quinta-feira, 27 de outubro de 2016

HUMANITAS Nº 53 – NOVEMBRO DE 2016 – PÁGINA 7

A morte dentro da vida e a vida dentro da morte
Especial para o Humanitas
Texto de Carmén Bragança Vázquez. Brasileira autodidata. Mora atualmente em Lisboa, Portugal

Sejamos realistas. A vida de um ser humano na Terra dentro da escala de tempo do planeta é um rápido piscar de olhos. Viemos do Nada e vivemos para retornar ao Nada.
Então, qual o sentido mesmo da vida? Se estamos fadados a sumir do mapa de um jeito ou de outro, faz alguma diferença o que fazemos de nossas vidas?
Ainda que possamos influenciar a vida de outros seres humanos, eles também estão condenados à morte.
Uma pergunta que muita gente faz: a morte torna a vida sem sentido?
Na verdade, a morte obriga o ser humano a sentir que a vida não pode ser desperdiçada. Temos de viver cada minuto e aproveitar cada minuto e segundo como se fossem os últimos.
Consideremos que a morte é irrelevante para a questão do sentido da vida, porque se os seres humanos fossem imortais, a questão sobre qual é o objetivo de viver teria continuidade.
Assim quando alguém afirma que a vida é sem sentido porque termina em morte, está simplesmente querendo dizer que tudo o que tem sentido precisa durar para sempre.
Mas esse não é o caso. A vida não precisa ser eterna para ter sentido. Temos que criar um objetivo e um sentido para a vida, independentemente de nossas vidas servirem ou não a um propósito.
Se existisse um deus consciente, tudo seria irrelevante, pois o valor que ele atribuiria às nossas vidas não seria o mesmo que nós atribuiríamos.
O dia 2 de novembro é dedicado a lembrar a morte daqueles que já partiram. Uma data criada pelo homem e pelas religiões. As pessoas lembram seus entes queridos, visitam seus túmulos e neles depositam flores, acendem velas e fazem orações.
Tentar saber qual o objetivo e qual o sentido da vida é descobrir qual o objetivo e por qual motivo temos de morrer. Não temos razão alguma para acreditar que a consciência humana continua a existir depois da morte, já que, cientificamente falando, as evidências são bastantes fortes para crer que .a consciência depende do funcionamento do cérebro e, portanto, a vida mental/corporal se acaba com a morte deste.
Em vários setores da sociedade ocidental a morte é vista como um castigo. Mas não é assim no oriente, pois lá ela simboliza o renascimento. No ocidente, é tratada como uma espécie de prática criminosa, escondendo-a das crianças, sendo desdenhada pelos jovens e afastada do pensamento dos mais velhos.
Não pretendo me alongar em questões místicas nem religiosas no que concerne ao fim da existência humana, ainda que eu saiba que no mundo oriental, budistas, espíritas e espiritualistas acreditam na vida depois da morte, onde a alma sofre uma transformação, cuja finalidade é passar por mais provas através da vida corporal.
É coisa comum na mente humana temer a morte. É coisa comum ainda querer viver durante anos e retardar o envelhecimento.
O elixir da imortalidade foi procurado na alquimia e ainda hoje se procura.
O segredo, porém, está no desenvolvimento científico para que ocorra a consecução desse anseio. Pensando melhor, não existe segredo, desde que ocorram melhores condições de saneamento básico, vacinas e combate sistemático às doenças. Assim sendo, ocorrerá aumento de mais anos de vida para os seres humanos.
Entre a vida e a morte existe muito de fascinante e misterioso e não há quem não tema algo que não conhece.
Ir para o Nada nos leva a um sono sem fim como bem disse o imperador Napoleão Bonaparte:
“A morte é um sono sem sonhos”.

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