segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

HUMANITAS Nº 30 – DEZEMBRO DE 2014 – PÁGINA 8

O DIREITO À VIDA E À MORTE É SOMENTE DO ESTADO
Antônio Carlos Gomes – Guarujá/SP

No Brasil, bem como em Portugal a eutanásia é proibida. Eutanásia seria a possibilidade de abreviar o sofrimento de uma pessoa portadora de uma doença incurável, sujeita a intenso sofrimento.
Embora em algumas nações da Europa já esteja regulamentada a morte assistida, no Brasil e em Portugal, não se permite abreviar a dor incurável, mesmo em doentes em coma profundo sem chances medicas de retorno à vida.
O poder de decisão da vida nesses casos, no Brasil e em alguns países, é do Estado. Além da discussão filosófica sobre vida e morte, fator que direciona a lei, temos que considerar a tradição ocidental.
Considerando o livro Bíblia como a tradição oral mais antiga que dispomos, vemos que Moisés ao descer do monte com as Tábuas das Leis encontrou seu povo adorando o Bezerro de Ouro, portanto, rejeitando seu deus.
Num acesso de fúria ou de liderança, quebrou as tábuas de pedra e matou três mil homens de seu grupo como exemplo para os demais.
Fez novas tábuas e tanto nas destruídas como nas novas havia o mandamento que dizia: NÃO MATARÁS. Uma demonstração clara que a vida e a morte estavam com o líder e não era atributo individual.
Na história das cidades-estados gregas o trabalho era realizado por escravos e as guerras tinham como objetivo conseguir trabalhadores que seriam escravizados, além dos saques e estupros.
Esses indivíduos escravos passaram a ser propriedade dos cidadãos gregos, o que persistiu em todas as mudanças de domínio imperial: do Império de Alexandre até Roma.
Logicamente o escravo era um bem valioso por ter sido conseguido em luta de vida e morte.
Ele produzia a riqueza do Estado e reproduzia, gerando mais lucro com seus filhos.
É claro que não poderiam ter autonomia da própria vida.
A filosofia de Hegel que inclui a dialética Senhor Escravo e os estudos de Marx, sempre baseados em História, que era sua formação, ajudam a concluir que “o homem é também mercadoria”. Atualmente, a propriedade da vida foi devolvida ao sujeito em algumas nações, de modo completo ou parcial (o aborto também cabe neste raciocínio).
Em nosso país, a medicina encontrou como saída a especialidade Cuidados Paliativos, onde o doente em coma ou grande sofrimento será amparado de maneira digna até a morte natural, não incluindo desligar os aparelhos que prolongam a vida por muito tempo.
Não é o ideal, mas é melhor que a solução anterior onde o doente ou ficava em um quarto adaptado, sob a guarda da família, sem ninguém saber como proceder com toda parafernália de aparelhos; ou era transferido para uma clínica de doentes terminais, onde ficava sem nenhum contato afetivo até que a morte vencesse as máquinas.
A jurisprudência moderna diz que a eutanásia tem caráter criminoso, ao violar a proteção irrecusável da vida. Assim, viver é o bem mais valioso, inalienável e intransferível, primeiro direito da pessoa humana, que se deve proteger acima de todos os demais.
Tudo isso fica sob a tutela do Estado contra a vontade e os direitos do indivíduo. Portanto, é um direito humano indisponível.
Resumindo, quando se toma a vida como bem supremo não só é proibida a eutanásia, mas também impede que o doente terminal ponha termo a sofrimentos insuportáveis.
Isso faz com que o doente ganhe sofrimentos ainda maiores causados pelos tratamentos fúteis e pela obstinação terapêutica. 
O maior paradoxo é que quando a sociedade através da tutela estatal defende o "valor sagrado da vida" não impede e muito menos evita que ocorram guerras de extermínio, matanças religiosas e a pena de morte em alguns países.

