sábado, 28 de novembro de 2015

HUMANITAS Nº 42 – DEZEMBRO DE 2015 – PÁGINA 8

Brasil! Meu amor de hoje e sempre...
Especial para o Humanitas
Ana Maria Leandro integra a Academia Mineira de Letras e colabora com o Humanitas há três anos. Escritora e jornalista em Belo Horizonte/MG

Não é frequente, mas acontece, de se ouvir algum brasileiro dizer que gostaria que o Brasil retornasse ao regime governamental ditatorial militar.
Se não viveu aquela época, é possível que sua juventude não lhe permita ainda entender que ditadura é como um processo necessário àqueles que não sabem viver a liberdade, portanto, necessitam de estar no subjugo de um poder centralizador, uma vez que o povo não tem competência para fazer escolhas. O que é lamentável. Seria como qualquer um de nós, considerarmos que não temos competência para andar com as próprias pernas.
É como disse uma vez o inesquecível poeta e escritor Rubem Alves: “Às vezes tenho saudades da ditadura. Meu amigo que me ouvia se horrorizou. Aí eu expliquei: é que no tempo da ditadura a gente tinha uma explicação para as desgraças do país e dizia: a gente está assim, porque tiraram a liberdade da gente! Os milicos, bode expiatório. Quando existe um bode expiatório todo mundo fica de acordo, unido contra ele. E a gente sonhava: no dia em que a liberdade voltar, tudo vai ficar diferente...” (Cenas da vida - Página 61 - Rubem A. Alves – 1997 – O fim da banda).
Verdadeiro, mas este reconhecimento daria uma tese. Estamos sempre sonhando com o que não temos. Parece até que o ser humano, precisa ser triste para ter a esperança de ser feliz!
Como se não soubéssemos ou considerássemos uma mágica ainda não dominada, a união pelo bem comum. Como se merecêssemos mesmo ficar na eterna espera de um tempo que seja bom...
É que existem pessoas que não sabem mesmo viver a experiência da liberdade responsável. Essa liberdade que nos arranca de nós mesmos e se põe de pé corajosamente frente a qualquer adversidade. Esta que, ancorada em princípios e valores éticos e humanos, sabe muito bem que o melhor é ser dono de si mesmo, capaz de fazer escolhas e decidir com competência seus caminhos.
Numa autêntica democracia, as prisões foram feitas para os que, não sabendo viver dignamente a liberdade, precisam ser aprisionados para evitar que prejudiquem o próximo e até a si mesmo.
O Brasil, embora a mais de meio milênio após sua descoberta oficial, continua em construção desta, pois o sistema ainda não conseguiu fazer com que isto assim sempre ocorresse na mais autêntica essência da justiça.
Mas desistir da luta de até então é recuar a locomotiva do tempo. Sem medirmos os palmos das vitórias, vamos é amargando a dor de cada luta. Já viu alguém usufruir da belíssima paisagem do cume de um monte, sem enfrentar sua escalada?
Mas, me disse um amigo, é horrível esse sentimento de que estamos rolando uma ladeira abaixo.
É verdade! Até na vida pessoal sentimos essas vertigens, e ai de nós, se não fosse nossa capacidade de nos levantarmos e continuarmos tentando andar para frente. É justamente o direito desta luta, que a democracia nos dá. Não há felicidade para se guardar como um troféu, mas para se enfrentar as dificuldades das conquistas.
A economia é uma ameaça? Sim. Em qualquer regime e em qualquer país a economia é a grande espada apontada sobre todas as cabeças de um povo. Pois mutável como as marés, não é a lua que determina suas alterações, mas cada um e todos que fazem parte do planeta.
Sem reduzir a grande responsabilidade de gestão dos governantes é absurdo o egoísmo extremo, que nos faz pensar apenas individualmente na própria sobrevivência. As ameaças fazem parte da existência, até mesmo para determinar o próprio fim de cada um de nós.
E isto é viver: lutar pela vida! Para que este fim se alongue e se faça válido. Buscar o conhecimento para saber distinguir o mal do bem, somar forças porque isolados somos mais fracos. Sempre vi as pessoas lamentando perdas do passado, do tipo “Eu era feliz e não sabia”(Ataulpho Alves “Meus tempos de criança”). Que me desculpe o grande autor, mas “felicidade” é a capacidade de assim se sentir no exato tempo de ser...
E de viver!

