quinta-feira, 27 de abril de 2017

HUMANITAS Nº 59 – MAIO DE 2017 – PÁGINA OITO

BOTECO: O ÚLTIMO REDUTO ROMÂNTICO DA BOEMIA

Os botecos são os últimos lugares boêmios românticos existentes no Brasil. Como bem dizia o grande dramaturgo Nelson Rodrigues, “O boteco é ressonante como uma concha marinha. Todas as vozes brasileiras passam por ele”.
É no boteco que amizades nascem e se perpetuam. É nele que o futebol e as provocações ganham eco. É nele que muitos casamentos começam, com risinhos charmosos e juras de amor, e também é nele e por causa dele onde tais relacionamentos têm fim.
Refletir sobre a relação entre o boteco e seus frequentadores é procurar compreender o discurso social em todos seus lados humanos. É procurar entender como se constrói a identidade do brasileiro.
Algo comum no Brasil é que o boteco é depreciado por diversos setores da sociedade. Quem deprecia é aquele ou aquela que gosta de alimentar a desigualdade social, ao considerar o boteco como algo sem valor.
Na verdade, o boteco é um lugar em que os brasileiros se sentem bem, como se estivessem em casa. Nele existe um clima de cumplicidade entre os frequentadores e o proprietário, e suas portas sempre estão abertas para todos.
Por outro lado, para ser popular, um boteco tem de ficar ligado à frequência das pessoas.
Será popular por viver sempre lotado e ser conhecido por todos das redondezas, tornando-se também ponto de encontro tanto para os homens como para as mulheres.
Hoje já é lugar comum que os botecos reúnam famílias e amigos para algumas horas de lazer e conversas agradáveis, batendo papo ou (dependendo de quanto cada um consumiu de bebida alcoólica) discutindo sobre política, futebol, música e outros assuntos.
Do boteco nascem filosofias e grandes pensamentos e também muita psicologia humana, quando as pessoas dão conselhos umas as outras.
Muitos nomes importantes da cultura brasileira, como Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Noel Rosa, Zeca Pagodinho, Chico Buarque criaram músicas, letras, peças teatrais frequentando os botecos da vida.
Petiscos tradicionais ou exclusivos do boteco não podem faltar para acompanhar as bebidas. Arrumadinho de charque, feijoada, caldinho de feijão, galinha à cabidela, sururu ao coco, caldinho de camarão, escondidinhos, entre outras iguarias que variam de boteco para boteco.
Por fim, o boteco jamais será aquele bar chique cheio de frescura. O boteco de verdade tem um ambiente liberal e despojado.
Os botecos nos deixam à vontade. Neles não ficamos com vergonha quando derramamos um copo de cerveja na mesa. Vergonha não, mas tristeza no coração por causa do desperdício. (Texto de Rafael Rocha)

HUMANITAS Nº 59 – MAIO DE 2017 – PÁGINA SETE

A MEDIOCRIDADE É UM FATO CONSUMADO
Artigo completo em www.arakenvaz.blogspot.com.br
Araken Vaz Galvão é escritor e membro da Academia de Artes do Recôncavo. Mora em Valença/BA


