segunda-feira, 27 de abril de 2015

JORNAL HUMANITAS Nº 35 – MÊS DE MAIO DE 2015 – PÁGINA 8

O que penso sobre a vida eterna

Crônica de Divina de Jesus Scarpim – São Paulo/SP

Uma vez, já faz alguns anos, comecei a me perguntar de quanto tempo eu precisaria para aprender todas as línguas, ler todos os livros, conhecer todos os lugares, conversar com todas as pessoas, aprender e praticar todas as profissões, todas as artes, todos os esportes. Achei que o tempo seria muito longo, mas bem longe do infinito.
Além disso, percebi que meus desejos estavam muito restritos. Afinal, aprender todas as línguas que são faladas hoje seria aprender bem poucas línguas, comparando isso à quantidade de línguas que já foram faladas.
Ler todos os livros também tem restrições. Muitos já se perderam na história e muitos dos que existem hoje eu não quero ler porque não prestam.
Conhecer todos os lugares não significa conhecer todos os lugares porque cada lugar já foi vários lugares e provavelmente será muitos outros ainda.
Para as pessoas valem as mesmas restrições que apontei para os lugares e mais ou menos as mesmas restrições dos livros: Cada pessoa é muitas pessoas ao longo do tempo, tantas e tantas já morreram e tantas há que eu preferia não conhecer.
Aprender todas as profissões parece legal, mas existem algumas que eu não gostaria de saber, como a profissão de pastor evangélico, por exemplo.
Quanto às artes e ao esporte não consegui pensar em nenhuma restrição, principalmente porque alguns absurdos que uns ou outros chamam de arte ou de esporte não entrariam na minha definição; como a "arte" de explorar pessoas e o "esporte" da caça, por exemplo.
Daí que, diante disso, concluí que para fazer tudo isso de maneira satisfatória eu precisaria viajar no tempo para frente e para trás ao meu bel prazer. É certo que, dessa maneira, eu "esticaria" bastante o tempo necessário para fazer tudo o que eu queria, mas ainda assim esse tempo seria muito menor do que a eternidade.
Nesse ponto fiquei com dois problemas: O primeiro é a impossibilidade da viagem no tempo; o segundo é o sem graça de estar sozinha.
Então pensei em possíveis soluções para esses problemas: primeiro eu poderia viajar por planetas, galáxias e universos e encontrar outras línguas, livros, lugares, pessoas, profissões, artes e esportes que eu pudesse e quisesse conhecer e praticar. Talvez cada um deles em número infinito.
Segundo eu poderia também, nesses passeios, encontrar pessoas que têm os mesmos poderes (ou desejos) que eu, e então não estaria sozinha.
Sobraram apenas duas dificuldades insuperáveis: Primeiro: esse corpo que tenho não poderia fazer isso e essa mente que tenho não existe sem ele.
Segundo: não há como saber se existem outros lugares habitados e habitáveis em outras galáxias ou outros universos; ou pessoas com os poderes que, até agora, só existem na minha imaginação.
Diante dessas impossibilidades - embora tenha certeza de que nessas condições eu aceitaria a vida eterna feliz da vida - acho melhor ficar quietinha e morrer tranquila quando chegar minha hora.
Isso porque, por mais terrível que me pudesse parecer - e nem parece tão terrível assim -, a ideia de voltar a ser o nada que era antes do meu nascimento é para mim milhões (ou uma eternidade) de vezes melhor do que qualquer uma das opções de vida eterna que qualquer uma das religiões possa me oferecer.

