O despertar
da África IV
Araken Vaz
Galvão é escritor e membro da Academia de Artes do Recôncavo. Atua em
Valença/BA
A África atravessou toda a primeira metade
do século XX, sem grandes modificações em sua situação política. Curiosamente,
foi o fim da II Grande Guerra quem criou as condições que permitiram o início
do processo que foi chamado de descolonização. É verdade, porém, que ao término
da I Grande Guerra algumas modificações surgiram no mapa africano, entretanto
essas modificações diziam respeito aos interesses das potências europeias, uma
vez que a Alemanha perdera suas colônias, e isso significou apenas, para os
africanos, a mudanças de amo.
Mas, como as conseqüências da II Grande
Guerra influenciaram na África, uma vez que as potências europeias – Reino
Unido, França e Bélgica – tinham saído como vencedoras? Os fatores foram
vários. Vamos aos principais. Os países coloniais tinham sido vergonhosamente
derrotados – com exceção do Reino Unido, que apenas ficara de joelho –, frente
a Alemanha de Hitler, e só saíram vendedores graças a aliança com Estados
Unidos com a União Soviética. A França e o Reino Unido tiveram ainda que lançar
mão de soldados recrutados entre os povos colonizados – leia-se, entre os
cidadãos de segunda classe, como eram considerados os africanos e demais filhos
daqueles povos –, evidenciando, dessa forma, que eles não eram invencíveis.
Embora aliados dos Estados Unidos, a este
país não interessavam colônias, e sim nações nominalmente independentes (tipo a
Libéria) que ficariam a mercê dos poder econômico daquela potência que saíra da
II Grande Guerra como a principal do planeta, a quem a própria Europa – países
vencedores e vencidos – ficaram subordinados.
Sucedia em pleno século XX, algo similar ao
que se dera com os países das colônias portuguesas e espanholas no século XIX,
na América, que contara com a simpatia da Grã-Bretanha, em suas lutas pela
independência para se tornarem dependentes economicamente daquele país, então o
mais poderoso do mundo.
O último, dos principais fatores, tinha um
lado negativo. Para derrotar os países do Eixo – Alemanha, Itália e Japão – foi
fundamental a participação da União Soviética, que saíra daquela guerra como a
segunda maior potência do planeta. Mas com sérias veleidades de ser a primeira.
Se a propaganda dos Estados Unidos falava em liberdade, mas uma liberdade
etérea, patrocinada pelos países que tinham sido os senhores das colônias, a
soviética falava em libertação dos povos tendo esses mesmo povos como
protagonistas da sua liberdade. Somava-se a essas proposições ideologias, a
presença dos países não-alinhados – que Índia, Iugoslávia, Indonésia e Egito
eram os principais – pregando a não aliança automática nem com os EUA, nem com
a União Soviética.
Dentro desse quadro, com ambas as potências
vencedores da II Grande Guerra lutando por influenciar o processo de libertação
nacional dos povos africanos, contando ainda com a influência dos países
não-alinhados, que procuravam novos adeptos para reforçar a posição do grupo,
deu-se todo o processo de libertação nacional dos povos colonizados.
Esse conflito de interesses políticos entre
as duas maiores potências mundiais, foi chamado de Guerra Fria, do qual os
conflitos relacionados com a descolonização foram apenas uma pequena parte.
Por outro lado, o processo de libertação
dos povos colonizados, do ponto de vista ideológico recebeu uma acentuada
influência das idéias da esquerda, com maior ou menor participação da União
Soviética e alguma influência da China.
O movimento que recebeu em sua ocasião maior
repercussão na imprensa ocidental foi o dos Mau-Mau, no Quênia, liderados por
Jomo Kenyatta.
Região conhecida pelo homem desde épocas
imemoriais, o que hoje é o Quênia foi dominada, por volta do século VIII, da
era cristã, pelos árabes. Os portugueses, ao conquistarem Mombaça, em 1505,
expulsando os árabes, tornaram-se os senhores da região. No final do século
XIX, porém, os britânicos, sob o pretexto de acabar com a pirataria,
apoderaram-se de toda a região.
Estavam assentados ali desde o século X os
bantos, entre eles os kikuyu, que viviam no interior, e os massais (povo
nilótico) que vivia (e ainda vive) próximo à fronteira com o que hoje é a
Somália. Os alemães foram os primeiros europeus a se fixarem na região, o
fizeram entre os povos da tribo manyika, isso por volta de 1848. A construção de uma
ferrovia, ligando o porto de Mombaça e as férteis terras do lago Vitória
(concluída em 1902), o que facilitou pois abriu as portas à dominação
britânica. Em 1920, reafirmado o domínio da Grã-Bretanha, o Quênia foi
transformado de colônia em protetorado.
A partir de 1921, surge a Associação
Central dos Kikuyu, (reformulada em 1925), que passou também a reivindicar
participação no poder.
Neste
contexto que surge a rebelião dos Mau-Mau, que teve a participação majoritária
dos kikuyu e que foi liderada por Jomo Kenyatta, que se transformaria em uma
guerra prolongada (de 1952 até 1960), resultando na independência em dezembro
de 1963. Jomo Kenyatta, que até então chamado de terrorista pela imprensa
ocidental, foi o seu primeiro presidente.
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