quinta-feira, 27 de outubro de 2016

HUMANITAS Nº 53 – NOVEMBRO DE 2016 – PÁGINA 8

Para onde vão os silêncios quando calamos a verdade?
Especial para o Humanitas
Texto de Ana Maria Leandro - uma das principais colaboradoras do Humanitas -  é escritora e jornalista. Atua em Belo Horizonte/MG

Quero ver quem tem a coragem de responder sinceramente, com transparência e de forma objetiva à pergunta da personagem “Mafalda” do cartunista Quino. Para onde vão os silêncios quando calamos a verdade?”
Eu diria: “Ah! Mafalda, não faça perguntas difíceis de responder”. Difíceis não porque não saibamos as respostas, mas porque elas nos doem. Existem verdades que são mantidas muito bem escondidas por uma vida inteira!
Talvez, Mafalda, um dia, quando você crescer, você não fará essas perguntas difíceis, cujas respostas sejam dolorosas. Você é muito inteligente e já sabe as respostas antes de perguntar. Só faz essas perguntas para ver como os adultos se saem. Mas os adultos têm dentro de si uma caixinha invisível, onde escondem as verdades que não querem encarar.
Mas nós, adultos, devemos no mínimo refletir sobre a pergunta da Mafalda. Quem sabe esta seja a razão de passarmos a vida desejando o amanhã, que nos traga uma nova e bela realidade, que não precisemos esconder na pesada caixinha dos segredos. O que nos pesa é a herança triste das realidades silenciosas.
De vez em quando tenho um lindo sonho, todo colorido, cheio apenas das realidades de SER e de VIVER. Aliás, talvez todos nós sonhemos com este mundo maravilhoso. Então acordamos de vez em quando num assomo de coragem e nos lançamos no desafio de fazer este mundo onde a realidade é tão linda, que não precisa ser escondida em nenhuma caixinha interior.
Mas não temos a competência pata tornar realidade o sonho...
Alegrias saltitantes, em tempos raros e vez em quando mais frequentes, daqui e dali vão segurando a nossa vida, apesar da mágoa desta incompetência.
Para intermediar os tempos vazios de alegria, ficamos a viver de ilusões místicas, se não for o bem que “virá” ainda em vida, pelo menos, quem sabe, o mundo do “depois da vida”.
O céu fulgurante do paraíso atrai irresistivelmente.
Existem “homens-bomba” que crêem tanto nisso, que se rebentam para experimentar esse “depois”.  Há fartura de fontes de culturas, escritos e crenças, para saciar este sonho do paraíso.
Naturalmente porque, na realidade, a manutenção de tais culturas rendem bastante, o que faz com que permaneçam através dos milênios.
E a maioria acha que vale a pena se utilizar dessas muletas...
Veja por exemplo a política vigente em nosso país.
Muitos políticos vivem a prometer o país das maravilhas. E repetem anos a fio a mesma ladainha de promessas, e o povo, cansado de sofrer, se esquece dos sofrimentos para tentar “de novo”, para ver se desta vez “dá certo”.
 Muitos se aproveitam largamente dessa eterna esperança humana, para viver milhões de vezes melhor do que todos que acreditaram. Fala-se, por exemplo, em “redução de gastos do governo”, mas nem se toca na possibilidade de redução dos ganhos nababescos dos líderes. Aqueles mesmo que fizeram promessas de melhoria para o povo.
Eles as cumpriram sim: para si e para a própria família!...
Pergunte a eles depois, “Mafalda”, para onde foram as promessas que fizeram ao povo? Vão desconversar e enviar as respostas para as caixinhas que têm dentro de si. Silêncio sobre a realidade.
Mas você “Mafalda” ou melhor, Quino, o criador de seu personagem, sabe muito bem a resposta... 