JORNAL HUMANITAS Nº 35 – MÊS DE MAIO DE 2015 – PÁGINA 7

Considerações sobre a morte violenta na sociedade

Antônio Carlos Gomes - Guarujá/SP
Especial para o Humanitas

Escrevi há algum tempo sobre o suicídio, em linhas gerais. Notei que a sociedade não aceita a morte violenta de seus membros, mesmo que estes estejam marginalizados.
A morte em guerras, confronto de marginais armados contra os agentes de segurança, a pretexto de manter a ordem é não só aceita, mas desperta grande atenção, devido à enorme quantidade de filmes, jogos eletrônicos, jogos em computador e celulares que não só a mostram, mas convidam o cidadão a participar. Rara é a novela no horário nobre que não mostra um assassinato e uma legião de suspeitos. Voltando ao suicídio temos um mesmo movimento. A morte violenta.
Vejamos: a sociedade se divide em estratos maiores do que os apontados pelas estatísticas. Temos uma classe dominante média, a baixa e a excluída. Todas com subdivisões entre si. Na distribuição de riqueza, terras, alimentos e moradias essa divisão é inconscientemente seguida por toda população, com raras exceções. Mas o fator morte significa uma agressão violenta e total a esse tecido.
A sociedade aceita que o indivíduo possa passar frio ou fome; que viva invisível na semi ou total indigência; e que morra por doença. Não se pergunta se esta é causada pela fome ou más condições de moradia. Mas morrer de frio, suicidar-se ou ser assassinado por algum louco que lhe ateia fogo, a sociedade repudia. O abandono social não pode chegar à morte. Isto é absoluto.
Assisti há algum tempo um documentário na televisão sobre as hienas. Nele um pesquisador, muito corajoso, aproximou-se de uma família de hienas e conseguiu ser adotado por ela como o elemento mais baixo do grupo. Seria um sem teto na nossa civilização.
As hienas - como eu aprendi naquele momento - têm um regime matriarcal, sendo a matriarca o topo, o macho que ela escolhe para acasalar o segundo na hierarquia, seguindo-se em camadas sociais a acomodação dos demais elementos.
Esse grupo ocupa um território que é disputado por outros grupamentos da mesma espécie.
Em dado momento do estudo houve uma disputa pelo poder. A matriarca que era ditatorial para nossos padrões enfrentou uma fêmea que resolveu desafiá-la.
Esta ganhou a luta, mas a ex-matriarca não foi morta. Foi rebaixada abaixo da posição que estava o pesquisador, mas continuou na sociedade das hienas.
Ou seja: não se matam elementos do próprio grupo; a não ser que a matriarca tivesse morrido na disputa pelo poder, o que seria considerado normal.
Pode-se excluir, mas não matar. No caso do suicídio, apesar da diferença, a agressão social é semelhante.
Nota-se que quando se tem um suicida na família, este automaticamente é anexado à biografia familiar, não importando há quantas gerações tenha ocorrido o evento. Isso acontece devido à morte violenta, e o suicídio é a mais violenta das mortes.
É uma forma eloquente de demonstrar a falha social no todo. A sociedade se contrai e entra em penitência pela sua falha. Quando se coloca o suicídio no currículo de uma celebridade, está se dizendo o seguinte: apesar de ter seu ancestral abandonado pela sociedade, ele se recuperou, perdoou e nos deu tal presente.
A sociedade aceita humilhar, excluir e denegrir seus membros, de acordo com seu relacionamento com o poder. Mas sempre a vigiá-los. Nas ditaduras as pessoas assassinadas são vistas como estrangeiras.
Nesse regime se pode matar sem grandes consequências, como aconteceu nas ditaduras latino-americanas, onde os mortos eram vistos como inimigos comunistas. Portanto, não pertenciam à malha social imaginada pelos ditadores.

