terça-feira, 25 de agosto de 2015

HUMANITAS Nº 39 – EDIÇÃO DE SETEMBRO DE 2015 –PÁGINA 8

A indústria da exploração da fé
Especial para o Humanitas
Luiz Carlos Amorim é escritor. Integrante da Academia Sulbrasileira de Letras.Mora em Florianópolis/SC

Dois assuntos eu não gosto de abordar, política e religião. Mas há ocasiões em que somos obrigados a falar sobre os referidos, pois fazemos parte do contexto em que eles estão inseridos; queiramos ou não, eles nos dizem respeito.
Então enveredamos por discussão sobre religião, em família. E aí a coisa pega, pois sou muito cético em relação ao assunto. Para mim, fé é uma coisa e religião é outra. Acho crime o que fazem certos bispos e pastores de algumas novas igrejas que usam o nome de Deus para conseguir dinheiro dos pobres fiéis.
E quando digo pobres, quero dizer pobres mesmo, nos dois sentidos: pobres porque são enganados, aliciados e saqueados, e pobres porque têm poucas posses, a maioria deles.
E as igrejas proliferam, porque no Brasil essa é uma modalidade de empresa ou entidade que não paga nenhum imposto.
Então os religiosos alugam um espaço físico, fundam uma igreja e atraem os fiéis com a promessa, por exemplo, de livrá-los do inferno, se doarem uma certa quantia à casa de Deus, que eles representam. E com esse dinheiro que pedem aos fiéis, pagam o aluguel, pagam os pastores e funcionários da igreja e ficam ricos, constroem impérios.
Não seria tempo de nossos governantes, o poder legislativo, quem sabe, rever essa lei que isenta as igrejas de qualquer ônus?
Que isenta as igrejas de qualquer imposto para acabar com essa coisa de pedirem o pouco dinheiro que as pessoas ganham com sacrifício em troca de promessas formuladas em nome de Deus, em tom de coação? Pois ameaçar que alguém vai pro inferno se não colaborar, que não vai conseguir sucesso na vida, se não colaborar, é enganar as pessoas.
Está na hora de mudar esse estado de coisas. Isso é usar o nome de Deus em vão, é usar a fé em Deus dos nossos semelhantes para conseguir benefício próprio, usando o princípio do dízimo, que é mencionado na Bíblia. Não pode haver lei que proteja isso.
Volta e meia um escândalo de dono de alguma igreja vem à tona, mostrando que o bispo, ou seja lá que outro nome se dão, enriqueceu com o dinheiro arrecadado pela sua igreja, transformando-se em proprietário de mansões, grandes e valiosas fazendas, impérios empresariais etc.
Não foram nem um e nem dois, vários destes senhores já foram denunciados, mas nunca nenhum foi preso. Nem devolveu o dinheiro doado por seus fiéis.
Seria engraçado se não fosse trágico – e irônico – o fato de a denúncia mais recente partir da rede de televisão pertencente a uma igreja cujo dono já foi alvo das mesmas denúncias que vêm fazendo a um outro dono de igreja.
Será que não pesa na consciência desses senhores usar o nome de Deus para arrancar dinheiro de quem não tem quase nada? Parece que não. E a lei, ou quem faz as leis, nossos digníssimos representantes, e a justiça, falida, não fazem nada para acabar com esse estado de coisas.
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Veja mais textos do escritor em www.luizcarlosamorim.blogspot.com

HUMANITAS Nº 39 – EDIÇÃO DE SETEMBRO DE 2015 – PÁGINA 7

Consumismo desenfreado
Especial para o Humanitas
Antonio Carlos Gomes é um dos mais ativos colaboradores do Humanitas. É médico e mora em
Guarujá/SP

