EDITORIAL
Canalhice neoliberal
Os dias de hoje apresentam poucas ideias
críticas que possam tirar o homem da mesmice em que se acha e do domínio da
dialética de uns poucos.
Nesta
chamada civilização neoliberal o cidadão tem de se abster de qualquer
pensamento crítico e deixar de participar de lutas comunitárias e da
solidariedade.
O chamado
neoliberalismo acaba com a condição solidária do homem. A cultura neoliberal
destrói o entendimento de vida comunitária. O projeto neoliberal desconecta o
individuo da conjuntura social, política e econômica em que está posto,
considerando-o apenas como um simples consumidor, e leva isso aos extremos.
Um dos
maiores avanços da mentalidade humana dentro do que se convenciona chamar de
democracia foi o de ser reconhecido como um sujeito político, capaz de provocar
mudanças. Dentre esses avanços, o homem passou a ter direitos e deveres e com a
sua consciência crítica livrou-se daquela condição de escravo obediente às
ordens. Descobriu que autoridade não significa verdade. E muito menos o poder
significa razão.
Porém, como
poderoso instrumento de formação das consciências, como forte instrumento de
persuasão e formador de opinião, a televisão entra nos lares desinformando e
deformando o contexto cultural da sociedade. Enganchando-se no rumo da
propaganda e da publicidade que rege o mercado consumidor, a televisão se torna
também um produto de consumo, logo que os índices de audiência sobem.
Todo tipo de
estratégia é utilizado para manietar a consciência do homem ao novo “modus vivendi”.
Sem o menor
escrúpulo, a condição de humanidade do homem é levada a padrões opostos de suas
conquistas. Tudo se reduz ao agora.
A tecnologia
que diminuiu as distâncias através da internet e do celular cria uma sensação de
ubiquidade para a raça que se vê em todos os lugares e ao mesmo tempo em lugar
nenhum.
A civilização de
hoje é a civilização do consumo, para gáudio de uns poucos que se servem do
poder que lhes foi atribuído para fazer a lavagem cerebral da mente humana.
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Vida e cuidado
Antonio Carlos Gomes Guarujá/SP
Cada
um traça seu caminho, a vida é um caminho que se bifurca, novamente bifurca e
jamais encontra uma avenida reta que leva a um fim determinado.
Olho o vaso florido de margaridas. Chegou
em botões, secaram as flores e eis que novos botões e novas flores apareceram.
Pode ser que volte à mesa da sala onde estava anteriormente, mas no momento
encontra-se no terraço esperando os beija-flores. Secará novamente e ressurgirá
com outras flores quiçá no mesmo lugar, ou em outro, tanto faz, enquanto houver
terra fértil e água o ciclo de flores que nascem e morrem perdurará.
Assim também é a vida e seu caminho, não
importa a mesa ou o terraço, não importa se ao lado existam roseiras ou
gerânios, o vaso com suas flores persistirá.
Tudo é vontade. Nada acontece ao acaso.
Tudo é escolha.
A vida, com suas fases tem seu tempo como
as flores: a infância é a descoberta, a juventude o arrojo, a idade adulta a
obrigação e a velhice é apenas resultado de todas as outras fases.
Em um casal, por mais que exista o
compartilhamento, cada um tem sua direção.
A vontade é individual, não coletiva. Cada
qual a seu modo traça seu rumo e arca com as consequências.
Não há acaso, há determinação individual.
Ninguém ilude ninguém; pode apenas haver sonhos e fantasias que confundem, mas
o caminho é de cada um.
Não culpes ninguém, você escolheu e arca
com o resultado. Não há sujeito oculto, tudo é visível e claro.
Defeitos não aparecem como odores putrefatos,
a carniça sempre esteve junto ao perfume, apenas a sensibilidade seletiva sente
um ou outro.
Os caminhos se bifurcam individualmente.
Para trilhar o mesmo caminho apenas o sapato do cuidado com o outro leva ao
mesmo rumo.
Cuide! Se faltar o cuidado, se confundir o
cuidado com ilusões individuais, rancores intensos com passageiros deslizes
(deslizes todos têm), engodos como se fossem verdadeiros; se a ilusão pessoal
ou social ultrapassar os objetivos, a sequência será desastrosa e o caminhar
pedregoso ou impossível.
Viver é nascer e morrer a cada instante
como o vaso de margaridas, a arte é apenas cuidar.
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