JORNAL HUMANITAS Nº 35 – MÊS DE MAIO DE 2015 – PÁGINA 6

Falta empatia social dos gays na luta contra a homofobia

Paulo Roberto Júnior - Jornalista Rio de Janeiro/RJ
Especial para o Humanitas

Na noite do dia 16 de março de 2015, cerca de trinta pessoas se reuniram no Rio de Janeiro para organizar um ato político contra mais um recente ataque motivado por homofobia na cidade. Em uma casa no bairro da Lapa, o grupo tinha o objetivo de pensar, discutir e planejar ações a serem realizadas com o objetivo de repudiar essa opressão cada vez mais frequente a homossexuais, travestis e transexuais nos espaços públicos cariocas.
No início de março, dois turistas mineiros foram agredidos com copos e garrafas de vidro após trocarem um beijo na badalada e democrática Praça São Salvador, no bairro de Laranjeiras, Zona Sul da cidade. O local é famoso por receber intervenções artísticas, debates educativos e pessoas dos mais variados estilos, de todos os cantos da cidade, que, em clima de amizade e confraternização, ocupam um ambiente que valoriza a integração de todos. Ou pelo menos deveria ser assim.
Ignorados por agentes da Guarda Municipal e por policiais militares que estavam na região, os dois rapazes atacados encontraram defensores em apenas alguns dos frequentadores da praça para reagirem contra a violência. Algumas pessoas intervieram a favor do casal e protagonizaram, espontaneamente, um beijaço em sinal de protesto.
Diante da cena, os agressores retomaram a violência, quando (pasmem!) o bar Casa Brasil, estabelecimento que fica em frente à Praça São Salvador, passou a municiar os criminosos com novos copos de vidro, tudo sob o olhar complacente da PM.
O Relatório Anual de Assassinatos de Homossexuais no Brasil, divulgado pelo Grupo Gay da Bahia diz que 326 pessoas foram mortas vítimas de homofobia no país, em 2014. Ou seja, uma média de um assassinato a cada 27 horas. Desses, 163 eram gays, 134 travestis e 14 lésbicas. Se esses números já assustam, saiba que o levantamento é realizado apenas com notícias veiculadas na imprensa. Portanto, ainda temos muitas vítimas invisíveis.
Talvez já tenha passado da hora de os homossexuais se unirem em torno de discussões políticas e sociais que defendam os direitos individuais e que digam respeito às suas próprias vidas.
Muitos gays dizem ter a mesma necessidade de acolhimento, mas não enxergam uma saída possível. Segundo eles, muitos homossexuais são igualmente preconceituosos e não se veem como classe, além de rejeitarem aqueles que não se enquadram no padrão viado-discreto-macho-sarado.
Falta empatia social para levar adiante um grupo de discussão ou qualquer outra denominação que acolha, converse, oriente e lute ao lado daqueles que são diariamente violentados por conceitos retrógrados.
Os 30 lutadores comprometidos com um movimento que garanta o direito à livre manifestação de carinho nas praças e ruas do Rio são um bom exemplo disso. No entanto, eles ainda são poucos e precisam de apoio e de maior engajamento social.
O silêncio de cada homossexual que se orgulha de ser "100% macho" e de "não dar pinta" mata e contribui para que a discussão sobre a homofobia fique no limbo das pautas públicas. Enquanto isso, líderes fundamentalistas e extremistas de direita se organizam e sobem, a cada eleição, mais um degrau em direção ao controle da única arma que dispomos nessa luta: a política.
E de que lado você está? 

JORNAL HUMANITAS Nº 35 – MÊS DE MAIO DE 2015 – PÁGINA 5

Viver sem deus? Sim, eu posso!