HUMANITAS Nº 53 – NOVEMBRO DE 2016 – PÁGINA 7

A morte dentro da vida e a vida dentro da morte
Especial para o Humanitas
Texto de Carmén Bragança Vázquez. Brasileira autodidata. Mora atualmente em Lisboa, Portugal

Sejamos realistas. A vida de um ser humano na Terra dentro da escala de tempo do planeta é um rápido piscar de olhos. Viemos do Nada e vivemos para retornar ao Nada.
Então, qual o sentido mesmo da vida? Se estamos fadados a sumir do mapa de um jeito ou de outro, faz alguma diferença o que fazemos de nossas vidas?
Ainda que possamos influenciar a vida de outros seres humanos, eles também estão condenados à morte.
Uma pergunta que muita gente faz: a morte torna a vida sem sentido?
Na verdade, a morte obriga o ser humano a sentir que a vida não pode ser desperdiçada. Temos de viver cada minuto e aproveitar cada minuto e segundo como se fossem os últimos.
Consideremos que a morte é irrelevante para a questão do sentido da vida, porque se os seres humanos fossem imortais, a questão sobre qual é o objetivo de viver teria continuidade.
Assim quando alguém afirma que a vida é sem sentido porque termina em morte, está simplesmente querendo dizer que tudo o que tem sentido precisa durar para sempre.
Mas esse não é o caso. A vida não precisa ser eterna para ter sentido. Temos que criar um objetivo e um sentido para a vida, independentemente de nossas vidas servirem ou não a um propósito.
Se existisse um deus consciente, tudo seria irrelevante, pois o valor que ele atribuiria às nossas vidas não seria o mesmo que nós atribuiríamos.
O dia 2 de novembro é dedicado a lembrar a morte daqueles que já partiram. Uma data criada pelo homem e pelas religiões. As pessoas lembram seus entes queridos, visitam seus túmulos e neles depositam flores, acendem velas e fazem orações.
Tentar saber qual o objetivo e qual o sentido da vida é descobrir qual o objetivo e por qual motivo temos de morrer. Não temos razão alguma para acreditar que a consciência humana continua a existir depois da morte, já que, cientificamente falando, as evidências são bastantes fortes para crer que .a consciência depende do funcionamento do cérebro e, portanto, a vida mental/corporal se acaba com a morte deste.
Em vários setores da sociedade ocidental a morte é vista como um castigo. Mas não é assim no oriente, pois lá ela simboliza o renascimento. No ocidente, é tratada como uma espécie de prática criminosa, escondendo-a das crianças, sendo desdenhada pelos jovens e afastada do pensamento dos mais velhos.
Não pretendo me alongar em questões místicas nem religiosas no que concerne ao fim da existência humana, ainda que eu saiba que no mundo oriental, budistas, espíritas e espiritualistas acreditam na vida depois da morte, onde a alma sofre uma transformação, cuja finalidade é passar por mais provas através da vida corporal.
É coisa comum na mente humana temer a morte. É coisa comum ainda querer viver durante anos e retardar o envelhecimento.
O elixir da imortalidade foi procurado na alquimia e ainda hoje se procura.
O segredo, porém, está no desenvolvimento científico para que ocorra a consecução desse anseio. Pensando melhor, não existe segredo, desde que ocorram melhores condições de saneamento básico, vacinas e combate sistemático às doenças. Assim sendo, ocorrerá aumento de mais anos de vida para os seres humanos.
Entre a vida e a morte existe muito de fascinante e misterioso e não há quem não tema algo que não conhece.
Ir para o Nada nos leva a um sono sem fim como bem disse o imperador Napoleão Bonaparte:
“A morte é um sono sem sonhos”.

HUMANITAS Nº 53 – NOVEMBRO DE 2016 – PÁGINA 6

Campos de concentração no Ceará
Especial para o Humanitas
Juarez Pedrossiano Goitá - Fortaleza/CE