Oito bilhões de elefantes comendo a copa das árvores conseguem acabar com as florestas. Isto é o que está acontecendo. O consumismo desenfreado está acabando com o planeta. Esta foi à conclusão que me ocorreu quando, numa página de poesia, abriu-se um desafio de se escrever como proteger a natureza no dia do meio ambiente.
Não sou economista nem monge; tampouco prego vegetarianismo ou outra qualquer filosofia de vida ou modismos. Acompanhem meu raciocínio: excetuando-se dois bilhões de humanos que vivem em miséria absoluta, com centenas de mortes infantis por fome por dia, o restante da população tem algum consumo, variando conforme a classe social que ela se encontra. Usarei como parâmetro o Estado de São Paulo.
Nesta camada de consumo a grande parte consome mais do que precisa. Todos justificam com propriedade que é para seu bem estar e para não ficar inferiorizado perante seus vizinhos.
A partir de certo nível de ganho temos repetições de objetos:: um celular com máquina fotográfica que se conecta com a internet, uma máquina fotográfica, um tablete, um notebook, um computador. Portanto, repetições, o celular e o computador seriam suficientes para suas necessidades. Se tiverem uma boa televisão e no hipermercado aparecer uma oferta a preço tentador, comprarão outro aparelho para colocar no quarto.
Em seus armários encontraremos meia dúzia de toalhas de banho compradas em ofertas irresistíveis.
Mais: vários pares de sapatos, muitas calças, camisas, vestidos, blusas e assim por diante. Olhando bem, consumimos várias vezes mais do que a necessidade básica de viver bem.
O carro, se possível deve ser trocado cada um ou dois anos, cada eletrodoméstico é trocado regularmente em períodos breves, bem como os móveis, sempre que for possível, acompanhando a moda da época.
Toda novidade em eletrodomésticos, modas ou lazer é rapidamente adquirida. Se demorar muito para ter o dinheiro para a compra, a angústia acompanha a família.
O que tem a ver tudo isto com a natureza? Respondo: tudo!
O mundo atual é dominado por grandes conglomerados incluindo superempresas e bancos.
A mobilidade dos pequenos é limitada pelo capital que não possuem e dependem diretamente do sistema bancário e dos fornecedores, direta ou indiretamente ligados a uma empresa multinacional.
A lavoura e o agronegócio, por maior que seja, depende de fertilizantes, sementes e agrotóxicos, tudo dominado pelo capital internacional incidindo royalty e outras taxas.
Resumindo, o capital internacional dirige tudo, direta ou indiretamente e os bancos são os fornecedores do combustível para a economia funcionar.
Portanto, temos um sistema internacional (bancos e multinacionais) donos do capital, um sistema de distribuição (intermediários locais), um sistema de propaganda (imprensa) e consumidores. A imprensa é dependente e só sobrevive pelo capital.
Como tudo que se compra e produz é despesa em moedas estrangeiras, atinge a balança comercial e incide juros para o país.
O que se produz é em grande parte consumido no mercado interno, sem abater os dólares de custo (insumos, royalty, patentes, matérias primas).
O sistema fica sempre deficitário obrigando ao governo estimular a produção tanto para diminuir o déficit, como para amenizar a pressão que sofre como devedor. O sistema funciona para o país como um cartão de crédito que não se consegue pagar a totalidade da fatura e a divida sempre aumenta, no nosso caso obrigando a aumentar a produção.
A máquina do capital tende sempre a aumentar o lucro e maquia as bugigangas que oferece à população, para que esta gaste mais e gere maior receita.
Para aumentar a produção há necessidade de além de melhor técnica (sempre importada) mais terra (tanto para plantio, como geração de energia, transporte e armazenagem), obrigando a cada vez mais ocupar terras ocupadas por matas para produzir.
Os índios, sem terras e quilombolas deveriam ser respeitados nesse processo. Os primeiros preservando suas terras sagradas e de subsistência; os outros dois dentro de um processo de agricultura familiar, fornecendo alimentos para a população a um custo menor. Este procedimento não agrada ao capital, que além de necessitar do espaço para consumir insumos, teria a concorrência de produtos fora das bolsas de mercadorias; portanto sem lucro.
Nesses casos age com a imprensa, desqualificando este segmento e por via judicial, que sempre é oriunda da classe dominante, inclinada por convicção a concordar com o sistema de capital.
O sistema é fechado, portanto. As árvores continuarão sendo destruídas e os mais fracos expulsos de suas terras. Não vejo como reverter a situação enquanto durar esta forma de capital. A única maneira de controle é nossa própria restrição de consumo para poder quitar este cartão de crédito interminável.
A solução cabe a cada um dos cidadãos.