Quando ainda era vivo, o poeta Carlos Drummond de Andrade insurgiu-se contra um cidadão que afirmava que não existiam provas reais da existência do Aleijadinho. Drummond, com aquele humor amargo que o caracterizava, declarou – grosso modo – que só faltava alguém dizer que as obras de Aleijadinho também não existiam.
Na ocasião eu, cá do meu anônimo rincão, escrevi algo sobre esse assunto. Agora sou obrigado a repetir-me, porque não custa muito bater na mesma tecla.
E, ao fazê-lo, vou tomar emprestado o verso da conhecida música de Juca Chaves, para dar título a estas anotações.
Mas, por que o faço?
Porque daquela oportunidade até hoje, volta e meia, aparece um imbecil, aos quais chamo de idiotas da mídia, com declarações bombásticas, cujo objetivo único é aparecer nos chamados meios de comunicação.
Não faz muito tempo um idiota aqui na Bahia declarou que Zumbi dos Palmares era homossexual, o autor da afirmação imbecil o era, logo todos teriam que ser também.
E não me venham com o policiamento fascista de que estou discriminando os homossexuais, porque estou defendendo a memória de um dos maiores vultos da nossa História e, ademais, perguntando: é relevante a sua sexualidade?
É sim – dirão os ditos defensores das autoproclamadas minorias.
E completarão: porque isso eleva a auto-estima dos gays, já tão discriminados em nossa sociedade.
. Será que isso é verdade? Será que distorcendo o passado estamos edificando bem o presente, para termos um melhor futuro? Não podemos negar a existência da discriminação, nem defendê-la, porém será esta a melhor forma de combatê-la?
O Brasil é uma sociedade histórica e culturalmente elitista e, portanto, preconceituosa. Chamar uma pessoa de velha é uma das piores ofensas deste país. Os próprios velhos, na ilusão de fugirem da discriminação, tentam ocultar-se sob biombos semânticos ridículos do tipo “terceira idade” e outras idiotices.
Os negros conhecem bem a discriminação e utilizam a lei para se defenderem dela. Há, inclusive, alguns que a praticam sob os mais variados pretextos ou sob formas camufladas, não se sabe se por cansaço por sofrerem-na a toda hora na própria pele, ou se por reflexo e assimilação da cultura dominante na sociedade.
Então não me venham com lorotas de que é preconceito falar contra essa idiotice que é afirmar que alguém, que viveu há centenas ou milhares de anos, tinha esse ou aquele hábito sexual. Não suporto mais ouvir essa conversa.
Não faz muito tempo, tiveram o desplante de “descobrir” que Alexandre da Macedônia era “bicha”! Só faltaram “descobrir” também um velho soldado grego, já aposentado, que teria tido um “caso” com o famoso conquistador...  Convenhamos, tenham paciência! (...)
(...) Lembro de Drummond e de sua atitude frente a esse tipo de idiota que, só para ter espaço na mídia, escavaca a vida alheia, em particular de quem já morreu e não pode se defender, a procura de “pecados” para atirar a primeira pedra. Quando não os encontram devido à antiguidade do personagem, inventa-os. (...)
(...) Não tenho dúvidas em dizer que afirmações do tipo da que fizeram sobre Alexandre, só podem ser – no mínimo – levianas. (...)
(...) Lembrei-me também do que Simone de Beauvoir escrevera sobre Sartre, depois deste morto, e depois de ter vivido com ele em concubinato por tantos anos, colocando-o no índex das feministas xiítas, como contumaz machista. (...)
(...) Todos esses livros são risíveis e mais risíveis ainda são os idiotas da mídia, seus autores, cujas obras só servem para limpar o orifício fecal que eles possuem, não no lugar tradicional, mas no cérebro; porque, já disse alguém famoso “o papel aceita tudo”.  (...)
(...) Li na Veja, (24/set./97, pag. 44), sob o título: ”A vida secreta dos escritores”, esta jóia de nota: “Depois de anos de controvérsia, Katherine Ducan-Jones, professora em Oxford, concluiu que William Shakespeare era homossexual. Num livro recém-editado, ela sustenta que o bardo dedicou aos homens a maioria de seus sonetos de amor”.
O dramaturgo inglês não é o único escritor que historiadores tentam tirar do armário. Vejamos outros casos: Goethe - Um acadêmico de Bonn chocou a Alemanha ao afirmar que o poeta nacional alemão era gay; Graham Greene - Uma biografia recente sustenta que o escritor inglês só se casou para esconder o caso com um amigo de Oxford; Daphne du Maurier - A biografia “O Mundo Privado de Daphne du Maurier” afirma que a escritora romântica inglesa era lésbica. Acompanha cada informação a foto do escritor, para que ninguém tenha dúvida sobre quem está falando.
Seria o caso de encerrar sem comentários, já que estou de bom humor, ou deveria estar. Mas não estou. Então só me resta dizer: É ser muito filha da puta para escrever tanta besteira. Ou, como pode-se dizer em espanhol, hay que ser muy maricón para afirmar que todos los hombres importantes también lo son, o lo fueron.

