Os filmes de terror
através dos tempos...
E o que está por trás
deles! (2)
O surto de fitas de monstros dos anos 50,
quando dezenas de criaturas disformes e ameaçadoras povoaram os pesadelos dos
espectadores, é uma consequência do impacto que teve sobre a humanidade a
barbárie e a violência da 2ª Guerra Mundial.
Um mundo que
supostamente caminharia a passos largos para o progresso e a civilização foi
surpreendido pela regressão à selvageria em sua forma mais brutal.
O espanto e a
perplexidade das pessoas precisavam ser expressos e expurgados de alguma
maneira.
Daí o surgimento
desses filmes em que os terrores primitivos irrompiam inopinadamente diante dos
homens, corporificando-se nas figuras de seres pré-históricos e de animais que
nos são temíveis ou repugnantes (insetos, polvos, aranhas etc), tornados
gigantescos devido a qualquer incidente.
Na sua trajetória
destrutiva, os monstros realizavam tudo aquilo que os espectadores mais temiam
– e, morbidamente, desejavam –, para, afinal, serem exterminados e a
ameaça afastada.
Por meio da morte
de cada uma dessas criaturas, exorcizavam-se simbolicamente os receios de uma
nova guerra.
Isto fica ainda
mais claro nas películas japonesas, em que os monstros eram engendrados ou
despertavam de uma milenar hibernação a partir, quase sempre, de explosões
atômicas.
Os horrores reais
de Hiroshima e Nagasaki, demasiadamente latentes na lembrança dos nipônicos,
encontravam aí uma expressão atenuada – pois, afinal, nenhum “Godzilla” maginário poderia
causar terror remotamente equiparável ao dos artefatos nucleares.
Outra
característica significativa é a apresentação dos monstros como descomunais,
evocação óbvia da idade em que o mundo nos parece ameaçador e povoado de seres
gigantescos e muito mais poderosos do que nós: a infância.
A ÚLTIMA CENTELHA DO TERROR CLÁSSICO
A
partir de 1957, estendendo-se pelos anos 60, o
terror clássico tem novo e derradeiro apogeu, com os estúdios britânicos Hammer
e Amicus revivendo os velhos mitos das telas (“Drácula”, “Frankenstein”,
o lobisomem, a múmia, “Dr. Jeckill/Mr.
Hide”, o fantasma da ópera etc), sob a direção competente dos artesãos
Terence Fisher, Freddie Francis, Roy Ward Baker e Jimmy Sangster, dentre
outros.
Foi, também, a
revelação dos dois últimos grandes atores referenciais do gênero: Peter Cushing
e Christopher Lee.
Enquanto isto,
nos EUA, o genial fabricante em série de “filmes B”,
Roger Corman, transpunha em ritmo frenético para as telas os contos de Edgar
Allan Poe, com elencos de veteranos ilustres (Vincent Price, Boris Karloff,
Peter Lorre, Basil Rathbone, John Carradine, Ray Milland) e uma jovem promessa
(Jack Nicholson).
Este revival terrorístico
foi avaliado por alguns como uma reação à vida insípida e sedentária das
metrópoles modernas e ao cipoal burocrático no qual o cidadão comum sente-se
enredado e tolhido.
A complexidade
das relações sociais em nossa época é tamanha que desperta no homem a nostalgia
por desafios simples, inimigos concretos que se pudesse vencer numa luta
corpo-a-corpo.
No cotidiano,
trabalhamos em companhias das quais só conhecemos os escalões intermediários,
enquanto a cúpula está longe, inatingível, como o senhor do castelo kafkiano.
Somos obrigados a
cumprir decisões de que não participamos, nem sabemos como foram tomadas.
E tratamos com
outras organizações impessoais, como bancos, imobiliárias, repartições
públicas, universidades, das quais só conhecemos funcionários, mas jamais
atingimos o todo,
o cérebro.
Quando temos
queixas a fazer, acabamos perdidos no labirinto das burocracias.
Se nos sentimos
oprimidos ou logrados, dificilmente conseguimos identificar o que vai mal
em nossas vidas.
Não seria mais
fácil lidar com o “Mal”,
um ente definido, poderoso, mas também vulnerável? Não seria preferível
combater “Drácula” do que o
demônio do vestibular, os ogros dos testes de admissão, o fantasma do
desemprego, a esfinge das dificuldades de ascensão econômica e social?
Não seria mais
simples queimar o laboratório do barão “Frankenstein”
do que livrarmo-nos dos cientistas loucos do governo que nos impõem políticas
econômicas monstruosas?
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Esta série
especial de artigos sobre cinema, escrita pelo jornalista Celso Lungaretti,
continuará no próximo número
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