, Ele se criou?
Para Klaus os religiosos nunca tocam na questão da criação de Deus, pois essa é ainda mais confusa do que a solução religiosa que deram para a criação do universo.
Para os religiosos, Deus simplesmente existe, não importando quantas e quão fortes sejam as evidências que a ciência fornece para indicar a extrema improbabilidade de tal coisa ser verdade.
De acordo com ele, há indícios de que o universo foi criado a partir do nada. “O vácuo pode ser inteiramente vazio de matéria, mas não de energia”. Se pudéssemos observar o vácuo em dimensões infinitamente pequenas e lapsos de tempo infinitamente curtos, muito menores e mais curtos do que a tecnologia atual é capaz de fazer, veríamos que o vácuo é tudo, menos estático, e que nele partículas pipocam a partir do nada e desaparecem instantaneamente. Em algumas condições, entretanto, essas partículas virtuais não precisariam necessariamente desaparecer”.
Para o astrofísico, a ciência tem explicação para quase tudo que aconteceu desde que o universo foi criado, há 13,7 bilhões de anos.
Por isso, disse, a ideia da existência de um deus não é sequer irrelevante, mas redundante. "Deus e os milagres se tornaram obsoletos”.

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