quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

HUMANITAS Nº 44 – FEVEREIRO DE 2016 – PÁGINA 8

FEVEREIRO MARCA O ANIVERSÁRIO DA MORTE DA PRINCESA NEGRA
Especial para o Humanitas

Rafael Rocha é escritor, jornalista e editor-geral deste Humanitas. Mora no Recife/PE

Já ouvimos falar de Zumbi, o líder do Quilombo de Palmares, onde negras e negros que fugiam da escravidão podiam encontrar refúgio e organização política.
Tratamos esse tema na edição de novembro de 2015 deste Humanitas. No entanto, poucas pessoas conhecem Dandara dos Palmares, esposa de Zumbi, com quem teve três filhos (Motumbo, Harmódio e Aristogíton), e uma figura tão importante quanto ele.
O nome Dandara significa princesa negra ou princesa guerreira. Ela foi uma das lideranças femininas negras que lutaram, junto com Zumbi, contra o sistema escravocrata do século XVII.
Não há registro do local e da data de seu nascimento, e muito menos de sua ascendência africana, mas as pesquisas de alguns poucos historiadores nos levam a crer que ela nasceu no Brasil, estabelecendo-se no Quilombo dos Palmares quando ainda era criança.
Tal e qual o marido Zumbi, ela também lutou com armas pela libertação total das negras e dos negros no Brasil.
O machismo esqueceu Dandara, pois ela não foi jamais estudada nos livros didáticos e muito menos nas escolas.
De forma lamentável, até mesmo os movimentos feministas e aqueles a favor da negritude a esqueceram.
Não é nada incomum isso. As mulheres negras foram esquecidas nos livros de história, de poesia, de literatura e de sociologia.
O machismo, ainda hoje predominante no país, não oferece posição de destaque e voz de decisão às mulheres e, aliando-se ao racismo, dá vez apenas às mulheres brancas.
Saber quem foi Dandara ocorre apenas devido a pesquisas solitárias de pessoas desejosas de mais conhecimentos sobre a cultura humana. Graças a tais pessoas, mulheres como Dandara permanecem vivas na história do Brasil.
Se essa líder existisse hoje ainda assim não seria muito bem vista e aceita pelas pessoas que se negam a enxergar a existência de racismo em nossa sociedade.
Dandara não pode viver na sombra de Zumbi dos Palmares. Ela também foi uma heroína e deve ser lembrada como alguém que lutava para que a mulher negra ganhasse autonomia absoluta e liberdade total.
Quando os primeiros negros se rebelaram contra a escravidão no Brasil e formaram o Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas, Dandara estava junto com Ganga-Zumba.
Na condição de líder, ela chegou a questionar os termos do tratado de paz assinado por Ganga-Zumba e o governo português. Posicionando-se contra o tratado, opôs-se a Ganga-Zumba, ao lado de Zumbi.
Para Dandara, a paz em troca de terras no Vale do Cacau era a destruição da República de Palmares e a volta à escravidão.
Ela suicidou-se, jogando-se de uma pedreira ao abismo, depois de presa, em 6 de fevereiro de 1694, para não retornar à condição de escrava, logo após a destruição da Cerca Real dos Macacos, que fazia parte do Quilombo dos Palmares.
Dandara foi e continua sendo uma figura feminina emblemática e uma das provas reais de que a mulher não é um sexo frágil.
Além dos serviços domésticos, plantava, trabalhava na produção da farinha de mandioca, caçava e lutava capoeira, além de empunhar armas e liderar as falanges femininas do exército negro do Quilombo dos Palmares.
Para a historiadora e especialista em história e cultura afro-brasileira Sandra Santos, Dandara não ganhou espaço nos registros oficiais por vivermos num mundo sexista e racista. “Dandara, assim como Maria Felipa (heroína da independência da Bahia) e Luísa Mahin (participante da Sabinada), simplesmente são ignoradas pelos livros didáticos, mas sobrevivem no imaginário popular porque se identificam e são identificadas com as mães e companheiras espalhadas por todo o território nacional”.