HUMANITAS Nº 59 – MAIO DE 2017 – PÁGINA SEIS

FIM DO PÓLO NAVAL DE RIO GRANDE

Sandro Ari Andrade de Miranda é advogado e mestre em ciências sociais. Atua em Pelotas/RS

Não seria um equívoco dizer que o problema hoje enfrentado pela indústria naval brasileira, em especial a do Município de Rio Grande (RS), é uma tragédia anunciada.
Trata-se de uma consequência esperada do golpe de estado executado no Brasil em 2016 e uma das bandeiras do programa “Ponte para o Futuro” de Michel Temer.
Já afirmei, literalmente, em 13 de abril de 2016:
[…] se o golpe sair vencedor do Parlamento, não tenham dúvidas que a nacionalização da produção dos insumos do petróleo e do gás vai ser abandonada e, novamente, vamos ver o Brasil comprando plataformas exclusivamente da China, dos “Tigres Asiáticos” e dos Estados Unidos”.
Mais do que privatizar serviços e a economia, uma das bandeiras do grupo que dá sustentação a Michel Temer, e que inclui o PMDB, o PSDB, o DEM, o PSD e outros partidos de menor envergadura, é desnacionalizar a economia. E mais: abrir mercados, transnacionalizar a produção e deixar o país atrativo para o “mercado financeiro”.
Pois cada emprego perdido em Rio Grande, em São José do Norte e em outras cidades do Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia, estados onde também havia uma ascendente indústria naval, representa bilhões de reais em ganhos de capital para um minúsculo grupo de pessoas que joga no Cassino da Avenida Paulista chamado Bovespa (...).
(...) Segundo dados do Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande, a indústria naval hoje beneficia de forma direta mais de 50 mil pessoas, e essa população está abrigada nas cidades de Rio Grande, Pelotas, São José do Norte, Capão do Leão e Santa Vitória do Palmar.
(...) O desmonte do sistema pode representar uma tragédia gigantesca para a Zona Sul do Estado, com resultados alarmantes e que devem ter resultado imediato em todos os setores, do comércio à construção civil, dos serviços (hotelaria, educação, assistência, segurança etc) ao mercado de bens duráveis.
No centro da discussão, para os menos informados, está a política de petróleo e gás introduzida no Governo Lula, na qual a Petrobras passou a comprar as suas plataformas no Brasil, dando preferência à indústria nacional.
Tal política, que gerou milhares de postos de trabalho em vários lugares do país, e alimentou um grande crescimento da economia foi reforçada com a descoberta do Pré-sal, e com a transferência dos recursos obtidos para o investimento em políticas de educação e meio ambiente. Tudo, absolutamente tudo isso, foi perdido quando Michel Temer (PMDB/SP) assumiu o poder.
Aliás, nesse meio tempo ocorreu uma articulação entre Serra (PSDB/SP), Romero Jucá (PMDB/RR), Renan Calheiros (PMDB/AL), Eduardo Cunha (PMDB/AL) e Aécio Neves (PSDB/MG), para aprovar o fim do “fundo social do pré-sal” e o fim da prioridade da indústria naval nacional nas compras públicas da Petrobras (na verdade, de todas as estatais).
O argumento era o de abrir o mercado e criar empregos, só esqueceram de destacar que tais empregos seriam criados na Ásia.
Em síntese, nada do que se vê hoje em Rio Grande está distante do cenário imposto pela agenda da “Ponte” de Michel Temer. E o resultado tem sido uma tragédia social sem fim. Pessoas são tratadas como meras peças em um jugo de tabuleiro onde a grande maioria perde e apenas um grupo minúsculo, que representa menos de 1% da população, ganha muito dinheiro (...)
O grande aliado desta onda golpista e de massacre aos mais básicos direitos de cidadãos e cidadãs é o silêncio. Enquanto silenciamos e aceitamos com passividade um momento que nunca chega, estamos vendo nosso presente e nosso futuro sendo destruídos.
Talvez, esperar até 2018 para mudar, seja tarde demais…