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

HUMANITAS Nº 42 – DEZEMBRO DE 2015 – PÁGINA 7

Machistas, fascistas, evangélicos e reacionários reclamam do Enem 2015
 Anne Christine Mendes - Olinda/PE

“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino”. Simone de Beauvoir visitou a juventude brasileira, desta vez nas provas do Enem 2015, com uma questão retirada do seu livro “O Segundo Sexo”, colocando em xeque a ideologia machista que ainda persiste no país.
Os conservadores e os que não têm embasamento histórico criticaram tanto o uso dessa questão como as abordagens referentes ao educador Paulo Freire e ao filósofo marxista Slavoj Zizek, esquecendo-se de falar sobre filósofos de direita que também foram abordados nas questões da prova, como David Hume e São Tomas de Aquino
Os reacionários vomitaram besteiradas. E no segundo dia de prova em vez de vômitos tiveram de cagar imbecilidades ao tomarem conhecimento do tema da redação “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”.
Até dentro do Congresso Nacional vieram as caganeiras nas pessoas dos deputados Jair Bolsonaro e Marcos Feliciano, os quais declararam que o Enem 2015 foi uma “doutrinação ideológica do governo Dilma Rousseff”.
Doutrinação ideológica? E aqueles que andam com uma bíblia debaixo do braço visitando as pessoas porta a porta não fazem doutrinação ideológica?
O que será que tais reacionários entendem como doutrinação?
Valeu para as mulheres! Valeu para as feministas! Vale nota zero para quem não se posicionou corretamente dentro do tema da redação, que teve a ousadia de avaliar questões de desigualdade de gênero.
Sim! Muita gente substituiu o machismo pela nota zero na prova do Enem deste ano.
A direita reacionária do Brasil quer porque quer que as escolas e as faculdades (públicas ou particulares) funcionem de tal forma que possam manter no auge a ignorância dos estudantes brasileiros, censurando tudo que diga respeito às questões de gênero, ao racismo, à comunidade LGBT e outros segmentos minoritários.
A crítica dos reacionários ao Enem 2015 chega a ser infantil de tão pobre, por desconhecimento total da História da Humanidade.
Essa ignorância intelectual envolve uma grande parte da sociedade brasileira, tudo isso fruto de um ódio exacerbado alimentado pela oposição retrógada e pela Grande Mídia ao Partido dos Trabalhadores, bem como pela falta total de visão social.
As reclamações contra o tema feminismo, no Enem 2015, mostram o machismo e a falta de leitura de uma parte da juventude e de grande parcela da sociedade de nosso país.
Falou muito bem a presidente Dilma Roussef quando se manifestou favorável às questões postas na prova do Enem, realizadas entre os dias 24 e 25 de outubro: “A sociedade brasileira precisa combater a violência contra a mulher”.
Veja o que o professor Thomas Henrique de Toledo escreveu em seu blog na internet, visando os fascistas e fundamentalistas que estão a reclamar da presença de Simone de Beauvoir na prova do Enem deste ano:
“Ninguém nasce homem, torna-se homem. Para ser homem, é preciso respeitar a mulher e reconhecer seus direitos e aspirações na sociedade moderna. Foi isso que as feministas vieram ensinar aos homens que se acostumaram a pisar nas mulheres por causa dos valores anacrônicos do patriarcado que vocês (fascistas e evangélicos fundamentalistas) tentam promover”.
Estou de acordo! Parabéns ao MEC!

HUMANITAS Nº 42 – DEZEMBRO DE 2015 – PÁGINA 6

GOLPE É SEMPRE DA DIREITA 
SÓ MUDA FIGURINO E CABELO

O cineasta Jorge Furtado disse em artigo publicado na internet que de tempos em tempos a democracia brasileira é interrompida por golpes patrocinados pelas suas elites. Os motivos alegados – já que os verdadeiros são inconfessáveis – são geralmente os mesmos: corrupção, desgoverno, bagunça, crise, populismo. Os golpistas e os jornais que os apoiam também variam pouco, sempre é a direita contrariada pela perda de poder, só muda o figurino e o cabelo.
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A MÍDIA TRANSFORMA OS JOVENS 
EM ADULTOS IDIOTAS

Em programas humorísticos, filmes, novelas ou seriados, quando a mídia apresenta um jovem estudante apegado a livros, ela o apelida de "CDF ou NERD"; ou seja, o personagem tem óculos fundo de garrafa, é ridículo, antissocial e nenhuma garota o quer. Mas o aluno que gazeia aula e que odeia livros é apresentado pela mídia como descolado, bronzeado e bonitão, surfista, bom de praia e que pega todo tipo de mulher! A Mídia é feita pelos ricos e quer que os jovens sejam idiotas, para que quando se tornarem adultos continuem escravos do capital.
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AGORA CHAMAM TRABALHO A 
NOVA ESCRAVIDÃO HUMANA