HUMANITAS Nº 39 – EDIÇÃO DE SETEMBRO DE 2015 –PÁGINA 6

O mundo é de todos os Deuses
Thomas Henrique de Toledo Stella Professor e Historiador
São Paulo/SP
Texto extraído de  www.thomasdetoledo.blogspot.com.br

Essa história de Deus único nunca me convenceu. O Deus da Torá e da Bíblia é completamente diferente dos Deuses do Baghavad Gita, que são completamente diferentes do Deus do Alcorão, que é totalmente diferente dos Deuses e Deusas do Candomblé, chamados de Orixás.
Sim, todos os Panteões possuem uma divindade suprema, mas qual correspondência se pode traçar entre Allah e Odin, entre Zeus e Inannah? São atributos completamente diferentes.
Algumas pessoas tentam fazer sincretismos forçados entre Jesus e Hórus, por exemplo, o que não faz o menor sentido. O Deus sacrificado na mitologia egípcia é Osiris e Hórus é associado ao poder monárquico dos faraós.
Na mitologia cristã, Jesus é identificado como o Deus do amor, mas ele é muito diferente da Deusa do amor dos gregos, Afrodite, que não separa sexualidade e sensualidade de amor.
Aliás, a única Deusa no cristianismo é virgem, como se o sexo, a energia da vida, fosse um pecado imoral.
A concepção monoteísta, seja ela deísta ou teísta, não pode jamais ser entendida como a única acerca da espiritualidade. Aliás, se existem tantos Deuses no mundo quem garante que o Deus da sua religião é o verdadeiro? 
O judaísmo, cristianismo e islamismo se utilizam de uma concepção teológica chamada monoteísmo, que se derivou da monolatria.
O monoteísmo é a crença de que só existe um Deus e que todos os outros são falsos.
A monolatria reconhece que existem vários Deuses, mas prega que se deve cultuar apenas um.
Na verdade, o monoteísmo surge como oposição às religiões chamadas politeístas, que acreditam em muitos Deuses e Deusas. Há basicamente duas formas de politeísmo: a que entende que os Deuses são forças da natureza que dividem seus papéis no ordenamento cósmico, e a que concebe que todos os Deuses são manifestações de um único princípio criador. Esta segunda visão era predominante no Antigo Egito e foi corrompida pelo faraó Akhenaton, que pela primeira vez na história sugeriu a existência de um único Deus, negando todos os outros.
Os hebreus eram monolatristas seguidores do Deus YHVH e quando viviam como trabalhadores imigrantes (não como escravos) no Egito, sincretizaram o seu Deus com o de Akhenaton.
Teologicamente, este foi o ponto de virada da monolatria para o monoteísmo e da religião hebreia original para o judaísmo, que viria a ser criado durante os cativeiros dos judeus na Babilônia e na Pérsia.
A religião de Akhenaton durou pouco, mas os judeus desenvolveram sua crença monoteísta progressivamente, condenando outras divindades, mas utilizando-se da ideia de um Deus com vários atributos (72 nomes). Isto também viria a aparecer no cristianismo com o conceito de trindade. Já o islã completou a “revolução” monoteísta quando Mohammed destruiu todas as imagens dos Deuses da Caaba e estabeleceu que Allah seria o único Deus.
O que levou o monoteísmo a ganhar força e a devastar militarmente o politeísmo, foi que a crença na existência de uma única autoridade divina poderia justificar um único rei, um único Estado e um único território, como bem se aproveitou o Imperador Constantino para salvar o Império Romano da fragmentação.
Assim, a predominância das religiões monoteístas no mundo moderno deve-se muito mais a fatores políticos e de guerra do que propriamente religiosos.
Atualmente, na África, América Latina (índios da Bolívia, Peru e México), Ásia (Índia, China, Nepal e Japão) e em diversos outros lugares do planeta, o politeísmo sobrevive e representa uma opção pela diversidade em detrimento da uniformização que as religiões monoteístas propõem pela conversão ou impõem pela força.
Impor um Deus, uma religião, um dogma e uma moral só levou o mundo a guerras e crimes. Está na hora de se reaprender com o politeísmo como viver a diversidade e lembrar que se alguém acredita que só existe um Deus, isto é apenas sua crença individual. Ninguém é obrigado a aceitar um Deus que não ressoa no interior da própria consciência.