HUMANITAS Nº 59 – MAIO DE 2017 – PÁGINA CINCO

CAPITALISMO SEM GRAÇA
Thomas Henrique de Toledo Stella é professor e historiador. Mora em São Paulo/SP

Esse mundo capitalista virou a coisa mais sem graça que já foi inventada.
A natureza segue sendo vorazmente devastada para dar lugar a cidades feias, sujas e poluídas.
Antes, cada país tinha sua arquitetura, hoje, com a tal "globalization", só se constrói arranha-céu de vidro.
O mesmo ocorre com as artes, em especial com a música, que é fabricada com melodia primária e refrão repetitivo para vender fácil.
O mundo virou uma cópia mal feita dos Estados Unidos e os personagens literários e seres mitológicos deram lugar a super-heróis patéticos de cinema, que são financiados pelo Pentágono para fazerem propagandas subliminares ou explícitas das guerras imperialistas.
Religião virou negócio, pura mercadoria na qual quanto mais mentira se conta, mais fiéis aparecem, talvez por que o mundo real é deveras sem graça para se acreditar que ele seja a única verdade.
Mas a religião é funcional ao sistema porque serve como um aliviador de tensão, um tipo de ópio que outros encontram no álcool ou vícios. Ao se converter (aleluia!) troca-se uma droga pela outra, mas a enfermidade na alma permanece.
As doenças físicas proliferam porque se come de tudo que não presta, para a felicidade da indústria farmacêutica que lucra com o tratamento, mas nunca com a cura.
Na mídia só se vê notícias mentirosas e enviesadas pelos interesses de patrocinadores. Entretenimento barato com filmes, novelas e esportes com enredo pré-definido e jogos de resultados combinados.
Tudo isto pra preencher a rotina do fim de semana porque ao longo dos dias é preciso levantar cedo e voltar tarde para trabalhar, enfrentando trânsito e confusão. A vida se resume a trabalhar para gastar e quanto mais se trabalha, mais se fica pobre. Quem não tem é infeliz por não ter e quem tem é infeliz porque descobre que o que tem não serve pra nada.
Ensinam que se deve defender até a morte esse sistema baseado na exploração de muitos e que leva à riqueza de poucos: é o escravo lambendo as botas do senhor, com muita convicção. Assim, as pessoas viraram gado, obedecendo fielmente aos ditames da grande mídia, da escola e da igreja, sempre para manter os mesmos ladrões corruptos no poder político e econômico, enquanto inventam-se bodes expiatórios para o espetáculo da condenação.
Redes sociais viram muros de lamentações desse mundo cinza e sem cor, hipócrita e ilusório.
Todos aprisionados em bolhas sociais nas quais se aprende a odiar quem é da outra bolha ou mesmo quem pensa uma vírgula diferente dentro da bolha. Afinal, deve-se cultuar o indivíduo e rejeitar tudo o que é público. O senso de coletividade, comunidade e sociedade se diluem no culto ao eu.
É cada um querendo passar a perna no outro, numa mistura de egoísmo e egolatria. Privada, privatização e privataria: dá vontade de dar descarga e mandar tudo isto para o esgoto de onde veio.
Sou dos que aprenderam a não deixar se levar por esse mundo e a criar a própria realidade. Poderia estar rico, desde que entrasse no jogo. Mas, e os outros, como ficam?
Não dá para sentir-se satisfeito rodeado de gente triste, nem achar-se consciente cercado de alienados. Já poderia ter me mudado para um meio de mato qualquer, onde sentir-me-ia pleno em contato com a natureza. Mas fico para ajudar os que ainda não acordaram e para ser uma pedra na engrenagem dessa máquina podre. Uma hora esse mundo desaba e quero estar entre aqueles que vão construir o novo.