Muito anteriores aos campos de concentração nazista na Alemanha, no Nordeste brasileiro foram criados campos, também chamados de “Currais Humanos” ou “Currais do Governo”, pelo Instituto de Obras Contra as Secas (IOCS), atual Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), que não entraram para os livros de história.
Esses campos de concentração demonstram perfeitamente como os governos tratavam as questões sociais no Brasil, não atendendo à necessidade dos pobres, mas sim às exigências dos ricos e afortunados, nas secas de 1915 e 1932.
O objetivo dos campos era evitar que os retirantes alcançassem Fortaleza, trazendo “o caos, a miséria, a moléstia e a sujeira”, como informavam os boletins do poder público da época.
Na Grande Seca de 1932, cerca de 73 mil flagelados foram confinados nesses campos onde as condições eram desumanas, o que resultou em inúmeras mortes.
Ainda durante essa seca, flagelados cearenses foram enviados para o combate nas trincheiras da Revolução de 1932 em São Paulo.
Muitas dessas pessoas foram tiradas de suas casas contra a vontade para “se unirem” nos tais campos criados pelo Executivo.
Quando retornaram para o lugar onde moravam, descobriram que suas casas e terras tinham sido invadidas e tomadas por “coronéis” locais, que não haviam sido obrigados a aderir ao “programa do govern”.
Os temores de invasões e saques dos flagelados da seca em Fortaleza foram as razões para essa estratégia do governo estadual - isso já acontecera na seca de 1877, quando sertanejos famintos invadiram a capital cearense, atemorizando a população urbana.
Os sertanejos alojados em tais currais recebiam algum cuidado e comida, e em troca eram colocados a trabalhar nas frentes de obras, vigiados por soldados.
A classe dominante urbana também temia as doenças, e assim as pessoas pobres eram trancadas em lugares onde as epidemias encontravam o ambiente perfeito para proliferar, mas isso não era problema para os ricos, desde que os doentes ficassem longe.
A Igreja Católica, também se fez presente nesses “currais”, levando aos miseráveis famintos o que dizia ser a palavra de Deus, para que todos pudessem ser melhor controlados.
Os padres pregavam nos púlpitos após as missas aos flagelados, que todos deviam se confortar com a vontade de Deus, pois “São Sebastião livraria da peste, e que aquela seca era para purgar os pecados deles”.
O escritor Francisco Magalhães Martins, disse em seu livro de contos Mundo Agreste, que:”o comboio apanhava mais flagelados em cada estação – Pinheiro, Novas Russas, Ipueiras. Nos vagões se confundiam homens, mulheres, meninos e velhos, com os bichos brutos (...) Também, em promiscuidade, os sadios e os doentes – tuberculosos, epiléticos, assezoados, até loucos (...)”.
“(...)Vinha gente de diferentes regiões – do centro e dos confins do Estado, do Alto Jaguaribe”.
Todo um aparato coercitivo era justificado pelo medo que as aglomerações de retirantes causavam à população. As doenças contagiosas aterrorizavam as classes dominantes e todos temiam que elas extrapolassem os “muros dos currais” e atingissem as
famílias distintas”. No campo ou curral do Ipu, seis a sete era a média de mortos por dia. Entre abril de 1932 e março de 1933 registraram-se milhares de mortos.
Toda documentação desses genocídios e infames campos de concentração tupiniquins tem sido oculta ao longo das décadas, embora haja hoje uma ação na justiça solicitando a identificação via DNA, de todos os mortos sepultados em valas comuns e seu translado para cemitérios regulares.
A Justiça cearense extinguiu as ações sem julgamento de mérito, tentando com isso fazer esquecer essa página negra da nossa história.
Pleiteia-se até hoje indenização para os familiares dos sobreviventes.

HUMANITAS Nº 53 – NOVEMBRO DE 2016 – PÁGINA 5

O homem diante da morte
Especial para o Humanitas
Texto de Rafael Rocha. Jornalista, poeta e editor-geral deste Humanitas. Mora no Recife/PE