William de Oliveira – São Paulo/SP - Especial para o Humanitas

Há alguns anos tenho visto uma série de debates, acadêmicos ou não, entre cientistas, racionalistas e ateus em geral, contra os religiosos, sendo que alguns deles também possuem títulos de ciências. Tais debates geralmente se concentram em provar (ou refutar) a ideia da existência de divindades.
São horas e horas de argumentação e contra argumentação, do tipo que faria um leão faminto cochilar. E eu nem precisaria dizer, até pelo caráter das incursões, que possuem apenas a intenção de vencer o oponente, que essas discussões nunca chegaram a lugar algum.
Diante de tantas soluções dadas pela ciência, e de tantas “facilidades” dadas pela tecnologia, até onde vale a pena nos dedicarmos ao tema DEUS?
Será que uma sociedade que avançou em tantas áreas ainda precisa se desgastar nesse debate? Será que não podemos simplesmente virar a página?
Porque é inegável que até os religiosos (ao menos os mais sofisticados) não conseguem mais negar que a religião já não é capaz de dar conta dos dilemas da nossa era, como se propunha a fazer em séculos passados.
Deus nunca foi tão moldável. Qualquer “cristão”, inclusive, que defenda afirmações do tipo “Adão e Eva no paraíso” é motivo de piada em qualquer círculo de pensamento sério. Então por que dar a eles tanta atenção?
Com tantas coisas a serem feitas e descobertas, por que não podemos simplesmente cortar esse cordão umbilical que nos prende na escuridão intelectual da fé?
Olhando para o planeta nunca a fé pareceu tão forte, mas isso, do meu ponto de vista, é apenas uma impressão, uma supervalorização que damos ao “inimigo”. Ou, talvez, em tempos mais recentes, medo de sermos decapitados com uma faca de pão por um maluco do Estado Islâmico.
Aliás, essa força bruta e irracional parece ser o que restou para a religião se agarrar e respirar sua sobrevida. É o descontrole de mentes doentes que canalizam sua psicopatia, ou sua incapacidade viril, no fanatismo e no terror a todos os que não querem tomar o “remedinho” tarja preta que eles tomam diariamente. Somados a isso, temos também a fragilidade de mentes incultas, que por serem facilmente manobradas, naufragam na ideia de que deus deve existir.
Afinal, seu pai, seu pastor ou o padre da paróquia local disseram que existe, e eles não mentiriam para você, ou simplesmente para que eles mesmo possam ter um referencial de existência (não é à toa que seu deus se parece muito com você), além, é claro, da incapacidade, quase inata, que nós pobres primatas falantes temos de lidar com a realidade da vida.
A propósito, essa parece ser a grande arma, digamos, “intelectual” da fé, ou seja, nos fazer crer que não somos capazes de lidar com nossa pueril existência. Ela, a religião, sabe da nossa dificuldade em tomar nossas próprias decisões de vida e de lidar com os possíveis fracassos.
Sabe que ao primeiro sinal de derrota precisaremos de um “papai do céu” para nos aninhar em seus braços onipotentes e chorar as pitangas. Sabe que somos fracos e infantis. Sabe que diante da morte do outro, morremos nós também.
Ela conhece nossas tendências suicidas e destrutivas e sabe usar isso como ninguém. Ela usufrui ao máximo da nossa falta de percepção e de instrução, que nos impede de ver que podemos lidar com nossos dilemas existenciais de uma maneira adulta e natural.
A religião tenta nos fazer acreditar que a dor não é parte da vida, assim como o fracasso e a morte, e que por isso precisamos de uma vida extra (e eterna de preferência). Ela nos diz que só há propósito na vida se essa vida tiver um propósito eterno e divino.
Ela diz que fomos criados por um poder celeste, que pensou em cada traço do que somos mesmo aquilo que nos faz chorar diante do espelho. Ela diz que o reino dos céus pertence às crianças (não se esqueça disso!) para que o homem seja o mais infantil possível.
Eis minha resposta à questão: podemos viver sem deus? Sim, não precisamos de deus, de nenhum deles! Pouco importa se podemos provar ou não alguma coisa sobre deus. Deus é uma ideia anacrônica e infantilizadora. O fato é que muitos não teriam dificuldades em abandonar as fantasias religiosas se pudessem ter as questões existenciais respondidas.
Alá, Jesus, Jeová são apenas nomes que damos a essa falta de resposta e à nossa incapacidade de confrontar nossa breve existência sem muito sentido causal.
Talvez seja esse, enfim, o grande legado que o humanismo, a ciência e a razão tenham que deixar ao planeta: ensinar as pessoas a enfrentar a vida como ela se apresenta a nós, frágil, injusta e finita.
Ensinar que podemos ser caridosos e solidários apenas porque somos humanos, e isso é bom para a humanidade.

