A morte dentro da vida e a vida dentro
da morte
Especial para o Humanitas
Texto de
Carmén Bragança Vázquez. Brasileira autodidata. Mora atualmente em Lisboa,
Portugal
Sejamos
realistas. A vida de um ser humano na Terra dentro da escala de tempo do
planeta é um rápido piscar de olhos. Viemos do Nada e vivemos para retornar ao
Nada.
Então, qual
o sentido mesmo da vida? Se estamos fadados a sumir do mapa de um jeito ou de
outro, faz alguma diferença o que fazemos de nossas vidas?
Ainda que
possamos influenciar a vida de outros seres humanos, eles também estão
condenados à morte.
Uma pergunta
que muita gente faz: a morte torna a vida sem sentido?
Na verdade,
a morte obriga o ser humano a sentir que a vida não pode ser desperdiçada.
Temos de viver cada minuto e aproveitar cada minuto e segundo como se fossem os
últimos.
Consideremos
que a morte é irrelevante para a questão do sentido da vida, porque se os seres
humanos fossem imortais, a questão sobre qual é o objetivo de viver teria
continuidade.
Assim quando
alguém afirma que a vida é sem sentido porque termina em morte, está
simplesmente querendo dizer que tudo o que tem sentido precisa durar para
sempre.
Mas esse não
é o caso. A vida não precisa ser eterna para ter sentido. Temos que criar um
objetivo e um sentido para a vida, independentemente de nossas vidas servirem
ou não a um propósito.
Se existisse
um deus consciente, tudo seria irrelevante, pois o valor que ele atribuiria às
nossas vidas não seria o mesmo que nós atribuiríamos.
O dia 2 de
novembro é dedicado a lembrar a morte daqueles que já partiram. Uma data criada
pelo homem e pelas religiões. As pessoas lembram seus entes queridos, visitam
seus túmulos e neles depositam flores, acendem velas e fazem orações.
Tentar saber
qual o objetivo e qual o sentido da vida é descobrir qual o objetivo e por qual
motivo temos de morrer. Não temos razão alguma para acreditar que a consciência
humana continua a existir depois da morte, já que, cientificamente falando, as
evidências são bastantes fortes para crer que .a consciência depende do
funcionamento do cérebro e, portanto, a vida mental/corporal se acaba com a
morte deste.
Em vários
setores da sociedade ocidental a morte é vista como um castigo. Mas não é assim
no oriente, pois lá ela simboliza o renascimento. No ocidente, é tratada como
uma espécie de prática criminosa, escondendo-a das crianças, sendo desdenhada
pelos jovens e afastada do pensamento dos mais velhos.
Não pretendo
me alongar em questões místicas nem religiosas no que concerne ao fim da
existência humana, ainda que eu saiba que no mundo oriental, budistas,
espíritas e espiritualistas acreditam na vida depois da morte, onde a alma
sofre uma transformação, cuja finalidade é passar por mais provas através da
vida corporal.
É coisa
comum na mente humana temer a morte. É coisa comum ainda querer viver durante
anos e retardar o envelhecimento.
O elixir da
imortalidade foi procurado na alquimia e ainda hoje se procura.
O segredo,
porém, está no desenvolvimento científico para que ocorra a consecução desse
anseio. Pensando melhor, não existe segredo, desde que ocorram melhores
condições de saneamento básico, vacinas e combate sistemático às doenças. Assim
sendo, ocorrerá aumento de mais anos de vida para os seres humanos.
Entre a vida
e a morte existe muito de fascinante e misterioso e não há quem não tema algo
que não conhece.
Ir para o
Nada nos leva a um sono sem fim como bem disse o imperador Napoleão Bonaparte:
“A morte é um sono sem sonhos”.
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