HUMANITAS Nº 30 – DEZEMBRO DE 2014 – PÁGINA 7

A PIOR DAS FOMES
Ana Maria Leandro- Belo Horizonte/MG

Faz algum tempo...
Eu entrava naquela agência de correios atendendo a uma convocação de entrega de um telegrama, que o carteiro havia deixado em minha caixa de postagem residencial. Então percebi a angústia de um senhor. Ele amassava inquieto um envelope entre os dedos das mãos rudes e envelhecidas. Tinha talvez umas sete décadas de vida, mas a expressão era de um envelhecimento marcado por muitas lutas de sobrevivência. Transitava num ir e vir sem destino, entre o balcão e o caixa de expedição, como se quisesse pedir ajuda e não tivesse coragem.
Não resisti e me aproximei perguntando-lhe: “O senhor precisa de alguma ajuda?” Ele me fitou meio embaraçado e respondeu: “Não... quer dizer, sim. Preciso colocar o nome da minha filha neste envelope que acabei de comprar, para enviar esta carta, mas estou sem caneta. A senhora me faz este favor?”
Claro que o problema não era a falta de caneta. No balcão aonde ele chegara inúmeras vezes havia caneta disponível, para uso dos clientes. Sem comentar o fato apressei-me a ajudá-lo. “Perfeitamente. E como é o nome e endereço de sua filha?”, perguntei tirando minha própria caneta fixada na lapela do blazer, para subscritar o envelope, que apoiei sobre minha pasta. Para não constrangê-lo, fiz de conta que eu também não vira a caneta do balcão.
Já com uma expressão aliviada no rosto, ele tirou do bolso um pequeno papel amassado, contendo os dados do destinatário. Dados naturalmente, que alguém anotara para ele, pois o envelope ele acabara de adquirir.  Terminada a tarefa acompanhei-o até a postagem final, para garantir o acerto da expedição.
Depois dos agradecimentos emocionados ele se foi, trôpego, carregando o peso da cegueira do analfabetismo. E eu ali, uma educadora, com o sentimento de que a ajuda que eu prestara era muito pequena, diante da necessidade de resgatá-lo desta escuridão. Deduzi que também a carta dentro do envelope, devia ter sido escrita por outra pessoa. E me peguei sentindo os olhos úmidos e o coração apertado, por um doloroso sentimento de que o débito social, para com grande parte da nossa gente, tem efeitos mais perversos do que imaginamos.
Escrever uma carta, ou pelo menos um bilhete a uma pessoa querida. Assinar o próprio nome, não como um desenho, mas com a sonoridade que ecoa do entendimento de cada letra e se orgulhar de criar uma rubrica especial. Ler jornais ou informar-se das noticias, identificar as placas e sinais. Viajar nos livros, nos poemas e nos textos. Poder fazer seus próprios versos e despejar suas emoções nas linhas. Tudo, tudo isto e muito mais é vedado a milhões de brasileiros
.  Não será esta a pior das fomes? A fome biológica pode até levar à morte. Mas a fome do ler e escrever leva a uma vida sem registros dos pensamentos e das emoções e aliena o homem de sua comunidade. Torna-se assim um viver de sombras...
Aquele senhor talvez tenha resolvido o problema daquele momento. Mas quando chegar a resposta de sua carta, nem o direito à privacidade do conteúdo estará preservado, pois precisará de alguém que a leia para ele. E novamente ao responder, terá de contar a outro seus sentimentos, seus segredos, sua fala, mesmo aquela que gostaria de deixar somente entre ele e a pessoa amada. Tudo porque talvez uma história de luta, não lhe tenha dado a chance de se alfabetizar.
Fome zero, sim. Mas não basta. É preciso lutar pelo analfabetismo zero. É preciso garantir a cidadania a essa gente. Um homem não letrado, não tem condições de lutar pelos seus direitos de cidadania. E não pode, nem mesmo escrever e ler a sua própria historia...
O empresário consciente precisa participar também da fome da extinção total da fome e da miséria, do desenvolvimento humano para encontrar mão de obra qualificada para o trabalho.
Empresas precisam de “gente” e não são pessoas anuladas pela ignorância que podem fazer algo. Essas precisam ser salvas desta escuridão para se tornarem ativos, profissionais que se sustentam honestamente não dependentes do ganho pela marginalidade e pelas drogas. A escolha de pessoas inseridas nesta filosofia é um dos caminhos do cidadão empreendedor, que quer ver o país se tornar a grande nação que tem condições de ser. Que estejamos neste caminho...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

HUMANITAS Nº 30 - DEZEMBRO DE 2014 - PÁGINA 6

DIREITOS HUMANOS: ARMA QUE DEFENDE O ESTADO DE DIREITO
Carlos Demócrito A. de Lima – Recife/PE