HUMANITAS Nº 44 – FEVEREIRO DE 2016 – PÁGINA 7

FUJAMOS DO DEUS DA MISÉRIA E DA SERVIDÃO

Sébastien Faure (1858-1942)
Ativista libertário e anticlericalista francês
Artigo extraído de www.ateus.net


Há quantos séculos a religião traz a humanidade curvada sob a crença, espojada na superstição, prostrada resignadamente!
Não chegará jamais o dia em que, deixando de crer na justiça eterna, nas suas sentenças imaginárias, nas suas recompensas problemáticas, os seres humanos comecem a trabalhar com um ardor infatigável pelo vento de uma justiça imediata, positiva e fraternal sobre a Terra?
Não soará jamais a hora em que, desiludidos das consolações e das esperanças falazes que lhes sugere a crença de um paraíso compensador, os seres humanos comecem a fazer do nosso planeta o Éden de abundância, de paz e de liberdade, cujas portas estejam fraternalmente abertas para todos?
Há muito tempo que o contrato social é inspirado num deus sem justiça, como há muito tempo que ele se inspira numa justiça sem deus.
Há muito tempo que as relações entre os países e os indivíduos dimanam num deus sem filosofia, como há muito tempo que elas dimanam uma filosofia sem deus.
Há muitos séculos que monarcas, governos, castas, padres, condutores do povo e diretores de consciências, tratam a humanidade como um vil rebanho de cordeiros, para, em último lugar, serem esfolados, devorados e atirados ao matadouro.
Há séculos que os deserdados suportam passivamente a miséria e a servidão, graças ao milagre procedente do Céu e à visão horrorosa do inferno.
É preciso acabar com este odioso sortilégio, com esta burla abominável.
Tu, que me lês, abre os olhos, examina, observa, compreende.
O Céu de que te falam sem cessar; o Céu com a ajuda do qual procuram insensibilizar a tua miséria, anestesiar os teus sofrimentos e afogar os gemidos que, apesar de tudo, saem do teu peito, é um Céu irracional, um Céu deserto.
Só o seu inferno é que é povoado, que é positivo.
Basta de lamentos: os lamentos são vãos! Basta de prosternações: as prosternações são estéreis! Basta de preces: as preces são impotentes!
Levanta-te homem! E, direito, altivo, declara guerra implacável a esse deus que há tanto tempo impõe aos teus irmãos e a ti próprio uma veneração embrutecedora!
Desembaraça-te deste tirano imaginário e sacode o jugo dos indivíduos que pretendem ser os representantes dele na Terra!
Mas, lembra-te bem, que, com este gesto de libertação, não terás cumprido senão uma das tarefas que te incumbe.
Não te esqueças de que de nada servirá quebrar as cadeias que os deuses imaginários, celestes e eternos, têm forjado contra ti, se não quebrares igualmente as cadeias que, contra ti, têm forjado os deuses passageiros da Terra.
Esses deuses giram em torno de ti, procurando envilecer-te e degradar-te. Esses deuses são homens como tu.
Ricos e governantes, esses deuses da Terra tem-na povoado de inúmeras vítimas, de tormentos inexplicáveis.
Possam, enfim, um dia, os condenados da Terra insurgirem-se contra os seus verdugos, para fundarem uma cidade na qual não possa haver desses monstros.
Quando te tiveres emancipado dos deuses do Céu e da Terra, quando te tiveres desembaraçado dos chefes de cima e dos chefes de baixo, quando tiveres levado à prática este duplo gesto de libertação, então, mas então somente, ó meu irmão, sairás do Inferno em que te encontras para entrar no Céu que tu realizarás!
Deixarás as trevas da tua ignorância, para abraçar as puras claridades da tua inteligência.
Desperta, já, das influências letárgicas das religiões!

HUMANITAS Nº 44 – FEVEREIRO DE 2016 – PÁGINA 6

ESCOLHA O SEU PRÓPRIO JESUS
Especial para o Humanitas
Texto extraído de  www.thomasdetoledo.blogspot.com.br

Thomas Henrique de Toledo Stella é professor e historiador pela FFLCH/USP. Mora em São Paulo/SP

