quarta-feira, 1 de novembro de 2017

HUMANITAS EDIÇÃO Nº 65 – NOVEMBRO 2017 – PÁGINA 8



UM ARTISTA ARGENTINO QUE FEZ DA BAHIA SUA PÁTRIA

Nascido em 7 de fevereiro de 1911, na pequena cidade de Lanús, subúrbio de Buenos Aires, o artista, pintor, escultor, pesquisador e historiador Hector Julio Páride Bernabó, mais conhecido como Carybé, veio morar no Brasil em 1919, onde completou os estudos secundários no Rio de Janeiro e estudou na Escola Nacional de Belas Artes.
Até meados dos anos 1940, Carybé viveu em vários países, mas sempre retornando ao Brasil. Neste período, trabalhou como ilustrador de obras literárias e traduziu o livro Macunaíma, de Mário de Andrade, para o espanhol. Em 1943, fez sua primeira exposição individual e ilustrou o livro "Macumba, Relatos de la Tierra Verde", de Bernardo Kordan. Em 1950 foi morar definitivamente em Salvador, na Bahia, onde, através de uma carta de recomendação do escritor Rubem Braga, foi contratado para fazer murais em prédios e obras públicas.
Durante os quase 50 anos em que viveu na Bahia, Carybé desenvolveu profunda relação com a cultura e com os artistas de Salvador. As manifestações culturais locais, como o candomblé, a capoeira e o samba de roda, passaram a marcar a sua obra. Em virtude de seus trabalhos voltados para a cultura afro-brasileira, enfocando seus ritos e orixás, ele conquistou um importante título de honra do Candomblé, o obá de Xangô.
Frequentador do terreiro de candomblé Ilê Axé Opô Afonjá, Carybé morreu aos 86 anos, no dia 1° de outubro de 1997, em Salvador, durante uma cerimônia no próprio terreiro. O artista deixou como legado mais de cinco mil trabalhos, entre pinturas, desenhos, esculturas e esboços.
“Um elemento principal na pintura de Carybé é o movimento, o ritmo, a surpresa, que ele quer que conviva com uma exigência do seu espírito: a do nada deixado por fazer, a do nada ambíguo, pouco reconhecível, da definição do pormenor, como a unir a serenidade da obra clássica à multiplicidade de sugestões e o descompromisso do esboço” (FURRER, Bruno. Carybé. Salvador: Fundação Emílio Odebrecht, 1989).
Carybé fez desenhos em inúmeras obras de Jorge Amado, além de ilustrar trabalhos para livros de outros autores de grande expressão, como Mário de Andrade, Gabriel García Márquez e Pierre Verger. O artista também escreveu livros como "Olha o Boi" e foi co-autor da obra "Bahia, Boa Terra Bahia", com Jorge Amado. Em 1981, após 30 anos de pesquisa, publicou a Iconografia dos Deuses Africanos no Candomblé da Bahia.
(Texto de Rafael Rocha)

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