O advento das Constituições escritas trouxe em seus conteúdos diversas normas de proteção à pessoa humana. Os países democráticos trouxeram para si essa preocupação, criando leis que protegem seus cidadãos nos mais diversos setores da vida. No dia 10 de dezembro de 1948, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) adotou, em Paris (França), a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Com 30 artigos, a Assembleia proclamou o documento “como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforcem, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, para assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.”
Os Direitos Humanos não podem e nem devem ser depreciados, ainda que nos dias de hoje se possa escutar até mesmo de pessoas cultas as reclamações de que “os direitos humanos são apenas para bandidos” ou mais: “os direitos humanos não servem para nada”. E até mesmo na esfera jurídica, advogados e defensores da lei dizendo aos quatro ventos que “os direitos humanos são apenas perfumaria”.
Será bom lembrar aqui que a nossa vida como cidadão não pode ser permeada pela indiferença aos direitos do ser humano no planeta.
Os Direitos Humanos, cujo Dia Internacional é comemorado agora em dezembro (dia 10), é uma das mais nobres áreas do Direito. Não trata apenas de detentos (seres protegidos pelo Estado, pois o Estado não pode atuar como bandido, matando, torturando ou cometendo outras violações). Os Direitos Humanos envolvem os mais diversos setores da sociedade democrática e não estão inseridos apenas dentro das prisões
Nossos rumos em qualquer país democrático estão ligados à luta pelos direitos humanos fundamentais. Por que tanta gente que se acha culta deprecia tais direitos?
 No Brasil, pais, mães, donas de casa, crianças, trabalhadores, estudantes, todos estão inseridos nessa proteção existente na Carta Magna de 1988. Podemos incluir (só para constar brevemente aqui) os direitos humanos fundamentais.
1 - Direitos trabalhistas (FGTS, férias, licença-maternidade e 13º salário);  2 - Código de Defesa do Consumidor (defesa dos direitos do homem e da mulher na compra de produtos fabricados e vendidos em lojas e congêneres); 3 - Defesa da Criança, do Adolescente, do Idoso e do Meio Ambiente (luta contra rios poluídos, florestas desmatadas, secas, poluição).
O que se tem de fazer, na verdade, é educar cada vez mais a população de forma que ela não caia em equívocos quando abordar a questão dos direitos humanos na sociedade.
No Brasil, todos devem buscar, desde cedo, conhecimentos sobre seus direitos essenciais para que possam usufruí-los eficazmente. 
Os Direitos Humanos são parâmetros fundamentais para a constituição do Estado de Direito.
Mas ainda temos muito pouco a comemorar, pois tais direitos não são efetivos para milhões de pessoas tanto no Brasil como no mundo.
Muita gente continua sendo vítima da exclusão, da desigualdade, da pobreza e da opressão nas suas mais diversas faces. As conquistas alcançadas até os dias de hoje são frutos das lutas populares e da organização e união do povo.

HUMANITAS Nº 30 - DEZEMBRO DE 2014 - PÁGINA 5

A BONECA DE ZIZI
Um conto de Valdeci da Silva Ferraz – Caruaru/PE

Com cinco anos Zizi sonhava com uma boneca. Uma boneca grande, que revirasse os olhos, que chorasse um choro de boneca. A mãe de Zizi era costureira. Zizi sonhava com a boneca usando um vestidinho feito pela mãe. Tinha até lhe dado um nome: Lili.
Zizi passava horas no quintal brincando com sua boneca imaginária, conversando sozinha, arrumando o quarto de Lili. Recusara as bonecas de pano feitas pela mãe. “Só você Lili, deitará nessa cama para dormir ouvindo o vento assobiar nas árvores”, dizia ela esticando os lençóis.
A mãe olhava de longe, embevecida. Lastimava não poder realizar o sonho da filha.
Com a chegada do natal, Zizi viu a possibilidade do seu sonho se realizar.
Pediu à mãe que fizesse uma carta para o bom velhinho. A costureira sorriu com ternura e logo se pôs a escrever, escondendo os olhos lacrimejantes.
- Pronto, minha querida! Já fiz a sua carta, seu pai hoje mesmo vai levar para o correio. Agora é só esperar a noite de natal e colocar a meia na janela.
- Mas a minha meia é pequena, não vai caber a Lili - explicou a menina, arregalando os olhos.
- Não se preocupe. Papai Noel sabe o que você quer.
No dia 24 de dezembro a mãe de Zizi recebeu de algumas clientes o pagamento por algumas costuras feitas. Chamou o marido e falou:
- Zé, faz um favor, vai na lojinha de Vino e compra uma boneca, mas não deixe Zizi saber de nada.
- Eu não entendo de boneca. É melhor você ir.
- Ainda tenho algumas costuras para terminar. Não posso ir. Com esse dinheiro pegue a maior boneca que tiver.
O marido contou o dinheiro.
- Com essa quantia só boneca de pano – resmungou, procurando o boné.
Zizi achou o sol preguiçoso naquele dia de natal. Mal as sombras desceram dos montes ela correu para a janela. O pai ajudou-a a prender a meia.
- Mas não é debaixo da cama que se coloca? – perguntou ele à menina.
- Mamãe disse que os meninos é que colocam debaixo da cama. Menina deve botar a meia na janela, assim Papai Noel não se confunde.
Naquela noite Zizi demorou a adormecer.
Pelo vidro da janela ela via as estrelas no céu e as nuvens parecendo campos de neve. Ela imaginava o velhinho descendo com seu saco cheio de brinquedos. Mal os raios do sol clarearam a manhã correu para a janela. Com o coração aos pulos examinou a meia.
Lá estava a boneca, mas não era Lili. Seu rosto se contorceu como se tivesse sido atingido por um grande beliscão.
Uma boneca de pano pequena, de braços e pernas duras, olhos desenhados, sem vida, imóveis.
Deitou-a e nenhum som se ouviu.
Não, aquela não era a boneca que havia pedido. Papai Noel deve ter se enganado. Chorando correu para o quarto dos pais.
- Mamãe! Veja o que Papai Noel me trouxe! Não é a Lili! Eu quero Lili!
- Não chore - consolou a mãe - Seu Papai Noel é pobre. Vai ver que só tinha essa boneca e foi o melhor que ele pôde fazer. Para o ano, quem sabe, ele não traz a sua Lili.
Zizi saiu confusa, segurando a boneca pelas pernas.
Então seu Papai Noel era pobre? Devia existir um Papai Noel rico.
Por que não haviam lhe dito? Se ele é pobre nunca vai trazer uma boneca como a Lili.
Ela se lembrou das outras crianças do bairro e viu que seus brinquedos eram de um Papai Noel pobre.
Será que eles sabem disso e por isso não sonham com coisas grandes?
Teria ela que abandonar seu sonho e se contentar com aquela mixuruca de boneca? Devia confiar na mãe e continuar sonhando com Lili?
Caminhou então até o fundo do quintal e desarrumou a cama de Lili.
Apanhou uma caixa de sapato e deitou a boneca que havia ganhado, cobriu-a com flores e guardou debaixo da cama.
Nunca mais falou o nome de Lili.