Um dos assuntos mais chatos de se conversar é sobre Jesus. Afinal, há tantos tipos distintos descrevendo Jesus, que chego a uma simples conclusão: ele é o que cada um quer que seja.
Vejam alguns dos exemplos de descrições que ouvi sobre este famoso homem:
Para os cabalistas, Jesus é uma representação arquetípica da esfera de Tipharet.
Para os católicos, Jesus é o filho único de Deus e nós não somos nada. Para os judeus, Jesus foi um agitador e nem pode ser chamado de messias.
Para os muçulmanos, Jesus é um profeta, mas Mohammed é mais importante. Para os budistas, Jesus foi um homem que encontrou o Nirvana. Para os hindus, Jesus foi um avatar que saiu da roda de Samsara.
Para os tântricos, Jesus despertou a kundalini junto à flor de lótus de Madalena. Para os essênios, Jesus era um sábio professor. Para os espíritas, Jesus é reencarnação de um profeta do Antigo Testamento.
Para os esotéricos, Jesus era um místico que pregou o amor incondicional.
Para os esquisotéricos, Jesus encarnou em duas pessoas ao mesmo tempo. Para os evangélicos, Jesus é quem proíbe os gays de se casarem.
Para os gays, Jesus era suspeito por que só andava com homens e prostitutas.
Para os alcoólatras, importa saber que Jesus gostava de vinho. Para os maconheiros, Jesus era hippie cabeludo com um sudário de cânhamo.
Para os comunistas, Jesus era um líder revolucionário.
Para os capitalistas, Jesus é uma lucrativa mercadoria. Para os ufólogos, Jesus era um alienígena que não ressuscitou, mas foi abduzido.
Para os palestinos, Jesus era um militante anti-sionista. Para os rastafaris, Jesus era negão e tinha dreads. Para os alemães, Jesus era loiro e de olhos azuis.
Para os cariocas, Jesus está de frente para os condomínios ricos e de costas para as favelas.
Também escolhi a minha própria visão: a de um historiador.
Jesus, assim como muitos outros, em tantas sociedades e períodos históricos foi um homem à frente de seu tempo.
Morreu condenado como todos que propuseram algo radicalmente novo e seu sofrimento não foi diferente de vários rebeldes que existiram na História.
Jesus jamais propôs criar uma religião e provavelmente teria caído no esquecimento se não fosse um homem chamado Paulo ter criado uma doutrina, uma igreja católica ter criado um dogma e um império romano tê-lo transformado em líder religioso.
Assim surge uma divindade chamada Cristo, muito diferente do homem Jesus, que incorporou histórias de outros Deuses, semideuses e heróis.
Jesus Cristo tornou-se, portanto, uma marca, um logotipo que justificou massacres, guerras, colonialismos, assassinatos e crimes. Instituições beneficiaram-se de seu mito e tornaram-se poderosas: impérios, igrejas, comerciantes, organizações.
Seu espectro tornou-se uma das mais valiosas mercadorias para os que se nutrem da indústria da fé. Assim Jesus Cristo tornou-se o oposto do jovem mortal Yeheshua (Jesus em aramaico), que se metamorfoseou em milhares e milhares de histórias, algumas hilárias e folclóricas, outras abstrusas.