JORNAL HUMANITAS Nº 35 – MÊS DE MAIO DE 2015 – PÁGINA 4

O mais repudiado e amado intelectual do século XIX

Rafael Rocha – Jornalista - Recife/PE
Especial para o Humanitas

O amor que não ousa dizer o nome neste século é a grande afeição de um homem mais velho por um homem mais jovem como aquela que houve entre Davi e Jonathan. É aquele amor que Platão tornou a base de sua filosofia. É o amor que você pode achar nos sonetos de Michelangelo e Shakespeare. É aquela afeição profunda, espiritual que é tão pura quanto perfeita (...) Esse amor é mal entendido neste século, tão mal entendido que pode ser descrito como o amor que não ousa dizer o nome.
Estas palavras foram escritas e pronunciadas por Oscar Fingall O'Flahertie Wills Wilde (1854-1900), um dos maiores escritores de língua inglesa do século XIX.
Sofisticado, inteligente, dândi, adepto do esteticismo (da arte pela arte), escreveu contos (O Crime de Lord Arthur Saville), teatro (O Leque de Lady Windermere), ensaios (A alma do homem sob o socialismo), e romances (O Retrato de Dorian Gray).
Estamos aqui a lembrá-lo, já que no dia 17 deste mês de maio acontece o Dia Internacional contra a Homofobia.
No dia 27 de maio de 1895, em Londres, condenado pelo crime de homossexualidade (na época se chamava sodomia), o escritor inglês Oscar Wilde foi sentenciado a cumprir dois anos de prisão.
A decisão causou protestos nos círculos literários, mas Oscar Wilde teve de cumprir a pena.
Ele defendia o "belo" como a única solução contra tudo o que considerava maléfico à sociedade. Esse movimento visava transformar o tradicionalismo na época vitoriana, dando um tom de vanguarda às artes.
Como dramaturgo chegou a ter três peças em cartaz simultaneamente nos teatros ingleses.
Em 1887 e 1888 (seu período mais produtivo) lançou vários contos e novelas, como O Príncipe Feliz, O Fantasma de Canterville e outras histórias.
Em 1891, lançou sua obra-prima, O Retrato de Dorian Gray, que retrata a decadência moral humana. Mas, no seu apogeu literário, começaram a surgir os problemas pessoais. O que antes era boato quanto ao seu homossexualismo tornou-se real, e a partir daí deu-se início à perseguição ao escritor.
Na época, a hipocrisia como sempre se fazia presente e a homossexualidade era severamente condenada por lei na Inglaterra. Oscar Wilde tinha se envolvido com Lord Alfred Douglas (ou Bosie), filho do Marquês de Queensberry. Este, sabendo do relacionamento, enviou uma carta a Oscar Wilde, no Albermale Club, ofendendo-o com o sobrescrito: A Oscar Wilde, conhecido Sodomita.
O escritor decidiu processar o marquês por difamação, mas depois resolveu desistir do processo. Tarde demais, já que as provas da sua vida sexual começaram a aparecer. Novo processo contra ele foi instaurado e sua fama começou a desmoronar.
Suas obras e livros foram recolhidos e suas comédias retiradas de cartaz. O que lhe restava foi leiloado para as despesas do processo judicial. Passou dois anos na prisão e esse período lhe rendeu obras comoventes como A Balada do Cárcere de Reading (1898) e De Profundis, uma longa carta ao Lord Douglas.
Ao ser libertado, retirou-se para Paris, onde adotou o pseudônimo de Sebastian Melmouth e passou o resto dos seus dias em hotéis baratos, embriagando-se com absinto.
O espirituoso e brilhante escritor morreu de meningite e uma infecção no ouvido chamada cholesteotoma (doença muito comum antes do advento dos antibióticos) em um quarto barato de um hotel de Paris, às 9h50 do dia 30 de novembro de 1900. Deixou insubstituível obra que, mesmo depois de mais de um século, ainda é admirada e relembrada, tamanha a sua genialidade.
O escritor, poeta e dramaturgo jaz no cemitério Père Lachaise, o mais célebre de Paris, onde estão os túmulos de outras 105 grandes personalidades do mundo, como Balzac, Chopin, La Fontaine, Molière. Seu túmulo fica no número 83 da Avenue Carette, entre a Transversal 3 e a Avenue Circulaire. 
Amado por uns e repudiado por outros, Oscar Wilde e sua obra são dignos de admiração. O que se diz sobre a sua vida irregular deu à sua imagem uma aura de encantamento e atração ainda maiores. Em seus 46 anos de vida, o escritor rompeu as fronteiras do óbvio e tornou-se uma das maiores referências da literatura e do intelectualismo do século XIX.

JORNAL HUMANITAS Nº 35 – MAIO DE 2015 – PÁGINA 3

Refúgio Poético

Anseios
Rafael Rocha – Recife/PE
Do livro “Poemas Escolhidos”

Se eu tiver anseios de voar à lua
Terei de criar um míssil de estrelas
Alçando voo tenho de sabê-las
Para a rima não sair tão crua
Dentro da paisagem noturnal.

Sem a rima farei uma viagem
No farrapo de um velho cometa
Centelhando em busca de uma meta
Do tesouro sem ouro ou miragem
Qualquer coisa natural.

A lua poderá ser o corpo leve
Da mulher que acondicionou
Meu nome, meu sexo e meu amor
Abrindo alas à chuva e à neve
Para a paixão outonal.

De Ícaro ganharei asas modernas
À esta sede de voar na emoção
De uma nova e límpida canção
O tempo novo e as almas hodiernas
Marcam o caminho do final.

Tendo anseios de voar à noite
Com asas macias e mais leves
Da poesia dessas coisas breves
Homem estarei sempre em pernoite
No
teu corpo, minha amada casual.