HUMANITAS Nº 30 - DEZEMBRO DE 2014 - PÁGINA 4

25 de dezembro: a antiga comemoração de uma lenda
Rafael Rocha – Recife/PE

A escolha do dia de natal para comemorar o nascimento de uma lenda chamada Jesus Cristo foi um aproveitamento pelos romanos de uma importante festa pagã que acontecia todos os anos no dia 25 de dezembro. Os romanos "cristianizaram" a data no ano de 354 da era comum. A festa pagã, chamada de Natalis Solis Invicti (nascimento do sol invencível), era uma homenagem ao deus persa Mitra, bastante popular em Roma e ocorria durante o solstício de inverno, o dia mais curto do ano. No hemisfério norte, o solstício não tem data fixa e costuma ser perto de 22 de dezembro, mas pode cair até no dia 25.
A comemoração da data surgiu alguns séculos depois com o objetivo de conter os cultos pagãos e fazer com que a Igreja Católica ganhasse mais força e poder.  Tudo que o cristianismo fez foi incorporar no seu próprio calendário de celebrações as tradições populares pré-existentes. Ainda mais porque os chefões da igreja perceberam que os próprios cristãos manifestavam forte inclinação para os festejos pagãos, e seria muito difícil desviá-los dessa tendência.
Portanto, nada mais simples e melhor do que trazer os cultos pagãos para dentro da Igreja para dessa forma controlar melhor os povos.
Jesus Cristo, o pretenso deus cristão é, na realidade, uma lenda copiada de outras lendas dos deuses de mistério também nascidos em 25 de dezembro, tais como Mitra (persa/romano), Hórus (egípcio), Dionísio (grego), Krishna (hindu/indiano), dentre outros. Um mero plágio desses mitos. Portanto, Cristo não é outro senão uma velha e antiga lenda. O último dos plágios do também mitológico Mitra.
No dia 25 de Dezembro, os cristãos comemoram o nascimento de um deus solar, adorado pelos antigos persas e pelos romanos. Essa adoração é passada de geração a geração.
Os antigos romanos, bastante tolerantes em matéria de religião, incorporaram Mitra ao seu panteão divino, tal como fizeram com os deuses gregos e de outros locais por eles conquistados. O sincretismo romano adaptou Mitra aos costumes de Roma, inclusive vários deuses anteriores ao messianismo judeu, dando assim origem à lenda do nascimento do Cristo.
Os poderes religiosos e estatais teimam em repetir sempre o mito de que existe apenas um deus verdadeiro nascido de uma virgem no dia 25 de Dezembro. Continuam a insistir em tornar esse dia um símbolo, propagando-o como uma data especial para atuar em fraternidade, exercer o amor, o perdão, a paz etc. Será que é preciso apenas um dia para ser fraterno, amoroso e pacífico?
Ora, se o ano tem 365 dias no calendário, por que apenas uma data serve para isso? O amor, a fraternidade, o perdão e a paz devem ser coisas a serem esquecidas nos outros dias do ano?
E sobre a árvore de natal? Também é um ritual pertencente à tradição pagã europeia. A árvore constitui um tema pagão recorrente, céltico e druídico, presente tanto no mundo antigo quanto no medieval, de onde foi assimilado pelo cristianismo.
Deve remontar ao século 16 na Alemanha. O professor de etnologia em Marburgo, Ingeborg Weber-Keller, identificou entre as primeiras referências históricas da tradição, uma crônica de Bremen de 1570, segundo a qual uma árvore da cidade era decorada com maçãs, nozes, tâmaras e flores de papel. Na Letônia, a cidade de Riga é uma das que dizem que a primeira árvore de natal da história ali nasceu no ano de 1510.