HUMANITAS Nº 39 – EDIÇÃO DE SETEMBRO DE 2015 – PÁGINA 5

A pílula da vida...
Especial para o Humanitas
Ana Maria Leandro integra a Academia Mineira de Letras e colabora com o Humanitas há três anos. Escritora e jornalista em Belo Horizonte/MG

Na bonita noite estrelada, a lua cheia parecia convidar ao andar sem destino. Um bonito cenário de aventuras na famosa sexta-feira que precede um sábado em que muitos não têm hora para levantar. E, afinal, conforme já se disse popularmente, a noite é uma criança...
No grande pátio externo do barzinho famoso conhecido pelo ipê amarelo que o enfeita, três amigas assentaram-se em uma mesa sob a árvore. Uma delas não gostava de bebida alcoólica e isto facilitava para o retorno de carro. E deixava as outras amigas à vontade para se excederem.
Outra delas, assentada sob uma penca de flores do ipê, de vez em quando coquetemente prendia as flores na orelha. E na mesa da ponta oposta, entre quatro rapazes assentados e tomando seus shops, um deles olhava mais prolongadamente para ela. As moças saíam separadamente e em grupo para as danças.
Ao final da balada era comum voltarem juntas para casa, um tipo de acordo de segurança que haviam estabelecido nas saídas. Combinações de reencontros se dariam para depois, cada uma isoladamente.
Mas este dia foi diferente. Os rapazes foram saindo um a um, até que um último, que olhava prolongadamente para a moça das flores, levantou-lhe o copo num pedido de brinde, que ela acenou positivamente.
Ele foi para a mesa das moças e logo trocavam cenas de carinho. O álcool subia, as emoções se soltavam e as carências se acendiam. As amigas não quiseram permanecer pela noite adentro. E perceberam que Lana (nome fictício) não iria, daquela vez, com elas.
Então se despediram e deixaram-na com o novo acompanhante.    
Mas subitamente um clarão de noção o invade e ele pergunta: ei, você usa anticoncepcional? Não gosto de preservativos e não posso e nem quero ter filho!. Não se pode negar: claro como a luz, sincero num momento de êxtase. Mas ela se saiu com essa: Não se preocupe, amanhã uso a pílula do dia seguinte. Estava tudo resolvido. A noite era uma criança! E o pior é que crescia...
O dia seguinte chegou, mas a pílula não. O problema era como dizia Nietsche, o homem é concebido pela força da natureza. E a natureza não quer saber se você tem ou não consciência do que está fazendo. Melhor escolher alguém que valha a pena no dia seguinte, do que arriscar-se a esquecer-se da pílula.  O cavalheiro da noite sumiu para nunca mais ser visto e com uma espécie de consciência amparada: eu disse a ela que não se esquecesse da pílula do dia seguinte.
É este o motivo real pelo qual a virgindade foi milenarmente defendida. Ainda na linha de pensamento de Nietzsche o mesmo inferia que o pecado não passa de invenção, que alimenta o medo (medo de morrer e ir para o inferno). Pode-se, entretanto, ir para o inferno, ou para o céu, mesmo em vida, pois, ao que parece, ambos são criados pelo próprio homem aqui mesmo.
Assim, escolher o que fazer num momento pode inferir muito no que acontece no outro dia e pelo resto da vida. E não é em outra vida...
É interessante como a virgindade conseguiu por tantos séculos ser considerada como estado de pureza. E isto simplesmente se houvesse a preservação de um hímen (a relação não vaginal, por exemplo, era uma forma que muitas adotavam, para permanecerem virgens).
Mas o controle pelo medo é mais eficaz, e uma moça podia perder até o direito ao lar e à convivência familiar, como pagamento por um crime, que não cometera sozinha.
Ao que parece os preservativos e anticoncepcionais foram uma libertação científica. Mas a verdadeira libertação é a do ser. Preciso aprender que devo agir de forma a dar qualidade ao meu próprio viver. E isto, embora pareça individualista não é, porque pessoas infelizes não são capazes de tornar felizes aquelas com quem convivem. O homem é um ser social, e por natureza partilha uma convivência, boa ou má.
Assim, quando alguém se julga dono de alguém, ou se acha no direito de obrigá-lo a conviver, está fatalmente criando todas as condições de construir a infelicidade e de forma a deixar heranças nos descendentes. Por questões culturais, o mal viver é prolífero e extensivo, às vezes, em gerações. Até que surja um que, compreendendo essa análise reverta o processo, começando em si mesmo.
O grande engano humano é imaginar que o pecado é algo que não se deve cometer, pois pode ser castigado (quem sabe num possível inferno posterior à vida). Ora, se a educação se aprofunda nos conceitos de valores e não de pecados, a espécie humana aprenderia melhor o que deveria fazer, para tornar-se melhor consigo mesma e com as pessoas em torno de si.
Pois a pílula da vida tem de ser tomada hoje. É ela que pode nos dar a possibilidade de uma vida melhor...