HUMANITAS Nº 44 – FEVEREIRO DE 2016 – PÁGINA 5

CHIQUINHA GONZAGA: UMA
MULHER ALÉM DO TEMPO

Anne Christine Mendes - Olinda/PE
Especial para o Humanitas

“Ó abre alas que eu quero passar / Peço licença pra poder desabafar / A jardineira abandonou o meu jardim / Só porque a rosa resolveu gostar de mim”.
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Para definir Chiquinha Gonzaga, paixão é a palavra mais adequada. Essa mulher foi uma apaixonada pela vida e pelos ideais. Filha de uma mulata e de um militar de família abastada, Francisca Edwiges Gonzaga nasceu em 1847, na época da escravidão e faleceu em 28 de fevereiro de 1935.
Foi educada para ser uma dama, mas enfrentou forte preconceito, pois sua postura a colocava à frente de seu tempo. Porém, realizou seu desejo de tornar-se compositora.
Ela revolucionou os costumes e a música popular da época. Lutou pelo respeito aos direitos autorais e frequentou a vida boêmia, tocando piano em grupos de choro, bailes e teatros, enquanto as mulheres daquele tempo ficavam em casa, cuidando da vida doméstica.
Introduziu o violão, instrumento até então considerado de malandro, nos salões do Rio de Janeiro. Foi a primeira mulher a reger uma orquestra no país.
Compôs a primeira música de Carnaval, a marcha Ô Abre Alas (1899), que se tornou o seu maior sucesso e é tocada até hoje nos bailes carnavalescos Brasil afora.
Chiquinha Gonzaga cresceu ao som de polcas, maxixes, valsas e modinhas. Casou-se aos 16 anos, separando-se dois anos depois. Com o filho ainda no colo, foi recebida pelo meio musical carioca.
Sua primeira composição de sucesso foi a polca Atraente, de 1877, feita quando era integrante do conjunto de choro Carioca, no qual foi introduzida pelo flautista Antônio da Silva Calado.
A música agradou ao público bem na véspera do Carnaval daquele ano e levou suas composições populares para dentro dos salões cariocas.
Em 1880, escreveu e musicou o libreto Festa de São João, que manteve inédito.
A peça de teatro “Forrobodó", musicada por ela, e apresentada em um bairro pobre do Rio de Janeiro, tornou-se sucesso, atingindo 1.500 apresentações.
As músicas são cantadas por toda cidade. Forrobodó torna-se o maior sucesso teatral de Chiquinha e um dos maiores do Teatro de Revista do Brasil.
Em 1885 estreou como maestrina em parceria com Palhares Ribeiro, compondo a opereta em um ato A Corte na Roça.
Compôs A Filha de Guedes (1885), O Bilontra e a Mulher-Homem (1886), O Maxixe na Cidade Nova (1886) e O Zé Caipora (1887), entre mais de duas mil composições. Em 1897, todo o Brasil dançou sua estilização do corta-jaca, sob a forma do tango Gaúcho, mais conhecido como Corta-Jaca.
Ela participou da campanha abolicionista, tornando-se alvo dos preconceituosos da época. Contribuiu para fixar o cancioneiro popular brasileiro com maxixes, modinhas e o nascente samba urbano e também foi uma das primeiras a introduzir o violão nos salões cariocas.
Em 1899, Chiquinha conhece o músico português João Batista Fernandes Lages. Ela com 52 anos e ele com apenas 16, começaram um relacionamento. Para não enfrentar o moralismo da época, Chiquinha registrou João Batista como seu filho. Viveram juntos e felizes, mas Chiquinha protegia corajosamente a sua privacidade.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

HUMANITAS Nº 44 – FEVEREIRO DE 2016 – PÁGINA 4

BREVE HISTÓRICO DO CARNAVAL NO BRASIL
Pedro Rodrigues Arcanjo- Olinda/PE
Especial para o Humanitas

A história do Carnaval no Brasil começou no período colonial. Uma das primeiras manifestações carnavalescas foi o entrudo, festa de origem portuguesa que, na colônia, era praticada pelos escravos.
Estes saíam pelas ruas com seus rostos pintados, jogando farinha e bolinhas de água de cheiro nas pessoas. Tais bolinhas nem sempre eram cheirosas.
O entrudo era considerado ainda uma prática violenta e ofensiva, em razão dos ataques às pessoas com os materiais, mas era bastante popular. Isso pode explicar o fato de as famílias mais abastadas não comemorarem junto aos escravos, ficando em suas casas.
Porém, nesse espaço havia brincadeiras, e as jovens moças das famílias de reputação ficavam nas janelas jogando águas nos transeuntes.
Nos meados do século XIX, no Rio de Janeiro, a prática do entrudo passou a ser crime, principalmente após uma campanha contra a manifestação popular veiculada pela imprensa.
Enquanto o entrudo era reprimido nas ruas, a elite do Império criava os bailes de carnaval em clubes e teatros.
No entrudo não havia músicas, ao contrário dos bailes da capital imperial, onde eram tocadas principalmente as polcas.
A elite do Rio de Janeiro criaria ainda as sociedades, cuja primeira foi o Congresso das Sumidades Carnavalescas, que passou a desfilar nas ruas da cidade.
Enquanto o entrudo era reprimido, a alta sociedade imperial tentava tomar as ruas.
Mas as camadas populares não desistiram de suas práticas carnavalescas. No final do século XIX foram criados os cordões e ranchos. Os primeiros usavam a estética das procissões religiosas com manifestações populares, como a capoeira e os zé-pereiras. Os ranchos eram cortejos praticados principalmente pelas pessoas de origem rural.
As marchinhas carnavalescas  surgiram também no século XIX, cujo mais conhecido é o de Chiquinha Gonzaga e sua música Abre-alas. O samba somente surgiria por volta da década de 1910, com a música Pelo Telefone, de Donga e Mauro de Almeida, tornando-se ao longo do tempo o legítimo representante musical do carnaval.
Na Bahia, os afoxés surgiram na virada do século XIX para o XX, com o objetivo de relembrar as tradições culturais africanas. Os primeiros afoxés foram o Embaixada Africana e os Pândegos da África.
Ao longo do século XX, o Carnaval popularizou-se ainda mais no Brasil e conheceu variadas formas de realização, tanto entre a classe dominante como entre as classes populares.
No século XIX, o frevo deu ao Carnaval de Pernambuco identidade única no Brasil. Os operários urbanos organizaram as primeiras agremiações nos bairros populares. No início, muitas delas mantiveram suas identidades profissionais: os Caiadores desfilavam juntos, assim como os Lenhadores. Mas, com o tempo, foram sendo criados clubes mais abertos, com nomes engraçados: Canequinhas Japonesas, Marujos do Ocidente, Toureiros de Santo Antônio e outros.
  Ao lado dos maracatus, dos ursos, dos caboclinhos, das escolas de samba, esses clubes, troças e blocos, miscigenando as influências europeias, africanas e indígenas, transformaram o Carnaval de Pernambuco no maior caldeirão cultural do Brasil.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