HUMANITAS Nº 30 - DEZEMBRO 2014 - PÁGINA 3

REFÚGIO POÉTICO

MARCAÇÃO LOUCA
Rafael Rocha – Recife/PE

Pássaros no espaço voejam
Com destino a qualquer lugar
As plantas nocivas vicejam
Em conluio com a cor do ar
O relógio marca apenas horas
Na estrada da vida a passar
O copo de cerveja perde o gelo
E o cigarro começa a se apagar
De tudo restam cinzas ou degelo
No rastro dos pássaros no ar
Uma palavra faz um só apelo
A este escrevinhar

Dizem restar amor nos solos
Dizem restar cantos no ar
Dizem acabar gelo dos pólos
Dizem tudo quase sem pensar
Nesses dizeres alguém ainda grita
Sonhos sem rotas concretas
Sonhar é a ideia perdida
Nas mentes loucas dos poetas
Onde a cor da palavra se agita
Onde a dor do amor anda a ver
A atitude de pressentir a vida
Quando escrever

As plantas nocivas vicejam
Em conluio com a cor do ar
Tanto como metáforas ensejam
Passar e viver. Viver e passar.
Minutos também são de relógios
Marcam instantes ao relembrar
Recriando outros mil imbróglios
Vendo o cigarro a se apagar
Pássaros no espaço voejando
Segundos também vão se marcar
Cinzas e degelos vão restando
Neste poema a se findar
...........................................
O TREM
Valdeci Ferraz – Caruaru/PE

Lá vem o trem arrastando a cidade.
O apito é um guizo perfurando
a tarde.

Não ponham pedras nos trilhos!
Lá vem o trem carregado de saudade.

Lá vem o trem escrevendo um poema
Sobre as linhas paralelas de aço.

As estações são vírgulas obrigatórias
Onde se dão as despedidas doídas.

Lá vem o trem beijando a chuva.
Lambendo o vento.

Um lamento escorre atrasado:
Alguém deixou para trás um grande amor.

Lá vem o trem cortando o rio.
Cortando a mata e a estrada,

Rompendo a parede do sonho
Para brincar com meninos abandonados.

Lá vai o trem levando a minha alma
À última parada
Ao ponto final.
....................................
TRIBUTO A MANUEL BANDEIRA

Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu no Recife no dia 19 de abril de 1886. Escreveu seus primeiros versos livres em 1912. Em 1917 publicou seu primeiro livro:A cinza das horas”, edição de 200 exemplares custeada pelo autor. Em 1919 publica seu segundo livro,Carnaval”, também em edição custeada pelo autor. 
Em 1924 publica, às suas expensas,Poesias”, que reúneA Cinza das Horas”, “Carnaval” e um novo livroO Ritmo Dissoluto”. A partir de 1926 inicia uma colaboração semanal de crônicas noDiário Nacional”, de São Paulo, e em “A Província”, do Recife.
O ano de 1930 marca a publicação deLibertinagem”, em edição como sempre custeada pelo autor. 
Em 1940 é eleito para a Academia Brasileira de Letras, na vaga de Luís Guimarães Filho. Toma posse em 30 de novembro. No ano de 1954 publicaItinerário de Pasárgada” eDe Poetas e de Poesia”. Faz 80 anos em 1966 e recebe muitas homenagens.   
Faleceu no dia 13 de outubro de 1968.

