quinta-feira, 22 de maio de 2014

EDITORIAL – TEXTO DE ANTONIO CARLOS GOMES – CARTAS À REDAÇÃO E EXPEDIENTE


CULTURA NEOLIBERAL

Os dias de hoje apresentam poucas ideias críticas que possam tirar o homem da mesmice em que se encontra e do domínio da dialética de uns poucos. Nesta chamada civilização neoliberal o cidadão tem de se abster de qualquer pensamento crítico e deixar de participar de lutas comunitárias e da solidariedade. O chamado neoliberalismo acaba com a condição solidária do homem. A cultura neoliberal destrói o entendimento de vida comunitária. Mesmo considerando o homem um animal gregário busca acabar com a definição de família, com os movimentos de integração social e com o Estado democrático.
O projeto neoliberal desconecta o indivíduo da conjuntura social, política e econômica em que está posto, considerando-o apenas como um simples consumidor, e leva isso aos extremos. Um dos maiores avanços da mentalidade humana dentro do que se convenciona chamar de democracia foi o de ser reconhecido como um sujeito político, capaz de provocar mudanças. Dentre esses avanços, o homem passou a ter direitos e deveres e com a sua consciência crítica livrou-se daquela condição de escravo obediente às ordens. Passou a saber que autoridade não significa verdade. E muito menos o poder significa razão.
A doutrina liberal cria uma filosofia onde o homem tem de se abster de qualquer pensamento crítico. Um dos principais meios de fazer com isso aconteça vem através da mídia televisiva. Como poderoso instrumento de formação das consciências, como forte instrumento de persuasão e formador de opinião, a televisão entra nos lares desinformando e deformando o contexto cultural da sociedade. Enganchando-se no rumo da propaganda e da publicidade que rege o mercado consumidor, a televisão se torna também um produto de consumo, logo que os índices de audiência sobem indiscriminadamente.
Todo tipo de estratégias é utilizado para manietar a consciência do homem ao novo “modus vivendi”. As imagens atraem as pessoas vendendo soluções que não se coadunam com a realidade de todas, mas que estão ali para serem consumidas. Sem o menor escrúpulo, a condição de humanidade do homem é levada a padrões opostos de suas conquistas. O homem comum fica impregnado de uma multidão de imagens quase todas desvairadas, apenas com a intenção de transformar seus limites e suas relações com os outros homens. Perde sua historicidade e deixa de se identificar no tempo e no espaço. Tudo se reduz ao agora. A tecnologia que diminuiu as distâncias através da internet e do celular cria uma sensação de ubiquidade para a raça que se vê em todos os lugares e ao mesmo em lugar nenhum.
A civilização hoje é a civilização da imagem, já o disse Antônio Cândido. A civilização de hoje é a civilização do consumo, para gáudio de uns poucos que se servem do poder que lhes foi atribuído para fazer a lavagem cerebral da mente humana, através de todos os tipos de artifícios, desde a crença religiosa até os circos do futebol, do sexo e da política. Esta é a cultura neoliberal, e quem sai perdendo são todos os que buscam mudanças sociais estranhas àquelas que enchem os cofres dos que se dizem da elite. 
ORDEM E VIDA 
Antonio Carlos Gomes – Guarujá/SP 

Ordem é a sala petrificada de um idoso desolado tecendo recordações; os bibelôs de outrora estáticos nas prateleiras esperando um acontecimento. Nada acontece! Apenas a poeira fica acumulada nas memórias desbotadas. Caso venha a faxineira e movimente o ambiente, já não mais é ordem, apenas recordações, deleites e sonhos passados e sofrimentos congelados.
A vida é o poeta bêbado, duro num fim de semana, que acha perdida em uma gaveta, restos da boemia, uma nota de cem reais esquecida. Impávido se dirige a padaria acordar o Seu Jair, pede cerveja, mostra o dinheiro, e este sonolento e rabugento entrega as garrafas que farão poemas, criarão sonhos e no recital etílico agitarão a vida; o movimento circular trará o sorriso alegre de quem quer viver.
Ordem não é progresso: é congelamento. Por dentro da bolha da ordem borbulham agitados pensares, a bolha sofre pressões, quase de desfaz, aguenta! E do rebuliço saem novas inspirações, novos fazeres, novas angústias, novos movimentos de amor.
Cabelos penteados não fazem sexo. Só a agitação, os cabelos alisados por mãos trêmulas de desejo, soltos ao vento conseguem acompanhar toda excitação, Ordem não faz amor, ordem é o casal com tudo arrumado onde a mulher vê televisão e o homem fica no computador, de tempos em tempos ruminam uma observação surda e sem significado, até que vão a cama, um dorme e outro vê as notícias compartilhadas no Facebook.
Nunca busque a ordem, agite-se, enfrente momentos e curta a desordem, mesmo que esta machuque. Não se descobre o objetivo da vida, nunca! Mas no rebuliço que fizeres terás momentos agitados e alegres e poderás dizer: Eu vivo a vida!

CARTAS DOS LEITORES 
Gostava de receber o Humanitas pelo correio todo mês. Uma pena que agora isso não aconteça mais. De qualquer forma estarei curtindo virtualmente os textos, que me são prazerosos. Cristina Aguiar – Vitória de Santo Antão/PE 

Lamentável que não exista uma parceria privada e financeira com o Humanitas para que este jornal continue sendo impresso e enviado aos leitores. Por que nenhuma empresa paga anúncios e financia o jornal? Pedro Maurício de Lima – Recife/PE
  
Gosto demais do Humanitas. Seja impresso ou aqui na internet sempre estarei a ler as matérias livres e especiais deste jornal. Carlos Gonzaga de Albuquerque – São Paulo/SP



EXPEDIENTE


HUMANITAS – ANO II - Nº 22

ISSN 2316-1167

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Editor Adjunto: Genésio Linhares

Jornalista – Reg. DRT/PE 1739


Colaboradores no Brasil: Valdeci Ferraz; Araken Galvão; Francisco de Assis Coelho, Antônio Carlos Gomes; Aline Cerqueira; Manfred Grellmann; Karline da Costa Batista; Ana Maria Leandro; Celso Lungaretti; Ricardo Tiné; Rod Britto; Silvia Mota; Jorge Oliveira de Almeida; Ivo S. G. Reis; Divina de Jesus Scarpim.


Colaboradores em Portugal: Marisa Soveral; Paula Duarte.


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