EDITORIAL
EROTISMO E POLIAMOR
Neste mês de julho, resolvemos pousar os olhos sobre temas
um tanto polêmicos na sociedade de ontem e de hoje: o “erotismo” e as “uniões
poliafetivas”.
No
tocante ao erotismo, esse tema é inquietante desde o Século XVIII, mas as
mudanças de rumo socioculturais ocorridas do fim do Século XX até o início
deste Século XXI trouxeram novos rumos.
Estamos,
na verdade, a viver uma época ávida por sexo. E muitas vezes ficamos desconcertados
quando tomamos conhecimento sobre como o sexo era marginalizado de maneira
hipócrita em épocas passadas.
O
erótico, na verdade, ocupa um espaço muito importante em todas as sociedades,
sendo um componente fundamental da vida e do prazer da vida.
Se os
hipócritas não têm lugar no cérebro para aceitar o erótico, então não são
pessoas normais.
As
pessoas normais não desaprovam o erotismo, muito pelo contrário, utilizam e são
utilizadas eroticamente em suas vidas comuns.
No
outro lado da moeda, temos a união decorrente de dois homens e
uma mulher, duas mulheres e um homem, ou seja, a união poliafetiva, também
conhecida como relação múltipla, conjunta ou “poliamor”.
São muitas as divergências sobre esse tema polêmico, ainda
que já tenham sido feitas lavraturas em cartório legalizando esse tipo de
união.
Uma pergunta não quer calar: pode mesmo o Estado
impedir que pessoas convivam em união familiar e adquiram direitos decorrentes
dessa convivência, só por desejarem formar uma família diferente da tradicional?
Tanto para o erotismo e para a
união poliafetiva existem fortes barreiras a serem vencidas.
Sabemos, isso sim, que a energia
sexual é a força mais poderosa que o ser humano possui e responsável por toda a
vida existente no planeta.
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Ato de fé – Simone de
Beauvoir (*)
Desejei ardentemente ser a
garota que comunga na missa da manhã e tem uma certeza serena... No entanto,
não quero acreditar: “um ato de fé é o ato mais desesperado que
existe”.
Quero que meu desespero pelo
menos conserve sua lucidez. Não quero mentir para mim mesma.
Era-me mais fácil imaginar um
mundo sem criador do que um criador carregado com todas as contradições do
mundo.
Para
que minha vida me bastasse, precisava dar seu lugar à literatura. Em minha
adolescência e minha primeira juventude, minha vocação fora sincera, mas vazia;
limitava-me a declarar: “Quero ser uma
escritora”.
Tratava-se
agora de encontrar o que desejava escrever e ver em que medida o poderia fazer:
tratava-se de escrever.
Isso
me tomou tempo. Eu jurara a mim mesma, outrora, terminar com vinte e dois anos
a grande obra em que diria tudo; e tinha já trinta anos quando iniciei o meu
primeiro romance publicado: “A
Convidada”.
Na
minha família e entre minhas amigas de infância, murmurava-se que eu daria em
nada. Meu pai agastava-se: “Se tem
alguma coisa dentro de si, que o ponha para fora”..
Eu
não me impacientava.
Tirar
do nada e de si mesma um primeiro livro que, custe o que custar, fique em pé,
era empresa, bem o sabia, exigente de numerosíssimas experiências, erros,
trabalho e tempo, a não ser em virtude de um conjunto excepcional de
circunstâncias favoráveis.
Escrever
é um ofício, dizia-me, que se aprende escrevendo. Assim mesmo, dez anos é muito
e durante esse período rabisquei muito papel. Não creio que minha inexperiência
baste para explicar um malogro tão perseverante.
Não
era muito mais esperta quando iniciei “A
Convidada”. Cumpre admitir que encontrei então “um assunto” quando antes nada tinha a dizer? Mas há sempre o
mundo em derredor. O que significa esse nada? Em que circunstâncias, por que,
como as coisas se revelam como devendo serem ditas?
A
literatura aparece quando alguma coisa na vida se desregra. Para escrever - bem
o mostrou Blanchot no paradoxo de Aytré - a primeira condição está em que a
realidade deixe de ser natural; somente então a gente é capaz de vê-la e de
mostrá-la.
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(*) Simone de Beauvoir – filósofa
existencialista, escritora e ativista política francesa. (1908-1986)
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