quarta-feira, 2 de outubro de 2019

HUMANITAS Nº 88 – OUTUBRO DE 2019 – PÁGINA 4

A antiguidade da vida no universo
Rafael Rocha é jornalista e editor deste Humanitas. Atua na cidade do Recife/PE

Diversos cientistas em todo o mundo usaram, nos últimos anos, a biologia e a computação para sugerir uma nova hipótese: a de que a vida teria surgido primeiro que o planeta Terra. E também que poderia ter se originado fora do sistema solar.
Para chegar a essa conclusão, os geneticistas Alexei Sharov e Richard Gordon usaram a chamada Lei de Moore para calcular a evolução da complexidade da vida na Terra.
A Lei de Moore é a teoria computacional que sugere que os computadores dobram sua capacidade de processamento a cada dois anos. Usando essa lei, hoje, podemos voltar a década de 1960, quando o primeiro microship foi produzido.
No estudo, a Lei de Moore sugeriu que a vida orgânica surgiu muito antes do que o planeta Terra – muito antes até mesmo do nascimento do sistema solar, que se formou há aproximadamente 4,5 bilhões de anos (incluindo todos os planetas). Segundo os pesquisadores, a vida teria surgido há pelo menos 10 bilhões de anos, época em que o universo ainda era muito jovem.
A lei de Moore mostra que é matematicamente possível que a vida tenha antecedido a Terra, mas a hipótese ainda é tema de debates. Os geneticistas garantem que sim, que essa hipótese é plausível.
Segundo eles, quando nosso sistema solar estava se formando, formas simples de vida podem ter sido trazidas para os planetas. Essa hipótese é chamada panspermia.
Vale frisar que os cálculos feitos pelos cientistas não servem como evidência de que a vida tenha surgido há tanto tempo, pois é impossível ter certeza de que a complexidade orgânica evoluiu de forma constante durante bilhões de anos.
O geneticista Alexei Sharov acredita que existem muitos elementos hipotéticos no argumento, mas para uma visão mais ampla, esses elementos são necessários.
A hipótese também levanta outras ideias. Se a complexidade da vida evoluiu de forma constante, então a evolução social e científica de qualquer forma de vida em qualquer canto do universo teoricamente deve ser igual à dos humanos.
Assim, é possível que existam algumas civilizações avançadas até mesmo em nossa galáxia, a Via Láctea.
Muitos cientistas já admitem que há uma chance de que a vida na Terra tenha sido trazida do espaço, por meio de colisões de rochas espaciais como cometas e asteroides. 
Para apoiar mais essa hipótese, estudo apresentado na revista americana Science indica que metade da água do nosso planeta deve ser mais antiga do que o Sistema Solar.
Isso aumenta a possibilidade de existir vida fora de nossa galáxia, a Via Láctea.
Pesquisadores da Universidade de Exeter, na Grã-Bretanha, realizando experiências químicas com as possíveis moléculas de água formadas no Sistema Solar e as que existiam antes, descobriram que entre 30 e 50% da água consumida hoje em dia é cerca de um milhão de anos mais antiga do que o Sol.
Levando-se em conta que a água é elemento crucial para o desenvolvimento da vida na Terra, os resultados desse estudo podem sugerir que a vida existe em outro lugar mais além da nossa galáxia. 
Tais resultados aumentam a possibilidade de que alguns planetas fora de nosso Sistema Solar possuam as condições propícias e grandes recursos de água que permitam a existência de vida e sua posterior evolução.

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