quarta-feira, 1 de novembro de 2017

HUMANITAS EDIÇÃO Nº 65 – NOVEMBRO 2017 – PÁGINA 7

RACISMO NO BRASIL: UMA ANÁLISE IMPARCIAL
Ana Leandro - colaboradora do HUMANITAS - é escritora e jornalista. Atua em Belo Horizonte/MG

Dificilmente uma pessoa de pele branca admitirá claramente que é racista. E muitas, sendo de descendência negra, mas tendo nascido de cor branca, preferem não demonstrar essa origem. 
Isto por si só já demonstra que a questão ainda tem séria interferência não apenas social, mas econômica e até mesmo profissional.
São infindáveis os contos e novelas de ficção ou de conteúdo histórico, que se alinham nesse enredo. Sempre, naturalmente, com o objetivo positivista do autor, de mostrar que valores humanos não estão na cor, como de fato não estão.
Quanto ao fato da discriminação permanecer velada, isto se deve principalmente a uma questão legal: a “Constituição de 1988 estabelece que o racismo é crime inafiançável e imprescritível”.
Mas ao que parece leis mudam “comportamentos e não sentimentos”.
Muitas pessoas não dizem abertamente a um negro que o considera de uma raça inferior, mas o trata como tal. De maneira “velada”, de forma a não se expor às penas da lei.
É interessante relembrar uma história ocorrida em uma escola, onde os colegas faziam ostensivo “bullying” a uma menina de cor negra. Ela era ostensivamente rejeitada na participação de grupos e brincadeiras.
A professora, percebendo o isolamento da menina, chamou os alunos e perguntou qual a razão disso. Um dos garotos, o mais agressivo, disse clararamente: “ora professora, veja só a cor dela!”
Não vamos aqui nos alongar nos termos da pedagogia adotada pela professora. Mas ficou bem claro que ela salientou ser terminantemente proibido fazer menção à cor negra da aluna. Ao que o aluno retrucou com ironia: “Então agora  a chamaremos de  Branca de Neve, está bem?” A menina reagiu com firmeza e altivez: “Não, eu sei que sou preta e não branca! Mas quero que gostem de mim assim como sou”.
Parece que a reação firme da menina valeu mais do que toda a lição pregada pela professora, pois a partir daí aos poucos muitos colegas passaram a tratá-la melhor e a convidá-la para participar em jogos e brincadeiras, chegando a casos de sólidas amizades, por se mostrar inteligente e receptiva.
E este âmbito foi aumentando, incluindo inclusive colegas do sexo masculino, que eram mais resistentes. É claro que o episódio não resolve a questão nacional, porque o respeito ao próximo qualquer que seja sua raça, é principio ético e demonstra profundidade no caráter humano.
Mas também devemos  assumir que as pessoas na maioria são muito mais ligadas a questões de aparência, do que de conteúdo de valor do próximo. O que demonstra que há nesse comportamento discriminatório, vários fatores que influem.
O racismo tem origem nas questões de nossa própria colonização. Começou no período colonial, quando os portugueses trouxeram os primeiros negros, vindos principalmente da região onde atualmente se localizam a Nigéria e Angola.
Os negros foram trazidos ao Brasil para servirem de escravos nos engenhos de cana de acúcar, devido às dificuldades da escravização dos indígenas, os primeiros habitantes brasileiros do qual se tem relato. 
Registre-se, além de tudo, o fator inevitável da motivação financeira, pois o tráfico negreiro foi a maior fonte de renda do período colonial.
Ora, se na casa grande, no “palácio residencial” estavam os brancos, e lá fora ao rés do chão negros eram forçados a  trabalhos e cruelmente castigados quando não rendiam produção desejada, era natural que a comunidade saída desse cenário, perseverasse na ideia de que eram superiores, preconceito que se estendeu mesmo por séculos e séculos depois.
A própria Igreja Católica participou desse processso, pois sabe-se que era proibido ao negro entrar em templos efetivamente construídos para os brancos. Estes sim, senhores das terras e das riquezas e econômicamente capazes de contribuir com a expansão da própria igreja e da religião.

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