quarta-feira, 1 de novembro de 2017

HUMANITAS EDIÇÃO Nº 65 – NOVEMBRO 2017 – PÁGINA 6

O inextricável passado e o futuro
Manfred Grellmann é um autodidata e colaborador do HUMANITAS. Mora em Camaragibe/PE

A queda de impérios (da Grécia, Roma e outros) tem em comum o mesmo motivo: “o dinheiro”. Mais precisamente os “juros!” A criminosa “usura!” Os juros levam à concentração de renda, endividamento, escravidão econômica, decadência, jogos e luxúria sem limite, descontentamento popular, guerras civis e derrocada.
Em 1887, o chanceler alemão Leopold von Bismarck quis saber por que muitos impérios acabaram em ruínas. Para encontrar a explicação, ele encomendou um estudo a Gustav Ruhland, professor de economia política da Universidade de Freiburg.
Com o aporte necessário, Ruhland viajou pelo mundo, pesquisando e estudando as economias através da história. Em 1890, retornou de sua longa viagem por vários países, porém Bismark não era mais chanceler. Assim, o estudo não tinha mais a finalidade a que se propunha e acabou se transformando em livro.
O aspecto relevante do livro é que em todas as decadências de impérios, o mecanismo de destruição era sempre o mesmo. Todas as culturas eram baseadas no dinheiro e, como não podia ser diferente, a escravatura aos juros provocava uma constelação de degradantes consequências.
Tal como hoje, todo dinheiro estava atrelado a juros. Quem possuía mais dinheiro tinha maior poder, o que lhe permitia fazer toda sorte de falcatruas, roubos e influências nas esferas políticas e governamentais.
Com a evolução desse sistema, os ricos ficavam cada vez mais ricos. Processo que depois evoluía em sequestro de bens, saques, roubos, corrupção e bandidagem. Isso ocorre em todo sistema monetário.
Com o tempo, esse processo concentrou a riqueza nas mãos de uns poucos e em governos dominados pela restrita classe rica.
Agricultores perdiam suas propriedades em favor da agiotagem. No ano de 104 antes da Era Comum, o tribuno romano Lucius Marcius Philippus, explicou que em Roma existiam apenas dois mil cidadãos que possuíam fortuna.
Enquanto nas distantes províncias conquistadas os agricultores nativos destruíam as tropas invasoras, em Roma, os ricos ocupavam o poder, acelerando a destruição do potencial agrícola da velha Roma.
Assim, o meio produtivo se utilizava cada vez mais de escravos, o que tornava o empreendimento particular inviável.
Na Roma Antiga, os empréstimos tinham como fiança o corpo do devedor. A insolvência o transformava em escravo.
Como o acúmulo do capital, turbinado pelos juros, crescia rapidamente, a população ficou incapaz de produzir alimentos.
O império, para controlar a massa pobre, passou a saquear as províncias para suprir Roma com recursos.
Esses saques exauriam as províncias, e obrigavam à busca de cereais em distâncias cada vez maiores, tornando o abastecimento incerto e entregue ao acaso.
A massa empobrecida, sem terras e trabalho, era entretida e controlada com jogos como as sangrentas lutas dos gladiadores.
O sangue dos espetáculos, os jogos abertos e o fornecimento de comida pelo império eram formas de conseguir o controle da massa empobrecida e esfomeada. Daí o dito: pão e circo”.
Já no século 100 antes da Era Comum, a massa humana pobre que pesava no erário romano, chegava ao número de 400 mil.
A cultura entrou em decadência. A classe rica se divertia conforme sua natureza depravada. Somente o dinheiro dava status social.
A indissolúvel instituição do casamento foi substituída pelo contrato dissolúvel, com um notável aumento da prostituição. Chantagem e corrupção, nepotismo e justiça comprada eram regras. Isso evitava que cidadãos sérios chegassem ao poder. O proletariado, vivendo na pobreza, não tinha como ganhar dinheiro. Os capitalistas multiplicavam sua fortuna produzida com mão de obra escrava.
No império romano, a cobrança de juros sobre juros produziu efeitos inacreditáveis. As dificuldades fizeram com que o então político e cônsul romano, Lúcio Cornélio Sula, no ano 84 antes da Era Comum, impusesse à Ásia Menor um elevado imposto subsidiado pelos capitalistas romanos. Isso obrigou as populações a vender casas, filhos e até mesmo os pais, para satisfazer a insaciável sede do capitalismo romano.
Por esse processo, a condução política caía nas mãos dos banqueiros. Guerras civis tornaram-se comuns. Nessas circunstâncias, a alegria de viver deixou marcas como poucos filhos e frequentes suicídios para escapar mais rápido de um mundo sem esperanças.
No final, o império foi vencido por germânicos mal armados. Verba para defesa o exército romano já não recebia há muito tempo. O ócio nas casernas, devido à falta de campanhas militares, resumidas em guardar fronteiras, acabou com a determinação guerreira dos soldados, deixando-os “enferrujados”.
A queda foi rápida.
A origem da decadência tem como causa o capitalismo através da usura. O desenvolvimento da miséria do império romano mostra a origem, na ascensão do cego poder do capital como força única. Quem pretendesse implementar reformas teria que desmontar o poder supremo do capital.
Gustav Ruhland definiu assim a decadência do império romano: “crescente endividamento, destruição da agricultura e despovoamento”.

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