HUMANITAS Nº 39 – EDIÇÃO DE SETEMBRO DE 2015 –PÁGINA 4

Genocídio armênio
completa 100 anos
Especial para o Humanitas
Rafael Rocha é jornalista e editor-geral deste Humanitas. Mora no Recife/PE

No último mês de abril deste ano, completaram-se 100 anos de um dos mais cruéis e bárbaros genocídios da História da Humanidade, a chamada Grande Deportação, nome dado ao assassinato metódico e organizado de 1,5 milhões de armênios pela Turquia, durante o governo dos Jovens Turcos.
Foram assassinados 75% dos armênios existentes. Três quartos de um povo, em um só processo.
O Ocidente, incluindo os EUA, em geral nega o uso do termo genocídio para o assassinato de 3/4 dos armênios, por motivos diplomáticos.
Caso reconheça que houve genocídio isso iria implicar em pagamento de reparação pecuniária pela Turquia às famílias das vítimas, dada a imprescritibilidade dos crimes contra a humanidade.
O ex-presidente norte-americano, George Bush, pessoalmente, solicitou que fosse barrada pelo Congresso – urgentemente - a votação de uma resolução sobre este assunto.
O atual presidente Barack Obama, que em sua campanha eleitoral prometeu reconhecer o genocídio, voltou atrás depois de eleito e não mais toca no assunto por questões diplomáticas.
Isso porque todos sabem da importância do apoio da Turquia na política americana para o Oriente Médio - Leste Europeu.
Israel, cujo povo foi também vítima de um genocídio, não reconhece o genocídio armênio.
A diplomacia brasileira segue o mesmo caminho, embora alguns estados brasileiros que receberam a imigração armênia, como São Paulo, o reconheça.
O motivo do extermínio armênio foi - o que não é surpresa - perseguição religiosa. Os armênios eram majoritariamente cristãos em um país islâmico e o Estado turco cometeu o assassinato em nome da homogeneização cultural, eliminando à força as diferenças.
Dezesseis meninas foram crucificadas depois de serem estupradas. Uma das testemunhas oculares da crucificação, Aurora Mardiganian, foi ela mesma estuprada e mantida em um harém.
O tratamento das mulheres armênias era especialmente bárbaro, envolvendo repetição de tortura e estupro que frequentemente levava as vítimas ao suicídio. Para as desafortunadas que não sucumbiam à insanidade, o final dessa literal via crucis era uma zombaria com a própria religião das vítimas: a crucificação.
Os prisioneiros eram embarcados para a execução em trens, o que seria repetido pelos nazistas duas décadas depois. Este acontecimento fez 100 anos, agora, em 2015.
Quantos outros anos rolarão até que a diplomacia mundial fale sobre ele chamando-o pelo que realmente é: genocídio?
Oscar S. Heizer, cônsul dos EUA em Trebizonda, cidade do nordeste da Turquia relatou que muitas crianças foram colocadas em barcos, levadas e jogadas ao mar. 
O cônsul italiano na mesma cidade, em 1915, Giacomo Gorrini, escreveu: Vi milhares de mulheres e crianças inocentes colocadas em barcos que foram emborcados no Mar NegroOutros relatos assinalam que o método mais rápido para a eliminação das mulheres e crianças que concentravam-se nos vários campos foi o de queimá-las. E também que prisioneiros turcos que aparentemente tinham presenciado algumas dessas cenas ficaram horrorizados e enlouquecidos com a lembrança desta visão. Russos afirmaram que, vários dias depois, o odor da carne humana queimada ainda impregnava o ar.

JORNAL HUMANITAS Nº 39 – EDIÇÃO DE SETEMBRO DE 2015 –PÁGINA 3

CARTAS DOS LEITORES

Meus mais sinceros parabéns por mais um ano de vida Humanitas. Serena Borges – Olinda/PE
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Espetaculares as matérias publicadas. Parabéns! Nilson de Morais – Recife/PE
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O Humanitas é um jornal pernambucano que tenta manter vivos os debates necessários e também a necessidade de divergências. Cláudio Antonio Ribeiro – Curitiba/PR
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Parabéns ao Humanitas e aos colaboradores. Que continuem a nos presentear com os excelentes textos e poemas. Ana Luiza Jorge Gomes – Guarujá/SP
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Trazendo conhecimentos novos aos leitores o Humanitas faz seu papel de propagar a verdade. Parabéns por mais um ano de existência. Goretti Assunção – Olinda/PE
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Parabéns, Humanitas! Maria do Carmo Silva – Santos/SP
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Parabéns! Carlos Lima Nogueira – Recife/PE
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Uma publicação especial que traz novos rumos ao jornalismo cultural e humanístico. Carlos José de Oliveira – Olinda/PE
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Un ami m'a envoie toujours l'Humanitas du Portugal. Je adore ce bulletin. Félicitations pour un anniversaire. Jean-Baptiste de Leroux Didier – Paris/França
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REFÚGIO POÉTICO