HUMANITAS Nº 30 - DEZEMBRO DE 2014 - PÁGINA 2

EDITORIAL
A TENDÊNCIA MÍTICA DA MENTIRA TORNADA VERDADE

O dia 25 de Dezembro foi uma data tirada das festas dos pagãos nos primórdios da igreja católica, cujos líderes desejavam incrustar o cristianismo na mente popular. Eles adotaram o dia de adoração ao Sol Invictus comemorado pelos romanos como sendo o dia de nascimento de seu deus cristão. O dia do Sol Invictus idolatrava o deus persa Mitra.
Foi uma data criada hipoteticamente com festejos originários das crenças de outros povos não cristãos que tinham muito mais motivos para comemorar o advento do sol. Em suas terras, quando do solstício de inverno, no hemisfério norte, o astro-rei era cultuado por trazer luz, calor, colheitas etc.
O dia 25 de Dezembro, denominado Dia de Natal, é simplesmente o dia do sol. Mas alguns seres humanos criaram uma propaganda específica para esse dia com o objetivo de incutir na cabeça dos ingênuos que um deus cristão havia nascido nessa data e que as pessoas deviam presentear e amar e perdoar e serem fraternas.
Ora, será apenas em tempo de festas, de lantejoulas, de estrelinha guia e de fogos de artifícios que homens e mulheres devem mostrar fraternidade e amor uns a outros? Isso é tendência mítica introduzida pelo cristianismo nas mentes catequizadas, utilizando a filosofia do medo e da adoração à morte para alavancar na mente humana um paraíso inexistente.
Por paradoxal que pareça, gente que odiou o próximo durante o ano inteiro começa a dar abraços, presentes, cartões de boas festas para esse mesmo próximo. Todos ficam cegos no centro do niilismo do mundo moderno, criando uma embalagem religiosa para a data e extrapolando pelo mundo a hipocrisia mais natural.
Nenhum deus nasceu no dia 25 de dezembro. O deus cristão é uma imitação muito bem feita copiada de outros deuses ainda mais antigos e inexistentes. Prove-se o contrário que mudaremos nossa opinião.
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CARTAS DOS LEITORES

Uma publicação que leva o ser humano a pensar. Geruza Carvalho – Recife/PE
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Um pequeno jornal feito com grandes ideias e grandes intelectos. Marcos Antonio de Oliveira – Salvador/BA
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A linha editorial do Humanitas é corajosa. Luta pela verdade com denodo. Nilma Accioly Lins – Belo Horizonte/MG
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O Humanitas mostra a verdade em primeiro plano. José Antonio Costa Lima – São Paulo/SP
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A FRAGILIDADE DO CRISTIANISMO
Friedrich NietzscheEspecial para o Humanitas

O cristianismo tomou o partido de tudo o que é fraco, baixo, incapaz, e transformou em um ideal a oposição aos instintos de conservação da vida saudável.
E até corrompeu a faculdade daquelas naturezas intelectualmente poderosas, ensinando que os valores superiores do intelecto não passam de pecados, desvios, tentações.
O mais lamentável exemplo: a concepção de Pascal, que julgava estar a sua razão corrompida pelo pecado original; estava corrompida sim, mas apenas pelo seu cristianismo!
No cristianismo nem a moral nem a religião têm qualquer ponto de contato com a realidade.
São oferecidas causas puramente imaginárias (deus, alma, eu, espírito, livre arbítrio – ou mesmo o não-livre) e efeitos puramente imaginários (pecado, salvação, graça, punição, remissão dos pecados).
Intercurso entre seres imaginários (deus, espíritos, almas); a história natural imaginária (uma negação total do conceito de causas naturais);  psicologia imaginária (interpretações equivocadas de sentimentos gerais agradáveis ou desagradáveis, por exemplo, os estados do nervus sympathicus com a ajuda da linguagem simbólica da idiossincrasia moral-religiosa – arrependimento, peso na consciência, tentação do demônio, a presença de deus); uma teleologia imaginária (o reino de deus, o juízo final, a vida eterna).
Enquanto o padre, esse negador, caluniador e envenenador da vida por profissão for aceito como uma variedade de homem superior, não poderá haver resposta à pergunta: o que é a verdade? A verdade já foi posta de cabeça para baixo quando o advogado do nada foi confundido com o representante da verdade.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

HUMANITAS Nº 30 - DEZEMBRO DE 2014 - PÁGINA 1


FELIZ ANIVERSÁRIO A TODOS OS DEUSES
NASCIDOS EM 25 DE DEZEMBRO

Lendas são lendas. E não poderia deixar de ser no tocante às lendas divinas. Neste mês de dezembro os principais mitos divinos festejam seus aniversários no dia 25.
Como salienta o jornalista Rafael Rocha em seu artigo na página 4 deste Humanitas, “a escolha do dia de natal para comemorar o nascimento de uma lenda chamada Jesus Cristo foi um aproveitamento pelos romanos de uma importante festa pagã que acontecia todos os anos no dia 25 de dezembro”.
Segundo ele, “a festa pagã chamada de “Natalis Solis Invicti” (nascimento do sol invencível), era uma homenagem ao deus persa Mitra, bastante popular em Roma”.
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BOAS FESTAS PARA TODOS!

