terça-feira, 2 de outubro de 2018

HUMANITAS Nº 76– OUTUBRO DE 2018 – PÁGINA DOIS

EDITORIAL
CULTURA E SABEDORIA

O antropólogo inglês, Edward Burnett Tylor, disse um dia que cultura é “um complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, leis, costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.
Mas cultura e sabedoria não são a mesma coisa. Um homem pode ter uma imensa bagagem cultural, sem ser um sábio. A sabedoria é a capacidade de o homem discernir ou interpretar o passado, vivenciar o presente e saber o que é melhor para o futuro.
O homem sábio identifica os erros praticados e os corrige para melhorar a sua vida. O homem sábio busca o conhecimento, mas também busca espalhar esse conhecimento.
O homem culto se diferencia do homem sábio por seguir caminhos ligados a um nível de conhecimento armazenado. Eis a diferença.
Nós não temos o direito de julgar uma pessoa apenas pelo nível cultural dela, pois a cultura vem de fora para dentro, penetra pelos olhos e ouvidos (até pela epiderme) e pode fixar-se ou não em nosso cérebro.
A sabedoria nasce dentro de nós e se exterioriza. Até os analfabetos podem ser sábios. Um ser humano repleto de sabedoria não alimenta o próprio ego, pondo-se superior aos demais. O verdadeiro sábio jamais será um narcisista ou pernóstico, bem como jamais admitirá ser um sábio.
Como disse Lao Tsé: “Quem conhece a sua ignorância revela a mais profunda sapiência. Quem ignora a sua ignorância vive na mais profunda ilusão”.
Aqui neste Humanitas colocamos conhecimentos os mais variados ao alcance das pessoas. Esperamos que elas repartam seus conhecimentos com outras pessoas, acatando a máxima de que o verdadeiro sábio é um eterno aprendiz.
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A VELHICE É UMA MERDA!
Divina de Jesus Scarpim - Professora – São Paulo/SP

Odeio meus cabelos brancos!
Adoraria não tê-los e simplesmente não acredito que alguém realmente os ache bonitos quando acompanhados das rugas, ou seja, quando são realmente marcas do tempo e não falta de pigmentação ou trabalho de um bom cabeleireiro.
Odeio todo esse meu corpo que está se deteriorando, dia a dia mais feio, dia a dia mais cheio de fraquezas, debilidades e dores que sei que só vão aumentar.
Quem diz coisas positivas a respeito da velhice, das duas uma: ou seleciona cuidadosamente as palavras e as frases para destacar como se fossem vantagens da velhice justamente as poucas coisas da juventude que ainda podem restar em um velho, ou mente descaradamente. A velhice não torna ninguém melhor, nem mais tolerante, seja com os outros, seja consigo mesmo.
Conheci muitos jovens bons e tolerantes e muitos velhos maus e intolerantes. Sempre me julguei muito tolerante e sempre tentei ser amável com as pessoas, mas nunca fui amável comigo mesma, e continuo não sendo.
Os anos me tornaram mais tolerante em algumas coisas e menos tolerante em outras; tornaram-me mais amável com algumas pessoas e menos amável com outras, mas isso aconteceu enquanto eu vivia e não enquanto eu me tornava velha.
Enquanto vivia; não enquanto envelhecia; fui me tornando menos tolerante e menos amável comigo mesma porque fui me conhecendo melhor.
Não aceito, em hipótese alguma, que mudanças sejam benefícios da velhice; estou certa de que são apenas experiência e crescimento que se adquire enquanto e porque estamos vivos.
Viver é aprender e é também mudar; mas as mudanças benéficas que adquirimos vivendo são as mesmas que se vão perdendo na decrepitude da velhice; quando a velhice nos vai tomando de nós mesmos.
As mudanças da vida, comuns e reais, não são vantagens da velhice e certamente não merecem ser acompanhadas de decrepitude e decadência física.

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