A escravidão ainda não acabou. O novo feitor do trabalho escravo em todo mundo é qualquer departamento de Recursos Humanos, que defende a verdade única do patrão. Na verdade, a palavra trabalho tem origem do latim tripalium, uma espécie de instrumento de tortura ou canga (peça de madeira que prende os bois pelo pescoço e os liga ao carro ou ao arado). Os nobres, os senhores feudais e os vencedores não trabalhavam. Para eles o trabalho era uma espécie de castigo, e até hoje isso continua valendo para as elites ricas.
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AMOR E CASAMENTO, SEGUNDO 
CHARLES BUKOWSKI

O amor é uma espécie de preconceito, diz Bukowski. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como você pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece. E o que significa casamento? Apenas uma foda santificada e toda foda santificada, sempre, em última análise, acaba, infalivelmente, ficando chata e se transformando em obrigação.

HUMANITAS Nº 42 – DEZEMBRO DE 2015 – PÁGINA 5

(continuação da página 4) Com o édito do imperador Teodósio, todos os cultos pagãos foram proibidos, passando a ser considerados bruxarias e, portanto, passíveis de pena de morte.
Mas não se consegue destruir facilmente algo que está profundamente enraizado, mesmo por aqueles que tenham o monopólio das armas e da violência. Assim, era preciso desconstruir os cultos antigos e criar algo que fosse abjeto e assustador, um personagem que seria a base para a destruição dos cultos pagãos: o diabo.
Este ser deveria incluir nele características dos Deuses pagãos e a referência seria o Deus greco-romano Pã, com chifre, casco e cavanhaque de bode. Pã, que era o Deus da alegria, da natureza e dos prazeres da vida, foi convertido no oposto ao Cristo inventado, que era descrito como sério, assexuado e símbolo da dominação da cidade sobre o campo.
A nova entidade do mal incorporaria também o tridente de Poseidon, o popular Deus dos mares. Pelos quatro ventos a igreja espalhou que Pã morrera e que em seu lugar assumira o demônio que não tinha a beleza e a alegria do Deus-bode, mas a maldade de um ser que representava tudo que deveria ser evitado.
Com a queda do império romano, a igreja católica manteve as estruturas políticas e militares do Estado sob seu controle. Agora ela passaria a desenhar a Europa medieval à sua imagem e semelhança, implantando o feudalismo à medida que convertia reis e nobres, forçadamente ou baseada na troca de interesses.
A idade das trevas estava instalada e, com as grandes navegações, chegaram ao continente americano, e assim o cristianismo foi implantado para colonizar o território e submeter os índios à vontade do conquistador.
Esta imagem, portanto, resgata o Cristo verdadeiro: uma combinação de Jesus com Mithra e outras divindades solares como o Deus grego Apolo e o Deus egípcio Rá. Também reconcilia duas divindades associadas ao amor, Jesus e Pã, sendo o segundo detentor de chifres que representam a força animal, o poder natural. Esta é, portanto, uma lúcida e completa imagem para representar o Deus Sol que morre durante o outono e renasce no solstício de inverno. É o Deus imolado, sacrificado, mas que triunfa sobre as trevas.
É o Deus que ao longo do ano percorre as 12 constelações do zodíaco (a eclíptica), que pode ser chamada de 12 apóstolos. É a divindade que oferece o sangue e a carne, como fazia o Deus Dionísio.
É o Deus que tem uma esposa, uma Deusa que é a Mãe-Natureza, que foi proibida de ser cultuada, pois na nova religião o que vale são as leis do patriarcado.
Mas ainda há um problema que permaneceu nisso tudo. O calendário cristão gregoriano foi criado para o hemisfério norte e enquanto lá eles celebram o inverno, aqui vivemos em pleno verão. O natal aqui deveria acontecer em torno de 24 de junho, quando se festeja o dia de São João. Para completar, o capitalismo inventou o consumismo como signo desta data e, portanto, pouco restou da originalidade dessa festa.
Aos que tiverem a compreensão da natureza como sagrada e das divindades solares como representação da força criadora da vida, esta imagem é a mais bela representação do Deus que todo ano nasce, morre e ressuscita no terceiro dia após o solstício de inverno.
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Adendo: Na Roma antiga celebrava-se o nascimento de Mithra em 25 de dezembro. Na Europa medieval celebrava-se Jesus. Mas não estamos no mundo antigo, tampouco no medieval.
Estamos na modernidade capitalista na qual existe apenas um deus: o deus-mercado. E o deus-mercado baseia-se em duas leis: a exploração do trabalho e o fetichismo da mercadoria.
Pouco importa se se acredita em alguma divindade.
O que importa é mentir para as crianças que um bom velhinho lhes dá presentes produzidos por duendes e trazidos pelas renas, quando na verdade os duendes são operários em jornadas insanas de trabalho e as renas são contâiners transocêanicos.
Tudo isto para uma empresa capitalista lucrar mais que em outra época do ano. Papai Noel é um porco que menospreza aqueles que não têm dinheiro. Feliz festa da hipocrisia! Feliz hora extra aos operários!

