Breviário do perfeito
midiota
Luciano Martins Costa - Jornalista
São Paulo/SP
Transcrito de
www.observatoriodaimprensa.com.br
A base que os defensores do impeachment da presidente Dilma Rousseff chamam de apoio popular é formada por cidadãos de perfil extremamente conservador, propensos a
acreditar em mitos urbanos e com baixo grau de cultura política.
Sob orientação do filósofo Pablo Ortellado,
da USP, e da socióloga Esther Solano, da Unifesp, dezenas de pesquisadores
organizados pelo núcleo de debates Matilha Cultural, de São Paulo,
entrevistaram 571 participantes da manifestação de 12 de abril, em toda a
extensão da Avenida Paulista. O resultado é estarrecedor. E esclarecedor.
Por exemplo, 71,30% acreditam que Fábio
Luís Lula da Silva, um dos filhos do ex-presidente Lula, é sócio da gigante de
alimentos Friboi; 64,10% acham que o Partido dos Trabalhadores pretende
implantar uma ditadura comunista no Brasil; 70,90% entendem que a política de
cotas nas universidades gera mais racismo; 53,20% juram que a facção criminosa
PCC é um braço armado do Partido dos Trabalhadores; 60,40% acham que o programa
bolsa-família só financia preguiçoso;
42,60% acreditam que o PT trouxe 50 mil haitianos para votar em Dilma Rousseff nas
últimas eleições; 55,90% dizem que o Foro de São Paulo quer criar uma ditadura
bolivariana no Brasil e 85,30% acham que os desvios da Petrobras são o maior
caso de corrupção da história do Brasil.
A lista das perguntas permite traçar um perfil muito claro da matriz
dos protestos, como preferências partidárias, confiança na imprensa, em
partidos e entidades civis e, principalmente, adesão a teses improváveis
que, no entanto, são muito populares nas redes sociais digitais. O
resultado mostra, por exemplo, que a maioria (57,80%) confia pouco ou simplesmente
não confia (20,80%) na imprensa.
No entanto, o mais alto grau de
credibilidade é dado à apresentadora do SBT Raquel Sheherazade, considerada
entre os comentaristas políticos: 49,40% disseram confiar muito nela,
seguindo-se o colunista Reinaldo Azevedo (39,60% dizem confiar muito nele).
A maioria (56,20%) declarou usar como
principal fonte de informação política os sites da mídia tradicional (jornais,
TVs, etc.), vindo em seguida o Facebook (47,30%). No campo da
imprensa propriamente dita, o veículo em que os manifestantes declaram ter mais
confiança é a revista Veja (51,80% confiam muito); entre os jornais,
destaca-se O Estado de S. Paulo (40,20%).
Entrevistaram-se manifestantes com idades
acima de 16 anos, ou seja, cidadãos aptos a votar. O perfil médio
corresponde ao que foi identificado pelo Datafolha: na maioria (52,70%) homens,
brancos (77,40%), com educação superior completa (68,50%), idade acima de 45
anos e classes de renda A e B. Apesar de uma tendência a afirmar que não
confia em políticos, a maioria declarou considerar, como lideranças mais
confiáveis, pela ordem, o senador Aécio Neves, o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, o PSDB, o governador Geraldo Alckmin, vindo em seguida a
ex-ministra Marina Silva e o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ); José Serra
(PSDB-SP) perde para Ronaldo Caiado.
Nada menos do que 73,20% dizem não confiar
nos partidos políticos em geral, contra apenas 1,10% que confiam muito e 25,20%
que confiam pouco.
Os maiores índices de rejeição vão,
evidentemente, para o PT (96% não confiam), seguindo-se o PMDB (81,80% não
confiam). A presidente Dilma Rousseff (com 96,70%), seguida do
ex-presidente Lula da Silva (95,30%) são os políticos em que os manifestantes
menos confiam, seguidos pelo prefeito petista de São Paulo, Fernando Haddad
(87,60%). O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
conta também com alto grau de rejeição (73,40% não confiam nele).
Os números da pesquisa permitem fazer uma
análise bastante clara do recorte da população que saiu às ruas na última
manifestação de protesto contra o governo federal. Os participantes são,
majoritariamente, eleitores do PSDB, de uma extração específica da
população paulista formada por indivíduos de renda mais alta, brancos, com
baixa educação política a despeito da alta escolaridade, muitos
influenciados por jornalistas comprometidos com a agenda da oposição e
propensos a acreditar em rematadas bobagens que proliferam nas redes sociais.
A base
popular que o senador Aécio
Neves apresenta como fonte de legitimidade para seu projeto de impeachment
da presidente da República é a fração mais reacionária de seu próprio
eleitorado, primor de analfabetismo político. A maioria se encaixa
exatamente na definição do perfeito midiota.