Antero de Quental: o poeta da renovação
Especial do Humanitas
O líder intelectual do Realismo em Portugal
foi o poeta Antero de Quental (1842-1891). Ele dedicou sua vida à reflexão dos
grandes problemas filosóficos e sociais de seu tempo e contribuiu para
implantar ideias renovadoras.
Nasceu na localidade de Ponta Delgada, na
ilha de São Miguel, nos Açores, Portugal, no dia 18 de abril de 1842, e com 16
anos ingressou no curso de Direito na Universidade de Coimbra. O poeta praticou
suicídio no dia 11 de setembro de 1891 num banco de jardim em Ponta Delgada.
Na Universidade de Coimbra, Antero se
tornou o líder dos acadêmicos, graças à sua marcante personalidade.
Organizou a Sociedade do Raio, que
pretendia renovar o país através da literatura e liderou um grupo de
estudantes, que repudiava as ideias do Romantismo, criando polêmicas entre a
velha e a nova geração de poetas.
No ano de 1865, Antero edita “Odes Modernas”, onde rompe com
toda a poesia tradicional portuguesa, banindo o romantismo, o sentimentalismo e
a religiosidade lírica. Através de seus poemas nascem as ideias de liberdade e
justiça.
As obras foram criticadas pelo poeta
romântico Antônio Feliciano de Castilho, que acusou Antero de Quental de
exibicionista, e de abordar temas que nada tinham a ver com poesia.
O poeta responde à crítica em uma carta
aberta a Castilho, intitulada “Bom
senso e bom gosto”, na qual Castilho é acusado de obscurantista.
Aproveita a ocasião e também defende a
liberdade de pensamento e a independência dos novos escritores, atacando o
academismo e a decadente literatura romântica, pregando a renovação.
Foi a partir dessa discussão entre os dois
poetas que nasceu a “Questão Coimbrã”.
Essa polêmica passou a ser o marco divisor
entre o Romantismo e o Realismo em Portugal.
Em 1871, Antero de Quental, Eça de Queirós,
Oliveira Martins e Ramalho Ortigão, organizaram uma série de "Conferências Democráticas",
no Cassino Lisbonense, com o intuito de realizar uma reforma na sociedade
portuguesa.
Um dos principais temas desse encontro foi
intitulado de “Causas da decadência
dos povos peninsulares”.
Quando estava para se realizar a V Conferência,
ela foi proibida pelo ministro do reino, e os conferencistas acusados de serem
subversivos. Apesar da proibição, o grupo alcança seu objetivo e solidifica as
raízes artísticas do Realismo português.
DOIS SONETOS DE ANTERO DE QUENTAL
MAIS
LUZ!
Amem a noite os magros crapulosos,
E os que sonham com virgens impossíveis,
E os que se inclinam, mudos e impassíveis
À borda dos abismos silenciosos.
E os que sonham com virgens impossíveis,
E os que se inclinam, mudos e impassíveis
À borda dos abismos silenciosos.
Tu, Lua, com teus raios vaporosos,
Cobre-se, tapa-os e torna-os insensíveis,
Tanto aos vícios cruéis e inextinguíveis,
Como aos longos cuidados dolorosos!
Cobre-se, tapa-os e torna-os insensíveis,
Tanto aos vícios cruéis e inextinguíveis,
Como aos longos cuidados dolorosos!
Eu amarei a santa madrugada,
E o meio-dia, em vida refervendo,
E a tarde rumorosa e repousada.
E o meio-dia, em vida refervendo,
E a tarde rumorosa e repousada.
Viva e trabalhe em plena luz: depois,
Seja-me dado ainda ver, morrendo,
O claro Sol, amigo dos heróis!
Seja-me dado ainda ver, morrendo,
O claro Sol, amigo dos heróis!
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INTIMIDADE
Quando, sorrindo, vais passando, e toda
Essa gente te mira cobiçosa,
És bela - e se te não comparo à rosa,
É que a rosa, bem vês, passou de moda.
Essa gente te mira cobiçosa,
És bela - e se te não comparo à rosa,
É que a rosa, bem vês, passou de moda.
Anda-me às vezes a cabeça à roda,
Atrás de ti também, flor caprichosa!
Nem pode haver, na multidão ruidosa,
Coisa mais linda, mais absurda e doida.
Atrás de ti também, flor caprichosa!
Nem pode haver, na multidão ruidosa,
Coisa mais linda, mais absurda e doida.
Mas e na intimidade e no segredo,
Quando tu coras e sorris a medo,
Que me apraz ver-te e que te adoro, flor!
Quando tu coras e sorris a medo,
Que me apraz ver-te e que te adoro, flor!
Não te quero nunca tanto (ouve isto)
Como quando por ti, por mim, por Cristo,
Como quando por ti, por mim, por Cristo,
Juras
- mentindo - que me tens amor.
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