Refúgio Poético – Cartas dos Leitores –
Teste de Xadrez
A lástima
Inácio de Alvarenga Peixoto
(Rio de Janeiro, 1744/Angola, 1793)
(Na masmorra da Ilha das
Cobras,lembrando-se da família)
Eu não lastimo o próximo perigo,
Nem a escura prisão estreita e forte;
Lastimo os caros filhos e a consorte,
A perda irreparável de um amigo.
A prisão não lastimo, outra vez digo,
Nem o ver iminente o duro corte;
É ventura também achar a morte
Quando a vida só serve de castigo.
Ah! quão depressa então acabar vira
Este sonho, este enredo, esta quimera,
Que passa por verdade e é mentira.
Se filhos e consorte não tivera,
E do amigo as virtudes possuíra,
Só de vida um momento não quisera.
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Soneto
Tomaz Antonio Gonzaga
Tomaz Antonio Gonzaga
(Porto/Portugal/1744
Moçambique,
África/ 1810)
Obrei quanto o
discurso me guiava,
Ouvi aos sábios quando errar temia;
Aos bons no gabinete o peito abria,
Na rua a todos como iguais tratava.
Julgando os crimes nunca os votos dava,
Mais duro, ou pio do que a lei pedia:
Mas devendo salvar ao justo ria,
E devendo punir aos réu chorava.
Não foram, Vila Rica, os meus projetos,
Meter em ferro cofre cópia de ouro,
Que farte aos filhos, e que chegue aos netos:
Outras são as fortunas, que me agouro,
Ganhei saudades, adquiri afetos,
Vou fazer destes bens melhor tesouro.
Ouvi aos sábios quando errar temia;
Aos bons no gabinete o peito abria,
Na rua a todos como iguais tratava.
Julgando os crimes nunca os votos dava,
Mais duro, ou pio do que a lei pedia:
Mas devendo salvar ao justo ria,
E devendo punir aos réu chorava.
Não foram, Vila Rica, os meus projetos,
Meter em ferro cofre cópia de ouro,
Que farte aos filhos, e que chegue aos netos:
Outras são as fortunas, que me agouro,
Ganhei saudades, adquiri afetos,
Vou fazer destes bens melhor tesouro.
Rancoroso, ma non
troppo
Manoel Herzog (1964...)
Santos/São Paulo
Do nosso amor restou belo monturo:
Garrafa pet, pneu velho, entulho,
Os urubus, pombos do amor, num arrulho
Dançam sobre esta cama, e o barro escuro
Garrafa pet, pneu velho, entulho,
Os urubus, pombos do amor, num arrulho
Dançam sobre esta cama, e o barro escuro
Que viraram os sonetos e os "eu juro".
Nosso fubá está cheio de gorgulho,
Pra merda alguma serve o teu orgulho,
Me vejo só na cama, e de pau duro.
Nosso fubá está cheio de gorgulho,
Pra merda alguma serve o teu orgulho,
Me vejo só na cama, e de pau duro.
Ressentimento, mal-estar, ciúme,
Engulho, lembranças de grandes fodas,
Punheta fria, gozo frio, negrume,
Engulho, lembranças de grandes fodas,
Punheta fria, gozo frio, negrume,
E a depressão que aos versos incomoda.
Meses de fronha suada e barba hirsuta –
Volta pra mim, sua filha duma puta!
Volta pra mim, sua filha duma puta!
CARTAS DOS LEITORES
Só vejo grandes vantagens na leitura do Humanitas. Uma
delas é o prazer de ler textos e poesias maravilhosas. Outra, e talvez a
mais valiosa, é a abordagem de aspectos dos fatos históricos que a grande
mídia nunca terá interesse em divulgar. José Carlos Gomes da Silva – Olinda/PE
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