O homem diante da morte
Especial para o Humanitas
Texto de Rafael
Rocha. Jornalista, poeta e editor-geral deste Humanitas. Mora no
Recife/PE
Uma
vez perguntaram a Confúcio, filósofo chinês do século VI de antes da Era Comum:
o que o surpreende mais na humanidade?
E
ele respondeu que "os homens perdem
a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recuperá-la. Por
pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam
por não viver no presente nem no futuro. Vivem como se nunca fossem morrer e
morrem como se não tivessem vivido..."
A
vida traz para a consciência humana espanto e temor. Tanto que essa frase dita
por Confúcio reflete o normal do estar no mundo criado pelo homem. Juntar
dinheiro para ter mais do que se pode ter, esquecendo o bem viver do momento
presente e de que é um ser mortal e passageiro.
Sabemos,
sim, que vida e morte são os limites extremos da existência. Quando a vida
irrompe, ela está desafiando a morte e quando a morte chega vence o desafio com
a vida. Na verdade, o homem começa a morrer a cada dia que passa e ainda que a
morte mostre a finitude do ser humano no planeta, ela é algo desafiador para a
consciência do existir.
O
homem luta contra a morte. No mundo ocidental o medo de morrer ou de ver partir
para sempre do nosso convívio as pessoas que amamos causa uma dor insuportável,
mas isso está dentro do contexto de nossa cultura.
Somos
seres finitos, mas não aceitamos a nossa condição de simples mortais. O medo da
morte alcança profundamente a mente do homem e isso faz com que ele deixe de
viver e curtir a vida como ela merece.
É
tão certo esse fato que o homem cria para si religiões e crenças e fornece a
elas papéis relevantes no seu cotidiano, tudo para enfrentar a realidade do
morrer.
Nessas
crenças, ele inventa salvação da alma, paraíso para os bons, castigo e inferno
para os maus, e continuação da vida em outro plano psíquico ou espiritual, e
ainda reencarnação do espírito de um ser já falecido em outro corpo e em outra
vida.
Não
adiantam muito essas ideias preconcebidas porque morrer é algo irreversível.
Assim, o homem busca entender o sentido da vida e se interroga sobre o seu
objetivo de estar no mundo, sem, no entanto, conseguir explicações ainda que
complicadas para as suas inquirições.
Ele
não leva em conta o conselho do filósofo chinês quando diz “para quê preocuparmo-nos com a morte? A vida tem tantos problemas que
temos de resolver primeiro”. A forma principal de todo e qualquer ser
humano ao lidar com a morte é de prescindir dela, isto é, eliminá-la da sua
vida.
Para o homem,
morrer é algo inimaginável e dentro de sua consciência não acredita que isso
possa lhe acontecer um dia.
Como
bem disse Sigmund Freud, “... o adulto
civilizado não admitirá de bom grado nos seus pensamentos a morte de outra
pessoa, sem aparecer aos seus próprios olhos como insensível ou mau. E muito
menos se permitirá pensar na morte de outro quando a tal acontecimento está
ligado um ganho de liberdade, de fortuna ou de posição social”. Nada disso, porém, evita que a morte ocorra.
Só que quando ela acontece, o ser humano
fica abalado nas suas convicções, buscando explicações casuais como o fato de que
ocorreu por meio de algum acidente, de uma enfermidade ou pela idade avançada.
Portanto, o homem rebaixa a morte a uma
simples casualidade.
A angústia gerada ao entrar em contato com a fatalidade da
morte, faz com que o ser humano tente vencê-la, acionando para esse fim,
diversos mecanismos de defesa, expressos através de fantasias inconscientes.
Assim, é comum a fantasia de existir vida após a morte; de
existir um mundo paradisíaco, regado pelo princípio do prazer e onde não há
sofrimento. As mais diversas religiões apoiam essa fantasia.
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