O cérebro pode mentir para seu dono
Décio Schroeter colaborador deste Humanitas é escritor. Atua em Porto
Alegre/RS
É
fato. Sim, mentir. Descartar
informações, manipular raciocínios e até inventar coisas que não existem. Dessa
forma, é possível simplificar a realidade e reduzir drasticamente o nível de
processamento exigido dos neurônios.
O cérebro humano é muito bom em construir
modelos. Quando estamos dormindo, isso se chama sonhar; quando estamos
acordados, chamamos de imaginação, ou, quando é real demais, de alucinação. Quando
dizemos que o ser humano constrói seu mundo, queremos dizer: ele constrói seu
céu e seu inferno, seus deuses e seus demônios, sua ordem e seu caos.
O homem se constrói a si próprio para em
seguida também se autodestruir. O ser humano, simultaneamente, por sua conta e
risco, tem criado seu mundo interior e seu mundo exterior. A ciência se esforça
para mostrar que estamos menos no comando do que poderíamos supor. Hoje já
sabemos que o cérebro pode mentir para seu dono e inventar coisas para iludi-lo.
“São
efeitos colaterais do funcionamento normal do cérebro”, diz a
neurocientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Suzana
Herculano-Houzel,.
Pareidolia - Não adianta você
perguntar a um crente fundamentalista o que é pareidolia, porque 99% deles não saberão responder. E se
você tentar explicar, eles não vão aceitar a explicação.
A pareidolia
ocorre quando certa confusão mental no cérebro tenta associar imagens sem
significados e de difícil identificação com outra conhecida que parece fazer
sentido.
Assim, o que se vê na imagem, depois desse
processo, não é o que realmente é, mas sim o que nós fazemos o nosso cérebro
pensar que é. Sim, nós temos culpa, porque influímos no processo.
A pareidolia
é um tipo de ilusão ou percepção equivocada, em que um estímulo vago ou obscuro
é percebido como algo claro e distinto. Por exemplo, mensagens de Alá num
tomate (“Há apenas um Deus”),
melancia, conchas, numa casca de ovo (escrito: “La ilaha illallah”, que significa “Não há Deus senão Deus”) ou quando alguém vê o rosto de Jesus
Cristo nas descolorações de uma torradinha de pão queimada.
“A pareidolia é um fenômeno psicológico que envolve um
estímulo vago e aleatório, geralmente uma imagem ou som, percebido como algo
distinto e com significado. É comum ver imagens que parecem ter significado em
nuvens, montanhas, solos rochosos, florestas, líquidos, janelas embaçadas e
outros tantos objetos e lugares”.
“Ela
também acontece com sons, sendo comum em músicas tocadas ao contrário, como se
dissessem algo. A palavra pareidolia vem do grego para, que é junto de ou ao lado de, e eidolon, imagem,
figura ou forma”. (Fonte - Wikipédia).
“Assim,
para um crente ou mesmo um fiel católico que tem Cristo 24 horas por dia na
cabeça (até quando dorme) não é difícil enxergar a imagem dele em paredes
mofadas, cascas de árvore, janelas, sanduíches, torradas, pedras, nuvens etc”.
“Os
católicos, além de Cristo, costumam enxergar muito as chamadas “Nossas
Senhoras”, e outros santos católicos. O que é pior: publicam essas imagens como
se fossem milagres e provas da existência de Deus, Cristo e todo um exército de
santos. Esquecem-se eles, porém, que a pareidolia se dá com todos os tipos de imagens, não
necessariamente religiosas”. (Fonte - Ivo S. G. Reis
–http://irreligiosos.ning.com).
Se você teve uma experiência tipo ver ou
falar com Jesus, Maria ou Maomé pode ser que acredite firmemente que ela foi
real. Mas não espere que o resto de nós acredite, especialmente se tivermos uma
familiaridade mínima com o cérebro e seus feitos incríveis.
Nossas mentes possuem uma predisposição
natural para a transcendência e o cérebro possui um mecanismo chamado de
recompensa.
São grupos de neurônios situados em certas
regiões como o septo, que fica bem no centro do cérebro.
Toda vez que fazemos algo física ou
mentalmente agradável, qualquer coisa mesmo, esses neurônios causam a liberação
de dopamina, neurotransmissor responsável pela sensação de prazer.
As demais áreas do cérebro são inundadas
pela dopamina, inclusive aquelas que manejam o autocontrole e as emoções.
Você sente prazer.
E tem vontade de sentir de novo e de novo.
E assim o sistema tem uma influência
gigantesca sobre nossas ações e decisões.
Drogas, açúcar, sexo, crenças religiosas,
também têm o poder de atuar nessas áreas e podem se tornar viciantes.
O sistema de recompensa foi descoberto nos
anos 1950 pelos psicólogos James Olds e Peter Milner, no Canadá.
Todos nós buscamos momentos de “êxtase” nos arquétipos, nos
quais “ficamos de fora” do
nosso eu.
Se não encontrarmos isso no sobrenatural e
na religião, vemos essa sensação na arte, na música, no cinema, na natureza,
nos esportes.
O francês Pascal Boyer, utilizando
conceitos da psicologia evolutiva, autor do livro Religion Explained (Religião Explicada), pretende provar que:
“As
pessoas têm crenças religiosas, porque outros indivíduos de seu convívio as
tiveram antes e as passaram adiante. Existe, uma predisposição de nosso cérebro
a aceitar algumas dessas ideias”.
O mundo precisa de conhecimento, de
gentileza e coragem, de corações e de cérebros francos, livres do medo.
E não é mediante imposturas e sistemas
rígidos, ignorantes e de fanáticos, que isso pode ser conseguido no futuro.