Uma vez perguntaram a Confúcio, filósofo chinês do século VI de antes da Era Comum: o que o surpreende mais na humanidade?
E ele respondeu que "os homens perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recuperá-la. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam por não viver no presente nem no futuro. Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido..."
A vida traz para a consciência humana espanto e temor. Tanto que essa frase dita por Confúcio reflete o normal do estar no mundo criado pelo homem. Juntar dinheiro para ter mais do que se pode ter, esquecendo o bem viver do momento presente e de que é um ser mortal e passageiro.
Sabemos, sim, que vida e morte são os limites extremos da existência. Quando a vida irrompe, ela está desafiando a morte e quando a morte chega vence o desafio com a vida. Na verdade, o homem começa a morrer a cada dia que passa e ainda que a morte mostre a finitude do ser humano no planeta, ela é algo desafiador para a consciência do existir.
O homem luta contra a morte. No mundo ocidental o medo de morrer ou de ver partir para sempre do nosso convívio as pessoas que amamos causa uma dor insuportável, mas isso está dentro do contexto de nossa cultura.
Somos seres finitos, mas não aceitamos a nossa condição de simples mortais. O medo da morte alcança profundamente a mente do homem e isso faz com que ele deixe de viver e curtir a vida como ela merece.
É tão certo esse fato que o homem cria para si religiões e crenças e fornece a elas papéis relevantes no seu cotidiano, tudo para enfrentar a realidade do morrer.
Nessas crenças, ele inventa salvação da alma, paraíso para os bons, castigo e inferno para os maus, e continuação da vida em outro plano psíquico ou espiritual, e ainda reencarnação do espírito de um ser já falecido em outro corpo e em outra vida.
Não adiantam muito essas ideias preconcebidas porque morrer é algo irreversível. Assim, o homem busca entender o sentido da vida e se interroga sobre o seu objetivo de estar no mundo, sem, no entanto, conseguir explicações ainda que complicadas para as suas inquirições.
Ele não leva em conta o conselho do filósofo chinês quando diz “para quê preocuparmo-nos com a morte? A vida tem tantos problemas que temos de resolver primeiro”. A forma principal de todo e qualquer ser humano ao lidar com a morte é de prescindir dela, isto é, eliminá-la da sua vida.
Para o homem, morrer é algo inimaginável e dentro de sua consciência não acredita que isso possa lhe acontecer um dia.
Como bem disse Sigmund Freud, “... o adulto civilizado não admitirá de bom grado nos seus pensamentos a morte de outra pessoa, sem aparecer aos seus próprios olhos como insensível ou mau. E muito menos se permitirá pensar na morte de outro quando a tal acontecimento está ligado um ganho de liberdade, de fortuna ou de posição social”. Nada disso, porém, evita que a morte ocorra.
Só que quando ela acontece, o ser humano fica abalado nas suas convicções, buscando explicações casuais como o fato de que ocorreu por meio de algum acidente, de uma enfermidade ou pela idade avançada.
Portanto, o homem rebaixa a morte a uma simples casualidade.
A angústia gerada ao entrar em contato com a fatalidade da morte, faz com que o ser humano tente vencê-la, acionando para esse fim, diversos mecanismos de defesa, expressos através de fantasias inconscientes.
Assim, é comum a fantasia de existir vida após a morte; de existir um mundo paradisíaco, regado pelo princípio do prazer e onde não há sofrimento. As mais diversas religiões apoiam essa fantasia.

HUMANITAS Nº 53 – NOVEMBRO DE 2016 – PÁGINA 4

Apego x apreço
Especial para o Humanitas
Texto de Sérgio Alves. Professor de Matemática. Leciona e mora na cidade do Recife/PE