HUMANITAS Nº 59 - MAIO DE 2017 - PÁGINA QUATRO

HOMOFOBIA: DISCRIMINAR É PRECONCEITO E É ILEGAL
Ana Leandro - colaboradora do Humanitas -  é escritora e jornalista. Atua em Belo Horizonte/MG

Vou tocar num tema que eu sei que é melindroso. Começo contando que um professor de minha pós-graduação em Comunicação disse, certa vez, que a "expertise" do cantor e compositor Roberto Carlos foi ter tomado como tema de sua trilha sonora o único assunto que agrada a todo mundo: o Amor!
Entretanto, no exercício jornalístico, não posso me furtar a falar sobre temas que causem resistências a uns ou outros. É preciso encarar a vida, com a realidade que ela é. Fugir da verdade nunca ajudou o ser humano a evoluir! E eis aqui neste Humanitas, um artigo sobre o tema que gerou o Dia Mundial contra a Homofobia. Embora a análise do tema e suas influências sociais tenham me levado a lembrar desta frase do professor, não creio que o assunto também não fale de Amor.
Dia 17 de Maio é o Dia Internacional contra a Homofobia. Pois foi exatamente nesse dia que ocorreu a exclusão da homossexualidade da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa foi uma importante vitória para o movimento LGBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) comemorada por pessoas e ONGs congêneres.
Historicamente, parece-me óbvio o "porquê" dessa resistência à aceitação da homossexualidade. Para que a humanidade se multiplicasse, o que segundo as religiões era uma ordem divina, a heterossexualidade era a única opção aceitável.
Aliás, na história antiga, por questões também religiosas, a relação sexual só poderia ser aceita para fins de multiplicação, o que naturalmente se explica como uma negação do direito humano ao “prazer sexual”.
É claro que a homossexualidade não é coisa apenas dos tempos modernos. Sempre existiu, mas a era da comunicação invadiu e globalizou o mundo de tal forma, que não foi possível manter o assunto às escondidas.
O fato de ter ou não ter filhos nunca foi prova de heterossexualidade, pois sabe-se sobejamente que tanto homens, quanto mulheres, já descobriram, após viverem no processo apenas heterossexual e gerado filhos, que tinham também até mais prazer na relação com pessoas do mesmo sexo.
Com o tempo ficou visível os desejos de interesses no homossexualismo, lesbianismo e bissexualismo.
Mas a realidade é que vivemos numa sociedade altamente fingida, em que muitos, apesar de terem interesse homo ou lésbico, não se permitem manifestar isso publicamente, por medo das resistências de aceitação social.
A questão é que essa discriminação hoje já definida como homofobia, é prática ilegal. A homofobia chega a extremos de agressões físicas e verbais, e até de assassinatos de pessoas ou grupos, que se manifestem com interesses sexualmente fora do padrão heterossexual.
Mas a não aceitação do direito de exercer a sexualidade dentro do livre arbítrio do interessado já é por si só criminosa, e passível de ser submetida a penalidades judiciais.
Mesmo na era contemporânea há quem considere os interesses sexuais pelo mesmo gênero, ou pelos dois âmbitos (bissexualidade), ou ainda pela transexualidade (desejo de mudança do sexo contrário às características dos órgãos genitais com que nasceram), de forma ostensiva como uma “deformidade mental” ou doença, ou ainda por culpa de uma educação inadequada.
Outros continuam a insistir e a defender a tese de que são comportamentos “doentes”, que devem ser “tratados como tal para recuperação da normalidade”, segundo seus conceitos.
Mas isto é contrário à legitimidade de que "cada um não tem o direito de ser o que deseja ser".
Por motivos naturais, a legislação humana não teve a condição de estabelecer como crime ou marginalidade a opção sexual, porque esta não se estabelece apenas como livre arbítrio, mas também como um apelo fisiológico.
Portanto, não estando infringindo a lei, não pode o ato ser acusado por uma questão meramente de resistências pessoais.
Logo surgem os "resistentes” a esta aceitação com frases como: “Não quero meu filho vendo homens se manifestarem afetivamente em público”.
Chegamos ao absurdo de ouvir homens afirmarem, que não dizem ao filho do sexo masculino a expressão "eu te amo", para que este não "confunda as coisas". Ora, um pai não poder dizer a um filho que o ama, para mim é uma distorção do verdadeiro sentido do Amor.
Entretanto, o mundo não vai parar de "crescer e se multiplicar" por efeito do homossexualismo ou lesbianismo, uma vez que as relações heterossexuais não vão se extinguir.
Parece-me que, muito ao contrário, na era atual os casais reduzem o número de filhos, por questões principalmente econômicas e estruturais. Enfim, o ser humano é livre para ser feliz da maneira que o desejar, desde que não cause qualquer mal a quem quer que seja.
Esta não é uma defesa de comportamentos. É uma análise objetiva e lógica, de que ninguém pode exigir de quem quer que seja ser como “o outro deseja” e não como sua natureza lhe pede.
Homofobia é paralela ao fato de não aceitar outras características da natureza humana, como a diferença de cor da pele, e outros aspectos físicos, que são posturas preconceituosas.
No que tange à natureza humana, a evolução da espécie significa respeitar principalmente o direito de cada um ser como se sente mais feliz e mais realizado.