HUMANITAS Nº 44 – FEVEREIRO DE 2016 – PÁGINA 3

REFÚGIO POETICO

Carnaval só nosso
Gloria Salles – São Paulo/SP

Vestidos de arco-íris vamos pelo salão
No compasso patente desse louco amor.
Ao conhecer na pele o toque da tua mão
Antevejo paixão nos teus braços, Pierrot.

Sem máscaras agora, somos apenas nós
Brincando na fantasia, que nos alucina
Esquecendo o tempo, esse nosso algoz
Recheamos de encanto cada verso, e rima.

O intenso brilho do teu olhar afiança
Que não haverá cinzas na quarta-feira.
E o sabor da boca acorda a esperança
Que chega vestindo a alma, sorrateira.

Alegria rara, de repente nos envolve
No enredo desse amor, rumo certeiro
Desatina o coração, embriaga, absorve

Quarta-feira de cinzas
Edmilson Naves
 Rio de Janeiro/RJ

É carnaval
Lá fora chove
O céu está cinza
O asfalto é úmido
A água escorre
Em direção aos bueiros
Carregam o brilho
Das serpentinas
O adereço do folião

Já é quarta-feira de cinzas
Lá fora chove
A alegria passou
Os sonhos foram vividos
Há que voltar a realidade
Outros ainda viverão em sonho
Por não ter o original
É quarta-feira
Lá fora chove
Cinzas de sonhos.
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CARTAS DOS LEITORES

Espetacular o Humanitas de dezembro de 2015! Amei o texto do professor Thomas de Toledo Stella e a primeira página! Karla Antonia Lima – São Paulo/SP
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Delicioso ler e rever um pedacinho do poeta Charles Bukowski no jornal de dezembro de 2015. Valeu! Marcelo Guedes Araújo – Miami/EUA
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Sensacional! O Humanitas vale a pena ser lido. Uma pena que tenha tão poucas páginas. Carlos Ezequiel Lima – Niterói/RJ
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Humanismo puro e real! Qual mídia faz isso? Vera Tagore de Oliveira e Silva – Olinda/PE