Paciência e humildade. Toda vez que estivermos ávidos por respostas, devemos lembrar ou praticar o exercício da paciência e da humildade. O que sabemos é suficiente?
Ultimamente temos percebido que a ilusão do consumismo exagerado está a todo vapor.
Poucas pessoas se contentam com o material recebido durante o curto prazo de tempo que é a vida, raríssimas pessoas pedem somente o carro ou a casa.
Diante dessa afirmação, estaremos crescendo espiritualmente?  Qual a diferença entre o apego e o apreço?
Segundo alguns dicionários, o apreço é assim definido: “... valor em que é tida alguma coisa – consideração e estima dispensadas a alguém – afeto – admiração – coleguismo...”
 Como primeira definição, notemos que o apreço está atrelado, vinculado a um valor, a uma medida. Como segunda definição, notemos que o apreço está vinculado à consideração e estima a alguém ou até mesmo um “coleguismo”.
Podemos então ter apreço pelo vizinho, podemos lhe atribuir um valor?
Tal procedimento é humano? Estamos enxergando o ser em toda sua plenitude?
Já quanto ao apego, os dicionários foram mais felizes nas definições: “...um sentimento de simpatia – de bem querer que alguém tem do outro alguém – sentimento de simpatia profunda – ato de unir-se...”.
O apego, acreditamos, faz limite com o sentimento mais purificado e humano que existe: o amor.
Estamos exercitando o amor ao próximo?
Estamos tentando entender a dor do próximo? Poucas pessoas, poucas mesmo.
Porém, devemos nos apegar à vida ou ter apreço pela vida? O que importa ao espírito, se ao infinito ele pertence?
Datas, fases, épocas todas pertencem ao infinito. Apegamo-nos ao tempo, às datas, às épocas e todo esse apego nos deixa estáticos espiritualmente.
O escritor, Leonardo Rásica, autor do livro: “Sinais da Espiritualidade”, nos contempla com uma belíssima reflexão e explicação quanto ao apego à vida ou ao seu apreço.
“Nossa vida está contida em uma época e, como esta, também passa, é fugaz. Nem à própria vida devemos nos apegar...apreço sim, apego não...”. “O apreço nos permite apreciar (admirar) a vida. Já o apego nos impede de apreciá-la”.
E continua: “...o apego cria o medo fútil e irracional diante do inevitável: o ciclo da vida. Nada lhe satisfaz, tornando-se mesquinho, desconfiado, individualista”.
Quem tem o apego à vida como algo infindável, não oferece espaço ao amadurecimento. É escravo do consumismo exagerado. É um eterno insaciável. Está sempre ávido para o consumo, para a matéria.
Apego à própria vida não, apreço sim. Devemos escolher evoluir. Quando na busca por respostas, o exercício pela paciência e pela humildade é o caminho.
O exercício da resiliência no nosso dia a dia deverá ser a tônica dessa sociedade doente. Valorizemos e busquemos experiências em nossa curta trajetória na terra. Apreciemos a vida e façamos o seu desapego.

HUMANITAS Nº 53 – NOVEMBRO DE 2016 – PÁGINA 3

REFÚGIO POÉTICO

POETA DO MÊS -  Charles-Pierre Baudelaire (1821-1867) foi um poeta francês e um dos precursores do simbolismo. Seu principal livro “As Flores do Mal”, lançado em 1857, foi considerado um ultraje à opinião pública. Os exemplares foram recolhidos e o poeta obrigado a pagar cerca de 300 francos de multa.
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Canto de gratidão
Zélia Barreto
Recife/PE

Por entre escória
e escolhos,
fui escolhida
colhida
pela palavra.

Já que não moldo,
emolduro
a minha dor
e dou
como presente.

Cada coisa em seu lugar
Cada coisa em seu lugar
Cada coisa em seu lugar

- é a cantiga que se ouve
com as cantigas de ninar.

Onde é o lugar das coisas?

Última canção
Rafael Rocha - Recife/PE
Do livro “Poemas Escolhidos”

No momento de compor a última canção
lembre de escrever no papel a partitura.
Porque a letra dessa música é a figura
do amor intenso a morar no coração.

Lembre o quanto a vida foi uma loucura
na intensidade mais frenética da paixão
e que o ritmo musical deixa de ser ilusão
quando um sonho até hoje se perdura.

E que eu possa em qualquer espaço escutar
tua voz límpida cantando os tempos idos:
as alegrias e os momentos mais sofridos
trazendo a nós o saber o que foi amar.

Então assim poderemos sem lamentos
nas rimas da canção recriar laços
que mesmo alheios a velhos cansaços
são as relíquias de saudosos sentimentos.

