EDITORIAL
A morte e os currais humanos
Logo no início deste mês de novembro temos o dia para
lembrar os mortos. A data é inspirada em
diversas tradições da Antiguidade e possui ligação direta com a doutrina da
Igreja Católica.
A relação com quem morreu está
presente em quase todas as culturas antigas. O cristianismo herdou esse costume
do judaísmo.
O
feriado se espalhou pelo mundo ocidental a partir do século XV, mas o
responsável pela instituição de uma data específica dedicada aos mortos foi o
monge beneditino Odilo (ou Odilon) da
abadia de Cluny, França (962-1049 EC).
Textos especiais para o HUMANITAS sobre a morte estão sendo apresentados nas PÁGINAS 5 e 7 desta edição, seguindo a nossa linha editorial, pois não
discernimos indicação nenhuma de que o ser humano foi criado por um ser divino
e inteligente.
Apenas observamos e seguimos a visão de que o objetivo
ou o sentido de viver não possui nenhum propósito maior. Viemos do Nada e ao
Nada retornaremos.
Vale aqui lembrar a frase de Epicuro, filósofo grego do período helenístico (341 a 270 antes da Era
Comum): “a morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a
morte, e quando existe a morte, não existimos mais”.
E, sobre o Brasil, trazemos ao conhecimento dos
leitores um fato a que poucos tiveram acesso. Os campos de concentração para os
retirantes da seca, no Ceará. Tais campos eram denominados de “currais humanos” e foram
criados principalmente durante a seca de 1915, e na de 1932, na Era Vargas.
O objetivo era um só. Proteger as “famílias distintas” de doenças, evitando que os retirantes
alcançassem Fortaleza, trazendo o caos, a miséria e as epidemias.
Como sempre, a Igreja Católica, também se fez presente
nesses “currais”, levando aos miseráveis famintos
o que dizia ser a vontade de Deus, para que todos pudessem ser melhor controlados.
Indo contra todas as normas de humanidade era assim
que os governos tratavam
as questões sociais no Brasil, não atendendo à necessidade dos pobres, mas sim
às exigências dos ricos, como até hoje ocorre.
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Ódio - Antônio Carlos Gomes (*)
Nunca vi tanto ódio como nos que se dizem religiosos. É
o que assisti, estarrecido, este ano, em uma deplorável sessão da nossa Câmara
dos Deputados. Aqueles que se diziam religiosos pregavam a exterminação
dos dissidentes de sua crença “perfeita”,
como se a Religião Cristã (a base da religião em nosso país) fosse a única
existente na terra, e que nunca existiu nada antes ou depois.
Nas entrelinhas, os “religiosos” pregavam a morte, contrariando a pregação do
Cristo que eles seguem. Absurdo maior é que pregam o neoliberalismo associado a
seu credo.
Nem todos sabem que o neoliberalismo se baseia no
credo filosófico naturalista de Jean-Baptiste Say e Frédéric Bastiat originário
em um dos pensamentos da Revolução Francesa, onde, confirmando o ataque à
Igreja, um dos pilares da referida Revolução, afirma que o mundo não segue
nenhuma ordem e não tem objetivos, portanto, uma ideologia individualista e sem
deus.
A crença naturalista é oponente da doutrina social da
Igreja, totalmente oposta ao socialismo de Marx.
Em toda a história do mundo os grandes holocaustos são
religiosos. Foi o naturalismo, aproveitando os estudos de Darwin, que deu
origem ao nazismo, com apoio inicial dos EUA e do Vaticano, em episódios ainda
não bem estudados.
Este desconhecimento, aliado ao oportunismo de falsos
religiosos, levam a um fundamentalismo e fascismo implícito, atribuindo a todos
que defendem o social como ateus e inimigos, o que obviamente não corresponde à
verdade, uma vez que todas doutrinas religiosas, diferentemente do
neoliberalismo, são sociais e orientam o grupo onde se formaram a viver de
melhor modo com sua família e seu povo. Sendo socialistas, portanto.
O cristianismo é socialista, sim!
Enquanto os que se dizem emissários de um senhor que
não ouviram, os que se confessam ateus não pregam o ódio que veste
agressivamente os defensores das religiões que desconhecem e imaginam. Isto tem
o nome de fundamentalismo e, ao invés de orientar a sociedade para viver
melhor, leva-a para a destruição.
(*) Antônio Carlos Gomes é médico e poeta
(Guarujá/SP)
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