HUMANITAS Nº 59 – MAIO DE 2017 – PÁGINA TRÊS

REFÚGIO POÉTICO

POETA DO MÊS

Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (1865-1918) foi um jornalista, contista, cronista e poeta brasileiro do período literário parnasiano, membro fundador da Academia Brasileira de Letras e ocupou a cadeira nº 15. Escreveu a letra do Hino à Bandeira brasileira. Foi um dos principais representantes do Movimento Parnasiano que valorizou o cuidado formal do poema, em busca de palavras raras, rimasricas e rigidez das regras da composição poética.
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Tempo e nós

Antonio Carlos Gomes

Santos/SP


Capturados pelo tempo
somos passado
com ilusão de presente.

Cada momento
somos um lampejo
lampejo de nova gente.

Apenas mudamos
e o tempo passa
lento indiferente.
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Cúpula da pedra
Talis Andrade – Recife/PE
Poemas do livro inédito
“O Judeu Errante”

Em Jerusalém uma pedra

Dos judeus a convicção
a criação do mundo
a partir de uma pedra

A pedra que estava Abraão
quando falou com Deus

A pedra de onde Maomé
ascendeu ao céu
para rezar com Deus

Em Jerusalém uma pedra
divide duas religiões
em uma guerra santa

Em Jerusalém uma pedra
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CARTAS DOS LEITORES

O Humanitas de abril/2017 divulga o óbvio sobre a ditadura 1964/1985. Valeu a lembrança! Paulo Germano Accioly – Olinda/PE
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Parabéns ao jornalista Rafael Rocha e colaboradores, por este magnífico trabalho. É um prazer ler o Humanitas.   Luiz Carlos Siqueira – Brasília/DF