Enfim, quando outras vozes passionais
cantarem a música inteira para o mundo
possamos regredir ao mais profundo
tempo de antanho que não volta mais.
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CARTAS DOS LEITORES

Gostaria de parabenizar aos colaboradores e editores do Humanitas pelo belo trabalho apresentado durante todos estes anos. Os elogios são extensivos, principalmente, para os textos do médico Antônio Carlos Gomes, inclusive para o espaço dado aos poetas. Muito bom este jornal! Cláudia Barros da Costa – São Paulo/SP
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A edição deste jornal denominado Humanitas segue uma linha muito específica, como qualquer pessoa pode ver. O que mais interessa, na verdade, é sentir o idealismo palpitante em todas as suas páginas e curtir temas polêmicos que mostram o elevado grau de conhecimento dos autores dos textos. Vale a pena ler este jornal. Maria do Carmo Siqueira de Albuquerque – Rio de Janeiro/RJ

HUMANITAS Nº 53 – NOVEMBRO DE 2016 – PÁGINA 2

EDITORIAL
A morte e os currais humanos

Logo no início deste mês de novembro temos o dia para lembrar os mortos. A data é inspirada em diversas tradições da Antiguidade e possui ligação direta com a doutrina da Igreja Católica.
A relação com quem morreu está presente em quase todas as culturas antigas. O cristianismo herdou esse costume do judaísmo. 
O feriado se espalhou pelo mundo ocidental a partir do século XV, mas o responsável pela instituição de uma data específica dedicada aos mortos foi o monge beneditino Odilo (ou Odilon) da abadia de Cluny, França (962-1049 EC).
Textos especiais para o HUMANITAS sobre a morte estão sendo apresentados nas PÁGINAS 5 e 7 desta edição, seguindo a nossa linha editorial, pois não discernimos indicação nenhuma de que o ser humano foi criado por um ser divino e inteligente.
Apenas observamos e seguimos a visão de que o objetivo ou o sentido de viver não possui nenhum propósito maior. Viemos do Nada e ao Nada retornaremos.
Vale aqui lembrar a frase de Epicuro, filósofo grego do período helenístico (341 a 270 antes da Era Comum): a morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais”.
E, sobre o Brasil, trazemos ao conhecimento dos leitores um fato a que poucos tiveram acesso. Os campos de concentração para os retirantes da seca, no Ceará. Tais campos eram denominados de “currais humanos” e foram criados principalmente durante a seca de 1915, e na de 1932, na Era Vargas.
O objetivo era um só. Proteger as “famílias distintas” de doenças, evitando que os retirantes alcançassem Fortaleza, trazendo o caos, a miséria e as epidemias.
Como sempre, a Igreja Católica, também se fez presente nesses “currais”, levando aos miseráveis famintos o que dizia ser a vontade de Deus, para que todos pudessem ser melhor controlados.
Indo contra todas as normas de humanidade era assim que os governos tratavam as questões sociais no Brasil, não atendendo à necessidade dos pobres, mas sim às exigências dos ricos, como até hoje ocorre.
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Ódio - Antônio Carlos Gomes (*)

Nunca vi tanto ódio como nos que se dizem religiosos. É o que assisti, estarrecido, este ano, em uma deplorável sessão da nossa Câmara dos Deputados. Aqueles que se diziam religiosos pregavam a exterminação dos dissidentes de sua crença “perfeita”, como se a Religião Cristã (a base da religião em nosso país) fosse a única existente na terra, e que nunca existiu nada antes ou depois.
Nas entrelinhas, os “religiosos” pregavam a morte, contrariando a pregação do Cristo que eles seguem. Absurdo maior é que pregam o neoliberalismo associado a seu credo. 
Nem todos sabem que o neoliberalismo se baseia no credo filosófico naturalista de Jean-Baptiste Say e Frédéric Bastiat originário em um dos pensamentos da Revolução Francesa, onde, confirmando o ataque à Igreja, um dos pilares da referida Revolução, afirma que o mundo não segue nenhuma ordem e não tem objetivos, portanto, uma ideologia individualista e sem deus.
A crença naturalista é oponente da doutrina social da Igreja, totalmente oposta ao socialismo de Marx.
Em toda a história do mundo os grandes holocaustos são religiosos. Foi o naturalismo, aproveitando os estudos de Darwin, que deu origem ao nazismo, com apoio inicial dos EUA e do Vaticano, em episódios ainda não bem estudados.
Este desconhecimento, aliado ao oportunismo de falsos religiosos, levam a um fundamentalismo e fascismo implícito, atribuindo a todos que defendem o social como ateus e inimigos, o que obviamente não corresponde à verdade, uma vez que todas doutrinas religiosas, diferentemente do neoliberalismo, são sociais e orientam o grupo onde se formaram a viver de melhor modo com sua família e seu povo. Sendo socialistas, portanto.
O cristianismo é socialista, sim!
Enquanto os que se dizem emissários de um senhor que não ouviram, os que se confessam ateus não pregam o ódio que veste agressivamente os defensores das religiões que desconhecem e imaginam. Isto tem o nome de fundamentalismo e, ao invés de orientar a sociedade para viver melhor, leva-a para a destruição.