O bardo
Antonio Carlos Gomes
 Guarujá/SP

Poeta não cria
Recorda
Recorda a vida
Do mundo ancestral
Descobre sua dança...
Ritmo...
Poesia...
Poeta canta a terra
Em cada verso
De amor
De guerra.
Poeta é o bardo
Que canta a memória
Da humanidade
Tentando viver.
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GUERREIROS DA VERDADE
Rafael Rocha – Do livro “Poemas Escolhidos”

Acalme-se o tempo! Estamos vivos!
Apesar dos imbecis que nos cercam!
Apesar dos alienados que nos insultam!
Apesar da idade negra querendo retornar!
Acalme-se o tempo! Estamos vivos!
Estamos aptos para a luta!

Agora é que podemos cantar Vandré em voz alta
Afiando as palavras no dedilhar dos versos.
E para não dizer que não falei das flores
Acalmemos o tempo porque a vida permanece.

Apesar dos alienados e das mídias e dos religiosos
Acalme-se o tempo! Estamos mais vivos do que nunca
E dessa vez não irão roubar nossos sapatos!
Dessa vez não irão invadir nossas casas!
Dessa vez não irão catequizar nossos filhos!

Temos força e voz para gritar por nossas vidas
E temos as armas da verdade contra a ignomínia!
Calem-se os sinos das igrejas!
Calem-se os fundamentalistas!
Calem-se os alienados e retardados da política!
Os guerreiros da verdade estão nas ruas!
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Rafael Rocha nasceu no ano de 1949 no Recife/PE onde ainda hoje está radicado. É jornalista, poeta e escritor. Em sua trajetória intelectual foi premiado duas vezes pela Academia Pernambucana de Letras (APL). A primeira vez, no ano de 1988, com o prêmio Leda Carvalho, de ficção, pelo seu livro de contos O Espelho da Alma Janela. A segunda vez, no ano de 2011, recebeu Menção Honrosa, também da Academia Pernambucana de Letras, prêmio Vânia Souto Carvalho, pelo seu romance Olhos Abertos para a Morte. Antes, no ano de 1986 recebeu Menção Honrosa da Academia de Letras e Artes de Araguari/MG, pelo seu conto Grãos de Terra Sobre. Tem seis livros publicados, Meio a Meio (poesias, 1979 - esgotado), A Última Dama da Noite (romance, 2002 - esgotado), O Espelho da Alma Janela (contos, 2009 - esgotado), Marcos do Tempo (poesias, 2010), Olhos Abertos para a Morte (romance, 2012) e Poetas da Idade Urbana (poesias, 2013, em parceria com os poetas Genésio Linhares e Valdeci Ferraz).

