PESSIMISMO E REALIDADE (PARTE 6)
Divina Scarpim
colaboradora deste HUMANITAS é professora e escritora. Atua em São
Paulo/SP
O
argumento fundamental que estou
defendendo aqui é que, dentro do espectro daquilo que nós, animais humanos,
costumamos denominar fazendo uso das palavras “maldade” e “egoísmo”, somos maus
e egoístas, eu, você e cada um de nós.
Acontece que esses conceitos têm nuances
como as cores, há aqueles que têm em si essas características mais acentuadas e
outros que as têm pouco menos intensas, mas todos nós as temos.
O que acontece é que nós tendemos a
praticar atos de maldade em diversos níveis de moto próprio ou influenciadas
por outras pessoas que de alguma forma têm mais poder.
E essa tendência a pensar, instigar,
aceitar e praticar o mal parece ser mais forte quanto mais forte é o egoísmo.
Ou seja, os mais egoístas são mais danosos
aos outros e, ao mesmo tempo, tendem a obter maior sucesso.
Quando penso no significado das palavras,
concluo que estou chamando de egoísmo uma faceta do nosso instinto de
preservação, a parte que faz com que a gente procure - e ache - justificativas
para nos preservar e fazer com que nos preocupemos acima de tudo com nosso
corpo, nosso bem-estar, nossa vida e a qualidade dela.
Vendo por esse ângulo, a maldade humana é
um subproduto do egoísmo e é inerente a ele porque é também uma faceta do
instinto de conservação e preservação que temos como animais que somos.
Criamos outras versões e eufemismos para o
que é basicamente egoísmo. Amor próprio é só o mais óbvio deles.
Voltando ao livro Sapiens, na página 17, temos que “No Homo sapiens, o cérebro equivale a 3% do peso corporal, mas
consome 25% da energia do corpo quando este está em repouso”.
Acrescento ainda o livro Cérebro e Crença, de Michael
Shermer que, na página 78, afirma que “Sempre
que o custo de acreditar que um falso padrão real for menor do que o custo de
não acreditar em um padrão real, a seleção natural favorecerá a padronicidade”.
Então, fico pensando em quanta energia é
necessário para procurar fontes, pesquisar a validade das fontes, analisar
conhecimentos obtidos e processar tudo isso relacionando conhecimentos novos e
antigos entre si até tomar uma decisão, aderir a qualquer linha de pensamento,
comportamento, crença ou postura.
E, paralelo a isso, quanto de energia um
cérebro consome para aceitar como verdade, sem um mínimo de análise, qualquer
tipo de informação, opinião ou crença que lhe seja apresentada.
Tenho certeza de que há uma diferença
consideravelmente grande entre uma e outra situação.
Pelo que já vi e li em várias fontes, a
economia de energia é característica recorrente no mundo animal, por que seria
diferente com o Homo sapiens?
Daí que, entre a economia de energia, o
egoísmo e o instinto de preservação, não parece muito difícil ser uma pessoa
que, no mínimo, não se esforça muito para adquirir conhecimentos não práticos.
E que em lugar de perceber e analisar
contradições e mentiras procura negar a existência de tais contradições, de
preferência de forma indireta.
Ou seja, usando argumentos de terceiros
sempre e todas as vezes que essas contradições e mentiras nos favoreçam de
alguma forma.
Na verdade, arriscaria a dizer que, como
indivíduos, os mais egoístas de nós estamos sempre cada vez mais dispostos a
gastar mais energia para justificar contradições e criar mentiras que nos
favoreçam do que gastaríamos para desvendar essas mentiras e perceber e
descartar essas contradições.
A economia de energia e o instinto de
preservação levam pessoas a se tornarem seguidoras de manada, a não pensarem e
não se importarem em saber os danos que causam ou que não se dão ao trabalho de
evitar.
Não
estou pensando apenas em extremos mais do que danosos, mas no fenômeno em si,
que como tal comporta também o mais brando dos egoísmos, do qual um bom exemplo
talvez seja a pessoa que passa toda a vida em autoprivação praticando “o bem sem olhar a quem” e que
talvez faça isso com o objetivo principal de se tornar uma pessoa santa e, quem
sabe até, merecer destaque em um livro de história dedicado às pessoas vistas
como “iluminadas”.
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