Aproveitamos a ocasião para esclarecer: o Humanitas não comemora o nascimento de nenhum deus e de nenhuma lenda bíblica. 
Comemoramos o fim de um ciclo em torno do sol e a oportunidade de encontrar ou reencontrar pessoas queridas.
Comemoramos a beleza de estarmos vivos, pois a única certeza é esta vida e mais nenhuma outra.
Comemoramos o fim de 365 dias de vitórias, fracassos e aprendizados. Somos livres pensadores críticos e obcecados pelo conhecimento. Um brinde a isso!
Ficamos alegres ao lado de nossos amigos e familiares sem necessidade de fantasias sobrenaturais. A questão é saber amar. Amamos com a intensidade e com a certeza de que nunca mais teremos outras chances de exercer esse amor.
Comemoramos a existência de nossos leitores no “Dia do Sol Invictus”. Que todos tenham um final de ano maravilhoso ao lado dos seus amados. Carpe diem!”
...................
Zizi pede uma boneca especial a Papai Noel

O desejo de toda criança é receber um belo presente no dia de natal. E isso acontecia também com Zizi, que sonhava em ganhar uma boneca que chorasse e revirasse os olhos. Assim ela fez o pedido a Papai Noel e ficou aguardando ansiosamente.
A mãe dela sabia desse desejo e lastimava não poder realizar o sonho como sua filha queria.
Este é o tema do conto inserido na página 5 desta edição, de autoria do advogado, escritor e poeta Valdeci Ferraz.
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MAIS:

Eutanásia é o tema tratado pelo médico Antônio Carlos Gomes na página 8 desta edição.
****
A escritora Ana Maria Leandro comenta sobre o analfabetismo e a necessidade urgente de luta contra esse problema tanto por parte do governo como das empresas. Leia na página 7.
****
O autodidata Carlos Demócrito A. de Lima disserta sobre o Dia Internacional dos Direitos Humanos na página 6.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

HUMANITAS Nº 29 - NOVEMBRO DE 2014 - PÁGINA 8


A exclusão social do povo negro continua viva 
Aline Cerqueira – Itaberaba (BA) 
A população negra no Brasil vive em apartheid social disfarçado após 300 anos de escravidão. Os reflexos ainda sobrevivem nas favelas e lugares mais pobres do Brasil. A maioria negra está excluída do acesso aos direitos básicos assegurados pela Constituição brasileira. E isso é uma verdade.
A mulher negra e o homem negro foram subjugados por um sistema que cria imensas dificuldades de ascensão social. As constantes lutas pela sobrevivência estão estampadas nas ruas, nas praças e nas favelas brasileiras.
A maioria da população negra vive em condições subumanas.
Sobre o pretenso complexo de dependência do colonizado, o pensador Frantz  Fanon afirma que o negro “é escravizado por sua inferioridade, o branco escravizado por sua superioridade”, ou seja, a alienação é mútua, o colonizador ao criar uma imagem mítica do colonizado também é alienado. 
Ainda hoje no Brasil essas questões gerais aparecem de formas especificas nas expressões que dizem respeito à reflexão cultural. Vemos que a mulher negra é submetida pelo sistema a viver dentro da cultura imposta pelos europeus, incluindo valores e comportamentos. 
Frantz Fanon observa que a intensidade do peso do colonialismo no imaginário da mulher de cor, faz com que esta se sinta inferior para se relacionar com o homem branco. 
Por isso é visível a preocupação da estética como alisamento de cabelos, embranquecimento da pele e todos os aparatos estéticos que assinalam um condicionamento à cultura branca.
Essas formas culturais são ocidentais e modernas. Elas alienam e criam mecanismos para que a sociedade viva em padrões disfarçados em valores de uma “sociedade perfeita”.
Em que todos pareçam todos iguais.
Historicamente é preciso compreender que a maioria da população negra quer falar e agir, mas suas ações foram condicionadas à cultura branca, a qual chegou ao Brasil há mais de 500 anos, trazendo e impondo sua forma de pensar e de se comportar em uma sociedade. O poder dominante da raça branca europeia estabeleceu regras de submissão que predominam até hoje, ainda que os traços africanos e indígenas estejam presentes nas características faciais do povo brasileiro.
O negro no Brasil sempre foi considerado um ser inferior. Ainda existem pessoas temendo encontrar um negro nos elevadores e nos locais de pouco movimento das cidades. O negro continua sendo visto como um marginal. Essa percepção no tocante à população negra vive na cabeça de muita gente. A escravidão de 300 anos incutiu na mentalidade delas que o negro é ruim e que ele foi escravo para viver na submissão e servir.
Por que o negro ainda é o que mais morre através da violência? Por que as contradições de pobreza da população negra ocorrem nos grandes centros? Por que as mulheres negras não se apresentam como famosidades nas passarelas e nos grandes programas de audiência?
E por que quando algumas delas se apresentam se disfarçam de brancas?
É sobre esses questionamentos que entendemos como o negro permaneceu inferior e marcado para ser escravo dos padrões moralistas e racistas instalados em cada esfera de poder. É sobre essas questões de pensar o humanismo que assinalo aqui a necessidade de excluir esses padrões estabelecidos pelo sistema capitalista que segrega a maioria.
Por que grande parte dos negros vive sem entender a lógica do capitalismo? Acredito que a liberdade de expressão e o senso crítico são a chave para entender esse segredo. Precisamos ser livres pensadores. A população negra habitante das favelas é vista como marginal e precisa reagir. A luta humanista tem de romper essas correntes e ajudar o homem a pensar. O negro precisa ser protagonista da sua própria história.

