EDITORIAL
O DNA de abril
O mês de abril
tem um DNA bastante específico.
A História
diz que foi neste mês que invasores armados com cruzes e espadas invadiram as
terras brasileiras e delas se fizeram donos. E colocaram nos livros que um novo
território tinha sido descoberto.
A partir
desse mês, os habitantes naturais dessa gleba se tornaram escravos de homens
vindos do outro lado do oceano.
Tais homens -
ligados a uma monarquia carola - exploraram esse novo espaço e os seus
habitantes até o tutano, roubando ouro, diamantes e demais riquezas,
distribuindo terras aos nobres de além mar, matando e escravizando os reais donos
da terra com uma espada na mão e uma cruz sangrenta na outra.
Realmente,
abril tem um DNA especifico e sombrio.
Em abril, o
líder da Conjuração Mineira – Tiradentes - foi morto e esquartejado depois de
um julgamento tendencioso e viciado como continua acontecendo ainda hoje em
nossos tribunais.
Sim, o DNA
de abril é aterrador! No dia 17 de abril de 1996, 150 policiais executaram 19
trabalhadores, em Eldorado dos Carajás, tudo porque eles reivindicavam melhores
condições de trabalho e terra para plantar.
O DNA de
abril mete medo, sim! No dia 1º de abril de 1964 foi inaugurado no Brasil o
período mais aterrorizante da sua História.
Sob comando dos militares, fundava-se um
governo voltado para os interesses das grandes corporações nacionais e
estrangeiras.
Abril tem um DNA colérico!
No dia 16, em 1866, Brasil, Argentina e
Uruguai se uniram para destruir econômica e socialmente o Paraguai.
No dia 20, em 1889, nasceu Adolf Hitler.
No dia 26, em 1986, explodiu a central
nuclear de Chernobyl. No dia 4, em 1968, foi assassinado Martin Luther King.
Em 15 de
abril de 1912, 1.513 pessoas morreram afogadas no naufrágio do Titanic.
Quais novas e
coléricas trevas virão para este abril de 2019?
Ainda não
sabemos.
O mês – como
sempre - é aberto com o Dia da Mentira,
que se coaduna bastante com o que os governantes e religiosos pintam e apregoam.
Por ter um
DNA bem tendencioso, o mês de abril pode ser considerado o mais sinistro da
história brasileira e – talvez – do mundo.
Televisionite
Antonio
Carlos Gomes Guarujá/SP
Dona Josefa,
uma senhora de seus 50 anos, corpo tendendo a obeso chegou para consulta. Era a
primeira vez que me procurava.
- Qual sua queixa? - indaguei.
- Não sei se
o senhor pode resolver meu problema, acho que não é sua especialidade.
Numa cidade pequena é comum que o clínico trate apenas casos banais: as
tais “viroses”; principalmente o “colesterol”.
Aliás, o
paciente trata o colesterol e deixa de tomar o remédio do diabetes e
hipertensão que são doenças graves. Minha nova paciente continuou:
- Está me
caindo o cabelo.
Normalmente
a queda de cabelos é uma queixa mal explicada que inclui ansiedade, tingimentos
em demasia, compulsão de lavagens, sendo mais consequência do que doença.
Como a falha
não era aparente, pensei até numa queda difusa. Pedi para olhar.
Mostrou-me
uma lesão numular, lisa com o couro cabeludo brilhante, de oito centímetros de
diâmetro, típico de alopecia areata.
Esta, não é
uma doença incomum, tem fator psicológico e é auto-imune.
A lesão,
como a da dona Josefa, é de bom prognóstico, não correndo o risco da perda do
cabelo. Basta ir a um dermatologista e fazer os exames. Expliquei a doença e a
conduta. Não se acalmou. Começou a falar que a filha tinha notado a falha, que
a vizinha confirmou.
Continuou
angustiada, relatando todas as testemunhas de sua enfermidade. Confesso que
fiquei confuso: uma senhora de meia idade, sem obsessão por beleza física,
vestida sem espalhafato, não justificava tanta angústia.
Perguntei-lhe
pela vida familiar. Nada incomum. A vida monetária, sem. Não parecia ter nenhum
problema psicológico, falava, apesar de ansiosa, com coerência. Conforme
decorria minha anamnese, ela perguntou:
- Não vou
morrer?
Logo entendi.
Era uma “televisionite”. O artista da novela fez quimioterapia, devido a um câncer
e ficou careca por causa do tratamento, não pela doença.
Mas no
imaginário de dona Josefa, temos: câncer igual careca. Consegui enviá-la mais
tranquila ao dermatologista, após o esclarecimento.