Canta em mim o vício da paixão
E a máxima de quando é se entregar
Na vertigem do prazer de amar
Gosto de perder a razão
E ser eterno, único e total.
*****

Céu e oceano

 Antonio Carlos Gomes
Guarujá/SP

Os azuis se misturam no horizonte:
Não tenho passos, nem braços
para vencer o mundo.
Um dia me integrarei!
Hoje:
Quero uma choupana
Uma presença
Um olhar...
Sentir,
Apenas.
...........................
TRIBUTO A MIGUEL ÁNGEL ASTURIAS

Miguel Ángel Asturias Rosales foi um escritor e diplomata guatemalteco. Em 1965 foi-lhe atribuído o Prêmio Lênin da Paz e em 1967 o Nobel de Literatura.
Homem de elevada cultura, estudou, no decorrer da década de 1920, a sociedade e a religião dos Maias, traduzindo obras sagradas dessa sociedade pré-colombiana como o Popul Vuh. Formou-se em Medicina e em Direito, liderando movimentos pela reforma universitária. Destacou-se, contudo, como Professor de Antropologia em Sorbone (Paris/França).
Como novelista e contista, sua obra está enquadrada no estilo conhecido como realismo fantástico. Na Literatura, Miguel Asturias também não se afastou de seus temas prediletos de trabalho, a mitologia indígena e os problemas da própria terra que envolvem relações colonialistas.
Embora com menor expressividade em sua obra, escreveu também libretos de óperas e textos teatrais. Sua produção é sempre marcada pela crítica social e por elementos políticos. Miguel Ángel Asturias tornou-se reconhecido internacionalmente como escritor e intelectual. Faleceu no dia 9 de junho de 1974 na cidade de Madrid, Espanha.
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CARTAS DOS LEITORES

Portugal agradece ao Humanitas a lembrança da Revolução dos Cravos. Maristela Martins Morgado – Lisboa/PT
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Parabéns ao jornalista Rafael Rocha e colaboradores, por este magnífico trabalho.  Luiz Carlos Siqueira – Brasília/DF
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O Humanitas de abril/2015 está fazendo sucesso aqui em Salvador. Pedro S. Moura - Salvador/BA
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Um pequeno e grande jornal onde a verdade mostra sua cara. Henrique Sá Orloff – Itu/SP
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Parabéns a todos os que fazem este jornal. Um grande tributo à verdade. Marta Maria Lima de Sá – Olinda/PE

JORNAL HUMANITAS – Nº 35 – MAIO DE 2015 - PÁGINA DOIS

EDITORIAL
Fundamentalismo religioso abraça a homofobia

A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou, no dia 17 de maio de 1990, que a homossexualidade não é doença, distúrbio e nem perversão. Essa classificação da homossexualidade como doença vigorou de 1948 a 1990.
No Brasil, a hipocrisia predominante nos meios religiosos tentou aprovar, no ano de 2013 um projeto denominado “Cura Gay”, visando patologizar a homossexualidade em nosso país, que hoje possui cerca de 10% de sua população classificada como homossexual. Essa bandeira idiota de “Cura Gay” foi defendida por parlamentares federais vinculados aos partidos PSDB, PSC, PP, PMDB e PRB.
O projeto foi arquivado, mas a homofobia permanece sendo defendida e utilizada bastante nos meios políticos por parlamentares da bancada evangélica que, em vez de defenderem ações ligadas ao bem-estar do povo brasileiro, atuam na base do preconceito, discriminando pessoas, amigos e familiares de homossexuais no Brasil.
Entendemos por homofobia o preconceito ou discriminação e demais violências contra pessoas em função de sua orientação sexual e/ou identidade de gênero presumidas. Violências essas praticadas contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, familiares, amigos ou colegas de trabalho em função do não alinhamento destes às normas heterossexuais.
A homofobia se manifesta de diversas maneiras e em sua forma mais grave resulta em ações de violência verbal e física, podendo levar até o assassinato de gays, fato que vem acontecendo repetidamente em muitos rincões do país, com o apoio escancarado das religiões fundamentalistas organizadas e de muitos políticos ligados a essas seitas e que cultivam o ódio.
No dia 17 de maio os homossexuais e seus defensores devem se mobilizar e promover protestos contra a homofobia defendida pelos religiosos evangélicos fundamentalistas e relembrar que homossexualidade não é doença. 
Este é o momento certo para denunciar que 60% das vítimas da homofobia no Brasil são especialmente adolescentes e jovens e que 54,19% dos assassinatos acontecidos em nosso país no ano passado foram cometidos contra os gays.
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Vitória de Aécio Neves teria sido uma tragédia