HUMANITAS Nº 29 - NOVEMBRO DE 2014 - PÁGINA 7

O Tio Chicão
Um conto de João Victor Santos – Recife/PE – Especial para o Humanitas

Era noite de natal.
Mas também era uma dessas noites quentes de verão em que a brisa da noite nos toca a face de maneira tão suave quanto um bafo quente de um forno à lenha.
Nessas noites que você começa a achar que a lua está de férias em um cruzeiro pelos anéis de Saturno ou veraneando na praia de Tamandaré e aquela bola branca no alto da noite estrelada é só o sol com a cara cheia de pancake branco fazendo hora extra, causando até um leve bronzeado nas mais alvinhas que se arriscaram a sair à noite para um passeio sem usar protetor solar.
Foi justamente numa noite dessas que, talvez por causa da vontade de fugir do calor, que o Miolo, nosso filósofo de botequim, da varanda de seu apartamento, começou a pensar em um lugar bastante frio e logo se viu no Pólo Norte ao lado de Papai Noel, bebendo água de coco.
Foi aí que ele indagou:
- E se Papai Noel fosse brasileiro? E ainda, se morasse numa região praieira?
Daquela cabeça desmiolada começaram a surgir várias sugestões que dariam origem ao bom velhinho tupiniquim.
Primeiramente, esse lance de se chamar papai aqui no Brasil não ia dar muito certo, questionou nosso pensador, pois ia ter muita gente ingressando com ação judicial buscando reconhecimento de paternidade, sem falar dos pedidos de pensão alimentícia.
Isso poderia comprometer financeiramente a entrega dos presentes de natal. “Tio” cairia bem. Tio normalmente é como o pai que não dá bronca.
Mas “Tio Noel” também não fica bom. Soaria como uma cópia barata. Além do mais, embora ache um nome legal, Noel não é tão popular por aqui. Tio Chicão. Perfeito. Caiu como luva.
Por falar em luva, era preciso pensar no figurino do Tio Chicão, pois era óbvio que roupa de frio não combinava como o clima de sua morada. Sem luvas, botas e muito pano.
Nosso bom velhinho seria adepto da velha combinação boné, camisa regata, bermuda, chinelo de dedo. E nada de vermelho e branco. Pra ninguém dizer que nosso tio tem preferência por times de futebol com essas cores, sua roupa seria em verde e amarelo e chinelo branco.
Poderia até ser garoto propaganda da nossa seleção nas horas vagas. E tem mais. Pegando sol de maneira frequente, ele teria uma pele bronzeada.
A barba branca, que não combina com clima quente, sairia de cena. Mas a barriga de barril permanece. Sabe como é, todo velhinho que se preze carrega uma. É como um troféu dado pelo tempo. Além do mais, convenhamos que todo gordinho é legal.
Exportar rena do Pólo Norte não daria certo e como o Tio Chicão vive de aposentadoria, ele levaria os presentes numa Kombi.
Para não ficar tão realista e dar tempo de entregar todos os presentes na madrugada do dia 25 de dezembro, seria uma Kombi voadora, que atinge a velocidade da luz, concluiu nosso pensador.
Todos os brinquedos seriam feitos na “fábrica” improvisada no quintal da casa do Tio Chicão, com a ajuda da Tia Terezinha, sua esposa de longa data e sempre em companhia de Duende, seu chihuahua desdentado.
Inesperadamente, como um oásis no deserto, eis que uma brisa suave, embora agonizante, surpreendeu o Miolo, que deixou de lado seus devaneios e foi se aprontar para aproveitar o natal com sua esposa e filhos na casa de parentes.
Ao retornar para casa, já lá por volta das três da matina, prestes a deitar em sua cama, ouviu um barulho que vinha da sala e quando lá chegou viu um objeto no canto da varanda.
Era uma pequena réplica, entalhada em madeira, da escultura “O Pensador”, de Rodin.
Assim que se abaixou para apanhá-la ouviu um barulho de motor de Kombi.
Subitamente olhou para o céu, mas nada viu a não ser a noite estrelada e então sussurrou para si mesmo:
- Obrigado, Tio Chicão. Bom trabalho esta noite.