HUMANITAS Nº 42 – DEZEMBRO DE 2015 – PÁGINA 4

O deus solar chifrudo

Especial para o Humanitas
Thomas Henrique de Toledo Stella é professor e historiador pela FFLCH/USP. Mora em São Paulo/SP

Se voltássemos dois mil anos no tempo, no dia 25 de dezembro Roma estaria em festa.
Eram os preparativos para os festejos do Deus solar Mithra, o filho do grande Deus Ahura Mazda que simbolicamente vencia o Touro.
Seu aniversário era celebrado nos dias 25 de dezembro, ou seja, 3 dias depois do solstício de inverno do Hemisfério Norte.
No mesmo período, na mesma Roma, seguidores do culto helenístico de Saturno celebravam a Saturnália, uma festa que em muito recorda o carnaval.
Em diversas mitologias pagãs ancestrais, o solstício de inverno representava o nascimento do Deus-Sol. Afinal, é neste momento que o sol encontra-se no ponto mais baixo do cruzamento do equador celeste com a esfera celeste.
Isto gera o fenômeno da noite mais longa e escura do ano.
À medida que o sol vai aproximando-se de seu ponto mais alto visto a partir da Terra, ocorre o fenômeno oposto: o dia começa a ficar mais longo até que no solstício de verão ele chega ao apogeu da iluminação no dia mais longo do ano.
E assim, neste ciclo infinito, os antigos comemoravam os ciclos solares com os mais variados festejos, temperados pelos elementos culturais e geográficos de cada povo.
No período anterior ao da cristianização, Roma foi um império que promovia a tolerância e a liberdade religiosa, mas isto se tornou um problema para os planos de dominação patrícia, pois as revoltas regionais baseavam-se nas identidades oriundas das religiões provinciais.
O imperador Constantino pediu que seus correligionários pesquisassem qual seria a melhor maneira de criar uma ideologia suficientemente forte para manter as províncias romanas coesas e eles chegaram à conclusão de que o cristianismo seria uma religião adequada a tais fins, desde que devidamente adaptada.
Constantino formulou uma lenda em torno de sua conversão ao cristianismo e no ano de 325, realizou um concílio com os bispos aliados do projeto imperial. Estes bispos modificaram completamente o cristianismo, embutindo à figura de Jesus diversos elementos pagãos.
Foram escolhidos 4 evangelhos para dizer a verdade incontestável da nova religião e todos os outros seriam considerados apócrifos, proibidos, queimados e banidos sob pena de morte para os que os preservassem.
Jesus, que fora um judeu reformista do século I, deveria ser completamente modificado de sua originalidade e os livros que o descreviam passaram a ser adulterados para coaduná-los ao projeto romano.
Nos evangelhos reinventados, foram exaltadas passagens que bendizessem Roma tais como dai a César o que é de César, a lavagem de mãos de Pilatos e elementos de outros profetas ou divindades foram atribuídos a Jesus.
Por exemplo, Apolônio de Tyana, o mensageiro do Deus Apolo, era conhecido por multiplicar os peixes, transformar vinho em água e ressuscitar mortos.
O calendário oficial também começaria a ser modificado.
As festas associadas aos Deuses pagãos começaram a ser cristianizadas, num processo que durou quase dois milênios.
Ao mesmo tempo em que se destruía a memória pagã, embutia seus símbolos e significados no cristianismo, a religião oficial do império, criada para atender aos interesses da elite escravocrata romana.
Um banho de sangue varreu a Europa, norte da África e Oriente Médio para a imposição do cristianismo. (Continua na página 5)