domingo, 24 de janeiro de 2016

HUMANITAS Nº 44 – FEVEREIRO DE 2016 – PÁGINA 2

EDITORIAL

Carnaval é a vida em festa

O mundo mágico do Carnaval renasce outra vez nas ruas e na maioria dos lares brasileiros neste começo de fevereiro. As fantasias saem dos guarda-roupas, bem como as camisetas coloridas, as máscaras, os adereços e as lantejoulas.
Os inimigos da festa podem reclamar à vontade. São livres para isso. As religiões cristãs fundamentalistas e outras podem dizer que essa é a festa do diabo e da orgia pagã, com mulheres despidas nas ruas e a liberação total do prazer.
Fiquem à vontade para reclamar, afinal de contas estamos em um país livre e cada um faz suas escolhas.
 O que interessa mesmo ao cidadão comum, aquele que trabalha o ano inteiro, é aproveitar os três dias de Momo, cair na folia, dançar, frevar, sambar, deixar a imaginação flutuar e ele, o cidadão, se transformar em um personagem qualquer de um reinado utópico.
Sonhemos, porque por mais ilusório que seja este sonho, por mais difícil que ele possa ser realizado, ajuda o ser humano a ganhar mais esperanças na vida e a continuar sua luta por um lugar ao sol.
Que os trabalhadores, as donas de casa, os jovens e as crianças saiam às ruas com sorrisos no rosto, desfilando com suas incríveis e divertidas fantasias.
Carnaval é a única festa do mundo que irmana e congraça as pessoas. É a única festa onde os sonhos se tornam realidade, mesmo que seja por alguns poucos dias.
No Recife, a população vai desfilar e dançar no Galo da Madrugada.
No Rio de Janeiro, as escolas de samba preparam seus coloridos para encher a vista dos foliões no Sambódromo.
Em Salvador, os trios elétricos e os afoxês explodem de alegria.
O Carnaval de clubes não existe mais, porém, as festas das ruas e o colorido das fantasias, os frevos, os sambas, os afoxês e os maracatus dão seus toques folclóricos como a dizer que a vida sem festa e sem música não é vida.
O ser humano comum precisa do Carnaval - essa fantástica máquina de fabricar sonhos - para que possa relaxar um pouco das agruras do cotidiano.
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Celebração da amizadeEduardo Galeano (*)

Juan Gelman me contou que uma senhora brigou a guarda-chuvadas, numa avenida de Paris, contra uma brigada inteira de funcionários municipais. Os funcionários estavam caçando pombos quando ela emergiu de um incrível Ford bigode, um carro de museu, daqueles que funcionavam a manivela; e brandindo seu guarda-chuva, lançou-se ao ataque.
Agitando os braços abriu caminho, e seu guarda-chuva justiceiro arrebentou as redes onde os pombos tinham sido aprisionados. Então, enquanto os pombos fugiam em alvoroço branco, a senhora avançou a guarda-chuvadas contra os funcionários.
Os funcionários só atinaram em se proteger, como puderam, com os braços, e balbuciavam protestos que ela não ouvia: mais respeito, minha senhora, faça-me o favor, estamos trabalhando, são ordens superiores, senhora, por que não vai bater no prefeito?; Senhora, que bicho picou a senhora?; esta mulher endoidou...
Quando a indignada senhora cansou o braço, e apoiou-se numa parede para tomar fôlego, os funcionários exigiram uma explicação.
Depois de um longo silencio, ela disse:
- Meu filho morreu!
Os funcionários disseram que lamentavam muito, mas que eles não tinham culpa. Também disseram que naquela manhã tinham muito o que fazer, a senhora compreende?...
- Meu filho morreu! - repetiu ela.
E os funcionários: sim, claro, mas que eles estavam ganhando a vida, que existem milhões de pombos soltos por Paris, que os pombos são a ruína desta cidade...
- Cretinos! - fulminou a senhora.
E longe dos funcionários, longe de tudo, disse:
- Meu filho morreu e se transformou em pombo!
Os funcionários calaram e ficaram pensando um tempão. Finalmente, apontando os pombos que andavam pelos céus e telhados e calçadas, propuseram:
- Senhora: por que não leva seu filho embora e deixa a gente trabalhar?
Ela ajeitou o chapéu preto:
- Ah! Não! De jeito nenhum!
Olhou através dos funcionários, como se fossem de vidro, e disse muito serena:
- Eu não sei qual dos pombos é meu filho. E se soubesse, também não ia levá-lo embora. Que direito tenho eu de separá-lo de seus amigos?
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 (*) O Livro dos Abraços; Galeano, Eduardo.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

HUMANITAS Nº 44 – FEVEREIRO DE 2016 – PÁGINA 1

O Galo acorda o povo do Recife

Desde o dia 4 de fevereiro de 1978 que o Recife acorda sob o canto do Galo da Madrugada, abrindo o Carnaval pernambucano. O maior bloco carnavalesco do mundo faz a alegria dos foliões no sábado de Zé Pereira, levando milhares de pessoas às ruas da Veneza brasileira, e neste ano de 2016 não será diferente. O Galo da Madrugada é o símbolo maior do Carnaval do Recife e de Pernambuco.

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Na página 4 Pedro Rodrigues Arcanjo apresenta um breve histórico do Carnaval no Brasil
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Abre alas que eu quero passar... Anne Christine Mendes recorda Chiquinha Gonzaga e a primeira marcha de Carnaval na página 5
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O jornalista Rafael Rocha escreve na página 8, sobre Dandara, a princesa negra