HUMANITAS Nº 39 – EDIÇÃO DE SETEMBRO DE 2015 –PÁGINA 2

EDITORIAL
O renascer da serpente
Estamos vendo hoje o renascer da serpente fascista. O escritor José Saramago, quando vivo, alertou para o fato de que o fascismo estava crescendo na Europa. Ele disse que nos próximos anos deste século XXI o fascismo atacará com força e temos de nos preparar para enfrentar o ódio e a sede de vingança que seus partidários estão alimentando. Salientou que a Grande Mídia auxiliará a política fascista.
O também escritor Gilberto Maringoni afirmou que “a história dos meios de comunicação de massas é a história do acúmulo de capital”. Isso ajuda a Mídia a propagar o terror, tornando realidade as críticas midiáticas contra governantes que não foram forjados por ela. No controle da mídia, os fascistas anulam a voz da oposição e fazem com que esta passe a ser mal vista.
Já os cristãos - representados por evangélicos neopentecostais e afins - têm comprometedoras coincidências com relação ao modo de pensar fascista. Três pilares específicos alicerçam a ideologia deles: 1) a posse de uma verdade suprema à qual todos devem se submeter, mesmo os descrentes; 2) a iminência de um destino messiânico e glorioso para os escolhidos; 3) e o grande inimigo onipresente. A ideologia totalitária do nazismo de Adolf Hitler era alicerçada sob esses mesmos pilares.
Ambos os lados dividem a humanidade entre eleitos e excluídos. Tanto fascistas como cristãos neopentecostais se unem uns a outros quando definem a justificativa do não compartilhar da mesma opinião deles para condenar alguém ao fogo, seja o do crematório, seja aquele que nunca se apaga.
Os fascistas e os religiosos transmutam e manipulam o ideal de liberdade e o de justiça quando pregam aos quatro cantos do mundo que só obedecendo cegamente aos seus líderes e a seu deus invisível, o homem ganhará liberdade.
Esmagando a individualidade e o ideal do homem livre e senhor de si mesmo e transformando o destino do homem sob a ideia preconcebida de um mito, o fascismo e a religião buscam derrotar a grandeza humana. Somos contra esse tipo de ação. A grandeza do homem é muito maior do que a de qualquer mito político ou religioso.
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NOTAS VARIADAS

Um amigo disse achar difícil alguém vender uma ideia que ele sabe que pode matá-lo. Ele se referia ao mito da ressurreição de Jesus. Dentro de certa lógica, ele tem razão. Mas, ao que parece, a lógica nunca foi o forte dos homens de fé. A história prova. Dizer que pessoas religiosas não vendem ideias que podem matá-las significa duas coisas: ou as pessoas desprezam totalmente o que diz a história ou são completamente ingênuas em relação à história. É como dizer, por exemplo, que se existem homens-bomba, o Islã deve ser verdade, já que ninguém se explodiria por uma ideia falsa. Percebem a ingenuidade? Pessoas em todos os momentos da história venderam ideias que as matariam. Há mártires na história de todas as religiões. O cristianismo, na época da Inquisição, foi responsável pela criação de alguns desses mártires. O problema dos cristãos (ou da maioria deles) é que não conseguem sair de sua bolha existencial e perceber que existe um universo de outras histórias e expressões de vida e fé tão válidas quanto o cristianismo. Está na hora de entender isso, caros ingênuos! (William de Oliveira)
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Há uma grande diferença entre insultar o próximo e fazer humor com aquilo que o próximo encara como sagrado. Se ofendo a um deus, a Jeová, a Alá, qualquer um desses, por que eles mesmos não vêm me punir? É preciso que um fanático religioso venha tomar as dores de um deles? Que divindade é essa? (Valdeci Ferraz)
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Somos seres pessoais porque estamos limitados ao pessoal, ao pensamento pessoal. A pessoalidade compreende uma pessoa.  Uma pessoa compreende, sempre, algo distinto e, por sua vez, seu conteúdo, que é, forçosamente, diferente do conteúdo de uma outra pessoa. Somente pessoas se interrelacionam entre si. Daí, o conceito bíblico de deus é um erro primordial. Deus está forçosamente alojado em algum canto da imaginação de uma pessoa. (Sérgio M. Rangel)
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As massas nunca tiveram a sede da verdade. Requerem ilusões às quais não podem renunciar. Nelas o irreal tem primazia sobre o real. (Sigmund Freud)

sábado, 22 de agosto de 2015

HUMANITAS Nº 39 – SETEMBRO DE 2015 – PRIMEIRA PÁGINA

GENOCÍDIO ARMÊNIO FAZ 100 ANOS
A grande deportação criada pelo Governo da Turquia exterminou no ano de 1915 mais de 1,5 milhões de pessoas. O motivo foi – o que não é surpresa – perseguição religiosa. Leia na PÁGINA 4 o texto completo de autoria do jornalista Rafael Rocha
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O Mundo é de todos os Deuses diz o historiador Thomas Henrique de Toledo Stella na página 6
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O médico Antonio Carlos Gomes fala sobre o consumismo desenfreado na página 7
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Na página 8 o escritor Luiz Carlos Amorim disserta sobre a indústria da exploração da fé

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

JORNAL HUMANITAS NOS EUA

O jornal HUMANITAS alcançou mais fama internacional. Agora os brasileiros residentes em Miami/EUA podem lê-lo gratuitamente. Acessem o blog do HUMANITAS. http://www.jornalhumanitas.blogspot.com.br/
e no Facebook - https://www.facebook.com/pages/Jornal-Humanitas/812938922111674