HUMANITAS Nº 42 – DEZEMBRO DE 2015 – PÁGINA 3

CARTAS DOS LEITORES

"Religiosos" não passam de cafetões da fé. Se Deus existisse esses hipócritas, exploradores, alienadores seriam dizimados, e não arrecadadores de DÍZIMOS dos pobres e inocentes fiéis. Antonio Moraes – São Paulo/SP
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Bom saber que existe uma publicação que gosta de falar a verdade que a Grande Mídia não mostra Carlos Ezequiel Lima – Niterói/RJ
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Acompanho daqui do Rio o esforço do jornalista Rafael Rocha para que o Humanitas não pereça devido ao rolo compressor a que pode ser submetido por querer mostrar a verdade ao mundo. Jorge Oliveira de Almeida – Rio de Janeiro/RJ
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POETA DO MÊS

Talis Andrade é pernambucano da cidade de Limoeiro. Poeta, jornalista e professor. Mora no Recife. Foi diretor de redação em diversos jornais pernambucanos e professor dos cursos de Jornalismo e Relações Publicas da Universidade Católica de Pernambuco. É autor dos livros Esquife Encarnado (1957), Poemas (1975), Cantiga para um Ícone Dourado (1977), O Tocador de Realejo (1979), O Sonhador Adormecido, Vinho Encantado (2004), Os Herdeiros da Rosa, Os Sertões de Dentro e de Fora, Romance do Emparedado (2007), Os Cavalos da Miragem, A Partilha do Corpo (2008) e O Enforcado da Rainha (2011)
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O poeta e o vinho
Rafael Rocha – Recife/PE
Do livro Meio a Meio/1981

É uma coisa bem própria dos poetas
O beber vinho amargo como a vida
E amar a própria vida como um vinho
Na amplidão de todas as mulheres

É uma coisa muito própria dos poetas
Perder as forças em todo amanhecer
Ouvir o silêncio precisando de escuta
Ao sabor do sangue de uvas entre os lábios

Beber a vida é coisa própria de poetas
Escutar pela saliva um aroma puro
De noites amplas onde o vinho é uma música
Que torna um instante de hoje em dois instantes

O poeta é um bêbado que sorve o hoje
Não discute os problemas do amanhã
É uma estrela mergulhada em um cálice
Que a morte beberá após a vida
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Verso que sente
Koló Farias Eduão
Irecê/BA

Eu sou a vida na estrada
e sou a estrada na vida
eu sou a vida e mais nada
na faca que fere a ferida.

Sou a linha do horizonte
nas cores daquele arrebol
sou a luz detrás dos montes
e nas noites eu sou o farol.

Sou sombra pro teu descanso
e o balanço está na rede
se o rio tranquilo é remanso
e o sertão com tanta sede.

A história à minha frente
para outro tempo contar
no conto o meu verso sente
e se sente então vou rimar.
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Absinto
Antonio Carlos Gomes
Guarujá/SP

Nunca tente forçar a utopia.
Não queiras que habite a terra.
Pois,
Ficarás louco como os poetas
Aturdidos pelo ocaso.

Deixe que ela viva ao acaso
Das passagens ligeiras no planeta.
Beba!
Beba aguardente em sua companhia
Ficarás louco como ela
E poderás conversar...
Na linguagem do traçado
estarás com ela,
Verás que estás certo,
(-Todos te acharão errado.)
De longe
Verás pessoas trombando
Achando que é amor...
Cegos!
O amor apenas existe
Num trago de absinto
Acompanhado da utopia.