 (*) Antônio Carlos Gomes é médico e poeta (Guarujá/SP)

AUTODIDATA (resposta ao posicionamento de um leitor)

Infelizmente, muitas pessoas não sabem o que vem a ser autodidata. Consideramos que antes de quaisquer críticas contra ser autodidata busquem informações. Um autodidata pode saber muito mais coisas e criar muito mais coisas do que outros considerados “gênios”, porque é livre para estudar e angariar conhecimentos nas mais diversas áreas do pensamento e das ciências. Para quem busca rebaixar o autodidatismo, como se o autodidata fosse apenas uma pessoa que copia o conhecimentos dos “gênios” e que fica em cima do muro, eis um pequeno resumo:
AUTODIDATA é a pessoa extremamente curiosa, que aprende de forma autônoma, por seu próprio esforço, através da pesquisa, buscando informações sobre determinado assunto. Passa por um processo de autoeducação. Quer descobrir tudo a respeito do seu objeto de interesse e para isso frequenta bibliotecas, consulta dicionários, enciclopédias, sites na web, faz pesquisa bibliográfica até acabar com todas as dúvidas que tenha.
Para o autodidata, o processo de pesquisa acaba sendo mais valioso que o próprio resultado, pois ao buscar uma informação, acaba se apropriando de vários outros conhecimentos.
Alguns autodidatas famosos: Bill Gates (fundador da Microsoft), Alexander Graham Bell (cineasta e inventor) Stanley Kubrick (cineasta), Leonardo da Vinci (pintor, engenheiro, cientista do Renascimento), Woody Allen (cineasta, musico, roteirista, escritor), Henry Ford (fundador da Ford), Charles Dickens (romancista), Walt Disney (cineasta, produtor e animador), Albert Einstein (físico), Jimi Hendrix (guitarrista, cantor, compositor e produtor), Santos Dumont (inventor do avião), George Harrsson (ex-guitarrista da banda inglesa The Beatles), José Saramago (escritor), Machado de Assis (escritor), Wolfgang Amadeus Mozart (grande nome da música), Steve Jobs (pioneiro do desenvolvimento dos microcomputadores) entre outros.


terça-feira, 25 de outubro de 2016

HUMANITAS Nº 53 – NOVEMBRO DE 2016 – PRIMEIRA PÁGINA

CIÊNCIA NEGA CRENÇA HUMANA
DE QUE EXISTE VIDA APÓS A MORTE

Na PÁGINA 5, o jornalista Rafael Rocha observa o quanto é comum a fantasia humana de que existe vida após a morte e que as mais diversas religiões apóiam esse mito. A autodidata Carmén Bragança Vásquez salienta na PÁGINA 7 que não temos razão alguma para acreditar que a consciência humana continua a existir depois da morte. Cientificamente falando, a consciência depende do funcionamento das células cerebrais e a vida mental/corporal se acaba com a morte do cérebro.
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Na PÁGINA 2, o médico e poeta Antônio Carlos Gomes disserta sobre o ódio visceral enraizado nos que se dizem religiosos
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A escritora e jornalista Ana Maria Leandro disserta sobre frase da personagem Mafalda, do cartunista Quino, na PÁGINA 8
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PREMIADO

Nosso colaborador Araken Vaz Galvão Sampaio, de Valença/BA, foi agraciado, em outubro, com o prêmio Jorge Amado 2016, pelo Conjunto da Obra, de acordo com a União Brasileira de Escritores/RJ
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CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO

Na PÁGINA 6, o escritor e colaborador Juarez Pedrossiano Goitá relembra os famos currais humanos do Ceará, que abrigaram flagelados da seca nos anos de 1915 e 1932