HUMANITAS Nº 59 – MAIO DE 2017 – PÁGINA DOIS

EDITORIAL
A VITÓRIA GAY

Pervertido. Anormal. Doente. Transviado. Esses termos usados contra os homossexuais já tiveram apoio da medicina, com direito a “tratamentos”  que incluíam castração, choques elétricos e lobotomia, mas deixaram de fazer sentido há 25 anos.
No dia 17 de maio de 1990 a homossexualidade foi excluída da Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa foi uma importante vitória comemorada pelos movimentos LGBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) e por pessoas e ONGs de vários países. Nesse dia, a homossexualidade deixou de ser uma doença tornando-se, finalmente, no que ela sempre foi: apenas uma expressão da sexualidade humana!
Em 17 de maio de 1990 encerrou-se um ciclo de dois mil anos em que a cultura judaico-cristã encarou a homossexualidade, primeiro como pecado, depois como crime e, por último, como doença. Na verdade, a homofobia é que uma doença. Para muitas pessoas é fruto do medo de elas próprias serem homossexuais ou de que os outros pensem que o são.
A forma mais grave da homofobia resulta em ações de violência verbal e física, podendo levar ao assassinato. Nesses casos, a homofobia, como doença, torna-se impossível de se controlar. A homofobia é responsável pelo preconceito e pela discriminação contra pessoas LGBT, no local de trabalho, na escola, na igreja, na rua, no posto de saúde.
Mais: os valores homofóbicos presentes em nossa cultura podem criar um fenômeno chamado homofobia internalizada, quando as próprias pessoas LGBT podem não gostar de si pelo fato de serem homossexuais, devido à carga negativa que assimilaram a respeito.
O dia 17 de maio, além de relembrar que a homossexualidade não é doença, tem uma característica de protesto e de denúncia. Por isso essa data foi declarada como Dia Internacional de Combate à Homofobia, quando pessoas de todo o mundo e também este Humanitas se mobilizam para falar de diversidade e tolerância.
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POR QUE É TÃO DIFÍCIL “DESINSTALAR” DEUS
E RELIGIÃO DO SUBCONSCIENTE DAS PESSOAS?
Ivo S. G. Reis – Campo Grande/MS

Para quem estranhou o uso do termo “desinstalar” no título, que poderia facilmente ser substituído por qualquer outro sinônimo mais adequado ao ser humano, informo que o uso foi intencional para que pudesse se adequar à seguinte analogia da era da informática,
Deus e as religiões são vírus residentes na memória, instalados junto com a bios e que têm proteção contra a desinstalação. Por isso a sua remoção é difícil pois, se mal feita, poderá ocasionar defeitos de funcionamento ou o travamento do PC“.
Isso não lhes parece familiar? Pois é mais ou menos assim que funciona a ideia de Deus e a do seguimento de uma religião.
Essas necessidades são implantadas na memória das pessoas, desde a mais tenra idade.
Ao chegarem à idade adulta, equiparam-se ao funcionamento de um vírus, de difícil remoção. Para desinstalá-lo, só existe um caminho: determinação, perseverança e conhecimento.
Se estes três requisitos não estiverem presentes como antivírus, é melhor não arriscar e deixar o vírus dentro da bios. Pelo menos assim o seu PC vai funcionar. Controlado e sem autonomia, mas funcionando, limitadamente.
E entre não funcionar e funcionar com limitações, as pessoas, por covardia ou comodismo, escolhem sempre a segunda opção, se é que se pode chamar isso de “opção”.
Para os que querem libertar-se, mesmo possuindo os pré-requisitos determinação e perseverança, nada conseguirão se não tiverem o terceiro e mais difícil requisito: o conhecimento.

sábado, 22 de abril de 2017

HUMANITAS Nº 59 – MAIO DE 2017 – PRIMEIRA PÁGINA


BOTECOS DO BRASIL VENCEM A CRISE
Os botecos continuam lotados em todas as partes do país. Considerados por muitos intelectuais como últimos baluartes do romantismo boêmio,os botecos vencem a pretensa crise econômica alardeada pelo Governo, juntando famílias, bebedores e artistas em todos os recantos da Terra Brasilis. 
PÁGINA 8
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Na PÁGINA 5 o historiador Thomas de Toledo diz que o capitalismo virou a coisa mais sem graça que já foi inventada
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O advogado Sandro Ari Andrade de Miranda comenta na PÁGINA 6 sobre o fim do polo naval de Rio Grande