HUMANITAS Nº 42 – DEZEMBRO DE 2015 – PÁGINA 2

EDITORIAL

Crendice e alienação em dezembro

Atualmente, as pessoas estão contaminadas pelo poder do deus-mercado. Tudo o que elas fazem é pensando adquirir o máximo sem perder nada, esquecendo a solidariedade e criando uma sociedade individualista.
Os valores cultuados nos dias de hoje enganam diariamente os jovens, inundando-os com informações fúteis e mentirosas, levando-os para a falsa necessidade comercial.
O dia 25 de dezembro é uma data corrompida. O objetivo é o de explorar a crendice popular e lucrar com a alienação humana.
A história desse dia começou, na verdade, pelo menos 7 mil anos antes da Era Comum. É tão antiga quanto a civilização. Celebrava-se o solstício de inverno no hemisfério norte, ou seja, a noite mais longa do ano. Da madrugada desse dia em diante, o sol fica cada vez mais tempo no céu, até o auge do verão. É o ponto de virada das trevas para a luz: o renascimento do Sol.
Num tempo em que o homem deixava de ser um caçador errante e começava a dominar a agricultura, a volta dos dias mais longos significava a certeza de colheitas no ano seguinte. Então, tudo era festa.
Na Mesopotâmia, durava doze dias. Na Grécia, cultuava-se Dionísio, o deus do vinho e da vida mansa. No Egito, lembrava-se a passagem do deus Osíris para o mundo dos mortos. Na China, as homenagens eram (e ainda são) para o símbolo do yin-yang, que representa a harmonia da natureza.
Até na Grã-Bretanha, os povos mais primitivos comemoravam o Dia do Sol em volta de Stonehenge, monumento que começou a ser erguido em 3100 antes da Era Comum.
Na Roma Antiga, o deus Mithra ganhou celebração exclusiva: o festival do Sol Invicto, evento que passou a fechar outra festa dedicada ao solstício: a Saturnália, que durava uma semana e servia para homenagear Saturno, senhor da agricultura.
Depois, o cristianismo romano incorporou todos os festejos dedicados ao deus Mithra, seguindo a ideologia de um livro denominado Novo Testamento, criando, repaginando e perpetuando, violentamente, através da cruz e da espada, essa data de 25 de dezembro como sendo a do nascimento de uma lenda chamada Jesus Cristo.

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NOTAS VARIADAS

Nesta data de 25 de dezembro as visões excludentes não deveriam ter lugar. Frases como “Só Jesus salva” ou “Sem a passagem de Jesus a raça humana seguiria em progressiva decadência” servem mais para afastar as pessoas que uni-las em um mesmo ideal solidário. De acordo com as estatísticas, o nascimento, vida e mensagem do ser chamado de Jesus Cristo são irrelevantes ou desconhecidas para cerca de 70% da população mundial. Esses 70% da população não se salvam? São eles produto do que chamam de “progressiva decadência”? Como reagiriam os cristãos a frases como “Só Oxum salva” ou “Sem a passagem de Maomé a raça humana seguiria em progressiva decadência”? Provavelmente ficariam ofendidos. Então, para que ofender os outros? Prever e sentir o que os outros sentiriam caso fizéssemos ou disséssemos alguma coisa é um mecanismo natural, base da empatia, que devemos sempre exercitar. (Roelf Cruz Rizzolo) 
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A religião é comparável com uma neurose da infância. (Sigmund Freud)
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Não posso acreditar num deus que quer ser louvado o tempo todo. (Friedrich Nietzche)
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Deuses são coisas frágeis; eles podem ser mortos com uma baforada de ciência ou uma dose de senso comum. (Chapman Cohen)
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O comportamento humano no natal é de uma tremenda hipocrisia, quando se pede que nessa época todos sejam solidários, ajudem os mais necessitados, doem cestas básicas, reúnam presentes e os levem para orfanatos, só para citar alguns exemplos, mas durante os dias do ano inteiro, não se faz nada disso. (Anne Christine Mendes)
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Perguntaram: para que um ateu comemora o natal? Ora, pelo mesmo motivo dos cristãos. Para comer, beber e ficar batendo papo depois da meia noite. (Marcelo Maia)
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Render-se à ignorância e chamá-la de Deus sempre foi prematuro, e continua prematuro até hoje. (Umberto Eco)
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A fé é frequentemente a vaidade do homem que é muito preguiçoso para investigar. (F.M. Knowles)
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Onde há o dever de prestar culto ao Sol é praticamente certo que seja crime examinar as leis do calor. (John Morley)
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Religião é como a quimioterapia, ela pode resolver um problema, mas pode causar um milhão a mais. (John Bledsoe)
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Religião organizada: O maior esquema pirâmide do mundo. (Bernard Katz)

terça-feira, 24 de novembro de 2015

HUMANITAS Nº 42 - DEZEMBRO 2015 – PRIMEIRA PÁGINA

O poeta Talis Andrade está na página 3 do REFÚGIO POÉTICO juntamente com os poetas Rafael Rocha, Koló Farias Eduão e Antonio Carlos Gomes
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Na página 7 Anne Christine Mendes disserta sobre a prova do Enem 2015 e o reacionarismo fascista e evangélico fundamentalista
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A falta de entendimento da juventude sobre o que seja ditadura militar é a reflexão de Ana Maria Leandro na página 8