Texto de Paulo Nogueira – jornalista

Texto transcrito de Portal Vermelho - www.vermelho.org.br

Os deputados do PSDB no Congresso Nacional votaram pela terceirização. Isso quer dizer o seguinte: votaram contra o povo.
Terceirização não é daquelas coisas que têm prós e contras para diferentes grupos da sociedade.
É imensamente favorável para os empresários e imensamente desfavorável para os trabalhadores.
Uma pesquisa mostra que os terceirizados trabalham três horas a mais, ganham 25% a menos e ficam 3,1 anos a menos no emprego. Que tal?
Aécio Neves na presidência significaria um amplo, total, irrestrito movimento do Brasil nesta direção antitrabalhadores.
Ele prometeu “medidas impopulares” a representantes da plutocracia no início de sua campanha – e a posição tucana na votação deu uma mostra sinistra do que seria aquilo.
Dos 46 deputados do PSDB, 45 votaram pela terceirização. (Mara Gabrili foi a exceção). Espera-se que isso seja lembrado em futuras eleições, quando os candidatos vierem com sua lengalenga social.
Comportamento oposto tiveram três partidos: PT, PSol e PCdoB. Todos os 61 deputados do PT rejeitaram o projeto.
Todos os cinco do PSol também. E apenas um deputado entre os 13 do PCdoB (Carlos Eduardo Cadoca/PE) disse sim.
Tudo isso considerado, é evidente que a presença de Dilma Rousseff na presidência da República é um contraponto ao atraso do Congresso. É presumível que ela vete o projeto.
Também é esperado que os 99% da sociedade acordem para o que está acontecendo via deputados federais: o 1%, como que insatisfeito com sua fatia abjeta de riqueza no patrimônio nacional, quer ainda mais. E colocou no Congresso, graças ao financiamento privado, deputados que estão prontos para fazer este serviço sujo.
O lado bom é que clarearam as coisas com este episódio, e os eleitores poderão fazer escolhas melhores nas eleições futuras.
Há que considerar, igualmente, o anteparo de Dilma Rousseff. Imagine Aécio Neves no Planalto. E mais Armínio Fraga na Fazenda. E mais Fernando Henrique Cardoso como conselheiro. (Que melancólico final de carreira para FHC ver, em silêncio criminoso, seu partido apoiar, maciçamente, um ataque brutal aos direitos trabalhistas). Seria uma calamidade uma vitória de Aécio Neves.
O PL da terceirização acaba com o blábláblá segundo o qual, dado o ajuste proposto por Dilma Rousseff, tanto fazia se ela ou Aécio Neves se elegessem. Seria pior com Aécio. Muito pior!

segunda-feira, 20 de abril de 2015

JORNAL HUMANITAS Nº 35 – MAIO/2015 – PRIMEIRA PÁGINA

O AMOR TEM DE OUSAR DIZER O NOME
"O amor que não ousa dizer o nome é aquela afeição profunda, espiritual que é tão pura quanto perfeita. Esse amor é mal entendido neste século, tão mal entendido que pode ser descrito como o amor que não ousa dizer o nome.”
Tais palavras foram escritas pelo poeta, escritor e dramaturgo Oscar Wilde, condenado em Londres, no dia 27 de maio de 1895, por ser homossexual.
Na época, a hipocrisia, como sempre, se fazia presente, e a homossexualidade era severamente condenada por lei na Inglaterra.
A decisão causou protestos nos círculos literários, mas Oscar Wilde teve de cumprir a pena.
Agora, em maio, no dia 17, acontece o Dia Internacional contra a Homofobia e o HUMANITAS decide homenagear na página 4 este grande nome da literatura inglesa.
Nossa convicção humanista é a de que o amor tem de ousar dizer o nome, pois, como bem disse nosso poeta Caetano Veloso: toda forma de amor vale a pena, toda forma de amor vale amar.
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MAIS:
Na página 5 William de Oliveira diz que Deus é uma ideia anacrônica e infantilizadora
*****
Antônio Carlos Gomes analisa a morte violenta na sociedade
na página 7
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No Refúgio Poético, página 3, tributo ao poeta Miguel
Ángel Asturias